Pretensões arrogantes e blasfemas do papado


Bonifácio III (607)


Este papa obteve contra Ciríaco, bispo de Constantinopla, um decreto do imperador Phocas, pelo qual ordenava que "a sede de São Pedro, o Apóstolo, deve ser a cabeça de todas as Igrejas", e que o título de "'Bispo Universal' pertence exclusivamente ao Bispo de Roma".

Ironicamente, seu predecessor, Gregório I (590-604), em uma carta ao imperador Mauricius Augustus, condenara a pretensão do Patriarca de Constantinopla ao título de "Bispo Universal", argumentando que "todo aquele que chama a si mesmo, ou deseja ser chamado Sacerdote Universal, está sendo, em seu entusiasmo, o precursor do Anticristo, pois orgulhosamente se coloca acima de todos". [1]

A propósito desse episódio, Lyman Coleman observa: [2]

Os bispos de Roma e Constantinopla haviam começado uma disputa ansiosa e furiosa pelo domínio, cada um aspirando com ambição insaciável, observando e lutando com energia incansável para estabelecer sua reivindicação, sobre a de seu rival, como chefe supremo da igreja. O resultado dessa indigna controvérsia entre esses dignitários da igreja foi o estabelecimento da supremacia do papa de Roma como líder de uma monarquia absoluta na igreja – um despotismo espiritual que completou a subversão total da organização que a igreja recebeu dos apóstolos como um corpo livre e independente.

Inocêncio III (1198-1216)


Durante seu pontificado, o trono papal já era, de fato, o trono do mundo, pois não havia outro centro visível de autoridade, e diante do papa os potentados da terra inclinavam-se como diante de um superior. [3]

Em um discurso proferido por ocasião de sua consagração papal, Inocêncio defendeu o primado universal da Igreja Romana com estas palavras: [4]

Mas quem sou eu para dominar os reis e ocupar este trono de esplendor? Pois é para mim que está dito no Profeta: "Eu te coloquei acima dos povos e dos reinos, para que arranques e destruas, aniquiles e disperses, plantes e construas..." Vede bem qual é o servidor que está colocado na direção da casa: o vigário de Jesus Cristo, o sucessor de Pedro, o Ungido do Senhor, do Deus de Faraó, – colocado para servir de intermediário entre Deus e os homens, abaixo de Deus, mas acima dos homens, menor que Deus, porém maior que o homem... É, portanto, Pedro quem é elevado em toda a plenitude do seu poder.

Este papa também declarou: [5]

Não é um homem, mas Deus, que separa aqueles que o Pontífice Romano (não apenas como homem, mas como vice-governador do verdadeiro Deus na terra), atendendo às necessidades e ao bem das igrejas, dissolve, não com autoridade humana, mas com autoridade divina.

O Compendium of Ecclesiastical History, de John C.L. Gieseler, traz a seguinte glosa a respeito do âmbito da autoridade papal como "o verdadeiro vice-governador de Deus": [6]

Por isso, diz-se que ele possui um julgamento divino e, portanto, altera a própria natureza das coisas, aplicando os elementos que formam a substância de uma coisa a outra, e do nada ele pode fazer algo [no sentido de promulgar novas leis]; e aquela sentença que não tem força ele pode fazer com que tenha força; e ele pode fazer essas coisas, porque sua vontade representa a razão. E ninguém pode lhe dizer: Por que fazes assim? Pois ele pode dispensar acima da lei, e da injustiça fazer justiça, corrigindo e mudando as leis, pois ele tem a plenitude do poder.

Augustinus Triumphus (1243-1328)


Encarregado por João XXII para produzir uma obra que defendesse a autoridade eclesiástica e temporal do papado, Augustinus publicou o Summa de potestate ecclesiastica (Sumário sobre o Poder da Igreja), concluído em 1320 e dedicado ao pontífice.

Esta obra é considerada um marco das pretensões papais. Na edição de 1584, encontram-se estas declarações: [7]

Sexta questão: Da apelação às sentenças papais. Artigo I: Se é lícito apelar a Deus sem o Papa. Segundo motivo, considerando o papel do Papa. Somente o Papa é considerado o Vigário de Deus, porque somente ele é capaz de ligar e desligar, possuindo unicamente o poder de ligar e desligar que lhe foi dado por Deus. A decisão do Papa e a decisão de Deus constituem uma única decisão, assim como a decisão do Papa e a de seu discípulo são a mesma. Uma vez que, portanto, uma apelação é sempre feita de uma instância inferior para uma superior, visto que ninguém é maior do que esta última, então nenhuma apelação é válida quando feita do Papa para Deus, porque há um consistório do próprio Papa e do próprio Deus, do qual o próprio Papa é o portador da chave e o guardião da porta. Portanto, ninguém pode apelar do papa para Deus, assim como ninguém pode entrar no consistório de Deus sem a mediação do papa, que é o portador da chave e o porteiro do consistório da vida eterna; e como ninguém pode apelar para si mesmo, então ninguém pode apelar do papa para Deus, porque há uma única decisão e um único tribunal de Deus e do papa.

Questão IX: Da honra devida ao Papa. Artigo I: Se a honra devida a Cristo como Deus é devida ao Papa. Prosseguindo, portanto, com o primeiro ponto. É um fato manifesto que a honra que é devida a Cristo como Deus é devida também ao Papa: porque a honra se deve ao poder, e o poder de Cristo como Deus e o [poder do] Papa são um, um fato reconhecidamente verdadeiro.

Questão XXII, Artigo II, #2 [...] De fato, o Papa é o Vigário de Deus na Terra.

Questão XXXVII, Artigo III [...] Argumento: [...] Constantino transferiu a autoridade para o sumo pontífice, que é o vigário do filho de Deus, o comandante-chefe do céu, com jurisdição governamental universal sobre todos os reinos e impérios.

Questão XXXVII, Artigo V [...] No entanto, não há dúvida de que o sumo pontífice, a quem Constantino confessa ser o vigário do filho de Deus, o comandante-em-chefe, pode escolher quem quiser para ajudar e defender a igreja.

Questão XLV, Artigo II [...] Resolução [...] o fato é que o Papa é o vigário de Jesus Cristo, no lugar do Deus vivo, tem jurisdição espiritual e temporal universal de todo o globo terrestre.

Bonifácio VIII (1294-1303)


Como um sinal de suas pretensões à plenitude do poder, este papa deu à tiara a forma de uma dupla coroa. Os cronistas observam que, por vezes, trocava a sua sotaina de papa pelo manto dos césares.

Decidiu levar a cabo a política de Gregório VII e Inocêncio III: todo o universo devia ser submetido à Igreja romana; todos os príncipes deviam receber os seus domínios como feudos de Roma; e a cristandade unificada, pacificada sob o papado devia dominar o Islã. [8]

Foi durante o pontificado de Bonifácio que o poder papal conheceu seu apogeu, mas também o início de seu declínio.

Na bula Unam Sanctam, promulgada em 18 de novembro de 1302, encontra-se a definição clássica do sistema papal. Por meio dela, Bonifácio reafirmou a superioridade do poder do papa sobre o imperador, do qual se exigia fidelidade e submissão à Sé Romana.

Ao se referir à autoridade papal, declarou: [9]

Esta autoridade, ainda que tenha sido dada a um homem e por ele seja exercida, não é humana, mas de Deus. Foi dada a Pedro pela boca de Deus e fundada para ele e seus sucessores Naquele que ele, a rocha, confessou, quando o Senhor disse a Pedro: "Tudo o que ligares..." (Mt 16,19). Assim, quem resiste a este poder determinado por Deus "resiste à ordem de Deus" (Rm 13,2) ... Por isso, declaramos, dizemos, definimos e pronunciamos que é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana sujeitar-se ao romano pontífice.

Christopher Marcellus


Este arcebispo, dirigindo-se ao papa Júlio II durante a quarta sessão do Quinto Concílio de Latrão, em 10 de dezembro de 1512, declarou: [10]

Cuide para que o aprisco seja um só, pois agora ele está dividido em partes. Cuide, finalmente, para que não percamos a salvação, a vida e a respiração que nos deste. Pois tu és nosso pastor, tu és nosso médico, tu és nosso governador, tu és nosso lavrador, tu és finalmente outro Deus na terra.

Roberto Bellarmino (1542-1621)


Na obra Disputationes de controversiis christianae fidei, Adversus hujus temporis Haereticos (Debates sobre Controvérsias da Fé Cristã contra a Heresia Contemporânea), o cardeal italiano e doutor da Igreja Católica, Roberto Bellarmino, conhecido como o mais célebre dos polemistas jesuítas, expõe o seguinte: [11]

Capítulo 17: O Sumo Pontífice está absolutamente acima de um Concílio. Terceira proposição: [...] SEGUNDO, é provado por um único argumento, fundado nas escrituras: pois todos os nomes, que nas escrituras são aplicados a Cristo, provando que ele está acima da Igreja, são da mesma forma aplicados ao Pontífice: como primeiro, Cristo é o chefe da família em sua própria casa, que é a Igreja. O pontífice é o mordomo-mor na mesma casa, ou seja, ele é o chefe da família no lugar de Cristo, Lucas 12:42.

Lucius Ferraris


No volume VII de sua Prompta Bibliotheca, este teólogo romano faz os seguintes comentários sobre a suposta dignidade papal: [12]

O papa tem uma dignidade tão grande e tão elevada que não é um mero homem, mas como se fosse Deus, e o vigário de Deus;
O Papa é de uma dignidade tão elevada e suprema que, propriamente falando, ele não foi estabelecido em nenhum nível de dignidade, mas sim colocado no topo de todos os níveis de dignidade;
O papa é chamado de santíssimo porque é legitimamente presumido como tal;
Somente o papa é merecidamente chamado pelo nome de santíssimo porque somente ele é o vigário de Cristo, que é a fonte, a origem e a plenitude de toda santidade;
Ele também é o monarca divino, o imperador supremo e o rei dos reis;
Por isso, o papa é coroado com uma coroa tripla, como rei do céu, da terra e do inferno;
Além disso, a superioridade e o poder do Romano Pontífice não se referem apenas às coisas celestiais, mas também às coisas terrenas, e às coisas debaixo da terra, e até mesmo aos anjos, em relação aos quais ele é maior;
Assim, se fosse possível que os anjos errassem na fé ou pensassem de forma contrária à fé, eles poderiam ser julgados e excomungados pelo papa;
Pois ele é de tão grande dignidade e poder que forma um único e mesmo tribunal com Cristo;
Assim, tudo o que o papa faz parece sair da boca de Deus;
Quanto à autoridade papal, o papa é como se fosse Deus na terra, único soberano de todos os fiéis de Cristo, principal rei dos reis, tendo uma abundância de poder ininterrupto, confiado pelo Deus onipotente para governar os reinos terrestre e celestial;
O papa tem tanta autoridade e poder que é capaz de modificar, decretar ou interpretar até mesmo leis divinas;
O papa pode modificar a lei divina, uma vez que seu poder não é do homem, mas de Deus, e ele atua como vice-regente de Deus na Terra com o mais amplo poder de ligar e desligar suas ovelhas;
Aquilo que o próprio Senhor Deus e o Redentor faz, isso também faz o seu vigário, contanto que não faça nada contrário à fé;
Na verdade, quão grande é o Papa. Sua excelência é universal, sua reputação, de grande humildade e renome. Certamente, ele é chamado o Servo dos servos de Deus.

Leão XIII (1878-1903)


As qualidades liberais deste papa levaram à crença geral de que o papado queria o bem da humanidade. Contudo, seu espírito humanista e político era apenas uma resposta aos desafios de seu tempo, e jamais representou uma abdicação das pretensões papais.

Basta lembrar que o Syllabus - uma lista de proposições condenadas que contrariavam a essência da Igreja e as exigências do papado - foi sugerido, em 1849, pelo próprio Joaquim Pecci, futuro Leão XIII.

Em uma carta-encíclica de 10 de janeiro de 1890, Sapientiae Christianae, este papa declarou: [13]

22. .... Mas o mestre supremo da Igreja é o Pontífice Romano. A união das mentes, portanto, requer, juntamente com uma perfeita concordância na única fé, completa submissão e obediência da vontade à Igreja e ao Romano Pontífice, como ao próprio Deus.

Na encíclica Praeclara Gratulationis Publicae, de 20 de junho de 1894, proferiu estas palavras: "Ocupamos na Terra o lugar do Deus Todo-Poderoso". [14]

João XXIII (1958-1963)


Em sua homilia aos bispos e fiéis presentes em sua coroação em 04 de novembro de 1958, fez esta declaração: [15]

Nesse rebanho de Jesus Cristo, nenhum homem pode entrar a menos que seja guiado pelo Soberano Pontífice; e somente se estiverem unidos a ele os homens poderão ser salvos, pois o Romano Pontífice é o Vigário de Cristo e Seu representante pessoal na Terra.

Javier Echevarría


Este prelado da Opus Dei, em sua homilia realizada na basílica de São Eugênio, em Roma, em 10 de outubro de 2002, durante a missa de ação de graças pela canonização de Josemaría Escrivá, fundador da Opus Dei, declarou: [16]

Procuremos imitar esse amor e veneração pelo Papa. Sua dignidade como Vigário de Cristo, como 'o doce Cristo na terra', é uma razão mais do que suficiente para nos sentirmos unidos de todo o coração ao Romano Pontífice, como consequência de uma genuína obrigação filial.

A estas declarações, que certamente representam apenas uma pequena parcela de tudo o que já se escreveu sobre a pretensa dignidade do bispo de Roma, cumpre acrescentar as observações de Antonio Pereira, teólogo lisbonense que, não obstante sua lealdade ao papado, escreveu com notável franqueza:

É tão certo, digo, que muita das regalias de que hoje goza o bispo de Roma lhe não convém por Direito Divino, mas, sim, por concessão e beneplácito da Igreja representada no corpo dos Bispos; que até o andar o Primado de São Pedro anexo sempre aos Bispos de Roma, sentem muitos e gravíssimos Teólogos não ser de instituição Divina, mas, sim, de instituição Eclesiástica, que, absolutamente falando, se pode mudar ou alterar. [17]

Que Papa conheceria melhor os Direitos do seu Primado, do que os conheceu São Gregório Magno? E esse Gregório é o que no Livro VIII, Epístola 30, escrevia a Eulógio, Bispo de Alexandria, que os Decretos do Papa os não chamasse Eulógio Mandados do Papa; porque mandar era palavra própria dos que são Senhores; e que o Papa não era Senhor, mas, sim, irmão dos Bispos....

O mesmo São Gregório estranha, na mesma Carta a Eulógio, dar-lhe ele o tratamento de Bispo Universal; e a razão que alega para o estranhar é que o chamar-se Universal o Bispo de Roma era um título que, além de soberbo, não se podia admitir sem ofensa e injúria dos outros Bispos; quando toda a honra do Papa deve ser a honra dos Bispos....

É razão que Vossas Excelências se demorem um pouco em refletir que até o título de Bispo Universal julgava este grande Pontífice alheio ao Bispo de Roma, e injurioso aos mais Bispos. Que diria Gregório, se visse a seus Sucessores arrogando a si não só o título, mas a realidade de Universais? Que diria, vendo-os pôr toda a honra do Papado em só eles parecerem Bispos? [18]

Mas em que põem o Doutor Melifluo esta inspeção e superintendência universal do Papa? Põem-na, porventura, em ser o Papa um Árbitro Supremo dos Reis e Príncipes Seculares, para em certos casos depor a uns e entronizar outros? De nenhuma sorte. Antes ensina que intrometer-se o Sucessor de Pedro a ser Juiz dos Estados e Domínios Seculares é uma usurpação dos Direitos alheios; uma conduta totalmente alheia do espírito e praxe dos Apóstolos; um abuso das chaves da Igreja, que só devem ter por objeto as consciências, e não as Fazendas. [19]

Que assim como o Rei, pelo que toca ao governo temporal, não reconhece na terra outro Superior, senão a Deus, assim o Papa, pelo que pertence ao governo da Igreja, é tão soberano, tão absoluto, tão déspota, que, como diz a Glosa do Capítulo Quanto personam, de Translatione Episcopi: ninguém lhe pode dizer, Cur ita facis [Por que fazes assim]? Glosa que o grande Gerson, em uma parte, chama veneno mortal da antiga adulação; em outra, monstruoso e horrendo tropeço posto pela lisonja no caminho da Lei de Deus. [20]

Na verdade, quem tiver alguma lição de certos Teólogos e Canonistas, que floresceram antes do Concílio de Trento, há de achar que, só da lisonja é que podia nascer a doutrina que no Cap. Quanto personam, Liv. I, Tít. 7, de Transloatione Episcopi escreve o Autor da Glosa falando do Papa: In his quae vult, ei est pro ratione voluntas. Nec est qui ei dicat, cur ista facis? Ipse enim potest supra jus dispensare, de injustitia facere justitiam, corrigendo jura & mutando. Só da lisonja podia nascer o que no Livro II, de Ecclesia, cap. 63, ad 18, e cap. 67, ad 2, ensina o Cardeal de Torquemada: Que de todas as Jurisdições Eclesiásticas, só a Pontifícia tem por imediato Autor a Cristo, de sorte que até o poder e jurisdição dos Sagrados Apóstolos procedia de Pedro. Que a Hierarquia Eclesiástica, (que consiste principalmente nos Bispos e Párocos) não é por alguma instituição de Cristo necessária à Igreja, mas somente e voluntária, e só dependente da vontade do Papa, e, por conseguinte, o Papa a pode mudar, alterar, como quiser. Só da lisonja podia nascer o que no Tratado de Causa imediata Ecclesiasticae Potestatis, Art. 5, Conclusão 2 e 3, afirma o Paludano: Que os Bispos e mais Prelados, inferiores ao Papa, não são na Igreja senão uns meros Procuradores do Papa. Que como seus Procuradores, os pode o Papa remover dos seus ofícios quando e como lhe parecer, ainda que da parte deles não haja culpa. Só da lisonja podia nascer o descomedido asserto do Cardeal Caetano, quando, no seu Tratado da autoridade do Papa e do Concílio, chama a Igreja Servam natam Romani Pontificis: escrava por nascimento do Pontífice Romano. Finalmente, só da lisonja podia nascer o título de Seu Deos, que ao Papa dá a glosa da Extravagante de João XXII, que começa Cúm internonnullos: pois chegando ao verbo Declaramus, que vem no fim da dita Extravagante, diz assim a tal Glosa: Credere Dominum Deum nostrum Papam conditorem dictae Decretalis [Crer que Nosso Senhor Deus, o Papa, o criador do referido decreto]. Assim o leio em duas edições de Leão, de 1584 e 1606, e em três de Paris, de 1585, 1601, e 1612. [21]

Notas e referências

1. Thomas Oestereich, "Pope Boniface III". Em The Catholic Encyclopedia, Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907. Acesso em: 14 out. 2011, 09h40min; St. Gregorythe Great. Register of the Epistles of Saint Gregory the Great, translated by the Rev. James Barmby, D.D., Vicar of Northallerton, Yorkshire, Book VII, Epistle XXXIII: to Mauricius Augustus. Acesso em: 14 out. 2011, 09h39min; Joseph Bernhart. O Vaticano: Potência Mundial. História e Figura do Papado. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1942, p. 63.

2. Lyman Coleman. Ancient Christianity Exemplified. Philadelphia: Lippincott, Grambo & Co., 1853, p. 146.

3. Joseph Bernhart. O Vaticano: Potência Mundial. História e Figura do Papado. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1942, p. 147.

4. Ibid., p. 148. Inocêncio III cita Jeremias 1:10 para legitimar a suposta dignidade de seu cargo. O texto, no entanto, se refere à eleição de Jeremias como porta-voz de Deus, O qual investiu o profeta com a autoridade para tão-somente revelar às nações os desígnios divinos, fossem eles para destruição ou edificação.

5. Decretales D. Gregorii papae IX: suae intergritati unà cum glossis restitutae: ad exemplar romanum diligenter recognitae, Lugduni, 1584, liber I, titulus VII - De Translatione Episcopi, cap. III, col. 217. A transcrição e tradução para o inglês da citação estão disponíveis aqui. Acesso em: 22 set. 2011, 09h40min.

6. John C.L. Gieseler. A Compendium of Ecclesiastical History, Fourth Edition Revised and Amended, Vol. III. Edinburgh: T. & T. Clark, 1853, p. 161 e 162. A transcrição e tradução para o inglês da citação estão disponíveis aqui. Acesso em: 18 out. 2011, 08h37min.

7. Augustini Triumphi. Summa de potestate ecclesiastica. Romae, Ex Typographia Georgij Ferrarij, 1584, p. 57, 71-72, 130, 221, 222-223, 248. A transcrição e tradução para o inglês das citações estão disponíveis aqui. Acesso em: 22 set. 2011, 09h55min.

8. Joseph Bernhart, op. cit., p. 166 e 167.

9. Bonifácio VIII. Bula Unam Sanctam. MONTFORT Associação Cultural. Acesso em: 20 out. 2011, 09h35min. Há uma grande diferença entre a autoridade que Cristo concedeu à Sua igreja para ensinar e corrigir e a autoridade para governar segundo a perspectiva papal. Os embaixadores de Cristo são apenas instrumentos de Deus pelos quais se efetua o ministério da reconciliação (II Coríntios 5:18-28). O papado reivindica o direito de dirigir a consciência e a alma dos homens. Tal pretensão, porém, contrasta profundamente com o espírito apostólico, pois nenhum homem, nem mesmo um apóstolo, possui a prerrogativa de interpor-se entre a consciência e Deus (ver II Coríntios 1:24). Além disso, quando Cristo dirigiu a Pedro as palavras registradas em Mateus 16:18, o apóstolo certamente não as entendeu como aplicando-se a si mesmo, nem aos demais ouvintes presentes na ocasião. O próprio Pedro negou enfaticamente, mediante seus ensinos, que a pedra da qual Cristo falou se aplicava a ele mesmo (Atos 4:8-12; I Pedro 2:4-8). A Bíblia ensina que somente Cristo é a Pedra (Deuteronômio 32:4, 15, 18; II Samuel 22:2, 32; Salmo 18:2, 31; 89:26; 94:22; 95:1; 118:22-23; Isaías 8:14; 17:10; 26:4; 28:16; 32:1-2; 44:8; Zacarias 10:4; Mateus 21:42-44; Marcos 12:10-12; Lucas 20:17-19; Romanos 9:32-33; I Coríntios 3:10-11; 10:1-4; Efésios 2:20). A igreja está edificada sobre Cristo. Não existe outro fundamento além dEle. Quanto às chaves do reino e ao ligar e o desligar (Mateus 16:19), nosso Salvador ensinou: (1) Que as chaves que dão acesso ao reino celestial correspondem à "chave da ciência" ou do conhecimento da Palavra de Deus (Lucas 11:52). As palavras de Cristo "são espírito e vida" (João 6:63), "palavras da vida eterna" (João 6:68), e através desta Palavra, "a qual vive e é permanente", somos regenerados de uma vida inútil de pecado (I Pedro 1:23). É nesse sentido, pois, que a igreja tem as chaves que abrem o reino dos Céus a todas as pessoas. Apenas Cristo tem a plena autoridade no céu e na terra (Mateus 28:18). Somente Ele é o "que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá" (Apocalipse 3:7). O Redentor confiou a Pedro e aos demais discípulos (Mateus 18:18) nada mais que a autoridade e o poder para proclamar aos homens os princípios do evangelho e, assim, conduzi-los ao reino dos Céus. Pedro nunca teve primazia ou exclusividade nesse encargo. E a igreja primitiva compreendeu dessa forma, pois nem mesmo funções administrativas foram conferidas a Pedro, e sim a Tiago (Atos 15:13 e 19); (2) Que o poder de ligar e desligar consiste tão somente na autoridade para administrar a disciplina, segundo critérios que Cristo mesmo estabeleceu (Mateus 18:15-20). Notemos, contudo, que a igreja na terra poderá ligar somente o que o Céu ligar, e desligar somente o que o Céu desligar, ou seja, os representantes de Cristo só podem requerer ou proibir aquilo que a Palavra de Deus expressamente revela. As decisões da igreja dependem, portanto, da confirmação divina, e só podem ser efetivadas se estiverem em harmonia com a vontade de Deus (ver Números 23:8). A vontade do homem não deve prevalecer sobre os desígnios de Deus. Ao obedecerem à ordem do Senhor para proclamar o evangelho, os apóstolos deviam ensinar aos conversos a guardar "todas as coisas" que Jesus havia ordenado (Mateus 28:19-20). Tudo que vá além dos ensinamentos do Mestre está sujeito à anátema (Gálatas 1:8-9). A reivindicação papal só pode ser mantida atribuindo-se a estas passagens um sentido muito além daquele que Cristo quis dar à Sua igreja.

10. Joannes Dominicus Mansi. Sacrorum Conciliorum: Nova et Amplissima Collectio, vol. 32, Parisiis, Expensis Huberti Welter, Bibliopolae, 1902, col. 761. Acesso em: 18 out. 2011, 09h02min. A transcrição e tradução para o inglês do texto citado estão disponíveis aqui. Acesso em: 22 set. 2011, 09h40min.

11. Roberti Bellarmini. Disputationes de controversis christianae fidei, Adversus hujus temporis Haereticos. Parisiis, Ex Officinis Tri-Adelphorum Bibliopolarum, 1608, Lib. II, "De Conciliorum Auctoritate", Cap. XVII, col. 95, "Summam Pontificem absolute esse supra Concilium". A transcrição e tradução para o inglês do texto citado estão disponíveis aqui. Acesso em: 22 set. 2011, 09h40min. Não há nada em Lucas 12:42 que legitime a pretensão papal. O verdadeiro dever do servo fiel e prudente consiste em pastorear o rebanho de Deus, não por sórdida ganância, mas de boa vontade, nem como dominador dos que lhe foram confiados, antes, como modelo do rebanho (I Pedro 5:2-3). Zelar pelo bem-estar espiritual de sua grei é a virtude distintiva do verdadeiro ministro de Cristo. Cumpre-lhe suprir as necessidades de seus membros e dar-lhes exemplo de conduta, vigilância e preparação. A obra ministerial dever ser encarada como uma valiosa oportunidade para cuidar das almas, servindo com abnegado amor, não para exaltar sua autoridade sobre os fiéis. Os ministros devem buscar no exemplo de Cristo o perfeito modelo para se tornarem verdadeiros representantes da fé e, assim, influenciar positivamente os demais crentes.

12. Lucius Ferraris. Prompta Bibliotheca,Vol. VII. Venetiis, Apud Gasparem Storti, 1782, verbete "Papa", Art. II, p. 26 a 29, #1, 2, 5, 7, 12 a 18, 30 e 33. A maioria das transcrições citadas e as respectivas traduções para o inglês estão disponíveis aqui. Acesso em: 21 jul. 2011, 08h10min.

13. The Great Encyclical Letters of Pope Leo XIII. New York: Benziger Brothers, 1903, p. 193; Pope Leo XIII, Encyclical Letter, Sapientiae Christianae (Sobre os principais deveres dos cristãos como cidadãos), January 10, 1890.

14. Ibid., p. 304.

15. Homilia Ioannis PP. XXIII in Die Coronationi Habita, Die IV Novembris mensis, a. 1958. Acesso em: 22 set. 2011, 09h41min. Transcrição para o inglês em Papal Teachings: The Church. Selected and arranged by the Benedictine Monks of Solesmes. Boston: St. Paul Editions, 1980, par. #1556, p. 791.

16. Oct. 10 homily of Bishop Echevarríaat St. Eugene's. Acesso em: 21 ago. 2012, 09h57min. O bispo Echevarría tomou a expressão "o doce Cristo na terra" de uma carta de Catarina Benincasa (1347-1380) dirigida a Gregório XI, na qual se referiu ao pontífice com estas palavras. Catarina foi canonizada por Pio II em 1461. Informações sobre sua vida, bem como a transcrição da referida carta estão disponíveis aqui.

17. Antonio Pereira, Tentativa Theologica, em que se pretende mostrar, que impedido o recurso a Sé Apostolica se devolve aos senhores bispos a faculdade de dispensar nos impedimentos publicos do matrimonio, e de prover espiritualmente em todos os mais cazos reservados ao papa, todas as vezes que assim o pedir a publica e urgente necessidade dos subditos. Lisboa: Miguel Rodrigues, 1766, p. 14.

18. Ibid., p. 22, 23, 24 e 25.

19. Ibid., p. 32 e 33.

20. Ibid., p. 48 e 49.

21. Ibid., p. 122-124.


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2 Comentários

  1. Que presunçoso, então o papa acredita ter o mesmo poder e estar na mesma posição de Jesus? Ótimo texto amigo, com ótimas referências.

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    1. É verdade, Tiago. Infelizmente, a maioria das pessoas, inclusive católicos, desconhece tais pretensões. Obrigado por seu comentário!

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