No limiar de uma crise estupenda


A velocidade dos eventos à medida que se desenvolvem é simplesmente espantosa, mesmo para aqueles que estão familiarizados com as profecias bíblicas.

Múltiplas crises (note a expressão) estão mudando rapidamente as condições do mundo, abrindo caminho para o cumprimento das poucas porções finais das cadeias proféticas.

Como cristãos que conhecem o tempo (Romanos 13:11), que esperam e apressam a vinda do Dia de Deus (II Pedro 3:12), compreender o drama da guerra na Ucrânia a partir dessa perspectiva é muito mais que um exercício teológico; é parte da nossa preparação para O recebermos.

Nas ramificações internacionais do conflito, o mundo está testemunhando uma mudança sísmica no cenário geopolítico global, com a ascensão de atores que se contrapõem à ordem econômica e política liderada pelos Estados Unidos e apoiada diretamente pela União Europeia e pela Comunidade das Nações.

Dito de outra forma, a escalada da guerra russo-ucraniana pode determinar quem governará a Nova Ordem Mundial.

Na postagem de hoje pretendo expor em linhas gerais por que a invasão da Ucrânia pela Rússia é um dos eventos catalisadores dessa mudança. Na postagem seguinte abordarei as implicações proféticas do conflito.

O drama e a extensão da guerra

Temo que muitas das notícias sobre a guerra na Ucrânia nos próximos dias serão ainda mais terríveis.

A invasão russa está provocando uma grande crise humanitária, com baixas militares e civis crescentes, centenas de milhares de pessoas sem acesso à comida, água, aquecimento, eletricidade e assistência médica, e um movimento em grande escala de refugiados através das fronteiras, principalmente mulheres, crianças e idosos.

Na segunda-feira (14/03), mais de 2,8 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia para países vizinhos, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência da ONU. "As pessoas continuam fugindo da guerra na Ucrânia a cada minuto", tuitou a OIM, acrescentando que elas precisam de "apoio contínuo".


Para os muitos que não podem deixar o país, a situação está se tornando cada vez mais desesperadora, principalmente nos centros populacionais sitiados.

Em Mariupol, uma cidade portuária estratégica no sul da Ucrânia, moradores ficaram sem aquecimento, água e eletricidade por mais de uma semana devido ao bombardeio russo.

Kharkiv, uma cidade no nordeste da Ucrânia a poucos quilômetros da fronteira com a Rússia, também sofre com bombardeios aéreos desde o início da guerra, com danos na infraestrutura crítica que afetam 1,4 milhão de habitantes.

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, descreveu como "horror" a situação na Ucrânia desde o início da invasão, observando que o número de países em conflito duplicou na última década.

Mas guerras como a russo-ucraniana têm consequências maiores e mais extensas, na medida em que amplificam a tensão geopolítica entre o Oriente e o Ocidente e marcam uma mudança de paradigma do mundo.

"Conflitos armados têm ocorrido ao longo dos anos, mas nenhum deles associado diretamente ao engajamento de grandes potências umas contra as outras. E esse risco existe agora em duas regiões do planeta: a Ucrânia e Taiwan", relatou o professor Pedro Dallari, colunista da Rádio USP.

No caso da Ucrânia, o agressor é uma potência que detém o maior arsenal nuclear do mundo.

Em menos de uma semana de guerra, Vladimir Putin advertiu que os países que interferissem nas ações da Rússia enfrentariam consequências nunca antes vistas na história, emitindo uma ordem para que seu comando miliar colocasse suas forças nucleares em "alerta especial", considerado o nível mais elevado.

Em uma evidente provocação ao Ocidente, o apresentador de TV russo, Dmitry Kiselyov, gabou-se de como "nossos submarinos podem disparar mais de 500 ogivas nucleares". "Isso garantiria a destruição dos EUA e de todos os outros países da OTAN", acrescentou.

Com a escalada das tensões, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, soou na segunda-feira o alarme sobre a Rússia aumentar o nível de alerta para suas forças nucleares, descrevendo-o como um "desenvolvimento assustador" que traz a perspectiva de um conflito nuclear "de volta ao campo das possibilidades".

Sabemos pela Escritura que Deus não permitirá o extermínio da civilização por meio de um holocausto nuclear, pois Ele mesmo intervirá de modo sobrenatural nos destinos do mundo, para assumir o controle no último capítulo do drama e destruir os que destroem a terra (Apocalipse 11:18).

Mas isso não significa que um conflito de proporções globais envolvendo o uso de armas nucleares táticas seja uma impossibilidade, até porque elas já foram usadas no passado, no fim da Segunda Guerra Mundial.

Consequências econômicas da guerra

Numa reação à agressão russa, o governo dos EUA e seus aliados europeus estão travando uma guerra econômica sem precedentes contra o país, com consequências que vão muito além de suas fronteiras.

Eles impuseram pesadas sanções, confiscaram bens do governo russo e de cidadãos privados, expulsaram certos bancos russos do SWIFT, um sistema de transferências eletrônicas internacionais, e congelaram as reservas em dólar e euro da Rússia no valor de cerca de US$ 300 bilhões.

"Esta é uma guerra nuclear financeira e o maior evento de sanções da história", disse Peter Piatetsky, ex-funcionário do Departamento do Tesouro, acrescentando: "A Rússia deixou de ser parte da economia global para se tornar o maior alvo de sanções globais e um pária financeiro em menos de duas semanas".

Em outras palavras, a Rússia está sendo cortada do sistema financeiro global dominado pelos Estados Unidos, e, no processo, um número crescente de corporações ocidentais está deixando de operar no país.

Mas essas medidas também terão consequências devastadoras para os demais países, pois tanto a invasão quanto as sanções têm impacto no lado da oferta que reduzem a capacidade de produção da economia global, exacerbando tendências que já estavam em curso com a pandemia, como interrupção nas cadeias de suprimentos, aumento nos preços de energia e alimentos (a Rússia é um dos maiores exportadores de commodities do mundo) e diminuição do poder de compra.

As expectativas de inflação dos consumidores podem evoluir a ponto de o dinheiro perder valor, provocando um colapso da estrutura do sistema econômico, o que representará a oportunidade perfeita para os planejadores do Grande Reset substituirem o atual sistema por um novo (sobre isso, clique aqui).

Essa ainda não é a situação atual, mas a conscientização e as expectativas de inflação estão crescendo.

O editor do The Future Economy, Patrick Hill, observou que "a guerra está deslocando os fluxos econômicos de bens, serviços e finanças para um território desconhecido, com consequências que são, na melhor das hipóteses, incertas e, na pior, perigosas".

E Egon von Greyerz, da Gold Switzerland, escreveu:

Há alguns anos venho alertando sobre a inflação que se aproxima, que levará à hiperinflação, baseada na impressão ilimitada de dinheiro. Mas a dinamite de uma crise global de commodities e escassez lançada na dívida já catastrófica e no fogo monetário global criará um inferno de proporções nucleares. Se um milagre não interromper esta guerra muito rapidamente (o que é extremamente improvável), o mundo em breve entrará em uma explosão hiperinflacionária de commodities (pense tanto em energia, metais e alimentos) combinada com uma implosão cataclísmica de ativos deflacionários (pense em dívidas, ações e propriedade). O mundo experimentará consequências totalmente desconhecidas sem a capacidade de resolver nenhuma delas por muito tempo.

Hill e Greyerz provavelmente nunca ouviram falar nos adventistas do sétimo dia, mas suas palavras nos lembram da seriedade das advertências da Bíblia quanto ao futuro do mundo e nos fazem entender que os sinais que anunciam o breve regresso de Jesus se estão cumprindo em nossa geração.

Uma crise alimentar de proporções bíblicas

Como resultado da pressão econômica da guerra, o mundo está caminhando para uma crise alimentar global "catastrófica", que causará "o inferno na terra" em termos de preços dos alimentos, segundo especialistas.

Rússia e Ucrânia juntas fornecem mais de 25% da oferta mundial de trigo e 20% das vendas globais de milho.

A Ucrânia, conhecida como o "celeiro da Europa" e um grande exportador de fertilizantes juntamente com a Rússia, figura entre os dez maiores exportadores de trigo do mundo e forneceu mais de US$ 6 bilhões em produtos agrícolas para a União Europeia em 2020. O país também é um grande fornecedor global de óleos de milho e girassol.

Lembre-se de que o mercado global de grãos, óleos vegetais e fertilizantes já estava sofrendo grande pressão inflacionária antes do ataque da Rússia.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)  alertou na sexta-feira (11/03), que os preços globais dos alimentos, que já estão em níveis recordes, podem subir ainda mais, entre 8% e 20%, à medida que o conflito na Ucrânia continua.

"As prováveis interrupções nas atividades agrícolas desses dois principais exportadores de commodities básicas [Rússia e Ucrânia] podem aumentar seriamente a insegurança alimentar globalmente", disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, em um comunicado.

Referindo-se ao potencial efeito de longo prazo que a guerra e as sanções internacionais contra a Rússia poderiam ter, Sal Gilbertie, CEO da Teucrium, disse (note mais uma vez as palavras): "É um evento bíblico quando você fica sem estoque de trigo. Você não verá uma escassez global de alimentos. Infelizmente, o que você verá globalmente é que bilhões de pessoas podem não ter condições de comprar alimentos".

"Para mim, a questão não é se estamos entrando em uma crise alimentar global – é quão grande será a crise", disse o presidente da companhia agrícola Yara International, Svein Tore Holsether, à BBC, observando que o aumento dos preços do gás está causando um aumento acentuado no custo dos fertilizantes.

David Beasley, chefe do Programa Mundial de Alimentos, foi ainda mais pessimista em seus comentários. "Quando você apenas pensa que o inferno na terra não pode piorar, ele piora".

Nas vozes angustiadas dos que anunciam um grande desastre de dimensões apocalípticas ouvimos em alto e bom som o solene anúncio de Deus: "Eis que venho sem demora" (Apocalipse 22:12).

Uma guerra envolvendo aspirações geopolíticas

Tirar a Ucrânia da esfera de influência ocidental e trazer o país de volta à órbita da "Mãe Rússia" é um dos objetivos de Putin nesta guerra.

Essa visão, que remete ao Império Russo pré-soviético, transparece nas próprias declarações do presidente russo.

Em abril de 2005, em seu discurso anual sobre o estado da nação, Putin descreveu o colapso do império soviético como "a maior catástrofe geopolítica do século 20".

Em fevereiro de 2007, durante um discurso na Conferência de Munique sobre Política de Segurança, Putin atacou a ideia de uma ordem mundial "unipolar" que permite aos Estados Unidos, como única superpotência, difundir seus valores democráticos liberais para outras partes do mundo, incluindo a Rússia.

Em outubro de 2014, em um discurso num think tank russo de alto nível, ele criticou a ordem internacional liberal pós-Segunda Guerra Mundial, cujos princípios e normas regulam a condução das relações internacionais há quase 80 anos.

Esses sentimentos sugerem fortemente que Putin deseja recuperar no espaço pós-soviético o que ele considera a Rússia histórica, uma grande potência nos moldes do século XIX com uma identidade política que se opõe à universalidade dos valores ocidentais liderada pelos Estados Unidos.

A extinção da soberania ucraniana – soberania que Putin nunca reconheceu – estaria, então, intimamente entrelaçada com as obsessões imperialistas e geopolíticas russas. Por isso, nada menos que a capitulação da Ucrânia e a absorção do país na esfera de influência russa interessa a Putin.

No fim das contas, a principal ameaça ao presidente russo e seu regime autocrático não é a OTAN, mas a democracia, na medida em que ele a vê como um desafio direto ao seu próprio regime.

A proximidade histórica entre Ucrânia e Rússia torna essa ameaça percebida particularmente crítica, de maneira que as tensões com o Ocidente estão aumentando rapidamente.

Por outro lado, isso não significa que as "nações do mundo livre" sejam os mocinhos.

A "ordem internacional baseada em regras" liderada pelos EUA foi mais precisamente definida nas palavras de um funcionário do alto escalão do governo americano na Era Bush:

Não é mais assim que o mundo realmente funciona... Somos um império agora e, quando agimos, criamos nossa própria realidade. E enquanto vocês estudam essa realidade – criteriosamente, como vocês quiserem – agiremos de novo, criando outras novas realidades, que vocês também podem estudar, e é assim que as coisas funcionam. Somos atores da história... e vocês, todos vocês, serão deixados apenas para estudar o que fazemos.

É aqui que a fase dos ataques mais vigorosos ao "governo do povo, pelo povo e para o povo" começou. Em seu lugar surgiu, nas palavras de John W. Whitehead, "um governo paralelo – uma burocracia global corporativa, militarizada e entrincheirada – que está totalmente operacional e não apenas administra o país [os Estados Unidos], mas está prestes a dominar o mundo".

Uma América com essas características estará mais bem posicionada para falar como dragão do que uma América que se comporta como um cordeiro – completa separação entre igreja e estado, democracia e liberdade (Apocalipse 13:11-12).

Confronto de civilizações

Mas a escalada da guerra na Europa Oriental expôs mais abertamente os desafios hercúleos de Washington em um mundo que não é unipolar.

Um dos efeitos colaterais das sanções do Ocidente é a consolidação dos laços de cooperação entre Rússia e China.

A China não apenas se recusou a condenar a invasão da Ucrânia e aderir às sanções econômicas do Ocidente (dadas suas próprias ambições com relação à Taiwan), como também firmou com a Rússia um acordo de assistência mútua.

A guerra de Putin contra a Ucrânia é uma guerra contra a ordem de segurança liderada pelos Estados Unidos na Europa. Não é de admirar, portanto, que Putin tenha escolhido ficar do lado do Partido Comunista Chinês.

Duas semanas antes da invasão, enquanto a Rússia recebia fortes críticas internacionais por seus planos de atacar a Ucrânia, Putin e o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, proclamaram uma parceria "sem limites", um relacionamento bilateral "superior às alianças políticas e militares da era da Guerra Fria".

De acordo com o analista geopolítico, Brandon Weichert, essa parceria florescente é preocupante, porque os dois países decidiram não só cooperar econômica e militarmente, mas trabalhar juntos de uma "forma ideológica geral".

Por conta deste alinhamento ideológico, Charles Nenner, um renomado especialista em ciclos geopolíticos e financeiros, disse em uma entrevista que sua análise da situação atual mostra que o mundo está entrando num ciclo de guerra de tal magnitude "que há um elevado risco de um conflito de grandes proporções".

"O que tenho escrito trata do grande perigo de que Rússia, Irã e China se unam. A China está observando como lidamos com a Ucrânia antes de começar com Taiwan. Acho que esse é o grande perigo... O Ocidente está em desordem, e não há uma linha sobre onde ir ou o que fazer...".

Um grupo de análise econômica e financeira relacionada a eventos geopolíticos observou em seu site que a guerra atual significa o fim do mundo como o conhecemos e marca um novo período de guerra fria e uma nova divisão do globo, com Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Europeia de um lado, e Rússia e China do outro.

O coordenador de políticas do Indo-Pacífico da Casa Branca, Kurt Campbell, declarou na segunda-feira (01/03) que os Estados Unidos manterão seu foco na região apesar da crise na Ucrânia, acrescentando que Washington esteve profundamente engajado em dois teatros simultaneamente antes, inclusive durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, segundo informações da Reuters.

Durante uma audiência do Comitê de Serviços Armados da Câmara dos EUA, o almirante John Aquilino, responsável pelo Comando Indo-Pacífico, observou que "a República Popular da China é o concorrente estratégico mais importante que os Estados Unidos já enfrentaram", cujo objetivo é "erradicar a ordem internacional baseada em regras em benefício próprio e à custa de todos os outros".

O presidente do comitê, Adam Smith, ratificou os sentimentos de Aquilino, dizendo que o Partido Comunista Chinês é a maior ameaça à liderança global contínua dos Estados Unidos.

Ely Ratner, secretário assistente de Defesa para assuntos de segurança do Indo-Pacífico, condenou perante o comitê o "apoio do Partido Comunista Chinês à agressão russa", observando que "a competição estratégica com a República Popular da China será uma característica definidora do século 21" no que tange à política internacional e à ordem global.

Nesse contexto, a agressão russa contra a Ucrânia não é só mais uma guerra; é parte de um conflito que vai muito além de uma disputa territorial. Compreender de uma perspectiva profética os contornos desse conflito será o assunto de nossa próxima postagem.

Conclusão

Niall Ferguson, editor da coluna de opinião da Bloomberg, escreveu:

Se a invasão da Ucrânia terminar em desastre para os heroicos defensores de Kiev e seus camaradas, outro desastre pode ocorrer – e numa região tão distante quanto Taiwan. Por outro lado, se houver justiça no mundo e o desastre recair sobre o arquiteto desta guerra, isso também dará origem a algum evento novo e imprevisível.

Independentemente do resultado, estamos vivendo um ponto de virada na história, o segundo em apenas dois anos! O conflito russo-ucraniano, que tem contornos ideológicos muito claros, é mais um evento catalisador dessa mudança e marcará o fim da ordem mundial como a conhecemos.

No entanto, poucos dentre o povo de Deus parecem estar cientes disso.

A ira do grande adversário alcançará em breve seu ponto culminante, ao perceber que o tempo que lhe resta é muitíssimo curto.

Por isso, antes que o evangelho eterno complete sua boa obra na terra, esta deve completar-se primeiro em nossa própria vida, a fim de preparar o povo de Deus para os acontecimentos ligados ao final do tempo de graça.

A gloriosa consumação dos séculos virá, quer estejamos preparados ou não.

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