Pouco depois da vitória de Donald Trump na disputa eleitoral de 2016 para a Casa Branca, observei em um post como alguns conservadores cristãos estavam cheios de expectativa em relação ao candidato republicano, a ponto de o considerarem "um novo Constantino".
O paralelo era original e significativamente revelador quanto à natureza dos sentimentos em jogo, pois Constantino foi o imperador romano que pôs fim às perseguições contra os cristãos, legalizou o cristianismo e uniu os interesses da Igreja com os do Império.
O resultado produzido por toda essa ação é de conhecimento público. Quando a Igreja obteve de Constantino o poder civil, o princípio da coerção foi, em geral, admitido e aplicado contra judeus, hereges e pagãos. [1]
O contraste com o espírito da igreja cristã primitiva, que não necessitou do apoio do braço secular para afirmar-se, não deixou de ser notado.
'Vejam como esses cristãos amam uns aos outros', foi a exclamação justa e marcante dos pagãos no primeiro século. 'Não há animais selvagens tão ferozes quanto os cristãos que diferem em sua fé', foi a exclamação igualmente impressionante e talvez justa dos pagãos no quarto século. [2]
Mas os cristãos têm memória curta.
Com a vitória de Trump na corrida presidencial de 2024, as expectativas dos apoiadores cristãos aumentaram ainda mais. De um novo Constantino, Trump passou a símbolo do martírio, uma figura com qualidades messiânicas que pode salvar a América e o mundo do caos!
De fato, em seu discurso de posse, Trump disse: [3]
Seremos uma nação como nenhuma outra, cheia de compaixão, coragem e excepcionalismo. Nosso poder acabará com todas as guerras e trará um novo espírito de unidade a um mundo que tem sido raivoso, violento e totalmente imprevisível.
A menção de Trump à palavra "excepcionalismo" é bastante significativa.
No contexto da história americana, o termo se refere à crença de que os Estados Unidos não são apenas uma nação entre outras, mas ocupam a posição única de nação escolhida e ungida por Deus, predestinada geograficamente e com valores superiores próprios, cuja missão é redimir o mundo.
O termo exprime, portanto, pretensões quase messiânicas, e essa é justamente uma das qualidades mais marcantes da besta que emerge da terra (Apocalipse 13:11-18).
Embora seja uma besta, como as outras nações de interesse profético, ela tem a aparência de cordeiro, uma característica única entre todas as demais bestas mencionadas nos livros de Daniel e Apocalipse!
Com exceção de Apocalipse 13:11, a palavra "cordeiro" aparece 28 vezes no último livro da Bíblia e se aplica a Jesus.
Logo, tanto a percepção que alguns apoiadores cristãos têm de Trump, quanto a própria declaração do presidente em seu discurso de posse está carregada de significado profético!
Como o leitor deve ter notado, imaginar Trump como um novo Constantino (união entre igreja e estado) ou uma figura messiânica (a reforma moral da sociedade) tem consequências mais ou menos previsíveis.
E ninguém expressou isso melhor do que Brandon Smith, em um artigo publicado no alt-market.us intitulado "Precisamos de uma última cruzada para salvar o mundo ocidental?"
Ora, as Cruzadas foram expedições militares para a conquista da Terra Santa e, como tais, admitiam o emprego da força e da violência no combate aos infiéis. Foram convocadas pelo papa Urbano II no fim do século XI com o propósito de unificar a cristandade.
Comentando sobre a controvérsia em torno da indicação de Pete Hegseth como Secretário de Defesa, Smith observa que uma das razões para isso é a "veneração de Hegseth pelo antigo cristianismo e por uma época em que os cristãos controlavam grande parte do mundo conhecido".
Para Smith, se o novo Secretário de Defesa fosse um defensor do império cristão, isso não seria uma coisa tão ruim.
"Sem a guerra para retomar as terras cristãs", ele diz, "a Europa como a conhecemos não existiria e grande parte do nosso mundo provavelmente se pareceria com uma grande aldeia talibã".
Diante da invasão ideológica e cultural que está destruindo o modo de vida e os valores ocidentais, uma ação mais decisiva, como a das Cruzadas, seria, então, justificada.
"O ocidente está à beira de um precipício", Smith escreveu.
Suspeito que esse seja o tipo de momento que o Papa Urbano II presenciou em 1095 d.C. Testemunhas que escreveram relatos sobre o período descrevem-no como uma espécie de milagre, uma coalizão para salvar a civilização de uma iminente idade das trevas da barbárie. É assim que muitos de nós, nos círculos conservadores, nos sentimos agora: Que grandes mudanças estão chegando para apagar gerações de transgressões, se estivermos dispostos a aproveitar o momento.
Essa é uma declaração e tanto! Note que foi durante o pontificado de Urbano II que a Igreja Católica conheceu uma maior centralização e uma expansão da administração papal.
Smith argumenta que "a tolerância NUNCA foi um valor cristão" e, por isso, "a primeira cruzada foi muito mais do que apenas um esforço geopolítico dos governos para retomar terras que haviam sido roubadas; foi [note, por favor] uma correção espiritual maciça".
Ele lembra que há um esforço coordenado em toda a Europa para impedir a entrada de grupos conservadores no governo, e os Estados Unidos são o único lugar em que a maré realmente está mudando. Isso não é significativo?
E esse movimento de reforma do governo, segundo Smith, deve começar a partir das instituições religiosas!
A ideia de 'separação entre Igreja e Estado' nunca teve a intenção de remover as influências cristãs do governo. Ela foi criada para impedir que o governo interferisse na expressão religiosa individual. Os Estados Unidos foram fundados sob a doutrina cristã e a liderança cristã. Um retorno a essa dinâmica seria bem-vindo, desde que a liberdade pessoal (liberdade com responsabilidade) seja mantida.
Ocorre que, biblicamente e historicamente falando, não é possível ter as duas coisas, isto é, a influência cristã no governo e a liberdade individual.
Ademais, para o autor (e para os conservadores cristãos em geral) "liberdade individual" significa "liberdade com responsabilidade", o que me deixou pensativo, já que a expressão é recorrente na Declaração Dignitatis Humanae sobre a Liberdade Religiosa, examinada aqui.
Smith conclui dizendo que, "se uma nova cruzada fosse realizada, ela teria de começar na América", pois "há um profundo desejo em nossa sociedade de voltar aos princípios".
Uma cruzada inspirada nas Cruzadas da Idade Média não me parece a melhor forma de restaurar princípios, especialmente quando incluem a observância de um dia que nem Cristo nem os apóstolos jamais endossaram ou ensinaram.
Mas a Bíblia revela que será exatamente assim. A América falará como o dragão, e nós estamos testemunhando esse desenvolvimento!
Neste post, argumentei que uma das estratégias mais eficazes dos jesuítas é usar a esquerda lacradora como grupo de pressão, de maneira a manter a sociedade em constante estado de agitação e efervescência.
A ideia é incitar os conservadores a reagir exageradamente, ou seja, fazê-los recorrer à força do estado para restaurar os valores morais da sociedade e, assim, levá-la de volta às suas raízes cristãs.
Afinal, como apontei aqui, a reconstrução na ordem só poderá acontecer depois que a desordem atingir seu ponto culminante, quando todos os males, todos os erros e todos os crimes se acumulam.
Nesse contexto, ideias como as de Brandon Smith, Matthew McCusker e Warren H. Carroll, e propostas como as da Heritage Foundation, que hoje parecem impensáveis, serão vistas sob a luz mais favorável possível.
Esse será o caminho para a restituição do poder temporal do papado.
A volta de Jesus está próxima. Somente aquele que for limpo de mãos e puro de coração subsistirá na última grande prova.
Notas e referências
1. W.E.H. Lecky, History of the Rise and Influence of the Spirit of Rationalism in Europe, vol. II, Third Edition, London: Longmans, Green and Co., 1866, p. 14.
2. Ibid., p. 34.
3. https://au.usembassy.gov/the-inaugural-address/
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