Trebitsch-Lincoln é uma daquelas figuras misteriosas e controversas sobre a qual dificilmente se pode afirmar algo com algum grau de certeza. Mesmo o seu nome é um dos muitos pseudônimos que adotou ao longo de sua vida multifacetada e às vezes contraditória.
Sabe-se que ele nasceu em 1879 numa cidadezinha húngara chamada Paks; que pertencia a uma família judia rica e piedosa com vagas relações com os Rothschilds de Frankfurt; e que sua vida foi marcada por reviravoltas dignas das melhores narrativas de aventura.
Uma delas ocorreu logo depois da Primeira Guerra Mundial, quando Lincoln era pároco de uma igreja anglicana em Appledore with Ebony, no condado de Kent, próximo de Londres, onde conheceu um paroquiano não menos enigmático que se identificava como Harold Beckett. [1]
Ex-major médico do exército inglês nas Índias, Beckett vivia recluso em um velho casarão, tendo como única companhia os gatos, e saia somente à noite. Não obstante, circulavam rumores de que ele ocasionalmente recebia visitantes misteriosos, que nunca ninguém conseguiu identificar.
Pouco tempo depois do primeiro contato, o reverendo recebeu a visita inesperada de Beckett. Eles conversaram a sós por mais de duas horas e, a julgar pela mudança de comportamento que se seguiu, Lincoln saiu transformado daquele encontro.
Todos os dias, após o jantar, o reverendo visitava seu novo amigo, muitas vezes permanecendo com ele até tarde da noite.
Em um desses encontros na biblioteca mal iluminada da mansão de Beckett, o anfitrião revelou a seu novo filho espiritual "o grande segredo oculto da necessária queda apocalíptica do mundo moderno".
Após lembrá-lo de que agora ele não pertencia mais a si mesmo, mas seria como um cadáver, deixando-se ser movido e conduzido de acordo com a vontade de seus superiores (uma máxima de Inácio de Loyola, fundador da Ordem dos Jesuítas), Beckett segredou-lhe o plano:
Você não pode vislumbrar o Grande Projeto no qual você vai colaborar, mesmo contra sua vontade, porque você desconhece o Plano do conjunto... Talvez mais tarde você alcance uma posição suficientemente elevada para vislumbrar o Plano Cósmico como um todo, com suas luzes e sombras, porém numa harmonia perfeita... A humanidade evolui segundo uma lei cíclica. Ela segue uma espiral sucessivamente descendente e ascendente. Durante a descida, todos os males, erros e crimes se acumulam. Quando esse movimento atingir o nível mais baixo, o Cosmos voltará a subir e nossos descendentes se elevarão novamente, sendo envolvidos pela Verdade, a Beleza e a Sabedoria. Você me entende? Acelerando a descida, contribuímos para apressar a ascensão que inevitavelmente se seguirá. Só depois que a desordem atingir seu ponto culminante, a reconstrução na ordem poderá acontecer com uma nova alvorada. Em nossa época, a única maneira de preparar o bem futuro é levar o mal presente ao seu clímax. Esta é uma regra áurea para o destino da coletividade, como também para cada destino individual.
A "regra áurea" não era nova. Muito antes de Beckett supostamente revelá-la ao reverendo Lincoln, o ex-padre jesuíta Adam Weishaupt, professor de Direito Canónico na Universidade de Ingolstadt e fundador da Ordem dos Iluminados da Baviera, expressou em suas anotações pessoais um princípio semelhante [2]:
Temos que destruir tudo, cegamente, tendo um só pensamento: o máximo possível e o mais rapidamente possível.
Para abreviar, então, a nova alvorada que inevitavelmente se seguirá ao declínio total, quando todos os males, erros e crimes se acumulam, é necessário ter as pessoas certas nos lugares certos para acelerar a descida, ou seja, para destruir tudo quanto for possível, o mais rapidamente possível.
Talvez nada ilustre melhor esse processo maquiavélico (ou melhor, jesuítico) do que a observação feita por Shera Starr a propósito de nossa presente condição social: [3]
Coloque cem formigas-de-fogo-vermelhas e cem formigões-pretos em um frasco e, a princípio, nada acontecerá. Sacuda violentamente o frasco e jogue-as ao chão, e as formigas-de-fogo-vermelhas reagirão instintivamente como se os formigões-pretos fossem os inimigos e vice-versa, quando, na realidade, o verdadeiro inimigo é quem sacudiu o frasco.
Os governantes secretos da história moderna
Os homens que "sacodem o frasco" da sociedade humana, isto é, aqueles que estão acelerando o movimento descendente até o seu nível mais baixo para que a planejada reconstrução na ordem possa acontecer, são os verdadeiros protagonistas da história do mundo moderno e nunca (ou quase nunca) saem dos bastidores.
Possivelmente, você e eu nunca saibamos quem são essas pessoas, e se eventualmente nos depararmos com seus nomes em um site de notícias ou na televisão (os quais, a propósito, elas controlam), terão pouco ou nenhum significado para nós.
Mas é suficiente saber quais são seus objetivos e do que são capazes para alcançá-los.
Esses homens querem controlar e dominar o mundo. Ou, pior ainda, querem microgerenciar cada aspecto da vida para garantir total controle sobre todas as ações individuais.
Para essa elite secreta, os acontecimentos mais desprezíveis e hediondos são essenciais para a realização do grande plano ao qual seus membros devotam todas as suas faculdades, energias e recursos, enquanto se esforçam diligentemente para convencer o público de que não existe conspiração alguma.
Se o leitor não acredita nisso, é porque, assim como eu, foi doutrinado na história do establishment – a história oficial higienizada por especialistas em relações públicas e desinformação, que domina os livros didáticos, as publicações comerciais, as estantes das bibliotecas e a mídia.
A linha oficial sempre pressupõe que guerras, revoluções, escândalos e assassinatos são eventos mais ou menos aleatórios e desconexos, os quais, por definição, nunca, jamais podem resultar de uma ação de grupo planejada e premeditada.
E a elite que controla a ação por trás do palco quer, naturalmente, que as coisas continuem assim.
Não é de admirar, então, que a exclusiva Ordem Caveira e Ossos tenha fundado na década de 1880 a American Historical Association e a American Economic Association sob seus termos, com seu pessoal e seus objetivos, ou que em 1946 a Fundação Rockefeller tenha destinado US$ 139.000 (o equivalente hoje a mais de dois milhões de dólares) para garantir uma história oficial da Segunda Guerra Mundial. [4]
Em todo caso, o precedente para a intenção, planejamento e execução terrível de um plano assim pode ser encontrado ao examinar o início do século XX, o período das grandes guerras e da Grande Depressão.
Políticas monetárias destrutivas provocaram, em poucos anos, o fim dos impérios russo, austro-húngaro e otomano e da Dinastia Qing. A economia alemã foi dizimada, seguindo-se a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e o lento colapso do império britânico.
Nenhuma população saiu ilesa. Mas o controle privado secreto e estritamente mantido dos bancos centrais e da criação de dinheiro foi preservado (e, portanto, a capacidade de influenciar a direção dos mercados financeiros e manipular a economia), assim como o controle sobre as principais instituições da sociedade, incluindo partidos políticos, governos, agências de inteligência, forças armadas, polícia, grandes corporações e mídia. [5]
Os herdeiros desse governo invisível consideram uma prioridade absoluta assegurar essa posição de controle e, por isso, podemos ver nos desenvolvimentos atuais as mesmas forças ocultas em operação, facilitando, estimulando, exacerbando ou até mesmo criando crises econômicas, geopolíticas ou sociais, a fim de eliminar quaisquer bolsões de resiliência e gerar o caos total.
Sobre as crises de ordem social, por exemplo, é oportuno lembrar como a morte de George Floyd em 25 de maio de 2020 (durante o auge da Covid-19 e em meio à pressão crescente das políticas sanitárias) foi usada nos meses seguintes para elevar ainda mais as tensões sociais nos Estados Unidos e transformada em um expurgo cultural dos valores americanos, [6] os quais, diga-se de passagem, são um obstáculo para os autores de nossa tragédia.
No clímax dos protestos, quando manifestantes do Black Lives Matter estabeleceram a chamada "zona autônoma" no bairro da East Precinct, em Seattle, um dos líderes do movimento explicou significativamente [7]:
Todos os dias que venho aqui, não venho para protestar pacificamente. Estou aqui para sabotar até que minhas exigências sejam atendidas. Não se pode reconstruir até que se destrua tudo.... Não! Não é um slogan, não é nem mesmo um aviso. Estou informando as pessoas sobre o que vem a seguir.
O conflito de opostos para provocar mudanças
Esta é a parte da história não registrada – a história da criação deliberada da guerra, do financiamento consciente da revolução para mudar governos e do uso do conflito para criar uma Nova Ordem Mundial. [8]
Formuladas muitas vezes nas sombras, longe do escrutínio público, essas políticas se revelam econômica e socialmente desastrosas, resultando num aumento das tensões, da instabilidade e das ameaças à segurança interna e externa.
É nesse espaço obscuro do poder que o estado profundo e seus parceiros corporativos comandam a ação e ditam as políticas, independentemente de quem ocupe o Salão Oval.
O entendimento de que isso é uma realidade e não uma teoria da conspiração pode lançar alguma luz sobre os atentados de 11 de setembro, as experiências autoritárias que se seguiram à Covid-19, o massacre de 7 de outubro no sul de Israel e a subsequente guerra em Gaza, só para mencionar alguns casos.
No entanto, o exemplo mais representativo e marcante de como a situação atual tem sido deliberadamente criada e de como o establishment desempenha um papel fundamental na forma como a história deve ser escrita diz respeito à manipulação de elementos de "direita" e "esquerda".
Para os membros da elite oculta, "esquerda" e "direita" nada mais são que dispositivos artificiais para provocar mudanças (visto que ela necessita dessas aparentes contradições para alcançar objetivos que estão acima e além da disputa partidária), e os extremos da esquerda e da direita políticas são elementos vitais em um processo de mudança controlada.
Esse sistema é conhecido como processo dialético hegeliano, segundo o qual um choque de opostos gera uma síntese.
Aplicado à política, significa que um conflito entre a esquerda e a direita deve gerar outro sistema político, uma síntese de ambas, nem esquerda nem direita. Esse conflito de opostos é essencial para provocar mudanças.
Nesse processo, a mudança requer conflito, e o conflito requer o choque de opostos, porque somente da crise assim produzida populações inteiras podem ser levadas a abandonar antigas crenças e valores e abraçar aqueles que seriam prontamente rejeitados em condições livres de incerteza, incapacidade e confusão.
Desse modo, não se pode ter apenas uma "direita". É preciso ter uma "direita" e uma "esquerda". Não se pode ter apenas uma política favorável à guerra russa na Ucrânia. É preciso ter também uma política contrária a essa guerra. (Sobre o papel da esquerda como grupo de pressão no processo dialético de mudança, clique aqui.)
Pela mesma razão, a atual dinâmica do poder global tem sido determinada pelo embate entre dois blocos ideológicos divergentes que lutam pela hegemonia mundial – representados pelos Estados Unidos e pela China e seus respectivos aliados –, pois é preciso que haja facções concorrentes para estabelecer uma escalada mais profunda. Caso contrário, o processo dialético não produzirá as mudanças desejadas.
Quando a norma é a crise, os governantes estão prontos para tirar proveito do caos em benefício próprio, acumulando quantidades cada vez maiores de poder, o que possibilita a realização das mudanças antes que a sociedade tenha chance de se organizar para proteger seus interesses.
Esse é o princípio por trás da lógica hegeliana. Ela é empregada pela elite oculta para criar uma sociedade na qual o estado é absoluto e todo-poderoso. Se a elite puder manipular o estado absoluto, ela mesma se tornará absoluta a ponto de microgerenciar cada aspecto da vida de seus subordinados.
Ora, no estado absoluto hegeliano, o indivíduo é reconhecido como tal apenas do ponto de vista de sua capacidade como membro e servo do estado, e sua "liberdade" está condicionada à completa obediência e submissão a ele.
Em outras palavras, o cidadão não tem direitos individuais. Ele existe apenas para servir ao estado. Isso contradiz diretamente a Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos.
A própria ideia de uma Nova Ordem Mundial é, a propósito, oposta ao espírito e valores americanos, pois não há na Constituição nenhuma disposição para uma ordem orgânica global e, de fato, é ilegal para qualquer oficial do governo ou funcionário eleito promover ou favorecer políticas que levem os Estados Unidos a aderir a tal ordem, uma vez que isso seria claramente inconsistente com os seus princípios fundadores.
O que a elite global espera em 2025?
Se a observação cuidadosa dos padrões recorrentes por trás de eventos que, a princípio, parecem desconexos e desprovidos de qualquer sentido razoável de coerência indica a intenção premeditada de criar ordem a partir do caos, como reza a regra áurea mencionada mais acima, então devemos esperar que o próximo ano seja marcado por grandes turbulências.
E é exatamente isso que sugere a capa do The World Ahead 2025, da The Economist, uma edição especial anual que analisa temas, tendências e eventos importantes que moldarão o próximo ano.
Embora esteja disponível para quem quiser ler, a The Economist dificilmente atrairá o interesse das pessoas comuns. É reconhecidamente uma publicação da elite para a elite. A lista de proprietários inclui algumas das famílias mais ricas e influentes do mundo, como Agnelli, Rothschild, Schroder e Layton.
As capas da revista se tornaram notórias pela exatidão de suas previsões. A edição de 2024 do The World Ahead, por exemplo, traz na capa os perfis de Volodymyr Zelenskyy e Vladimir Putin ladeados pelo que parecem ser dois grandes mísseis de longo alcance.
Coincidência ou não, o conflito entre Rússia e Ucrânia escalou para o uso de mísseis de longo alcance de ambos os lados, figurando entre as principais notícias deste ano.
A 39ª edição do The World Ahead prevê um 2025 ainda mais agitado. De acordo com o editor Tom Standage,
A vitória decisiva de Donald Trump e seu iminente retorno à Casa Branca, mais do que qualquer outra coisa, moldará o próximo ano, com implicações em muitas áreas da política, não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo.
A observação justifica a imagem em preto e branco de Trump bem no centro da capa, indicando claramente que ele será o centro das atenções.
Também aparecem as imagens de Zelenskyy, Putin e Xi Jinping. Naturalmente, as crescentes tensões geopolíticas em torno da guerra russo-ucraniana e um possível confronto entre os Estados Unidos e a China continuarão sendo temas importantes em 2025.
Mais do que isso, a elite espera que no próximo ano a coisa toda escale para o uso efetivo de armas nucleares, como sugerem as imagens sinistras logo abaixo e à direita da imagem de Trump.
Uma guerra nessas proporções poderia criar o cenário ideal para o cumprimento da última parte da Daniel 11 (sobre isso, clique aqui).
Seja como for, detalhes como esses deveriam, no mínimo, nos fazer pensar sobre o tempo solene diante de nós.
Há outras imagens sombrias na capa do The World Ahead 2025, como a de uma seringa com um líquido vermelho, de símbolos e indicadores econômicos, do olho que tudo vê, e de uma ampulheta, geralmente usada para representar a ideia de que o tempo está se esgotando.
Tempo é, de fato, um luxo que não temos, como lembra Romanos 13:11-14, e seu conselho aos cristãos é mais importante hoje do que quando Paulo o escreveu, visto que o caos que rapidamente se aproxima pode representar a oportunidade perfeita para realizar o Grande Projeto pelo qual a elite global tem ansiado e cujo maior favorecido será... Roma papal.
Notas e referências
1. As informações sobre Trebitsch-Lincoln e Harold Beckett, bem como o diálogo que se seguiu entre ambos, foram extraídas de: Werner Gerson, Le Nazisme, société secrète. Paris: Éditions J’ai lu, 1971, versão digital, sem paginação; Serge Hutin, Governantes invisíveis e sociedades secretas. São Paulo: Hemus, 1971, p. 28 e 29.
2. Serge Hutin, Governantes invisíveis e sociedades secretas, p. 168.
3. "Learning from Ants", Jeff Thomas. International Man, setembro de 2022.
4. Antony C. Sutton, America’s Secret Establishment: An Introduction to the Order of Skull and Bones. [Walterville, OR]: Trineday, 2002, versão digital, sem paginação.
5. David Rogers Webb, The Great Taking, versão digital, 2023, p. 2 e 3.
6. Um artigo publicado no OffGuardian no calor dos acontecimentos suscita importantes questões sobre o caso. Depois de observar que vídeos não se tornam virais, mas são feitos para se tornarem virais, ou seja, precisam ser produzidos, editados, publicados e compartilhados pelas pessoas certas, no momento certo e da maneira certa, o autor pergunta: "Por que o vídeo do fim trágico de George Floyd agora é viral? Por que de repente esse vídeo foi notado, e não as dezenas de outros vídeos em que policiais são brutalmente violentos? Por que, poucos dias após o incidente, a NIKE publicou um novo anúncio endossando os protestos? Por que uma revolução social supostamente popular está recebendo patrocínio como se fosse uma equipe esportiva? E por que o endeusamento da violência se tornou um tema central? [...] Quem se beneficiará com esse caos?” – "The George Floyd Protests – 20 unanswered questions". OffGuardian, 31 de maio de 2020.
7. https://youtu.be/ZpW_QLWrubE?si=0bsgcGnPVwwfq3S2&t=122, ênfase minha.
8. Antony C. Sutton, op. cit. As referências ao conflito de opostos nos parágrafos seguintes são baseadas nesta fonte.
Se você quiser ajudar a fortalecer o nosso trabalho, por favor, considere contribuir com qualquer valor:
0 Comentários