O que ainda não aprendemos com a crise


A apostasia religiosa sempre resulta da negligência e ingratidão quanto aos grandes feitos de Deus em favor de Seu povo.

O passo seguinte é dado quando a primeira e mais fundamental barreira estabelecida por Deus para proteção de Sua igreja – a inimizade entre a mulher e a serpente (Gênesis 3:15) – é quebrada pelo envolvimento social de seus membros com o mundo.

Não é preciso esperar muito até que tal envolvimento se converta em compromisso, e o compromisso, em uma uniformidade que afetará cada um dos elevados princípios religiosos que distinguem a igreja como propriedade exclusiva de Deus (Êxodo 19:5-6; I Pedro 2:9-10).

Uma vez que cresçam sob as influências corruptoras desta associação ilícita, as gerações seguintes de crentes não terão, por experiência, um conceito correto a respeito de Deus, nem serão capazes de desenvolver os elementos que constituem a verdadeira força do caráter cristão.

Este processo continua até ao ponto em que a apostasia se torna um caminho sem volta. Por isso, a advertência e o apelo de Cristo aos crentes de Éfeso em Apocalipse 2:4-5 são tão oportunos para nós hoje como foram para eles:

Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.

Esta foi precisamente a história de Israel, com períodos alternados de opressão e libertação que foram resultado dos esforços decididos do Senhor para fazer com que a nação voltasse da idolatria à fidelidade a Deus e à Sua lei (veja, por exemplo, Juízes 2).

O fato de termos sido privados de comparecer à igreja e de realizar as programações agendadas para este ano devido à Covid-19 deveria nos fazer pensar que o desagrado de Deus sobre nós pelas mesmas razões pode ser mais do que uma mera possibilidade.

E se este for o caso (e não vejo nenhuma razão para que não seja), pode-se ler na crise atual o propósito de Deus de despertar-nos para o mal de nossos caminhos e conquistar-nos de volta à comunhão com Ele! A questão é: Estamos entendendo a mensagem de Deus?

A repreensão de Deus à igreja do tempo do fim

Toda a crise que nos afeta diretamente como igreja remanescente (e não me lembro de nenhuma outra com o alcance e a magnitude da presente crise) me faz lembrar das palavras incisivas, mas oportunas de Ellen G. White em Testemunhos para a Igreja, volume 5, p. 719:

O desagrado do Senhor está sobre nós por nossa negligência diante das solenes responsabilidades. Suas bênçãos têm sido retidas por causa dos testemunhos negligenciados por aqueles que professam crer neles. Oh, que ocorra um despertamento religioso! Os anjos de Deus estão indo de igreja a igreja, cumprindo seu dever, e Cristo está batendo à porta de nosso coração solicitando entrada. Mas os meios designados por Deus para despertar a igreja quanto à realidade de sua pobreza espiritual não têm sido considerados. A voz da Testemunha Verdadeira tem sido ouvida em reprovação, mas não é obedecida. Os homens escolheram seguir os próprios caminhos em lugar dos de Deus, porque o eu não foi crucificado neles. Assim a luz teve pouco efeito sobre mentes e corações.

Consideremos resumidamente cada questão presente nesta solene mensagem:

O desagrado do Senhor está sobre nós por nossa negligência diante das solenes responsabilidades

As solenes responsabilidades que Deus confiou ao Seu povo, e que se revestem de maior urgência à medida que a tempestade se avoluma sobre nós, estão relacionadas ao santo chamado de Cristo à Sua igreja (I Pedro 2:9-10).

A negligência consiste em professar, mas não corresponder à esta santa vocação, seja vivendo nossa vida à maneira do mundo (Mateus 24:37-39), seja trazendo o mundo para dentro da igreja sob o pretexto de conquistá-lo para Cristo (Tiago 4:4).

Suas bênçãos têm sido retidas por causa dos testemunhos negligenciados por aqueles que professam crer neles

Assim como Israel jamais poderia conquistar as nações que eram mais fortes do que ele sem a presença de Deus em seu meio, assim o Israel moderno nunca poderá conquistar os pós-modernos sem as bênçãos que o Senhor deseja derramar sobre Sua igreja.

As bênçãos são retidas não por arbitrariedade de Deus, mas porque professamos crer nos testemunhos enviados em nosso favor, e, contudo, os negligenciamos.

Sabemos que somos ricos e abastados, mas nossa conduta demonstra que não estamos tão convencidos de que sejamos infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus, absolutamente carentes das provisões de Cristo (Apocalipse 3:15-19).

Mas os meios designados por Deus para despertar a igreja quanto à realidade de sua pobreza espiritual não têm sido considerados

Desconsideramos os meios que Deus designou para despertar-nos quanto à realidade de nossa condição espiritual porque negligenciamos os testemunhos nos quais professamos acreditar. E o fazemos porque possuímos uma autopercepção supervalorizada de nós mesmos.

Como a obra regeneradora do Espírito Santo pode se fazer sentir na igreja se seus membros não possuem qualquer senso de sua real necessidade? Até quando o Senhor Jesus continuará batendo à porta de nosso coração, esperando que Lhe franqueemos a entrada?

A voz da Testemunha Verdadeira tem sido ouvida em reprovação, mas não é obedecida

A pandemia e seus efeitos extraordinários nos constrangeram a voltar a pregar o evangelho em sua aplicação especial para o tempo do fim, a qual inclui a voz da Testemunha Fiel e Verdadeira, que tira a Babilônia de dentro da igreja.

Mas como a Laodiceia dos tempos de João, infelizmente continuamos bastante flexíveis e conciliadores, repletos do espírito de comprometimento com o mundo.

Os homens escolheram seguir os próprios caminhos em lugar dos de Deus, porque o eu não foi crucificado neles. Assim a luz teve pouco efeito sobre mentes e corações

Lembro-me de um projeto de nossa igreja chamado Coadjuvantes, lançado há alguns anos, que consistia numa série de vídeos com testemunhos de adventistas influentes na internet e cujo objetivo era inspirar os membros a fazerem de Cristo o protagonista de suas vidas.

Pelo menos no que diz respeito às nossas estratégias e métodos mais recentes, Cristo nunca foi o protagonista, e sim o coadjuvante, na melhor das hipóteses. Somos nós os protagonistas, e continuamos exercendo confortavelmente este papel a despeito da pandemia.

Ainda estamos apegados ao jeito Rick Warren de fazer igreja (quem o conhece sabe do que estou falando), imbuídos de suas técnicas de marketing e gestão empresarial e embalados por sua permissividade pragmática que visa resultados imediatos.

O meio é a mensagem. Nesta condição, como a luz que Deus permitiu iluminasse Sua igreja pode ter algum efeito sobre mentes e corações?

O desafio do Senhor à Sua igreja

Na página seguinte da mesma citação, Ellen White faz as incisivas perguntas:

Despertará o povo de Deus de sua letargia carnal? Tirará ele maior proveito das bênçãos e advertências, não permitindo que coisa alguma se interponha entre sua mente e a luz que Deus derrama?

Não precisamos de uma crise maior para responder positivamente aos apelos de Cristo por intermédio de Sua serva.

A crise atual é suficiente para que, na qualidade de líderes e membros, voltemos a Deus, atendendo aos reclamos de Sua Palavra, no espírito da oração de Daniel registrada no capítulo 9.

Se ainda assim continuarmos sendo negligentes e indiferentes com relação aos meios designados por Deus para o bem de Sua igreja, persistindo em trilhar nossos próprios caminhos em lugar da vontade de Deus, podemos estar certos de que o Senhor usará eventos ainda mais dramáticos por amor de Seu povo, como lembra Apocalipse 3:19:

Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.

Que ocorra entre nós um despertamento religioso!

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