Visões que infundem esperança



Uma vez estabelecido que o arranjo entre a visão de Apocalipse 17 (na qual a grande meretriz é o destaque) e sua explicação (cujo destaque é a besta) sugere fortemente que ambos os atores de interesse da profecia devem ser entendidos com base em suas relações, passaremos a considerar outra singularidade ainda mais notável, que amplia a perspectiva dessa visão.

Há algo de especial no modo como a visão de Apocalipse 17 foi revelada a João; o anjo que o acompanha em sua experiência visionária é expressamente identificado como um dos anjos portadores dos sete últimos flagelos (Apocalipse 17:1)!

É esse fato surpreendente que introduz a visão do capítulo 17 e, ao mesmo tempo, a seção literária do Apocalipse que trata especificamente do veredito de Deus contra Babilônia mística e sua final erradicação, e que se estende até o capítulo 19:10.

Significativamente, o mesmo anjo das pragas introduz outra seção correspondente e oposta a esta, que trata da Nova Jerusalém, a cidade celestial, que João viu descendo "do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo" (Apocalipse 21:2)! Esta seção começa no capítulo 21:9 e se estende até o 22:9.

As duas seções começam com um chamado semelhante do anjo das pragas:




Ambas desenvolvem várias correspondências, que são opostas entre si, como estas:




Elas ressaltam a mesma garantia divina de que estas revelações não se apoiam meramente na autoridade de um anjo, mas de Deus, e, portanto, "são fiéis e verdadeiras":




E concluem com a mesma tentativa de João para adorar o anjo intérprete. Em cada caso, a resposta do anjo - "adora a Deus" - reforça o tema central de todo o Apocalipse, que é especialmente decisivo no tempo do fim: a adoração!




Esta formidável disposição literária estabelece um expressivo contraste entre a Nova Jerusalém e Babilônia, entre a "esposa do Cordeiro" e a "grande meretriz"! (1)

Ela assinala que os homens têm diante de si apenas duas possibilidades, com dois desfechos completamente distintos, os quais dependem de sua resposta ao apelo implícito do anjo: "Não adorem a besta, nem mesmo os seres celestiais. Adorem somente a Deus"!

Babilônia é a "grande cidade que domina sobre os reis da terra" (Apocalipse 17:18). "Nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (18:24), e, por isso, "Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:5).

Por conseguinte, seus cidadãos, "cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo" (Apocalipse 17:8), serão constrangidos a beber não só do cálice que contém o vinho espúrio de Babilônia (14:8; 17:4), como também "do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira" (14:10).

Eles jamais entrarão no prometido descanso de Deus (Hebreus 4:9-11), pois "não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome" (Apocalipse 14:11).

A Jerusalém vindoura, por outro lado, será o lar dos remidos, os quais reinarão para sempre com o Senhor (Apocalipse 22:5), e que incluem os que "não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte ou na mão" (20:4).

Seus nomes estão "inscritos no Livro da Vida do Cordeiro" pelos méritos e obra de Cristo em seu favor junto ao trono do Pai (Apocalipse 21:27; 3:5), e, dessa forma, possuem cidadania celestial! Têm o direito de entrar na cidade santa pelas portas, pois lavaram "as suas vestiduras no sangue do Cordeiro" (22:14).

Nela, os remidos entrarão no bem-aventurado descanso de Deus e estarão seguros para sempre!

Diferentemente da visão de Apocalipse 12, em que a igreja de Deus é simbolizada por uma mulher pura que se contrapõe à grande meretriz do capítulo 17, a "esposa do Cordeiro" em Apocalipse 21 e 22 se refere à cidade santa de Deus, a Nova Jerusalém, o local da eterna reunião entre Cristo e Seus remidos!

Ao passo que Apocalipse 12 revela a trajetória dramática da igreja militante em virtude dos poderes que se opõe a ela, as visões dos capítulos 21-22 apresentam a animadora certeza de seu glorioso destino como igreja triunfante de Deus na Jerusalém celestial!

O julgamento de Babilônia, a cidade da besta, prepara o caminho para a realização histórica do grande clímax do plano da redenção, anunciada sob o soar da sétima trombeta:

O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. (Apocalipse 11:15)

Que bendita esperança! Antes, porém, que ela se realize, Deus intervirá contra Babilônia mediante Seus juízos retribuidores, visto que a Terra ainda estará sob o domínio da grande cidade opressora.

Os eventos culminantes da sétima praga


O fato de um dos anjos portadores dos sete últimos flagelos introduzir tanto a seção a respeito de Babilônia (Apocalipse 17:1 a 19:10) como a seção sobre a Nova Jerusalém (21:9 a 22:9), revela a íntima correlação entre estes diferentes desenvolvimentos e as pragas mencionadas em Apocalipse 16, particularmente a última delas.

Esses juízos finais de Deus possuem uma dupla função: Ao mesmo tempo em que destroem e condenam o opressor, libertam e redimem os oprimidos! São de natureza punitiva e redentora.

Essa é a razão por que a mensagem do terceiro anjo, a mais terrível já pronunciada aos ouvidos mortais (Apocalipse 14:9-12), é tão evangélica quanto às mensagens proclamadas pelos dois anjos que o antecedem (versos 6 a 8). Todas, à sua própria maneira, possuem função redentora!

Assim, enquanto a seção literária do Apocalipse que abrange os capítulos 17:1 a 19:10 aborda o castigo e condenação divinos, a seção dos capítulos 21:9 a 22:9 diz respeito à libertação e recompensas divinas.

Ambas as seções estão inextricavelmente ligadas e mantêm, por sua vez, estreita correlação com os eventos culminantes do sétimo flagelo.

As visões de Apocalipse 17 a 19 apresentam uma perspectiva ampliada da última praga, e, assim, o verdadeiro sentido desse juízo relaciona-se com a interpretação do anjo ao longo dessa seção. O mesmo se aplica à seção seguinte (os capítulos 21 e 22), visto que a sétima praga prepara o caminho para a posterior descida da Nova Jerusalém.

A descrição deste flagelo contém duas declarações decisivas:

Feito está! [...] E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. (Apocalipse 16:17, 19)

O significado destas declarações constitui o grande tema de que se ocupa o anjo das pragas em Apocalipse 17, e cuja interpretação se amplia até o capítulo 19:

Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas. (Apocalipse 17:1)

A grande meretriz é "a grande cidade que domina sobre os reis da terra" (verso 18), isto é, Babilônia. Todas as menções à "grande cidade" no Apocalipse (são sete ao todo) se referem à Babilônia.

A declaração do anjo que abre a seção sobre a "grande cidade" está, portanto, intimamente ligada aos eventos descritos sob o sétimo flagelo, os quais constituem o clímax dos demais flagelos de Apocalipse 16.

Note, por exemplo, que a declaração em Apocalipse 16:19 de que "lembrou-se Deus da grande Babilônia" é posteriormente esclarecida e ampliada no capítulo 18:




Toda a correspondência com a sétima praga desenvolvida ao longo da seção sobre Babilônia põe em relevo a retribuição divina contra a altiva cidade, que "a si mesma se glorificou e viveu em luxúria" (Apocalipse 18:7. Compare com o apelo do primeiro anjo em 14:7).

Apocalipse 17 a 19 explicam como se consumará o juízo de Deus contra Babilônia, mas esse é um assunto acerca do qual nos ocuparemos mais adiante.

Nossa próxima tarefa consistirá em examinar o significado da "grande meretriz" na visão de Apocalipse 17 com base em seu enfoque contextual e em seus antecedentes no Antigo Testamento.

Notas e referências


1. Para uma exposição mais detalhada, ver Hans K. LaRondelle, As Profecias do Tempo do Fim: XXX - A Sétima Praga: A Retribuição de Babilônia - Apocalipse 17, e XXXIII - O Significado da Nova Jerusalém - Apocalipse 21 e 22.

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