Há algo de especial no modo como essa visão foi revelada a João; o anjo que o acompanha em sua experiência é identificado como um dos anjos portadores dos sete últimos flagelos (verso 1)!
É ele quem abre a visão do capítulo 17 e, por conseguinte, a seção literária do Apocalipse que se estende até o capítulo 19:10, cujo tema é o veredito de Deus contra Babilônia mística e sua final erradicação.
Significativamente, o mesmo anjo das pragas introduz outra seção correspondente e oposta, que trata da Nova Jerusalém, a cidade celestial, que João viu descendo "do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo" (Apocalipse 21:2)! Esta seção começa no capítulo 21:9 e se estende até o 22:9.
As duas seções começam com um chamado semelhante do anjo das pragas:
Ambas desenvolvem várias correspondências que marcam profundas diferenças entre elas, como as que seguem:
Essas seções ressaltam a mesma garantia divina de que estas revelações não se apoiam meramente na autoridade de um anjo, mas na autoridade de Deus e, portanto, "são fiéis e verdadeiras":
E concluem com a mesma cena: a tentativa de João para adorar o anjo intérprete. Em cada caso, a resposta do anjo - "adora a Deus" - reforça o tema central do livro do Apocalipse: a adoração como a pedra de toque de lealdade e obediência a Deus!
Esta formidável disposição literária estabelece um contraste expressivo entre a Nova Jerusalém e Babilônia, entre a "esposa do Cordeiro" e a "grande meretriz"! [1]
Ela assinala que os homens têm diante de si apenas duas possibilidades, com dois desfechos bem diferentes, de acordo com sua resposta ao apelo implícito do anjo: "Não adorem a besta, nem mesmo os seres celestiais. Adorem somente a Deus"!
Babilônia é a "grande cidade que domina sobre os reis da terra" (Apocalipse 17:18). "Nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (18:24) e, por isso, "Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:5).
Consequentemente, os cidadãos de Babilônia, "cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo" (Apocalipse 17:8), serão obrigados a beber não só do cálice que contém o vinho espúrio da "grande cidade" (14:8; 17:4), mas também "do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira" (14:10).
Eles jamais entrarão no prometido descanso de Deus (Hebreus 4:9-11), pois "não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome" (Apocalipse 14:11).
A Jerusalém vindoura, por outro lado, será o lar dos remidos, os quais reinarão para sempre com o Senhor (Apocalipse 22:5). Estes são os que "não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte ou na mão" (20:4).
Seus nomes estão "inscritos no Livro da Vida do Cordeiro" pelos méritos e pela obra de Cristo em seu favor (Apocalipse 21:27; 3:5) e, dessa forma, possuem cidadania celestial! Têm o direito de entrar na cidade santa pelas portas, pois lavaram "as suas vestiduras no sangue do Cordeiro" (22:14).
Na Jerusalém celestial, os remidos entrarão no bem-aventurado descanso de Deus e estarão seguros para sempre!
Diferentemente da visão de Apocalipse 12, em que a igreja de Deus é simbolizada por uma mulher pura, em contraste com a grande meretriz do capítulo 17, a "esposa do Cordeiro" em Apocalipse 21 e 22 se refere à cidade santa de Deus, a Nova Jerusalém, o local da eterna reunião entre Cristo e Seus remidos!
Ao passo que Apocalipse 12 revela a trajetória dramática da igreja militante, as visões dos capítulos 21-22 apresentam a animadora certeza de seu glorioso destino como igreja triunfante de Deus na Jerusalém celestial!
O julgamento de Babilônia, a cidade da besta, prepara o caminho para a realização histórica do grande clímax do plano da redenção, anunciada em Apocalipse 11:15 sob o soar da sétima trombeta:
O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.
Que bendita esperança! Antes, porém, que ela se cumpra, Deus intervirá contra Babilônia mediante Seus juízos retribuidores, visto que a Terra ainda estará sob o domínio da grande cidade opressora.
Os eventos culminantes da sétima praga
O fato de um dos anjos portadores dos sete últimos flagelos introduzir tanto a seção a respeito de Babilônia (Apocalipse 17:1 a 19:10) como a seção sobre a Nova Jerusalém (21:9 a 22:9), revela a íntima correlação entre estes diferentes desenvolvimentos e as pragas mencionadas em Apocalipse 16, particularmente a última delas.
Esses juízos finais de Deus têm uma dupla função: Ao mesmo tempo em que destroem e condenam o opressor, libertam e redimem os oprimidos! São de natureza punitiva e redentora.
Essa é a razão por que a mensagem do terceiro anjo, a mais terrível já pronunciada aos ouvidos mortais (Apocalipse 14:9-12), é tão evangélica quanto às mensagens proclamadas pelos dois primeiros anjos (versos 6 a 8). Todas possuem função redentora!
Assim, enquanto a seção literária do Apocalipse que abrange os capítulos 17:1 a 19:10 aborda o castigo e condenação divinos, a seção dos capítulos 21:9 a 22:9 descreve a libertação e recompensas divinas.
Ambas as seções estão inextricavelmente ligadas e mantêm, por sua vez, estreita correlação com os eventos culminantes da sétima praga.
As visões de Apocalipse 17 a 19 apresentam uma perspectiva mais ampla da última praga. Uma compreensão correta desse juízo depende, portanto, da interpretação do anjo ao longo dessa seção.
O mesmo se aplica à seção seguinte (capítulos 21 e 22), visto que a sétima praga prepara o caminho para a posterior descida da Nova Jerusalém.
A descrição da sétima praga contém duas declarações decisivas (Apocalipse 16:17, 19):
A descrição da sétima praga contém duas declarações decisivas (Apocalipse 16:17, 19):
Feito está! [...] E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira.
O significado dessas duas declarações solenes forma o grande tema de que se ocupa o anjo das pragas em Apocalipse 17. O verso 1 diz:
Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas.
A grande meretriz é "a grande cidade que domina sobre os reis da terra" (verso 18), isto é, Babilônia. Todas as menções à "grande cidade" no Apocalipse (são sete ao todo) se referem à Babilônia.
A declaração do anjo que abre a seção sobre a "grande cidade" está, portanto, intimamente ligada aos eventos descritos sob a sétima praga, o clímax dos juízos divinos em Apocalipse 16.
Note, por exemplo, que a declaração em Apocalipse 16:19 de que "lembrou-se Deus da grande Babilônia" é posteriormente esclarecida e ampliada no capítulo 18:
Toda a correspondência com a sétima praga desenvolvida ao longo da seção sobre Babilônia destaca a retribuição divina contra a altiva cidade, que "a si mesma se glorificou e viveu em luxúria" (Apocalipse 18:7, compare com o apelo do primeiro anjo em 14:7).
Apocalipse 17 a 19 explicam como se consumará o juízo de Deus contra Babilônia, mas esse é um assunto sobre o qual nos ocuparemos mais adiante.
Nossa próxima tarefa consistirá em examinar o significado bíblico da "grande meretriz" de Apocalipse 17, com base em seu enfoque contextual e em seus antecedentes no Antigo Testamento.
Notas e referências
1. Para uma exposição mais detalhada, ver Hans K. LaRondelle, As Profecias do Tempo do Fim: XXX - A Sétima Praga: A Retribuição de Babilônia - Apocalipse 17, e XXXIII - O Significado da Nova Jerusalém - Apocalipse 21 e 22.
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