A ascensão da China: fim do domínio americano?



Em um tom abertamente provocativo, um editorial do Global Times, a versão em inglês do tabloide controlado pelo Partido Comunista da China, criticou a reação dos Estados Unidos à lei de segurança nacional para Hong Kong, administrada por Pequim.

As provocações do governo chinês não são novidade, mas, neste caso, os seguintes parágrafos chamaram especialmente minha atenção:

Como os EUA estão emaranhados na epidemia de COVID-19, sua capacidade real de intervir externamente está enfraquecendo. A Casa Branca alegou que iria impor sanções à China, mas as ferramentas e os recursos à sua disposição são menores do que aqueles que ela poderia mobilizar antes do surto. Eles estão apenas blefando.

O mundo ocidental inteiro não seguirá os EUA. A China é um mercado imenso e os EUA são incapazes de fornecer compensação suficiente para equilibrar as perdas se os países ocidentais ficarem alienados da China. Os valores ainda têm um forte apelo, mas não podem substituir os interesses fundamentais de um país em busca do desenvolvimento.

A provocação em uma questão que tem sido a causa mais recente da rápida deterioração das relações sino-americanas, com o risco real de um conflito armado, possui implicações que vão muito além da retórica. Como Kyle Bass, da Newsweek, escreveu:

Hong Kong se tornou o marco zero para o choque ideológico entre democracia e comunismo chinês repressivo. O mundo deve se concentrar em Hong Kong. Não se trata apenas do destino de milhões de manifestantes pacíficos, mas da democracia, de promessas renegadas e de uma ordem global que está mudando à medida que o Partido Comunista Chinês continua a mudar seus termos de compromisso.

A queda do Muro de Berlim impactou o regime soviético e seus estados satélites, mas não a ideologia. O embate cada vez mais inflamado ainda gira em torno do conflito entre dois sistemas de governo que são mutuamente excludentes, e agora chegamos a um ponto nas tensões que pode ser decisivo. A questão é: Neste choque ideológico, quem sairá vitorioso?

A ausência de organização e liderança dos Estados Unidos na resposta à pandemia, tanto no plano doméstico, como mundial, não parece favorecer o país nesse conflito. A crise revelou uma nação mais fraca, menos influente e mais desprezada, algo que a imprensa não deixou de explorar:

"A morte da competência americana".
"O coronavírus é a pior falha de inteligência na história dos EUA".
"A reputação global dos EUA atinge o fundo do poço com a resposta de Trump ao coronavírus".
"O mundo amou, odiou e invejou os EUA. Agora, pela primeira vez, temos pena deles".
"Mídia estatal chinesa chama os EUA de 'sociedade primitiva', e diz que a 'democracia está morrendo' em meio ao coronavírus".

Enquanto a América parece incapaz de exercer a liderança em meio à crise, a China a tem usado como um trampolim para colocá-la no centro do poder e influência globais.

“Com a provável emergência da China como a primeira grande economia mundial a suspender os bloqueios e recuperar o crescimento”, escreveu Frederick Kempea, da CNBC, “a Covid-19 agora oferece uma chance única em um século de acelerar a mudança geopolítica a favor de Pequim em 2020 e muito além”.

Isso realmente poderia acontecer? De acordo com a Bíblia, a resposta é NÃO! Todo o maciço investimento político, tecnológico e militar da China nesse sentido está fadado ao completo fracasso. Nem mesmo a "janela de oportunidade" aberta pelo coronavírus trará vantagens concretas a Pequim. Vejamos a razão.

A geopolítica no tempo do fim


Consideremos por um instante a visão de Daniel no capítulo 11. Como nas demais séries proféticas do livro, este capítulo cobre basicamente a mesma linha do tempo, começando nos dias do profeta e avançando continuamente até o tempo do fim e o estabelecimento do reino eterno de Deus.

A visão foi dada a Daniel no terceiro ano do reinado de Ciro (Daniel 10:1). Por isso, a visão começa com o domínio persa, mencionando em seguida seu conflito com a Grécia (verso 2), cujo "rei poderoso", no auge do poder, tem seu reino "quebrado e repartido para os quatro ventos do céu" (versos 3 e 4), uma clara referência ao império de Alexandre, o Grande, que, com sua morte prematura, e sem um sucessor direto, teve o imenso território dividido em quatro reinos.

Do verso 5 em diante, a profecia se concentra em dois destes reinos, em virtude de sua influência sobre o povo de Deus: a Síria, governada pelos selêucidas, e o Egito, comandado pelos ptolomeus. Do ponto de vista geográfico da Palestina, o "rei do Norte" e o "rei do Sul", respectivamente.

Observe, no entanto, que a identificação desses reinos muda à medida que acompanhamos o fluxo natural da visão.

Duas referências importantes na profecia indicam claramente essa mudança. A primeira é ao "príncipe da aliança" (verso 22), o mesmo Príncipe que faz "firme aliança com muitos" e é identificado como "Ungido", o Messias (Daniel 9:25-27).

Considerando que o "príncipe da aliança" foi "quebrantado" durante o domínio do "homem vil" (Daniel 11:21), este não pode ser outro senão Tibério César, sucessor de Augusto, sob cujo governo Jesus Cristo foi crucificado (ver Lucas 3:1).

Portanto, neste ponto da visão, o "rei do Norte" representa o Império Romano, em harmonia com a sequência das demais séries proféticas.

A segunda referência ocorre em Daniel 11:36-39. Estes versos apresentam novas especificações sobre o "rei do Norte" que não podem ser historicamente aplicadas a Roma em sua fase imperial. Para ser objetivo, mencionarei apenas o verso 36:

Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito.

Note que a descrição neste verso é paralela às descrições que encontramos em Daniel 8:11, 25; II Tessalonicenses 2:4; e Apocalipse 13:2, 6. O seguinte quadro nos ajuda a perceber melhor esse paralelismo (clique para ampliar):



Não há dúvida de que estas especificações paralelas descrevem o mesmo poder: o papado! Assim, em Daniel 11:36-39, o "rei do Norte" simboliza Roma em sua fase papal.

Ocorre, porém, que, no "tempo do fim" (verso 40), o papado não é o único poder compreendido na designação "rei do Norte".

Sabemos disso à luz de Apocalipse 13:11-18. Nestes versos, o papado é identificado pela expressão "primeira besta" (verso 12), a besta cuja cabeça papal fora mortalmente ferida (verso 3), mas que revive no tempo do fim graças à atuação de sua promotora e agente, a segunda besta, símbolo da América protestante.

11 Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão.

12 Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.

14 Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu.

Apocalipse 16:13-14 também menciona os dois poderes agindo em conjunto com o dragão, símbolo de Satanás (Apocalipse 12:9). Da mesma forma, ambos os poderes são "aprisionados" na segunda vinda de Cristo (19:20), e ambos sofrem, juntamente com o diabo, o juízo executivo de Deus depois do milênio (20:10).

Assim, o "rei do Norte" em Daniel 11:40 designa tanto o papado como os Estados Unidos da América, visto que estes dois poderes atuarão em estreita colaboração dentro do marco do tempo do fim e partilharão a mesma sorte.

Um conflito ideológico decisivo


Se, no tempo do fim, o "rei do Norte" representa o papado e a América protestante, quem é o poder simbolizado pelo "rei do Sul"?

Lembre-se que não devemos ser dogmáticos diante de profecias ainda não cumpridas. O que vem a seguir oferece uma explicação possível à luz dos acontecimentos mais recentes.

A princípio, o "rei do Sul" se referia ao reino do Egito sob a dinastia ptolomaica. O Egito se tornou conhecido por negar a existência do Deus de Israel e por desafiar os mandamentos do Senhor. Faraó disse: "Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz [...]? Não conheço o Senhor" (Êxodo 5:2).

Devemos esperar encontrar a mesma característica no "rei do Sul" do tempo do fim.

Há em Apocalipse 11:8 um precedente importante para o emprego da palavra "Egito" como figura de linguagem. Neste texto, a "grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito" é identificada com a França, palco das forças revolucionárias ateístas no fim do século XVIII.

De modo que o "rei do Sul", no contexto do tempo do fim, representa um poder que, à semelhança de faraó no Egito e da França revolucionária, nega a existência de Deus. Ele usará seu ateísmo militante para derrubar a hegemonia do "rei do Norte", isto é, a América do Norte, o aliado mais poderoso do papado.

Qual país hoje é o ícone do ateísmo no mundo? A China comunista, que pretende estender sua influência econômica, militar e ideológica sobre todo o planeta! Pequim se apresenta como a principal alternativa à ordem democrática e liberal liderada pelos Estados Unidos.

Daniel 11:40 descreve, então, um conflito ideológico que será decisivo:

No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e passará.

Note que neste confronto ainda futuro, o "rei do Sul" é quem avança primeiro. Este verso sugere fortemente que ainda não vimos o capítulo mais dramático deste conflito ideológico.

A política agressiva de Pequim para assumir o protagonismo no mundo é bem conhecida, e o surto de coronavírus tem sido uma oportunidade para a China se apresentar como superpotência emergente.

Como observado em uma matéria do Financial Times, os custos que a China suporta hoje são pequenos em comparação aos que ela precisaria arcar - durante décadas - para se tornar uma superpotência. Isso, porém, não parece afetar o ímpeto da política expancionista de Pequim.


Print screen de uma imagem da rede de televisão chinesa, CCTV, no momento da decolagem de um caça J-15
do primeiro porta-aviões construído na China, o Shandong.

A julgar pelas crescentes tensões militares entre China e Estados Unidos, é possível que estejamos no limiar de um conflito mundial que poderá redefinir a ordem do mundo. Como a profecia claramente antecipa, nesta disputa ideológica o "rei do Norte" triunfará sobre o "rei do Sul", certamente não para a vantagem das liberdades que a América protestante e o papado moderno professam amar e defender.

Não só o Ocidente, mas o mundo inteiro seguirá os Estados Unidos. A China não terá qualquer protagonismo. Como Ellen G. White observa em Testemunhos Seletos, p. 373:

Quando a América, o país da liberdade religiosa, se aliar com o papado, a fim de dominar as consciências e impelir os homens a reverenciar o falso sábado, os povos de todos os demais países do mundo hão de ser induzidos a imitar-lhe o exemplo.

A despeito dos atuais desafios à governabilidade, os Estados Unidos continuarão sendo a única superpotência verdadeiramente unipolar.

Daniel 11 revela que haverá guerras e conflitos até o fim. Podemos estar certos de que eles aumentarão, à medida que a obra de intercessão e juízo de nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial se aproxima rapidamente de seu desfecho.

Quando este dia chegar - e ele está muito próximo -, "o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu", que as bestas e o chifre pequeno usurparam, "serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão" (Daniel 7:27).

Queira Deus que estejamos entre aqueles que reinarão com Cristo pelos séculos dos séculos (Apocalipse 22:5)!

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2 Comentários

  1. Querido filho maravilhosa análise Muito edificante parabéns Deus seja louvado

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    1. Amém! Obrigado pela mensagem afetuosa! Que Deus nos abençoe e nos preserve para o Seu reino!

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