É errado tocar bateria na igreja?


Lembro-me de ter lido algo sobre um professor da Universidade Federal da Bahia que atribuiu o mau desempenho dos alunos de medicina da instituição no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) ao "baixo QI dos baianos". O caso aconteceu em 2007 e gerou muita indignação.

De acordo com o professor, o suposto baixo QI dos baianos é hereditário e pode ser percebido por quem convive com eles.

A afirmação é absurda, mas o que mais me chamou a atenção foi o exemplo que ele citou para ilustrar seu argumento:

"Um dos símbolos da Bahia é o berimbau", disse ele, "e não é o tipo de instrumento para pessoas inteligentes; é para o indivíduo que tem dificuldade; não estimula os neurônios porque tem uma corda só e não precisa de muita celebração."

Segundo o professor, "o baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria", acrescentando que o berimbau é instrumento de quem tem "problemas cognitivos".

Na verdade, a argumentação indelicada do professor desmente seu ponto de vista, já que o berimbau não foi projetado para ter mais de uma corda!

O propósito do berimbau é criar uma atmosfera propícia para conectar os capoeiristas com a energia vital ou força espiritual chamada "axé" e, como instrumento que dita o ritmo e a cadência, o berimbau precisa de apenas uma corda para isso.

Longe de demonstrar falta de capacidade ou inteligência, o berimbau prova exatamente o oposto, ao cumprir a função para a qual foi projetado.

Música sacra e bateria

Ao refletir sobre isso, ocorreu-me que, ao contrário do que muitos cristãos pensam, nem todo o instrumento é adequado no culto a Deus, pois, no caso do berimbau, os toques (e os cantos e movimentos que eles incitam) criam uma atmosfera que, evidentemente, não é compatível com a adoração a Deus.

Em outras palavras, não é possível adotar ou adaptar o berimbau como um meio de adorar a Deus e proclamar o evangelho, visto que o instrumento não foi planejado para essa finalidade.

O mesmo se aplica à bateria.

E posso dizer isso com alguma propriedade, pois cresci ouvindo de Scorpions a The Sisters of Mercy, de Queen a Front 242. Meu perfil nunca foi o do crente conservador de terno, gravata e Bíblia debaixo do braço que você imagina!

Assim como o berimbau, o maracá, o pau-de-chuva, o atabaque e outros instrumentos do gênero, a bateria foi projetada para uma função específica, nesse caso, tocar rock e jazz.

Em seu livro Bateria, Rock e Adoração, Karl Tsatalbasidis lembra que um percussionista pode muito bem executar ritmos de rock e jazz nos instrumentos de percussão que foram projetados para música clássica de orquestra, mas a bateria não pode ser executada de modo a produzir música clássica para orquestra!

Sempre que a bateria é utilizada em algum outro gênero musical (sendo executada do modo pelo qual foi originalmente projetada para ser tocada), esse outro gênero musical automaticamente transforma-se em um híbrido de rock ou de jazz.

Por isso, a última edição do Manual da Igreja é ainda mais clara e enfática sobre essa questão. A redação revisada na página 180 agora diz:

Devemos exercer grande cuidado na escolha da música nos nossos lares, nas reuniões sociais, nas escolas e nas igrejas. Qualquer melodia que tenha alguma coisa em comum [em lugar de "que partilhe da natureza do"…] com o jazz, o rock ou formas híbridas com eles relacionados [em lugar de "ou formas híbridas relacionadas"], ou qualquer letra que exprima sentimentos fúteis [em lugar de "tolos"] ou triviais, deve ser rejeitada [em lugar de "serão evitadas"].

Ao contrário das cláusulas administrativas do Manual, que podem mudar de acordo com o tempo e as circunstâncias, cláusulas como esta baseiam-se em princípios que são imutáveis.

Tsatalbasidis também observa que a bateria, inventada com o único propósito de eletrizar a música conhecida como jazz, blues, rhythm and blues e todas as variedades de rock-n-roll, nada tem em comum com os tambores mencionados na Bíblia, tanto do ponto de vista da construção e execução, como da função para a qual foram planejados.

"Portanto", Tsatalbasidis conclui, "se o rock e o jazz são formas inadequadas de música para adoração, então a bateria está automaticamente envolvida nisso, porque foi projetada exclusivamente para ser a força motriz fundamental dessa música!"

Trocando em miúdos, não é possível separar a bateria do jazz, do rock ou das formas híbridas com eles relacionados, assim como não é possível separar o berimbau da capoeira, ou a cuíca do samba.

A bateria não foi criada com o propósito de adorar a Deus, e adaptá-la com esse fim demonstra rebeldia, o que, de certa forma, faz sentido, uma vez que a bateria está associada à rebelião, à perversão sexual e ao ocultismo.

As igrejas que valorizam o canto congregacional como uma parte indispensável dos serviços religiosos não podem esperar prover um ambiente sagrado para adoração a Deus e edificação dos fieis recorrendo à bateria, pois seu som vibrante e energético é impróprio para criar uma atmosfera de reverência e adoração condizente com a santidade de Deus (ver, por exemplo, 2 Crônicas 5:11-14; 7:1-6; 20:18-28; 29:20-30; Apocalipse 4:8-11; 5:8-14; 7:9-12; 11:15-17; 19:1-4).

O problema não é só o instrumento

Além disso, a música utilizada deve ser capaz de elevar o espírito dos fieis e conduzi-los à contemplação e à oração, e aqui a linha divisória entre o aceitável e o inaceitável é particularmente tênue, porque êxtase religioso é frequentemente confundido com enlevo espiritual, e ruído e agitação, com a operação do Espírito Santo.

Infelizmente, em virtude de seu padrão rítmico acentuado e por ser esteticamente pobre, grande parte da música produzida hoje pela igreja requer o uso de instrumentos como a bateria, o cajón, o baixo elétrico, etc., bem como práticas de apresentação que imitam a música e os músicos do mundo.

Não estou aqui para julgar as intenções de ninguém, mas, inadvertidamente ou não, isso acaba sendo intencional. Citando o psiquiatra Verle Bell sobre como a batida rock causa dependência, Samuele Bacchiocchi observou em O Cristão e a Música Rock:

Como doutores inescrupulosos de 'dietas' que viciam seus clientes com anfetaminas para assegurar sua contínua dependência, músicos sabem que música discordante [em suas batidas ou acordes] vende e vende bem. Como em todo processo de dependência, as vítimas acabam se tornando tolerantes. A mesma música que no passado criava uma sensação agradável de excitação, agora não satisfaz mais. A música precisa se tornar mais estridente, alta e mais discordante. A pessoa começa com soft rock, depois passa para o rock and roll e depois vai para a música heavy metal.

Um fenômeno semelhante de tolerância está ocorrendo na igreja. O que começou assim...


… agora está assim.

O problema, portanto, não é só o tipo de instrumento utilizado, mas o estilo musical em si, que, por suas características, é impróprio para a adoração a Deus.

Uma letra cristã não fará nenhuma diferença, pois o meio (ou o estilo musical) é a mensagem, e essa mensagem é subliminarmente transmitida para o ouvinte independentemente do conteúdo.

Misturar o sacro com o profano é, aliás, uma característica da música rock. Considere, por exemplo, a seguinte letra, inspirada na parábola que Cristo contou sobre o filho pródigo:

Bem, um pobre rapaz pegou o dinheiro de seu pai
E seguiu estrada abaixo
Seguiu estrada abaixo

Pegou tudo o que tinha e seguiu estrada abaixo
Em direção a este mundo, onde só Deus sabe
E essa será a maneira de se dar bem

Bem, o pobre rapaz gastou tudo o que tinha, e a fome chegou à terra
A fome chegou à terra
Gastou tudo o que tinha e a fome chegou à terra

Ele disse: "Acho que irei e trabalharei para algum homem"
E é assim que vou me dar bem

Bem, o homem disse: "Eu lhe darei um emprego para alimentar meus porcos
Para alimentar meus porcos
Eu lhe darei um emprego para alimentar meus porcos"
O rapaz ficou ali, baixou a cabeça e chorou
Porque isso não é jeito de se dar bem

Ele disse: "Acho que partirei, acho que voltarei para casa
Acho que voltarei para casa
Acho que partirei, acho que voltarei para casa
Ou até onde eu puder ir"

Bem, o pai disse: "Veja meu filho voltando para casa
Voltando para casa"
O pai correu e se ajoelhou
E disse: "Cante e louve, o Senhor teve misericórdia de mim"

Oh, pobre rapaz, ficou ali, baixou a cabeça e chorou
Baixou a cabeça e chorou
O pobre rapaz ficou ali, baixou a cabeça e chorou
E disse: "Pai, tu me receberás como um filho?"

Bem, o pai disse: "Filho mais velho, mate o bezerro cevado,
Chame a família
Mate o bezerro cevado e chame a família
Meu filho estava perdido, mas agora ele foi encontrado
Porque essa é a maneira de nos darmos bem"

Agora confira a música para a qual a letra foi escrita e qual banda a executou:


Note que a bateria está ausente, porque o que determina a pegada aqui não é o instrumento (nesse caso, o violão) mas o padrão rítmico da música, que "pede" que o instrumento seja tocado dessa forma.

Não importa, então, se a letra foi inspirada numa parábola de Cristo. Isso certamente não torna a música dos Rolling Stones (nem nenhuma outra) sacra!

Conclusão

"Em matéria de música sacra", escreveu Dario Araújo em Música, Adventismo e Eternidade, "não se trata de ser conservador ou liberal.

É questão de princípios e de discernimento para não se confundir leve com trivial, alegre com vulgar, animado com excitante, sacro com popular, manter a linha com não ter linha nenhuma, liberdade cristã com libertinagem existencialista na derrubada de todos os padrões e princípios estabelecidos que permeia a música popular e a vida de seus produtores.

Neste artigo, observei que a inimizade entre a serpente e a mulher estabelecida por Deus em Gênesis 3:15 é a primeira e mais fundamental linha divisória entre o erro e a verdade, entre os representantes de Satanás e os representantes de Cristo. Dessa inimizade derivam todas as demais alianças, promessas e condenações do Antigo e do Novo Testamento.

Essa inimizade sentenciada por Deus em Sua promessa no Éden exige tal distinção ou separação, e ela tem existido desde a queda de Satanás.

Não é possível nenhum acordo, nenhuma acomodação entre Cristo e Satanás, entre os legítimos representantes de Jesus e as forças satânicas, visto que a grande controvérsia iniciada no Céu e que envolve o reino de Deus e o reino de Satanás entre os homens decorre dessa inimizade.

Ignorá-la ou simplesmente rejeitá-la por meio de qualquer acordo ou ajuste estranho ao concerto original que Deus firmou com Sua igreja é considerado por Ele um ato de traição comparável à infidelidade conjugal!

Meu sincero desejo e oração é que compreendamos isso e, ao mesmo tempo, busquemos diligentemente uma dieta musical superior, mais refinada, de grandiosidade artística, integridade e profundidade, que seja útil para nosso desenvolvimento e formação, de modo que o nome de Deus seja glorificado. (A música popular vai no sentido oposto; o do rebaixamento e da mediocridade.)

Para saber mais, confira os vídeos do meu amigo Nando Batista, disponíveis aqui.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, acesse os sites dos meus amigos Levi de Paula Tavares e Daniel Azevedo.

E para desfrutar música cristã de qualidade, clique aqui, aqui e aqui.


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