[Revisado em 07 de fevereiro de 2021]
Assim como um corpo saudável não está imune a doenças infecciosas, o corpo de crentes não está livre desse "patógeno" de natureza espiritual, mesmo em sua melhor condição.
Ao tratar desse fenômeno que ameaça a igreja, a Bíblia é bastante clara e direta.
A mensagem de Cristo à igreja de Éfeso, por exemplo, figura entre as advertências mais importantes.
Faremos bem em ouvir Seu diagnóstico e seguir Seus conselhos, como o enfermo que, diante dos primeiros sintomas da doença, busca diligentemente a cura.
Por isso, "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2:7).
A carta de Jesus Cristo à igreja de Éfeso, assim como as cartas enviadas às outras seis comunidades cristãs na Ásia Menor (Apocalipse 2 e 3), também se aplica às igrejas de nosso Salvador em todos os lugares e épocas, e descreve, além disso, a condição da igreja durante a era cristã.
A florescente comunidade cristã de Éfeso foi fundada por Paulo. O nome da cidade significa "desejável" e era uma lembrança de sua posição geográfica vantajosa.
Faremos bem em ouvir Seu diagnóstico e seguir Seus conselhos, como o enfermo que, diante dos primeiros sintomas da doença, busca diligentemente a cura.
Por isso, "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2:7).
Uma mensagem para não esquecer
A carta de Jesus Cristo à igreja de Éfeso, assim como as cartas enviadas às outras seis comunidades cristãs na Ásia Menor (Apocalipse 2 e 3), também se aplica às igrejas de nosso Salvador em todos os lugares e épocas, e descreve, além disso, a condição da igreja durante a era cristã.
A florescente comunidade cristã de Éfeso foi fundada por Paulo. O nome da cidade significa "desejável" e era uma lembrança de sua posição geográfica vantajosa.
Também descrevia fielmente o caráter e a condição espiritual da igreja primitiva, caracterizada pela fidelidade aos princípios fundamentais do evangelho de Cristo e pela presença viva e atuante do Espírito Santo, por meio de Quem muitas obras de extraordinário poder foram manifestadas entre os crentes, produzindo um eloquente testemunho em favor da verdade.
No entanto, a despeito de suas virtudes, os cristãos de Éfeso haviam perdido o "primeiro amor" (Apocalipse 2:4), isto é, haviam abandonado aquele fervor vivo e caloroso que caracteriza as primeiras afeições dos homens para com Deus, embora ainda conservassem a Cristo como o centro de sua devoção.
Essa condição foi o primeiro passo de uma sucessão de desvios que finalmente resultou no quadro que João viu em Apocalipse 17, ao contemplar o julgamento da "grande meretriz".
A perda do primeiro amor
A experiência da igreja de Éfeso lembra que, mesmo uma comunidade cristã forte e coesa, que se distingue por sua simplicidade e fervor, por sua obediência a cada palavra de Cristo, e pelo firme e sincero amor por Ele e pelas almas a perecer, pode, com o tempo, diminuir sua devoção a Deus, decrescer no amor mútuo e perder seu primitivo espírito.
Esquecer-se da experiência da conversão, da maneira maravilhosa como se recebeu a verdade, quando então os primeiros raios de seu fulgurante brilho iluminam o coração e o maior anseio da alma é a busca do conhecimento divino, do crescimento na graça e do vigoroso testemunho do poder que a acompanha, é o sintoma inicial da perda do primeiro amor.
À medida que as gerações seguintes de cristãos esqueciam sua própria salvação, obtida a tão elevado custo, e os velhos porta-vozes da verdade caíam em seu posto, um após o outro, o amor e o zelo pela "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" cederam lugar a uma nova e estranha paixão.
O ávido desejo por algo novo e extraordinário, que ainda parecesse distante do mundo, como convém às aparências, mas próximo o bastante para ser confundido com ele, tornou-se a via expressa pela qual se introduziram na igreja novas práticas e doutrinas que infamaram o caminho da verdade.
E quando os originadores dessas doutrinas falsas passaram a defendê-las tenazmente como regra de fé para todos os cristãos, surgiram dentro da igreja as diferenças e os conflitos, e o pouco que ainda restava do espírito de Cristo desapareceu rapidamente.
Quão sagaz foi o diabo ao desviar os cristãos do fundamento de sua fé!
Como as gerações posteriores de crentes recebiam cada vez menos luz do evangelho e cada vez mais das atraentes fábulas de invenção humana, ficaram sem nenhuma proteção, até que finalmente a piedade se extinguiu, e a chama do amor fraterno que um dia ardera intensamente se apagou de quase todos.
O servo se torna mestre e juiz
Quando a Palavra de Deus como norma de fé dos cristãos foi substituída pelo peso das tradições, e a origem apostólica era lembrada apenas para legitimar a dignidade da função episcopal, já eram claramente visíveis os fundamentos da igreja a qual o bispo Inácio de Antioquia deu o nome de "católica".
Era evidente que, na mesma medida em que o formalismo e a pompa substituíam o conteúdo e a simplicidade na adoração, viabilizando o longo processo do compromisso entre cristãos e pagãos [1], o prestígio e o poder pessoal passaram a orientar a escolha dos líderes, os quais não só esperavam assumir mais autoridade sobre a igreja local, mas estendê-la sobre outras congregações.
Em nenhum outro personagem a força dessa ambição foi mais visível do que no bispo de Roma, uma ideia reconhecida e animada por Cipriano, segundo o qual o bispo da igreja de Roma deveria ser honrado sobre os outros bispos, e suas opiniões e decretos, recebidos com poderes apostólicos.
Com o tempo, a função pontifícia se tornou, como a de um imperador, uma grandeza colocada acima dos homens, uma prerrogativa daqueles que a detém e um legado que permanece naqueles que a recebem e a transmitem.
Na tentativa de legitimá-la, não se hesitou em interpretar as palavras de Cristo em Mateus 16:18 de forma a justificar a natureza, o lugar e a perpetuidade dessa função, embora o próprio Pedro não tivesse entendido assim (ver Atos 4:8-12; I Pedro 2:4-8).
Sobre a mudança significativa que então ocorreu na igreja cristã, William D. Killen observou: [2]
No intervalo entre os dias dos apóstolos e a conversão de Constantino, a comunidade cristã mudou de aspecto. O bispo de Roma - um personagem desconhecido para os escritores do Novo Testamento - ganhou, entretanto, proeminência e, por fim, passou a ter precedência sobre todos os outros membros da igreja. Ritos e cerimônias, dos quais nem Paulo nem Pedro jamais ouviram falar, entraram silenciosamente em uso e, então, reivindicaram o status de instituições divinas. Funções para os quais os discípulos primitivos não poderiam encontrar nenhum lugar, e títulos que para eles teriam sido totalmente ininteligíveis, começaram a reclamar atenção e a ser chamados de apostólicos.
Foi durante esse tempo que o paganismo se instalou do modo mais completo na igreja, convertendo a "virgem pura", prometida "a um só esposo, que é Cristo" (II Coríntios 11:2), em uma mulher adúltera, com sua sede em Roma.
O falso sacerdócio substitui o verdadeiro
A alegação de que Pedro tinha fundado a igreja em Roma foi um dos precedentes para a reivindicação do primado da igreja romana sobre as demais e para a sucessão apostólica direta e a crença em um sacerdócio literal personificado no clero, sem a presença do qual a adoração não teria nenhum valor [3].
Para usar as palavras de Olavo de Carvalho, todo sacerdócio converte-se, mais cedo ou mais tarde, num culto de si mesmo: tendo outrora servido à verdade, eles hoje tomam o lugar dela no altar de um culto degenerado [4]. Isso se aplica verdadeiramente ao clero romano e ao papado.
Um sacerdócio só degenera quando abandona o "primeiro amor", quando toma o lugar do Espírito Santo na condução da igreja e, assim, passa a dirigi-la contrariamente ao conselho de I Pedro 5:1-3.
A ascensão desse tipo de sacerdócio dentro da igreja cristã, com todos os seus efeitos, cumpre notavelmente a previsão de Paulo em II Tessalonicenses 2:3-4; a apostasia é um fenômeno cristão, que amadurece e se consolida no "homem da iniquidade", a personificação do falso sacerdócio "situado onde não deve estar" e que substitui a adoração verdadeira por seu culto idólatra.
Naturalmente, Paulo não tinha em vista um único homem em sua advertência, mas uma sucessão de homens que detêm as mesmas características indicadas em sua mensagem profética.
Ora, como já foi observado, Paulo se refere ao "homem da iniquidade" como aquele que "se assenta" no santuário de Deus, uma descrição derivada da visão de Daniel, em que "o Ancião de Dias se assentou... e se abriram os livros" (Daniel 7:9-10).
O fato de Paulo usar esta visão de Daniel como uma espécie de referência para descrever a atitude ousada do homem do pecado de "assentar-se" no templo de Deus indica indubitavelmente que o anticristo se autoproclamaria sacerdote e juiz dentro da igreja no lugar de Cristo!
Ao interpretar o esboço profético de Daniel segundo o princípio do evangelho, ou seja, em seu cumprimento em Cristo e Sua igreja, Paulo não deixa margem para dúvidas quanto ao tempo, à origem e à natureza desse fenômeno.
A apostasia apareceria durante a era cristã, permanecendo até o glorioso retorno de nosso Senhor, surgiria dentro do povo da nova aliança e teria como personagem central um anti-Messias, que estabelece no santuário de Deus uma adoração falsificada baseada em um falso sistema de expiação.
O perfil da igreja apóstata no Apocalipse
Essa descrição da apostasia da igreja institucional, em tensão com a comunidade de cristãos fiéis, é desenvolvida na seção profética do livro de Apocalipse que se estende dos capítulos 12 a 19.
A "noiva" de Cristo, outrora virtuosa e vestida da glória de seu Criador, rompeu o pacto com seu Noivo, prostituindo-se com os "reis da terra", o que fez dela uma adúltera, que se veste "de púrpura e de escarlata", e se adorna "de ouro, de pedras preciosas e de pérolas" (Apocalipse 17:4).
As expressões e simbolismo empregados aqui são bastante expressivos do ponto de vista do Antigo Testamento.
Jeremias usou a mesma linguagem para descrever a apostasia da "filha de Sião", que abandonara o seu "marido" e Redentor (Isaías 54:5) para prostituir-se "com muitos amantes" (Jeremias 3:1).
E destaca sua tentativa de exaltar-se a si mesma, não obstante o inglório destino que então a aguardava: "Agora, pois, ó assolada, por que fazes assim, e te vestes de escarlata, e te adornas com enfeites de ouro, e alargas os olhos com pinturas, se debalde te fazes bela? Os amantes te desprezam e procuram tirar-te a vida" (Jeremias 4:30).
É perfeitamente possível que Jeremias tivesse em mente a figura de Jezabel como modelo para descrever a vil condição a que se sujeitou Judá e Jerusalém (ver II Reis 9:30).
Jezabel, filha de um rei sidônio (I Reis 16:31), pervertera Israel mais do que todas as mulheres de Salomão, tendo introduzido o culto do Sol entre o povo de Deus. Como idólatra zelosa, era praticante de prostituições cultuais e feitiçarias (II Reis 9:22) e mantinha sob seus cuidados um vasto clero de sacerdotes pagãos (I Reis 18:19).
O casamento de Acabe, rei de Israel, com Jezabel, e a posterior apostasia do povo, formam uma prefiguração apropriada do declínio espiritual da igreja durante a era cristã. Por isso, João usa a mesma linguagem para descrevê-lo.
A correspondência essencial entre a Jezabel histórica e seu antítipo profético dentro da igreja fora antecipada pelo próprio Salvador, ao repreender a igreja de Tiatira (Apocalipse 2:20):
Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetiza, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos.
A geração de crentes simbolizada por Tiatira permitiria em seu meio uma nova Jezabel, com suas falsas reivindicações como profetiza de Deus e com seu culto religioso degenerado, em marcante contraste com a igreja de Éfeso.
Uma verdade inconveniente
A consequência de a igreja em Tiatira ter aceitado em seu meio tudo o que essa mulher vil representa foi o fato de a própria igreja institucional converter-se numa meretriz!
É significativo, pois, que João use palavras semelhantes às de Jeremias 4:30 para descrever a mulher adúltera e extravagante em que se converteu a igreja, por seu completo desvio da doutrina original (Apocalipse 17:4).
No sistema levítico, as vestes litúrgicas dos sacerdotes que ministravam no Lugar Santo do tabernáculo foram, por instrução divina, confeccionadas com fios de tecido azul, púrpura e escarlata (Êxodo 39:1), e o selo gravado na coroa sacerdotal, com a inscrição "Santidade ao SENHOR", fora fixado na parte superior da mitra com um cordão azul (versos 30-31)!
Mais tarde, Deus instruíra os israelitas a fazer nas extremidades de suas vestes borlas com um cordão azul em cada uma delas, "para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus" (Números 15:37-40).
Assim, a cor azul deveria ser uma lembrança da santidade de Deus, das reivindicações de Sua santa lei e de que os israelitas eram santos ao Senhor, separados das nações idólatras pelo próprio Deus.
Não deviam atender aos próprios desejos ou imitar essas nações, prostituindo-se com elas, mas permanecer como um povo santo, distinto, a fim de que o nome de Deus e Sua lei fossem exaltados entre os povos, e Sua bênção permanecesse sobre eles.
Significativamente, o azul está ausente das vestes da grande prostituta, indicando, portanto, que a igreja, repetindo o fracasso de Israel no passado, rejeitou as grandes verdades que essa cor representava.
Por isso, em lugar das palavras "Santidade ao SENHOR", a grande meretriz tem em sua fronte a inscrição: "Babilônia, A Grande, A Mãe Das Meretrizes E Das Abominações Da Terra" (Apocalipse 17:5).
A antiga Babilônia era conhecida entre os seus habitantes como a "porta dos deuses", e sua magnificente torre era considerada a "pedra fundamental do céu e da terra".
A Babilônia do tempo do fim compreende um falso sacerdócio, um falso sistema de expiação e mediação que instituiu dentro da igreja de Deus um culto de sua própria imagem.
E assim como Jezabel usou seu marido para perseguir os profetas de Deus, esta Jezabel apocalíptica usará os "reis da terra" para promover o assassinato legalizado dos seguidores de Jesus, um assunto que vamos examinar nos próximos artigos.
Notas e referências
1. Isaac Newton escreveu: "Deleitavam-se os pagãos com os festivais dos seus deuses e não estavam dispostos a renunciar àqueles deleites. Assim, no propósito de lhes facilitar a conversão, Gregório instituiu festas anuais aos santos e mártires. Eis porque, para enfraquecer as festas pagãs, as principais festas cristãs tomaram o seu lugar: assim, a comemoração do Natal com comes e bebes, jogos e esportes, tomou o lugar das Bacchanalia e das Saturnalia; a celebração com flores do Primeiro de Maio substituiu as festas Floralia; as festividades da Virgem Maria, de João Batista e de diversos apóstolos substituíram as solenidades da entrada do Sol nos signos do Zodíaco, segundo o calendário juliano. Durante a perseguição de Décio, Cipriano ordenou que as paixões dos mártires na África fossem registradas, para celebrar anualmente a sua memória, com oblações e sacrifícios." - Sir Isaac Newton, As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel: As Raízes do Código da Bíblia. São Paulo: Pensamento, 2008, p. 151.
2. W.D. Killen. The Ancient Church: its History, Doctrine, Worship, and Constitution, Traced for the First Three Hundred Years. New York: Charles Scribner, 1859, p. 6.
3. Para uma amostra das pretensões de dignidade do sacerdócio católico, clique aqui.
4. http://old.olavodecarvalho.org/livros/neesquerdas.htm
Se você quiser ajudar a fortalecer o nosso trabalho, por favor, considere contribuir com qualquer valor:
ou
0 Comentários