Leão XIV: o papa do tempo do fim


A eleição do novo papa na última quinta-feira foi um acontecimento surpreendente. O cardeal Robert Prevost não estava entre os favoritos, é o primeiro papa norte-americano na história da Igreja e o primeiro agostiniano a ocupar essa função.

Por isso o lema do brasão do papa, "In illo uno unum" ("Em aquele que é um, somos um só", uma frase de Agostinho), indicando seu desejo de promover a unidade dentro da Igreja no melhor espírito da tradição agostiniana.

Em outras palavras, é como se fosse uma versão católica do "Make America Great Again"!

O fato de o novo papa ser americano também é interessante. Ele foi eleito num momento em que os Estados Unidos estão experimentando uma virada em sua história recente, um retorno vigoroso aos valores morais e religiosos, com repercussões que vão muito além de suas fronteiras.

E esse avivamento significa, na prática, "Make America Catholic Again"!

Se Leão XIV estará alinhado ou não com a administração conservadora de Trump, só o tempo dirá – o papa é um ferrenho opositor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e dos estudos de gênero nas salas de aula, mas já foi crítico de Trump e Vance.

Contudo, não deixa de ser relevante que um papa americano tenha sido eleito justamente agora.

O nome Leão XIV

Carregado de simbolismo e história, o nome que o papa adotou, Leão XIV, nos remete aos vários papas Leão que se destacaram por sua firmeza na defesa da autoridade papal e sua capacidade de administrar a Igreja em tempos desafiadores.

Leão I (440-461), chamado Magno, foi o primeiro papa a desenvolver clara, firme e completamente a doutrina do primado romano, com todas as suas implicações. Em uma carta ao bispo Anastácio de Tessalônica, ele escreveu:

Embora os bispos tenham uma dignidade comum, não são todos do mesmo nível. Mesmo entre os mais abençoados Apóstolos, embora fossem iguais em honra, havia uma certa distinção de poder. Todos eram iguais ao serem escolhidos, mas a um foi dada a proeminência sobre os outros... o cuidado da Igreja universal convergiria na única Sé de Pedro, e nada deveria estar em desacordo com essa cabeça.

Leão III (795-816) reafirmou a noção de que o papa é o verdadeiro imperador ao coroar Carlos Magno como Imperador do Sacro Império Romano no Natal do ano 800, um gesto que lembrava ao surpreso rei que o poder que conferiu o diadema poderia um dia reclamá-lo.

Leão IV (847-855), que exerceu seu pontificado num tempo em que Roma tomava mais consciência de sua força, determinou que, nos documentos oficiais, se contassem os anos não só do reinado do imperador, mas também do reinado do papa.

Leão IX (1049-1054) enfatizou a autoridade papal em uma carta a Michael Cærularius, patriarca de Constantinopla, na qual citou uma grande parte da Doação de Constantino (um documento que Lorenzo Valla, em 1439, provou ser falso) para lembrá-lo de que o imperador romano havia conferido à "Sé de Pedro" dignidade, autoridade e primazia únicas.

O patriarca rejeitou as alegações de primazia papal, levando ao grande cisma de 1054 entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.

Leão XII (1823-1829), o papa que condenou as sociedades bíblicas e, sob a influência dos jesuítas, reorganizou o sistema educacional dos estados papais, colocando-o inteiramente sob controle sacerdotal, teve um pontificado marcadamente conservador.

Por fim, Leão XIII (1878-1903), um dos papas mais influentes da história moderna, que buscou infundir o espírito de conciliação entre o Vaticano e o mundo moderno, mas que queria também seu trono poderoso a fim de tornar poderosa sua Igreja, foi mais político que religioso.

Ele iniciou seu pontificado com a difícil tarefa de reverter a situação da Alemanha sob Bismarck, cujo intuito era fundar uma Igreja nacional, independente de Roma e sujeita ao estado.

Para isso, o papa buscou uma abordagem mais estratégica em relação à de seu predecessor, Pio IX, que adotou uma postura de forte condenação e resistência às ideias modernas.

Leão XIII foi tão bem-sucedido, que Bismarck restabeleceu a embaixada prussiana junto ao Vaticano e, em 1885, confiou ao papa as funções de árbitro no litígio entre a Espanha e a Alemanha pelas ilhas Carolinas. Guilherme I o presenteou com uma mitra de ouro, e Guilherme II o visitou no Vaticano, em 1893, com a imperatriz.

Apesar desses sucessos, Leão XIII não logrou êxito em conquistar o apoio das grandes potências para uma solução da questão romana, o que certamente abriria o caminho para a restauração do poder temporal do papado. Somente mais tarde, com Pio XI e o Tratado de Latrão, esse alvo seria alcançado.

Há mais no nome do papa do que alguns supõem

Em um discurso aos membros do colégio de cardeais, Leão XIV explicou que escolheu esse nome em referência ao legado social de Leão XIII, que escreveu a encíclica Rerum Novarum, a primeira a tratar diretamente da doutrina social da Igreja como a conhecemos hoje.

Em razão das críticas contundentes de Leão XIII ao socialismo, alguns influenciadores de direita, que defendem os princípios fundadores que fizeram dos Estados Unidos uma grande nação, estão celebrando o suposto fato desse papa ter sido profundamente anticomunista, uma qualidade que poderia inspirar a linha de pensamento do atual papa.

No entanto, além dos breves fatos apresentados acima sobre Leão XIII, que provam que o papado muda suas estratégias de acordo com as circunstâncias, mas nunca a sua natureza, uma leitura mais atenta da Rerum Novarum revela exatamente o oposto.

Recomendo que o leitor aprecie este capítulo de Ecclesiastical Megalomania, de John Robbins, que aborda o que a encíclica realmente quer dizer:

Recomendo também o seguinte post, que expõe a doutrina social da Igreja não pelo seu valor de face, mas pelo que ela ensina:

Por mais conciliador que tenha sido, Leão XIII soube defender o rígido centralismo do sistema romano, especialmente em virtude das tendências modernas que desafiam as prerrogativas que a Igreja sempre reivindicou.

Considere, por exemplo, as seguintes declarações de Leão XIII, que a Igreja diz serem infalíveis.

Em sua encíclica Immortale Dei, de 1º de novembro de 1885, ele escreveu:

12. Devem, pois, os chefes de Estado ter por santo o nome de Deus e colocar no número dos seus principais deveres favorecer a religião, protegê-la com a sua benevolência, cobri-la com a autoridade tutelar das leis, e nada estatuírem ou decidirem que seja contrário à integridade dela.

Note, por favor, que Leão XIII não está tratando aqui da proteção e assistência legal a qualquer religião, e sim à religião católica, em relação à qual o estado e suas instituições têm o dever de garantir a integridade. Mais adiante, o papa acrescenta (as ênfases são minhas):

35. [...] As leis, a administração pública, a educação sem religião, a espoliação e a destruição das Ordens religiosas, a supressão do poder temporal dos Pontífices romanos, tudo tende a este fim: ferir no coração as instituições cristãs, reduzir a nada a liberdade da Igreja Católica, e ao nada os seus demais direitos.

Não é de admirar que em sua carta apostólica Testem Benevolentiae Nostrae, de 22 de janeiro de 1899, Leão XIII tenha condenado o Americanismo, que envolvia ideias vistas como potencialmente prejudiciais à doutrina, à disciplina e à liberdade católicas, como a autonomia individual e a separação entre Igreja e Estado.

Em sua encíclica Libertas, de 20 junho de 1888, Leão XIII diz, referindo-se à liberdade de expressão e de imprensa,

que não podem haver direitos como estes, se não forem usados com moderação [ao contrário da Igreja, que goza do que ela chama de "liberdade sagrada", incondicional e irrestrita], e se ultrapassarem os limites e o fim de toda a verdadeira liberdade [os quais são definidos pela Igreja].

Ele também diz que

Os homens têm o direito, livre e prudentemente, de propagar em todo o Estado todas as coisas que são verdadeiras e dignas [isto é, aquelas que estão em harmonia com as doutrinas e a disciplina católicas]... mas opiniões mentirosas, que nada mais são que praga mental [como a liberdade de consciência e a liberdade de imprensa], e vícios que corrompem o coração e a vida moral, devem ser diligentemente reprimidos pela autoridade pública.

Na encíclica Praeclara Gratulationis Publicae, Leão XIII escreveu, sem rodeios: "Ocupamos na Terra o lugar do Deus Todo-Poderoso".

Essa declaração de Leão XIII tem sido reivindicada desde então por seus sucessores  É certo, portanto que, independentemente das preferências ideológicas do atual papa, ele trabalhará pela restauração do primado romano e pelos ideais universais de sua Igreja com o mesmo zelo e ousadia de seu predecessor, Leão XIII.

Um sinal dos tempos

Há uns dois dias, minha esposa compartilhou comigo uma notícia publicada no g1. A matéria diz que, após a nomeação do papa americano Robert Francis Prevost, referências a Apocalipse 13 pipocaram nas redes sociais!

A matéria explica que "as postagens fazem referência a um trecho do capítulo 13, que trata sobre a emergência de duas bestas: uma da terra e outra do mar, que simbolizam, respectivamente, o poder político e o poder religioso"!!

"Como Leão XIV, novo líder da Igreja Católica, é nascido nos Estados Unidos, país mais poderoso do mundo, esse trecho é interpretado como um sinal do fim dos tempos", diz o texto.

É um sinal, sem dúvida, e à medida que aumenta a percepção geral de que algo de grande proporção está para acontecer, cresce o interesse das pessoas pelo livro do Apocalipse, o que dará visibilidade à sua mensagem e oportunidade aos seus mensageiros para proclamar ao mundo o último convite de misericórdia.


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