Dignidade reivindicada pelo sacerdócio romano


Afonso de Liguori (1696-1787), canonizado pelo papa Gregório XVI em 1831, é autor do livro Dignity and Duties of the Priest, especialmente destinado ao clero. A obra contém uma quantidade notável de declarações extraordinárias e soberbas. Sobre a dignidade sacerdotal, consta o seguinte:

Assim, a dignidade do sacerdote é a mais nobre de todas as dignidades deste mundo. 'Nada', diz São Ambrósio, 'é mais excelente neste mundo'. Ela transcende, diz São Bernardo, 'todas as dignidades dos reis, dos imperadores e dos anjos'. De acordo com São Ambrósio, a dignidade do sacerdote excede em muito a dos reis, como o valor do ouro supera o do chumbo. A razão é porque o poder dos reis se estende somente aos bens temporais e aos corpos dos homens, ao passo que o poder do sacerdote abrange os bens espirituais e a alma humana. Por isso, diz São Clemente, 'tanto quanto a alma é mais nobre do que o corpo, assim é o sacerdócio mais excelente do que a realeza'. 'Príncipes', diz São João Crisóstomo, 'tem o poder de ligar, mas eles vinculam somente os corpos, enquanto o sacerdote une as almas'.

A glória dos reis da terra consiste em honrar os sacerdotes: 'É característico de um bom príncipe', diz o Papa São Marcelino, 'honrar os sacerdotes de Deus'. 'Eles voluntariamente', diz Pedro de Blois, 'dobram os joelhos diante do sacerdote de Deus, beijam suas mãos, e reclinam a cabeça para receber sua benção'. 'A dignidade sacerdotal', diz Crisóstomo, 'ofusca a dignidade real; daí o rei inclinar a cabeça sob a mão do padre para receber sua benção'. Baronius relata que quando a imperatriz Eusébia enviou mensagem a Leôncio, Bispo de Trípoli, ele respondeu que se ela quisesse vê-lo deveria concordar com duas condições: primeira, que em sua chegada, ela devia imediatamente descer do trono e, curvando a cabeça, pedir sua benção; segunda, que ele devia sentar no trono, e que ela não poderia sentar-se nele sem sua permissão. Acrescentou que, a menos que ela se submetesse a essas condições, ele jamais poderia ir ao palácio. (...)

A dignidade sacerdotal ultrapassa também a dignidade dos anjos, os quais mostram igualmente sua veneração pelo sacerdócio, diz São Gregório Nazianzeno. Todos os anjos no céu não podem absolver um único pecado. Os anjos da guarda granjeiam em favor das almas comprometidas com a sua graça o cuidado de recorrer a um sacerdote para que possa absolvê-las. 'Embora', diz São Pedro Damião, 'os anjos possam estar presentes, eles ainda esperam que o padre exerça seu poder, pois nenhum deles tem a faculdade das chaves - de ligar e desligar'. Quando São Michael trata de um cristão moribundo, que invoca seu auxílio, o santo arcanjo pode afugentar os demônios, mas não pode libertá-lo de suas cadeias até que um padre o absolva. Depois de ter concedido a ordem do sacerdócio a um santo clérigo, São Francisco de Sales percebeu que, ao sair, ele parou à porta como se estivesse dando precedência a outro. Sendo indagado pelo santo por que ele parou, respondeu que Deus o favoreceu com a presença visível de seu anjo, que antes de haver recebido o sacerdócio sempre permanecia à sua direita e o precedia, mas depois passou a andar à sua esquerda, recusando-se ir adiante dele. Foi em uma santa disputa com o anjo que ele parou à porta. São Francisco de Assis costumava dizer: 'Se visse um anjo e um padre, dobraria os joelhos primeiro ao sacerdote e depois ao anjo'. [1]

A grandeza da dignidade de um sacerdote também é estimada a partir do elevado status que ele ocupa. O sacerdócio foi chamado, no sínodo de Chartres, em 1550, a sede dos santos. Os sacerdotes são chamados vigários de Jesus Cristo porque ocupam o seu lugar na terra. 'Vós ocupais o lugar de Cristo', diz-lhes Santo Agostinho, 'vós sois, portanto, seus lugares-tenentes'. No Concílio de Milão, São Charles Borromeo chamou os sacerdotes de representantes da pessoa de Deus na terra...

Quando subiu ao céu, Jesus Cristo permitiu a seus sacerdotes ocupar na terra depois dele o seu lugar de mediador entre Deus e os homens, particularmente sobre o altar. 'Deixe o padre', diz São Lourenço Justiniano, 'aproximar-se do altar como outro Cristo'. Segundo São Cipriano, um padre no altar executa o ofício de Cristo. Quando, diz São Crisóstomo, virdes um sacerdote oferecendo sacrifício, considere que a mão de Cristo é invisivelmente estendida. [2]

A doutrina rígida e detalhada formulada pelo concílio de Trento deu origem ao primeiro catecismo romano - o catecismo do concílio de Trento. Publicado sob os auspícios de Pio V, este manual da Igreja apresenta o seguinte sobre a pretensa dignidade dos sacerdotes:

Padres e bispos são, por assim dizer, os intérpretes e arautos de Deus, comissionados em seu nome para ensinar à humanidade a lei de Deus e os preceitos de uma vida cristã - eles são os representantes de Deus na terra. Impossível, portanto, conceber uma dignidade mais sublime, ou funções mais sagradas. Justamente, por esta razão, eles são chamados não apenas de anjos, mas deuses, assegurando como fazem o lugar, o poder e a autoridade de Deus na terra. Todavia, o sacerdócio, sempre um elevado ofício, transcende na Nova Lei todos os outros em dignidade. O poder de consagrar e oferecer o corpo e o sangue de nosso Senhor e de perdoar pecados, com o qual o sacerdócio da Nova Lei está investido, é, desta maneira, incompreensível à mente humana, e menos ainda igualado ou equiparado a qualquer coisa na terra. [3]

Notas e referências


1. Alfonso Maria de Liguori, Eugene Grimm (Editor). Dignity and Duties of the Priest: or, Selva; acollection of materials for ecclesiastical retreats. Rule of life and spiritualrules. New York, Cincinnati, Chicago: Benziger Brothers, 1889, p. 29 a 31.

2. Ibid., p. 33 e 34.

3. The Catechism of the Council of Trent, published by command of pope Pius the Fifth. Baltimore, MD: Lucas Brothers, 1829, p. 212, 'Dignity of this Sacrament".

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