Um conflito que pode decidir o futuro da ordem mundial


"Na batalha entre democracia e autocracia, as democracias estão prevalecendo até o momento, e o mundo está claramente escolhendo o lado da paz e da segurança", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em seu discurso sobre o Estado da União. "Este é o verdadeiro teste. Levará tempo".

Com estas palavras, Biden enquadrou a grande batalha de nosso tempo, que inclui a invasão da Ucrânia pela Rússia, como a batalha ideológica "entre democracia e autocracia, entre liberdade e repressão, entre uma ordem baseada em regras e uma ordem governada pela força bruta".

Por mais que sua declaração não passe de pura retórica (nações consideradas amigas, parceiras e, eventualmente, aliadas dos EUA, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Jordânia, estão muito longe de serem democráticas, e a ordem supostamente baseada em regras nada vale quando se opõe aos interesses americanos), ela é bastante significativa.

Além da menção à paz e segurança – palavras que autoridades do mundo inteiro têm repetido nos últimos três meses (ver I Tessalonicenses 5:3) –, a  referência de Biden à “batalha entre democracia e autocracia” coloca em relevo o futuro da ordem internacional.

Como os editores da Foreign Affairs observaram recentemente, desde o momento em que os primeiros mísseis foram disparados, ficou claro que a invasão russa da Ucrânia marcou o início de uma nova era, que será definida não apenas pelo resultado no terreno, mas também pela resposta global.

Ou como a chamada de um programa de notícias da Al Jazeera colocou, a nova guerra na Europa tem sido descrita como um ponto de inflexão na história, interrompendo uma ordem global que está em vigor desde o fim da Guerra Fria e definindo como as democracias enfrentarão futuras ameaças e conflitos. "Mas quais serão os fundamentos da nova ordem? E os valores ocidentais ainda prevalecerão?"

A estas questões pertinentes, acrescentamos: Poderia a guerra na Ucrânia ser o ato de abertura de algo muito maior, parte do drama que nos levará inevitavelmente para um confronto ideológico (e espiritual) decisivo?

A resposta pode estar em Daniel 11, uma profecia que nos permite entender o progresso dos acontecimentos ao revelar as nações se mobilizando para o final combate do grande conflito.

Considerações preliminares sobre a profecia

Neste artigo, não vamos considerar todo o capítulo 11, mas apenas os pontos que nos ajudarão a compreender o foco da visão: os acontecimentos do tempo do fim, que culminarão com o grande Dia do Senhor.

Antes de começarmos, porém, há pelo menos duas observações que é preciso fazer sobre esta profecia.

A primeira, é que Daniel 11 cobre a mesma linha do tempo dos capítulos 2, 7 e 8-9, iniciando nos dias de Daniel e avançando continuamente até o tempo do fim.

Não se trata, contudo, de mera repetição. Além de paralelas, essas profecias também são complementares, ou seja, cada profecia seguinte lança mais luz sobre a anterior, com uma ênfase cada vez maior no tempo do fim e no estabelecimento do reino eterno de Deus.

Simplificando:

- Daniel 2 revela um pouco.

- Daniel 7 revela mais um pouco.

- Daniel 8 e 9 revela um pouco mais.

- Daniel 11 e 12 revela mais ainda.

A revelação de Deus é sempre progressiva! A luz da verdade brilha como a luz da aurora, aos poucos, até que toda sua glória seja revelada ao estudante sincero que busca diligentemente obter o conhecimento de Deus por meio do fervoroso estudo de Sua Palavra (Provérbios 4:18).

A segunda e não menos importante observação sobre Daniel 11 é que a experiência visionária do profeta não começa nesse capítulo, mas em Daniel 10, do qual o capítulo seguinte é um desenvolvimento.

O verso 1 diz que "no terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia" (cerca de 536/535 a.C.), Daniel recebeu da parte de Deus uma revelação que "envolvia grande conflito". A guerra tem sido uma constante na história, mas a expressão empregada aqui se refere a cenas de perturbação em uma escala muito maior.

Descrever esse grande conflito é importante para Deus porque envolve Seu povo.

No verso 14, o anjo vem a Daniel para lhe revelar o que aconteceria com os santos ao longo dos séculos, especialmente no tempo do fim, quando a visão do capítulo 11 alcançará seu pleno cumprimento.

De maneira que a revelação mais fundamental da profecia não se refere aos eventos que, de nossa perspectiva, já são história, mas aos "últimos dias", "a dias ainda distantes" do ponto de vista de Daniel, ou seja, o tempo do fim, ocasião em que o Senhor triunfará sobre todos os inimigos de Seu povo.

Reinos em conflito

Ao contrário das profecias anteriores do livro de Daniel, o capítulo 11 não apresenta imagens com animais, cabeças ou chifres.

No entanto, o conteúdo e a ênfase são os mesmos: a natureza e transitoriedade dos governos terrestres em contraste com o reino de Cristo, fundado sobre a justiça, e não sobre a força, o qual permanecerá para sempre!

Note que a revelação em Daniel 11 começa no verso 2. O verso 1 é parte da declaração do anjo Gabriel em Daniel 10:21. Evidentemente, a divisão do capítulo neste ponto foi inadequada, transmitindo ao leitor a falsa impressão de que uma nova parte do livro começa aqui, quando, na verdade, tudo o que vem antes, de 10:1 a 11:1, serve de pano de fundo e introdução à visão que estamos considerando.

O verso 2 diz:

Agora, eu te declararei a verdade: eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia.

Uma vez que esta visão foi dada a Daniel "no terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia" (10:1), os três reis persas seguintes foram: Cambises (530-522 a.C.), um usurpador chamado falso Esmérdis ou Gaumata (522 a.C.) e Dario I (522-486 a.C.).

O quarto rei foi Xerxes (486-465 a.C.), identificado com o Assuero do livro de Ester, "que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias" e apreciava ostentar "as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza" (Ester 1:1 e 4).

Como antecipado na profecia de Daniel, a espantosa riqueza e o poderio militar de Xerxes foram empregados contra a Grécia, porém em vão. O verso 3 revela:

Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver.

Este rei "forte", "poderoso", "guerreiro" (Strong #1368) não é outro, senão Alexandre, o Grande (336-323 a.C.). Sua expedição contra os persas foi consequência da campanha de Xerxes contra a Grécia e foi empreendida para vingá-la. A frase "grande domínio" descreve apropriadamente a extensão do império de Alexandre, o maior do mundo até aquela época. No verso seguinte lemos:

Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes.

Quando estava no auge de seu poder, Alexandre morreu prematuramente. Sem nenhum descendente direto que lhe sucedesse, e malgrado as tentativas de seus principais generais de manter o império unido, pouco mais de duas décadas depois o território conquistado por Alexandre foi dividido em quatro reinos.

Do verso 5 em diante, e em grande parte do capítulo, a profecia se concentra em dois desses reinos, os quais afetaram os israelitas como povo de Deus: a Síria, governada pelos selêucidas, e o Egito, governado pelos ptolomeus – do  ponto de vista geográfico da Palestina, os reis do Norte e do Sul, respectivamente.

A dinâmica da revelação profética

Contudo, como observamos em uma postagem anterior, a identificação desses dois reinos muda à medida que avançamos no fluxo de tempo da profecia, em harmonia com a sequência histórica das demais séries proféticas do livro de Daniel.

Sobre o rei do Norte, vejamos o que diz os versos 21 e 22:

Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas. As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o príncipe da aliança.

A principal referência aqui é ao "príncipe da aliança", o Príncipe Ungido ou Messias que confirma a aliança em Daniel 9:25 a 27. Não há dúvida de que se trata de Jesus Cristo! Ele é o assunto central em todas as séries proféticas de Daniel:

  • No capítulo 2, o reino de Deus, simbolizado pela pedra cortada "sem auxílio de mãos", que "esmiuçará e consumirá" os reinos terrestres e "subsistirá para sempre" (verso 44), será estabelecido quando Cristo vier no último dia para julgar os vivos e os mortos (Mateus 25:31-34; II Timóteo 4:1).
  • No capítulo 7, o "Filho do Homem" que se dirige ao "Ancião de Dias" e recebe "domínio, e glória, e o reino" (versos 13 e 14) é Jesus Cristo. Ele aplicou o termo mencionado em Daniel para Si mesmo em várias ocasiões ao longo de Seu ministério terrestre.
  • No capítulo 8, o "príncipe do exército", ou o "Príncipe dos príncipes", contra O qual se levanta o "chifre pequeno" (versos 11 e 25), é o próprio Senhor Jesus.
  • No capítulo 9, o "Ungido", o "Príncipe", que seria morto e faria "firme aliança com muitos" (versos 25 a 27), é Cristo (do grego Christos, "ungido"). Daniel predisse que o tão esperado Príncipe Messias surgiria num tempo determinado, e Jesus Se referiu a esse tempo quando declarou: "o tempo está cumprido" (Marcos 1:15). Jesus foi ungido na ocasião de Seu batismo (Atos 10:37-38; Mateus 3:13-17).
  • No capítulo 10, Jesus é apresentado como "um homem vestido de linho" e como Miguel, nosso Príncipe (versos 5 e 6, 21).
  • No capítulo 12, Ele é mais uma vez apresentado como "Miguel, o grande príncipe" e como o "homem vestido de linho" (versos 1, 6 e 7).

Assim, Jesus Cristo é, indubitavelmente, o "príncipe da aliança", O qual seria "quebrantado" sob o domínio do "homem vil" (Daniel 11:21-22), uma referência ao imperador romano Tibério César, sob cujo reinado – e por ordem de seu governador na Judeia, Pôncio Pilatos  – nosso Senhor foi crucificado (Lucas 3:1; João 19:12, 16).

Portanto, neste ponto da profecia, a expressão "rei do Norte" não se aplica mais à dinastia dos selêucidas, mas à Roma, que sucedeu o império fragmentado de Alexandre como potência dominante, em consonância com as demais séries proféticas de Daniel.

O "rei" que "fará segundo a sua vontade"

Ora, sabemos que da desordem do império romano causada pelas invasões bárbaras Roma papal emergiu como um poder que, nas palavras de Thomas Hobbes, "ergueu-se repentinamente das ruínas daquele poder pagão" e que, de acordo com o historiador francês, Jacques Le Goff, procurará, principalmente, satisfazer os seus próprios interesses.

Esse poder, que se afirma e se apoia sobre as estruturas romanas e aspira a realizações que mesmo o mais ambicioso dos imperadores romanos jamais sonhou, é descrito em Daniel 11:36 e 37 nestes termos:

Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito. Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres, nem a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá.

A descrição é paralela a que encontramos em Daniel 7:8, 25; 8:11, 25; II Tessalonicenses 2:3-4; e Apocalipse 13:2, 5-6 e prossegue até o verso 39. Refere-se, sem dúvida, às pretensões arrogantes e blasfemas do papado, que não só se recusa a dar a Deus a honra devida, mas busca de forma insolente ocupar Seu lugar na terra.

A expressão "rei do Norte" neste segmento da profecia se refere, com efeito, à Roma em sua fase papal, que passa a ser objeto de interesse da visão até o fim do capítulo 11.

Ángel Manuel Rodríguez, diretor associado do Biblical Research Institute, reforça essa conclusão ao observar que a maior parte da linguagem e das imagens usadas em Daniel 11:40-45 é semelhante à narrativa do êxodo do Egito.

Ele cita alguns dos paralelos mais importantes, os quais sugerem que o rei do Norte procura tomar o lugar de Deus na história humana ao imitar os atos salvíficos do Senhor e a obra de Seu povo, quando, na realidade, luta contra eles, atitude que condiz perfeitamente com o papado.

  • A frase "terra do Egito" (Daniel 11:42) é usada em Êxodo mais do que em qualquer outro livro da Bíblia (veja, por exemplo, Êxodo 5-12).
  • Os israelitas deixaram o Egito e foram ao monte santo para servir a Deus (Êxodo 3:12; 19:20-23); o rei do Norte deixará o Egito e se voltará para o monte santo (Daniel 11:45).
  • Os israelitas foram para Canaã para uma guerra de extermínio (Deuteronômio 7:2); o rei do Norte irá ao monte santo para exterminar a muitos (Daniel 11:44).

Rodríguez assinala também que há paralelos igualmente significativos entre as atividades do rei do Norte e as da Babilônia apocalíptica, em que ambos assumem prerrogativas que pertencem somente a Deus:

  • No Apocalipse, a trindade profana formada pelo dragão, pela besta do mar e pela besta da terra constitui Babilônia e procura usurpar a autoridade de Deus na terra (Apocalipse 12-14), assim como o rei do Norte.
  • Alguns não são "conquistados" pelo rei do Norte porque ouvem o chamado para sair da Babilônia (Apocalipse 18:4), e podem ser representados em Apocalipse por Edom, Moabe e Amom.
  • Na batalha final, o povo de Deus encontra refúgio no Monte Sião, o monte santo do Antigo Testamento (Apocalipse 14:1). Babilônia se mobiliza para atacá-los (16:16). O ataque falha porque Deus liberta Seu povo. A coalizão babilônica é fragmentada (versos 18-21) e, assim como o rei do Norte, ninguém poderá socorrê-la.

Como o caráter, as atividades e o destino do rei do Norte são os mesmos da Babilônia mística, e a sequência dos reinos em Daniel 11 obedece a mesma sequência das demais séries proféticas do livro, não existe nenhuma razão para aplicarmos a expressão "rei do Norte" nesta parte da profecia à outra instituição, a não ser Roma papal.

Por outro lado, visto que o cumprimento de Daniel 11:40-45 ainda está no futuro, é compreensível que alguns detalhes permaneçam obscuros, e, por isso, precisamos ser cautelosos ao interpretá-los, evitando especulações e dogmatismos de qualquer natureza.

A seguinte explicação se baseia no que é possível inferir a partir do texto inspirado à luz dos acontecimentos atuais e não representa de modo algum a palavra final sobre o assunto.

Os reis do Norte e do Sul no tempo do fim

Há outra informação importante sobre o rei do Norte papal digna de consideração: o anjo diz expressamente que "não haverá quem o socorra" (Daniel 11:45, última parte). O papado sempre dependeu de reinos e nações para o exercício de seu poder.

Daniel 8:24 diz que "grande é o seu poder, mas não por sua própria força". Em Apocalipse 13:2 é dito que o dragão lhe deu "o seu poder, o seu trono e grande autoridade". E em Apocalipse 17, as nações da Terra, simbolizadas por um animal com sete cabeças e dez chifres, carregam e sustentam a meretriz chamada "Babilônia, a Grande" (versos 3 e 5), símbolo de Roma papal.

A força efetiva do papado não reside, pois, em si mesmo nem em suas declarações formais, mas no reconhecimento e apoio que recebe de outros poderes terrestres. Como rei do Norte no tempo do fim, o papado não voltará a exercer a posição que desfrutou no passado sem o auxílio dessas potências.

Tendo sido outrora "abandonado por todos os poderes do mundo que uma vez foram cristãos", para usar as palavras do cardeal Henry Edward Manning, o papado voltará a receber a ajuda das nações, que lutarão em seu favor e farão a sua vontade. O rei do Norte terá então subido do abismo e sua autoridade será reconhecida por todos os países como necessária, até mesmo vital para a estabilidade internacional.

Porém, no momento, o mundo está dividido entre duas correntes ideológicas antagônicas em luta pelo futuro da ordem internacional, aparentemente frustrando as pretensões papais, e este me parece ser o cenário preparatório para o embate final entre os reis do Norte e do Sul no tempo do fim tal como descrito em Daniel 11:40.

No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e passará.

Segundo Rodríguez, a linguagem geográfica de Daniel designa poderes espirituais universais em ação por meio de agentes humanos. Daniel se refere ao rei do Sul como Egito, um símbolo bíblico predominantemente negativo. É uma terra cujo rei, além de não ter respeitado o Senhor, O desafiou abertamente (Êxodo 5:2).  Representa o orgulho humano.

Enquanto o rei do Norte está interessado em ocupar o lugar de Deus, usurpando Suas prerrogativas, o rei do Sul simplesmente não se importa. Esse simbolismo pode ser aplicado hoje a sociedades não cristãs e a lugares onde o secularismo e o ateísmo prevalecem.

Ekkehardt Mueller sustenta a mesma linha de interpretação. Ele observa que, enquanto o rei do Norte representa o poder religioso da Babilônia dos últimos dias, o rei do Sul simboliza o ateísmo e o secularismo. O Egito simbólico, um poder ateísta, será totalmente derrotado pela Babilônia mística, um poder religioso. Essa vitória de Babilônia sobre o rei do Sul no tempo do fim constitui uma contrafação da vitória de Deus sobre o Faraó durante o êxodo.

É a derrota final do rei do Sul que permitirá ao rei do Norte unir Igreja e Estado em uma última tentativa de exterminar os santos.

Sem esse triunfo do rei do Norte e seus aliados no conflito que decidirá o controle da ordem internacional, a "ferida de morte" não será curada, e, consequentemente, a terra não se maravilhará, seguindo a besta (Apocalipse 13:3). Pela mesma razão, os "reis do mundo inteiro" não serão ajuntados "para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso", nem terão "um só pensamento" ou oferecerão "à besta o poder e a autoridade que possuem" (16:14; 17:13).

Para que tudo isso se cumpra, o rei do Sul politicamente ateu precisa ser derrotado pelo rei do Norte supostamente cristão, de modo que este seja o único poder dominante em todo o mundo.

Não se trata apenas de um confronto de mentalidades. Decerto, envolve grupos de pessoas, mas também, e sobretudo, países inteiros alinhados em cada lado do conflito, tal como expressamente indicado em Daniel 11:40-42.

As atuais tensões político-ideológicas

Embora nem tudo na profecia possa ser compreendido no presente estágio dos acontecimentos, está claro que, ao revelar os reis do Norte e do Sul como os grandes competidores no tempo do fim, Daniel 11:40-45 apresenta a versão simplificada do tabuleiro do xadrez geopolítico nos últimos dias, uma informação adicional que completa todas as demais informações fornecidas pelas profecias precedentes do livro de Daniel.

Como o rei do Sul simboliza nesse contexto o ateísmo e o secularismo (no sentido de rejeitar a influência da religião no destino dos homens), é de esperar que os países que se alinham politicamente com essa ideologia usem seu poder e recursos para derrubar a hegemonia do rei do Norte, que reúne os países alinhados no sentido oposto.

A julgar pela condição do mundo hoje – exacerbada pela guerra na Ucrânia –, onde, de um lado, temos nações que professam defender a democracia e a liberdade, lideradas pelos Estados Unidos, e, de outro, nações que desprezam esses valores ocidentais, como China, Rússia e Coreia do Norte, é possível que estejamos testemunhando um acirramento nas tensões político-ideológicas que redefinirá a ordem mundial, em cumprimento da profecia.

Tudo indica que o mundo está caminhando nessa direção, pois, à medida que aumentam as escaladas, aumenta a possibilidade de as tensões mais amplas entre as grandes potências atingirem o ponto de ebulição.

De fato, durante uma audiência no Congresso dos EUA, o chefe do Estado-Maior-Conjunto, general Mark Milley, advertiu que as chances de um "conflito internacional significativo entre grandes potências" estão aumentando, visto que, segundo ele, tanto a China quanto a Rússia são ameaças à "atual ordem global baseada em regras". Milley chamou a invasão russa da Ucrânia de "a maior ameaça à paz e à segurança da Europa, talvez do mundo, em meus 40 anos de serviço".

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, disse recentemente que as implicações globais do conflito ucraniano impulsionaram a organização a intensificar seu envolvimento com parceiros da Ásia-Pacífico pela primeira vez.

"Vimos que a China não está disposta a condenar a agressão da Rússia, e Pequim juntou-se a Moscou para questionar o direito das nações de escolher seu próprio caminho", disse Stoltenberg. "Este é um desafio sério para todos nós, e torna ainda mais importante estarmos juntos para proteger nossos valores".

Rússia e China não só têm buscado uma cooperação mais estreita nos últimos anos, mas também estão procurando forjar alianças com adversários dos EUA na Ásia e na Europa, de acordo com Brandon Weichert, um especialista em China.

Tais ações são "uma tentativa de criar, basicamente, um escudo de autocracia na periferia da Eurásia e do Oriente Médio, dando a algumas potências de médio porte... capacidades e orientação para desafiar o poder americano", disse ele. "Penso que essas entidades estão operando juntas como uma só e sua missão é reverter a projeção do poder militar americano".

A ideia de pôr um fim à ordem dominada pelos Estados Unidos foi expressamente admitida pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em uma entrevista à TV estatal Rossiya 24. "Nossa operação militar especial [na Ucrânia] visa pôr um fim à expansão desavergonhada [da Otan] e ao impulso descarado para a dominação total dos EUA e seus súditos ocidentais no cenário mundial", disse Lavrov.

Na visão do general Mark Milley, a invasão russa da Ucrânia ameaça "a paz e a estabilidade globais que meus pais e gerações de americanos lutaram tanto para defender". Para ele, os EUA estão "em um ponto de inflexão geoestratégico muito crítico e histórico", em que os militares americanos devem "manter a prontidão e se modernizar para o futuro" ao mesmo tempo.

Conclusão

Além do impacto humanitário imediato e trágico, parece evidente que a guerra na Ucrânia envolve interesses muito maiores do que questões meramente territoriais. Trata-se de qual lado no conflito liderará a nova ordem mundial.

Kira Rudik, parlamentar ucraniana, disse em uma entrevista que "não lutamos apenas pela Ucrânia; lutamos por essa nova ordem mundial que inclui todos os outros países democráticos".


Em uma reunião no fim do mês de março entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da China, o chanceler russo sustentou que os dois países serão os protagonistas na criação dessa nova ordem. Por outro lado, o presidente americano Joe Biden, durante um discurso na reunião trimestral da Business Roundtable, grupo que reúne grandes executivos, defendeu que os Estados Unidos é que devem liderá-la:

"Haverá uma nova ordem mundial lá fora e temos que liderá-la. E precisamos unir o resto do mundo livre para realizá-la."


O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, não deixou margem para dúvidas sobre quem deve estar à frente da nova ordem mundial em um discurso transmitido ao Congresso dos EUA:

Estou me dirigindo ao presidente Biden. Você é o líder da nação, de sua grande nação. Desejo que você seja o líder do mundo. Ser o líder do mundo significa ser o líder da paz.

Nesta disputa de grandes proporções, as profecias do tempo do fim de Daniel e Apocalipse antecipam quem será o vencedor: o rei do Norte prevalecerá, e a autoridade militar e civil dos Estados Unidos será finalmente empregada em favor do papado, com o objetivo de impor a vontade deste poder anticristão a todas as nações da terra.

Esta, sem dúvida, é uma informação estratégica para o povo de Deus, que deve se preparar de acordo, de modo a permanecer fiéis e inabaláveis até o fim.

Nunca acreditei mais no futuro do que neste tempo em que vislumbramos a iminência da volta Jesus! E nunca a desejei tanto como agora, quando podemos divisar nos acontecimentos do presente a bem-aventurada vida no porvir!

Que Deus preserve cada um de nós e nos conceda a preparação espiritual necessária para participarmos do glorioso triunfo que Deus dará a Seu povo naquele grande dia!

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