Ao considerar a questão de a Igreja de Roma ser amiga ou inimiga do negro, seria bom considerar sua relação com a Guerra Civil de 1861-1865, muitas vezes chamada de "A Guerra entre os Estados", já que sua maior causa subjacente foi a controvérsia sobre a escravidão do negro no sul dos Estados Unidos.
Abraham Lincoln, um dos melhores cristãos que o mundo já viu e, sem dúvida, um dos mais íntegros de todos os homens que serviram na presidência dos Estados Unidos, foi o coração e a alma da causa da abolição da escravidão e, portanto, é justamente amado e estimado por toda a raça negra como seu amigo.
Para que a verdade a respeito da vergonhosa morte desse grande americano seja mais conhecida, mencionarei um capítulo inteiro de Cinquenta anos na Igreja de Roma, publicado pela primeira vez em 1885 e escrito por um ex-padre católico.
Para que o leitor entenda e avalie a credibilidade dos escritos do padre Charles Chiniquy, é importante saber que ele foi um renomado defensor da temperança na América do Norte por muitos anos. A seguinte citação, extraída da introdução biográfica de seu livro O Padre, a Mulher e o Confessionário (p. 8), ilustra sua relevância: "A cidade de Montreal, comovida por gratidão, presenteou-o com uma medalha de ouro que trazia a seguinte inscrição de um lado:
AO PADRE CHINIQUY
APÓSTOLO DA TEMPERANÇA
CANADÁ
E do outro:
EM HOMENAGEM ÀS SUAS VIRTUDES,
ZELO E PATRIOTISMO
"Em sua homenagem, o Parlamento canadense também tomou medidas, votando para lhe dar um endereço e quinhentas libras como uma expressão pública de gratidão de toda a nação."
A página 7 diz: "Quatro reconhecimentos públicos distintos foram dados por esses nobres esforços. Um desses reconhecimentos foi um discurso da Ordem Independente dos Recabitas do Canadá, datado de 31 de agosto de 1848, juntamente com a resposta do Sr. Chiniquy. Isso ilustra que os protestantes do baixo Canadá respeitavam um padre da Igreja de Roma que estava trabalhando para o bem do país."
O texto a seguir é um capítulo inteiro do livro do Padre Chiniquy, Cinquenta anos na Igreja de Roma.
CAPÍTULO LXI (Capítulo LVIII, p. 394, na reedição da Agora Publ. Co. de 1950)
Abraham Lincoln, verdadeiro homem de Deus e verdadeiro discípulo do Evangelho – Seu assassinato por Booth, o instrumento dos sacerdotes – A casa de Mary Surratt, o local das reuniões e das mancomunações dos padres – John Surratt é escondido pelos padres após o assassinato de Lincoln – O assassinato de Lincoln conhecido e publicado na cidade três horas antes de sua ocorrência.
"Todas as vezes em que estive com o presidente Lincoln ficava eu a pensar, admirado, em como tão grande elevação de pensamento podia viver ao lado daquela sua infantil simplicidade. Assim, ao fim de minhas entrevistas com ele, várias vezes dizia a mim mesmo: 'Como pode este lenhador subir por si mesmo às mais altas regiões do pensamento humano e da filosofia?'
"O segredo de tudo está no fato de haver Lincoln passado grande parte de sua vida na escola de Cristo, e de haver meditado sobre Seus ensinos durante um tempo jamais suspeitado pelo mundo. Nele encontrei o tipo mais perfeito de cristianismo que já vi.
"Por profissão de fé, não era ele um presbiteriano a rigor, nem batista, nem metodista; era, porém, a corporificação de tudo quanto neles há de mais perfeito e cristão. Sua religião era a verdadeira essência daquilo que Deus requer do homem. Foi do próprio Cristo que ele aprendeu a amar a Deus e ao próximo, como também Dele aprendeu o que seja a dignidade e o valor da criatura humana. Seu grande lema era: 'Vós todos sois irmãos, filhos de Deus'.
"No Evangelho foi que ele aprendeu seus princípios de igualdade, fraternidade e liberdade; ali aprendeu igualmente aquela sublime e infantil simplicidade que lhe conquistou sozinha, e para sempre, a admiração e o afeto de todos quantos o conheceram. Poderia citar aqui muitos fatos para ilustrar isso, mas contarei apenas um, para não me tornar prolixo. É tirado das memórias do sr. Bateman, Diretor da Instrução Pública do Estado de Illinois.
"Lincoln fez uma pausa. Por longos minutos, suas feições mostraram-se sobrecarregadas de emoção. Daí, levantou-se, desceu e entrou na sala de recepção, num grande esforço para conservar, ou reaver o domínio próprio. Parou finalmente, e disse com voz trêmula e as faces molhadas de lágrimas:
"'Sei que há um Deus, e que ele odeia a injustiça e a escravidão. Vejo aproximar-se a tormenta, e sei que a mão de Deus nela está. Se Ele tem aí um lugar e serviço para mim, e penso que os tem, creio que estou pronto! Sei que nada sou, mas a verdade é tudo! Sei que estou certo, porque sei que a liberdade está com a razão, e porque Cristo o ensina, e Cristo é Deus. Já lhes disse que uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir, e que Cristo e a razão dizem a mesma coisa; e eles verão que é assim mesmo.
"'A Douglas pouco importa que a escravatura caia ou fique de pé. Mas a Deus importa muito, e à humanidade também, e a mim igualmente. E com a ajuda de Deus, não desfalecerei. Pode ser que eu não veja o fim dela, mas ele virá, e eu serei vindicado. E esses homens verão daí que não leram direito a Bíblia!
"'E não parece estranho que esses homens ignorem o aspecto moral da questão. Uma revelação não tornaria mais claro que a escravatura deve ser abolida. O futuro será algo horrível, quando olho para ele, menos para esta ROCHA sobre a qual estou (aludindo à Bíblia que tinha na mão). Até parece que Deus nasceu com a escravidão, ao ouvirmos alguns mestres de religião defendendo tal coisa com a Bíblia, e asseverando que a escravidão tem a sanção e o caráter divino. Agora já se encheu a taça da iniquidade, e as salvas da ira se derramarão.'
"O sr. Bateman acrescenta: 'Depois disso, a conversa continuou por longo tempo. Tudo quanto ele dizia tinha um tom profundo, moderado e religioso, com um certo colorido de melancolia. Repetidamente disse estar convencido de que o 'dia da ira havia chegado', e que ele seria um ator na luta que terminaria com o esmagamento da escravatura, embora, quiçá, não vivesse até lá.
"'Após remota alusão à crença na Providência Divina, e à mão de Deus na história, a conversa passou para o assunto da oração. Lincoln abertamente declarou crer no dever, no privilégio e na eficácia da oração; e deu a entender, em termos bastante claros, que vinha procurando, por esse meio de graça, o favor e a direção divina.'
"Essa conversa com o sr. Bateman, um homem muito gentil e cristão, a quem Lincoln sempre respeitou profundamente, levou-o a concluir que Lincoln, em seu modo reservado de agir, havia encontrado um caminho para a posição cristã, que achara a Deus, e que descansava na verdade eterna e divina. Quando os dois se despediram, o sr. Bateman disse:
"'Não supunha que o amigo estivesse acostumado a pensar tanto assim sobre esses assuntos; certamente os seus amigos em geral nada sabem desses sentimentos que o sr. revelou agora.'
"Lincoln replicou imediatamente: 'Sei que eles ignoram mesmo, mas eu penso mais nesses assuntos do que nos outros, e isso venho fazendo há vários anos; e quero que o amigo saiba disso.' – A Vida Íntima de Lincoln, Carpenter, p. 193-195.
"Mais de uma vez, ouvindo-o externar seu pensamento acerca do futuro dos Estados Unidos, senti-me como que na presença de um daqueles profetas da antiguidade. Em uma de minhas últimas conversas com ele, senti por ele tal admiração que mal posso expressá-la. Ouvi dele os seguintes vaticínios e pontos de vista:
"'Com os líderes sulistas desta guerra civil está acontecendo o mesmo que às rodas grandes e pequenas dos vagões de estrada de ferro. Os que ignoram as leis da mecânica pensarão que as rodas grandes, fortes e barulhentas são a sua força motora. Estão, porém, muito enganados. Essa força ninguém a vê; é silenciosa e está bem escondida na escuridão, dentro de suas paredes de ferro. A força locomotora são os poucos e bem escondidos baldes d’água fervente a produzirem o vapor que o dedo pequeno e silencioso, mas arguto, do engenheiro dirige e aproveita.
"'O povo comum olha e ouve as rodas grandes e bulhentas dos vagões da Confederação Sulista, dando-lhes o nome de Jeff Davis, Lee, Toombes, Beauregard, Semmes, etc., e sinceramente fica a pensar que são eles a força motora, a causa primária dos nossos males. Estão redondamente enganados. A verdadeira força que está a mover tudo acha-se escondida atrás dos grossos muros do Vaticano, dos colégios e escolas dos jesuítas, dos conventos de freiras e dos confessionários papistas.
"'Há uma coisa que o povo americano ignora profundamente, coisa que só vim a conhecer quando subi à presidência: as melhores e as principais famílias do Sul foram educadas em grande parte, senão no todo, pelos jesuítas e pelas freiras. Daí o fato de os degradantes princípios da escravatura, orgulho e crueldade haverem constituído nelas uma como que segunda natureza. Daí a sua estranha falta de justeza e de humanidade; esse implacável ódio para com as ideias de igualdade e liberdade, como as encontramos no Evangelho de Cristo. Não se ignora que os primeiros colonizadores de Louisiana, da Flórida, do Novo México, do Texas, da Carolina do Sul e do Missouri eram católicos e que seus primeiros mestres foram os jesuítas. É verdade que tais estados foram conquistados ou comprados por nós. Roma, porém, já havia inoculado o vírus mortal de suas máximas antissociais e anticristãs nas veias dessa gente muito antes de se tornarem cidadãos americanos. E infelizmente os jesuítas e as freiras continuaram a ser em grande parte os mestres deles. Assim continuaram a disseminar, silenciosamente, mas eficazmente, o seu ódio contra as nossas instituições, leis, escolas, direitos e liberdades; e de tal maneira procederam que se tornou inevitável este horrível conflito entre o Norte e o Sul. Como já lhe afirmei antes, é ao papado que ficamos a dever esta horrenda guerra civil.
"'Antes de subir à presidência, eu me teria rido na cara do homem que me dissesse isso. Mas o professor Morse me abriu os olhos para ver melhor. E agora vejo todo o mistério; agora descobri essa engenharia infernal que, oculta e nunca suspeitada em nossa terra, está movimentando as rodas grandes, pesadas e barulhentas dos vagões estaduais da Confederação Sulista.
"'O nosso povo não está ainda preparado para ver e receber essas coisas, e talvez não haja chegado mesmo ainda o tempo apropriado para iniciá-lo nesses negros mistérios do inferno. Seria lançar mais lenha a uma fogueira já de si terrivelmente consumidora.
"'O amigo é a única pessoa com quem me abro sobre esse assunto. Mas, seja hoje ou seja amanhã, a nação verá quem deu origem a todo esse mar de sangue e lágrimas que está a espalhar desolação e morte por todo o país. Aí, então, os seus autores serão chamados à prestação de contas.
"'Não pretendo ser profeta. Mas, embora não o seja, vejo uma nuvem negra que se levanta em nosso horizonte. E tal nuvem procede dos lados de Roma. Traz em seu bojo abundância de lágrimas e sangue. Subirá e se avolumará até que seus flancos se partam ao fuzilar de um relâmpago, seguido pelo horrível ribombar do trovão. Então, por sobre este país passará violento ciclone, qual o mundo jamais viu, e que espalhará ruínas e desolação, de norte a sul e de leste a oeste. Passado isso, haverá longos dias de paz e prosperidade; porque o papado, seus jesuítas e sua desapiedada Inquisição já terão sido varridos deste nosso amado país. Eu não verei tal coisa, nem o sr., mas nossos filhos verão.'
"Muitos dos que interagiram com Lincoln sentiram haver nele um espírito profético, e puderam perceber que ele continuamente trazia o pensamento em Deus, buscando em tudo fazer Sua vontade e Sua obra para a glória Dele. Falando dos escravos, disse, certo dia, diante dos membros de seu gabinete:
"'Não tomei ainda nenhuma decisão quanto à libertação dos escravos, mas venho pensando no assunto. E lhes digo mais: que isso vem sendo dia e noite o principal objeto de minhas cogitações. O que me parecer agradar à vontade de Deus, isso farei.' – Seis Meses na Casa Branca, Carpenter, p. 86.
"Poucos dias antes dessa declaração, ele dissera diante de vários conselheiros seus:
"'Prometi a Deus, com voto solene, que, se o general Lee for expulso da Pensilvânia, hei de coroar esse sucesso com o decreto da libertação dos escravos.' – Seis Meses na Casa Branca.
"Mas, teria eu que escrever volumes, e não um curto capítulo, se quisesse trazer para aqui todos os fatos que tenho coligido da piedade profunda e sincera de Abraham Lincoln.
"Não posso omitir, porém, seu admirável e solene ato de fé na eterna justiça de Deus, como o expressou nas palavras finais de seu último discurso de 4 de março de 1865:
"'Esperamos ansiosamente, e fervorosamente suplicamos que passe logo este horrível flagelo da guerra. No entanto, se Deus quiser que ela continue até que se esgote toda a riqueza amontoada nesses duzentos e cinquenta anos com trabalho gratuito dos escravos, e até que cada gota de sangue arrancada pelo chicote escravista seja paga por outra produzida pela espada, como foi dito há três mil anos, ainda assim devemos dizer que os juízos do Senhor são sempre verdadeiros e retos.'
"Estas sublimes palavras, saídas, poucos dias antes de seu martírio, da boca do maior cristão que Deus jamais colocara à frente de um grande povo, produziram um frêmito de surpresa no mundo inteiro. O povo temente a Deus e os justos de todas as pátrias ouviram-nas como se recém-saídas da áurea harpa de Davi. Até os infiéis ficaram mudos de admiração e espanto. A todos parecia que os ecos do céu e da terra estavam a repetir esse último hino que provinha do coração do mais nobre e mais verdadeiro evangelista de nosso tempo – 'Os juízos do Senhor são sempre verdadeiros e retos.'
"A seis de abril de 1865, o presidente Lincoln foi convidado pelo general Grant a entrar em Richmond, a capital dos estados rebeldes que ele acabara de capturar. No dia nove, o derrotado exército de Lee, cercado inteiramente pelas vitoriosas legiões dos soldados da Liberdade, viu-se forçado depor suas armas e seus estandartes aos pés dos generais de Lincoln. No dia dez, o vitorioso presidente dirigiu-se a uma multidão incalculável de cidadãos em Washington, convidando-os a agradecer a Deus e ao exército pela gloriosa vitória dos últimos dias, e pela paz que certamente virá após aqueles cinco anos de massacre.
"Mas, achava-se Lincoln já no alto do monte Pisga; e conquanto houvesse pedido ardentemente se lhe concedesse atravessar o Jordão, e entrar com seu povo na linda Canaã, coisa por que seu coração tremia todo em ardentes anseios, não veria o nobre varão satisfeito o seu querer. A resposta descera dos céus: 'Não atravessarás o Jordão, nem entrarás na Terra Prometida, que está aí à tua vista. Morrerás por causa de tua nação!' Quando às dez horas da noite de 14 de abril de 1865 o jesuíta assassino Booth descarregou o golpe homicida contra o grande presidente, dir-se-ia que os lábios, o coração e a própria alma deste Novo Moisés estavam a repetir as mesmas sublimes palavras: 'Os juízos do Senhor são sempre verdadeiros e retos.'
"Ouçamos o que diz o eloquente historiador Abbott sobre o triste acontecimento:
"'Quando todos os sinos do país bimbalhavam festiva e alegremente, anunciando aquela vitória sem paralelo, horrível calamidade nos sobreveio, engolfando a todos numa onda de consternação e horror. Na sexta-feira, 14 de abril, à noite, o presidente Lincoln encontrava-se no teatro Ford, em Washington. Calmamente sentado em seu camarote, assistia a um drama, quando um homem passou pela porta do corredor contíguo ao camarote, fechando-a após havê-la transposto. Avizinhando-se do presidente, sacou do bolso um revólver e visou por trás a cabeça de Lincoln. Este caiu desacordado e mortalmente ferido. O grito da esposa, sentada a seu lado, sacudiu todos os presentes. O assassino saltou do camarote – uns dois metros e oitenta de altura. Alcançou o palco, cabeça descoberta, a brandir um punhal e a exclamar: 'sic semper tyrannis!' E desapareceu, rápido, atrás do cenário. Houve um hiato de consternação e silêncio, a que se seguiu verdadeira e indescritível confusão.
"'Levaram o morimbundo presidente para uma casa vizinha e o deixaram numa cama. E que cena se desenrolou então naquele quarto! O chefe da grande nação jazia ali, inânime, ensopado em sangue, a massa encefálica a lhe escorrer do ferimento! Rodeavam-no Summer, Farwell, Colfax, Stanton e muitos outros, esmagados de tristeza e consternação.
"'O médico, general Barnes, examinava o ferimento. Reinava um silêncio sepulcral. A vida da nação parecia depender da palavra do médico. O general levantou os olhos tristemente, e disse: 'É mortal o ferimento!'
"'Oh! não; não, general', gritou o secretário Stanton. E caindo sobre uma cadeira, cobriu o rosto, pondo-se a chorar como uma criança. O senador Summer carinhosamente sustentava a cabeça do já inconsciente mártir.
"'Conquanto não pudesse chorar, soluçava tão alto, parecendo que lhe ia arrebentar o coração. Em sua angústia, pendeu a cabeça sobre o travesseiro lavado em sangue, e os anéis de sua negra cabeleira misturavam-se às da do morimbundo presidente, estes já prateados pelos muitos trabalhos e vigílias, e carminados de sangue. Oh! que cena! Summer, que ficara suspenso entre a vida e morte numa agonia de meses, e que adoecera aos golpes da escravatura, achava-se ali, desfalecido e angustiado a soluçar sobre o grande amigo igualmente vitimado pela questão da escravatura! A vil rebelião, após haver coberto de sangue o país todo, culminava agora naquele crime que terrificava todas as nações da terra!
"'Nobre Abraão, legítimo descendente do pai dos fiéis; honesto em todos os sentidos, humilde como uma criança, compassivo como uma mãe, que não admitia se injuriasse os inimigos mais venenosos; que na hora do triunfo te mostravas entristecido para não ferir com tua alegria os sentimentos dos vencidos; 'caridoso para com todos, malicioso para com ninguém'; dotado de verdadeiro 'bom senso', de inteligência jamais igualada, de intelecto poderosíssimo que te permitiam discutir superiormente com os mais encarniçados opositores; estadista mais que habilidoso, pois chegaste a ganhar a gratidão de tua pátria e a admiração do mundo inteiro; gracioso e amável ao ponto de atrair para ti todos os corações generosos; morreste, Abraão, à bala assassina!' – História da Guerra Civil, Abbott, vol. II, p. 594.
"E quem foi o assassino? Booth não passou de um boneco nas mãos dos jesuítas. Foi o romanismo quem levantou seu braço assassino, após haver-lhe corrompido o coração e danado a alma.
"Depois de juntar minhas lágrimas às dos filhos do grande país de minha adoção, pus-me de joelhos e pedi a Deus que concedesse mostrar ao mundo o que eu sabia ser a verdade, isto é, que aquele horrível crime era obra do papado. Decorridos vinte anos de pesquisas constantes e assaz difíceis, compareço hoje, sem temor algum, perante o povo americano, para afirmar e provar que o presidente Abraham Lincoln foi assassinado pelos padres jesuítas da Igreja Católica Romana.
"No livro das testemunhas de acusação do assassínio de Lincoln, publicado por Ben. Pittman, e nos dois volumes do julgamento de John Surratt em 1867, temos a prova legal e irrefutável de que a conjuração dos assassinos de Lincoln amadureceu, se não nasceu, na residência de Mary Surratt, casa nº 561 da rua H., da cidade de Washington, Distrito de Columbia. Mas quem morava nessa casa e quem costumava visitar essa família? A resposta legal foi: 'Os católicos mais devotos da cidade'. As testemunhas ajuramentadas deixaram claro outras coisas mais. Revelaram que tal casa era o 'rendez-vous' comum dos padres de Washington. Vários padres juraram haver ido até lá 'várias vezes'; e, quando forçados a dizer o que significavam com a expressão 'várias vezes', responderam não estarem certos se era 'uma vez por semana' ou 'uma vez por mês'. (!) Um deles, menos precatado, jurou que passava sempre em frente à casa, sem entrar; e disse que nunca passou por ela menos de uma vez por semana. O devoto católico (apóstata do protestantismo), de nome L. J. Weichman, que também residia na mesma casa, jurou que o padre Wiget era frequentemente visto na casa, e o padre Lahiman jurou que estava vivendo com a sra. Surratt na mesma casa! Etc...
"O que diz ao mundo a presença de tantos padres numa casa como aquela? Nenhum homem de senso comum, que conheça algo dos padres romanistas, poderá conservar qualquer dúvida sobre o fato de conhecerem tudo quanto se passava dentro daquelas paredes, e também de serem os guias, os conselheiros, a verdadeira alma da trama infernal. Por que o Romanismo ocultou sob aquele forro um de seus padres, e isso da manhã à noite, e da noite à manhã? Por que enviou Roma muitos outros, quase que diariamente, àquele escuro covil de conspiradores para que tramassem contra a vida da grande república, contra a vida de seu presidente, de seus generais e líderes, se não para serem os conselheiros, os norteadores e os secretos propulsores da conjuração infernal?!
"Ninguém, a não ser um rematado idiota, julgará e dirá que tais padres, amigos pessoais e confessores de Booth, de John Surratt, como da sra, e da senhorita Surratt, ali se achavam constantemente sem nada saber do que então se passava; particularmente quando sabemos que cada um desses padres era um rebelde até à medula dos ossos. Cada um desses sacerdotes, sabedor de que seu infalível papa tratara a Jeff Davis de 'meu querido filho' e resolvera proteger a Confederação Sulista, necessariamente via-se obrigado a crer que a coisa mais santa a ser feita era lutar pela causa do Sul, e destruir todos os inimigos desta.
"Leia-se a história dos assassinos do Almirante Coligny, de Henrique III, de Henrique IV, de Guilherme, o Taciturno, levados a cabo por sicários contratados pelos jesuítas; compare-se tudo ao homicídio de Lincoln, e vereis como este se assemelha àqueles assim como uma gota d’água em nada difere de outra. Concluireis então que todos eles vieram da mesma fonte – o papismo!
"Em todos eles se verá perfeitamente que os assassinos, selecionados e treinados pelos jesuítas, eram católicos de uma piedade exaltada e doentia, indivíduos que convivam com padres, que se confessavam frequentemente, e que receberam a comunhão na véspera, senão no próprio dia do homicídio. Vereis mais que, em todos esses feitos horríveis e infernais, preparados atrás dos muros da santa inquisição, tais sicários se consideravam como instrumentos escolhidos por Deus para salvar a nação através do desaparecimento de seu tirano; e que criam firmemente não haver pecado algum em se matar o inimigo do povo, da santa igreja e do papa infalível!
"Compare-se a última hora do assassino de Henrique IV, o jesuíta Ravaillac, que terminantemente recusou arrepender-se conquanto sofresse as mais horríveis torturas na polé, com a de Booth, que, experimentando igualmente horríveis sofrimentos de sua perna quebrada, escreveu em seu diário, na véspera de sua morte: 'Nunca me arrependerei, embora odeie o homicídio. Nosso país devia a ele (Lincoln) todos os seus males, e Deus simplesmente fez de mim o instrumento para puni-lo.' – Julgamento de Surratt, vol. I, p. 310.
"Sim! Comparem-se os sangrentos feitos desses dois sicários, e ficará claro que ambos foram treinados na mesma escola e que tiveram os mesmos professores. Vê-se claro que o jesuíta Ravaillac, clamando a todos os santos do céu que o socorressem em seus últimos instantes, e Booth, apertando sobre o peito a medalha da Virgem Maria, ao cair mortalmente ferido, vieram ambos do mesmo molde jesuíta. – Julgamento de Surratt, p. 310.
"Quem já perdeu o bom senso a ponto de supor que fosse Jeff Davis quem houvesse enchido a mente e o coração de Booth com aquele fanatismo religioso tão exaltado?! Certamente Davis prometeu recompensar com dinheiro os assassinos, preparando assim seus braços à esperança de se enriquecerem. Os testemunhos a esse respeito dizem que pediram mil dólares. – O Assassínio de Abraham Lincoln, p. 51-52.
"O chefe da rebelião poderia dar o dinheiro; mas somente os jesuítas poderiam ter escolhido e preparado os assassinos, prometendo-lhes a gloriosa coroa celestial, uma vez que derribassem por terra o sanguinário, o famoso renegado e apóstata – o inimigo da igreja e do papa – Lincoln.
"Quem não descobre, quem não ouve ainda as lições que Booth recebera dos jesuítas nos seus encontros diários na casa de Mary Surratt, quando se leem estas linhas escritas por ele poucas horas antes de seu falecimento: 'Nunca me arrependerei, pois Deus fez de mim o instrumento para castigar Lincoln'?! Comparem-se estas palavras com as doutrinas e princípios ensinados pelos concílios, pelos decretos dos papas, e pelas leis da santa inquisição, como as encontramos no capítulo 55 de seu volume, e veremos que os sentimentos e as crenças de Booth dimanam de tais princípios, assim como o rio promana de sua fonte.
"E quando a mui piedosa senhorita Surratt, um dia após o assassínio de Lincoln, disse na presença de várias testemunhas, sem que ninguém a repreendesse, que 'a morte de Lincoln não era nada mais que a morte de qualquer negro no exército', onde foi ela buscar essa expressão, senão em sua própria igreja?! Não havia esta mui recentemente proclamado, através de sua mais alta autoridade legal e civil, o devoto católico – o juiz Taney – em sua sentença no caso Dred-Scott, que os negros não têm um direito sequer que o branco esteja obrigado a respeitar?! Colocando o presidente Lincoln no mesmo nível do negro mais pobre, o papismo estava a dizer aos quatro ventos da terra que o presidente não tinha direito a coisa alguma, nem mesmo à vida. Esta era então a máxima dos padres rebeldes, os quais, por toda a parte, se faziam o eco da sentença de seu querido correligionário Taney.
"E não foi dos lábios dos padres papistas que diariamente entravam e saiam de sua casa, que essas jovens senhoras ouviram e aprenderam essas doutrinas antissociais e anticristãs?! Leia-se no testemunho concernente à senhora Mary E. Surratt (p. 122-123) como os jesuítas a treinaram perfeitamente na arte do perjúrio. No instante em que o oficial do governo lhe ordenou que se preparasse, com a filha, para acompanhá-lo como prisioneiras, às 10 da noite, Payne, o destacado para matar Seward, batia à porta e desejava ver a senhora Surratt. Quando porém, esperava que esta lhe abrisse a porta, viu-se face a face com um detetive do governo, o major Smith, que depôs:
"'Perguntei-lhe qual era a sua ocupação e o que vinha fazer naquela casa àquela hora avançada da noite. Disse ser operário e que viera para arrumar uma goteira a pedido da sra. Surratt.
"'Fui à sala e disse: 'Sra. Surratt, tenha a bondade de vir cá um momento.' Ela saiu, e então perguntei: 'A sra. conhece esse homem, e o contratou para arrumar uma goteira para a sra.?' Levantando a mão direita, ela respondeu: 'Juro por Deus, sr.; não o conheço, nunca o vi, e não o chamei para nada.' – O Assassínio de Lincoln, p. 122.
"Pergunto, agora, a qualquer pessoa de senso comum: poderia Jeff Davis ter incutido nessa senhora essa calma religiosa e esse domínio próprio, quanto tinha ela as mãos tintas do sangue do presidente, e se achava a caminho do julgamento?!
"Não! Tal sang froid, tal sossego d’alma, em uma hora tão terrível e solene, só poderia vir dos ensinamentos daqueles jesuítas que, por mais de seis meses, estiveram em sua casa, prometendo-lhe uma coroa de glória eterna se ela ajudasse a matar o monstro apóstata Lincoln – a única causa daquela horrível guerra civil! Não há a menor dúvida de que os padres conseguiram persuadir Mary Surratt e Booth de que o assassinato de Lincoln era a obra mais santa e meritória, pela qual Deus tinha uma recompensa eterna reservada.
"Há um fato ao qual o povo americano ainda não deu atenção suficiente. É o fato de que, sem uma única exceção, os conspiradores eram católicos. O grande e erudito patriota, General Baker, em seu admirável relatório, impressionado e desnorteado por esse fato estranho, misterioso e portentoso, disse:
"'Menciono, como fato excepcional e notável, que todos os conspiradores sob custódia foram educados no catolicismo.'
"Mas essas palavras que, se bem compreendidas pelos Estados Unidos, teriam lançado poderosíssima luz sobre as verdadeiras causas de seus incontáveis e indescritíveis desastres, caíram como que em ouvidos surdos. Pouquíssimos, se é que alguém, prestou atenção a elas. Como diz o General Baker, todos os conspiradores frequentavam os cultos da Igreja Católica e foram educados como católicos. É verdade que alguns deles, como Atzeroth, Payne e Harold, pediram a assistência de ministros protestantes quando iam ser enforcados. Mas eles eram considerados, até então, como convertidos ao romanismo. Na página 436 de O Julgamento de John Surratt, Louis Weichman nos conta que ia à Igreja de St. Aloysin com Atzeroth e que foi lá que ele o apresentou ao Sr. Brothy (outro católico).
"É um fato bem autenticado que Booth e Weichman, ambos protestantes convertidos ao romanismo, e por este pervertidos, fizeram proselitismo com um bom número de semi-protestantes e infiéis, e que estes, por convicção ou por esperança das fortunas prometidas aos assassinos bem-sucedidos, mostravam-se romanistas muito zelosos. Payne, Atzeroth e Harold estavam entre esses prosélitos. Mas quando esses assassinos deveriam comparecer perante o país e receber a justa punição por seu crime, os jesuítas perceberam logo em seu maquiavelismo que, se todos eles fossem levados ao cadafalso como católicos e acompanhados por seus padres confessores, isso abriria imediatamente os olhos do povo americano e mostraria claramente que se tratava de uma conspiração católica. Eles persuadiram três de seus prosélitos a se valerem dos princípios teológicos da Igreja de Roma, segundo os quais é permitido a um homem ocultar sua religião, ou melhor, que ele pode dizer que é herege, protestante, embora seja católico, quando for de seu próprio interesse ou do interesse de sua igreja ocultar a verdade e enganar o povo. Aqui está a doutrina de Roma sobre esse assunto:
"'Soepe melius est ad dei honorem, et utilitatem proximi, tegere fidem quam frateri, ut si latens inter herticos, plus boni facis; vel si ex confessione fidei, plus mali sequeretur, verbi gratia turbatio, neces, exacerbotio tyrannis.' – Liguori Theologia, b. II., chap. III., p. 6.
"'Frequentemente é melhor para a glória de Deus e para o bem do próximo ocultar nossa fé religiosa, pois quando vivemos entre hereges, podemos mais facilmente fazer-lhes o bem dessa maneira; ou se, ao declarar nossa religião, causamos alguns distúrbios, mortes ou até mesmo a ira do tirano.'
"É evidente que os jesuítas nunca tiveram motivos melhores para suspeitar que a declaração de seus credos religiosos os prejudicaria e provocaria a ira de seu tirano, nesse caso, o povo americano.
"Lloyd's, em cuja casa a Sra. Surratt escondeu a carabina que Booth desejava salvar, quando logo após o assassinato ele fugiu para os Estados do Sul, era um católico convicto.
"O Dr. Nudd, em cuja casa Booth parou para fazer um curativo em sua perna quebrada, era católico, assim como Garrett, em cujo celeiro Booth foi capturado e morto. Por que isso? Porque, assim como Jeff Davis foi o único homem a pagar um milhão de dólares para aqueles que matariam Abraham Lincoln, os jesuítas foram os únicos homens a selecionar os assassinos e preparar tudo para protegê-los após seu ato diabólico, e tais assassinos não poderiam ser encontrados, exceto entre os escravos cegos e fanáticos dos jesuítas.
"O grande e fatal erro do governo americano na acusação dos assassinos de Abraham Lincoln foi manter constantemente fora de vista o elemento religioso desse terrível drama. Nada teria sido mais fácil, então, do que descobrir a cumplicidade dos padres, que não apenas vinham todas as semanas e todos os dias, mas que até viviam naquele covil de assassinos. Mas isso foi cuidadosamente evitado desde o início até o fim do julgamento. Quando, não muito tempo depois da execução dos assassinos, fui incógnito a Washington para iniciar minha investigação sobre seus reais e verdadeiros autores, fiquei surpreso ao ver que nenhum dos homens do governo a quem me dirigi consentiria em conversar comigo sobre o assunto, exceto depois de eu ter dado minha palavra de honra de que jamais mencionaria seus nomes em relação ao resultado de minha investigação. Percebi, com profunda angústia, que a influência de Roma era quase suprema em Washington. Não pude encontrar um único estadista que ousasse enfrentar essa influência nefasta e combatê-la, exceto o General Baker.
"Vários dos homens do governo em quem eu tinha mais confiança me disseram:
"'Não tínhamos a menor dúvida de que os jesuítas estavam no centro dessa grande iniquidade; às vezes, até temíamos que isso viesse à tona tão claramente perante o tribunal militar que não haveria possibilidade de mantê-lo longe da vista do público. Isso não foi por covardia, como você pensa, mas por uma sabedoria que certamente o sr. aprovaria, ainda que não a admire. Se estivéssemos em dias de paz, sabemos que, com um pouco mais de pressão sobre as testemunhas, muitos padres teriam sido julgados culpados, pois a casa da sra. Surratt era o local de reunião deles. É mais do que provável que vários deles pudessem ter sido enforcados. Mas a guerra civil mal havia terminado. A Confederação, embora destruída, ainda vivia em milhões de corações; assassinos e elementos formidáveis de discórdia ainda eram vistos por toda parte, aos quais o enforcamento ou o exílio daqueles sacerdotes teria dado uma nova vida. Motins após motins teriam acompanhado e seguido sua execução. E estávamos fartos de sangue, incêndios, devastações e sentimentos de revolta. Todos nós ansiávamos por dias de paz, e o país precisava disso. Assim concluímos que o melhor interesse da humanidade era punir apenas aqueles que eram pública e visivelmente culpados; que o veredito poderia receber a aprovação de todos, sem criar novos sentimentos de revolta. E o amigo nos permitirá dizer-lhe que, aliás, foi essa a política de nosso falecido presidente. Pois o amigo deve saber que não havia nada que aquele grande e bom homem temesse tanto quanto armar os protestantes contra os católicos, e estes contra aqueles.'
"Mas se alguém ainda tiver alguma dúvida sobre a cumplicidade dos jesuítas no assassinato de Abraham Lincoln, que preste atenção nos fatos a seguir, e suas dúvidas serão definitivamente eliminadas. Vou buscar elementos unicamente dos lábios dos próprios cúmplices jesuítas e de testemunhos juramentados.
"É evidente que houve um plano de fuga bem elaborado preparado pelos sacerdotes de Roma para salvar a vida dos assassinos e conspiradores. Seria prolixo seguir todos os passos dos assassinos quando, como Caim, fugiam em todas as direções para escapar da vingança de Deus e dos homens. Fixemos nosso olhar em John Surratt, que estava em Washington no dia 14 de abril, ajudando Booth na execução do assassinato. Quem cuidaria dele? Quem o protegeria e esconderia? Quem o estreitaria contra o peito num grande abraço, e quem lhe lançaria aos ombros o seu manto para escondê-lo da justa vingança das leis humanas e divinas? O padre Charles Boucher (Julgamento de John Surratt, vol. II., p. 904-912) jura que, apenas alguns dias após o assassinato, o padre Lapierre enviou John Surratt aos seus cuidados, de Montreal; que ele o manteve escondido em sua casa paroquial de St. Liboire, do final de abril ao final de julho, e depois o levou de volta, secretamente, ao padre Lapierre, que o manteve escondido na casa de seu próprio pai, sob a sombra do palácio do bispo de Montreal. Ele jura (p. 905-914) que o padre Lapierre o visitava (Surratt) com frequência, quando estava escondido em St. Liboire, e que ele (o padre Boucher) o visitou, pelo menos duas vezes por semana, do final de julho a setembro, quando estava escondido na casa do padre Lapierre em Montreal.
"Esse mesmo padre Charles Boucher jura que acompanhou John Surratt em uma carruagem, na companhia do padre Lapierre, até o navio a vapor 'Montreal', quando partia para Quebec. Que o padre Lapierre o manteve (John Surratt) trancado durante a viagem de Montreal a Quebec, e que o acompanhou, disfarçado, do navio a vapor 'Montreal' até o navio a vapor 'Peruvian'. – Julgamento de John Surratt, p. 910.
"O médico do 'Peruvian', L. I. A. McMillan, jura (vol. I., p. 460) que o padre Lapierre o apresentou a John Surratt sob o nome falso de McCarthy, que ele o mantinha trancado em sua cabine, e que ele o conduziu disfarçado ao 'Peruvian', e com quem permaneceu até deixar Quebec rumo à Europa, em 15 de setembro de 1865.
"Mas quem é esse padre Lapierre que cuidou de Surratt com tanta ternura e, ouso dizer, com tão notável zelo paternal? Será uma pessoa de menor importância que o bispo Bourget, de Montreal?! É o íntimo confidente do bispo. Vive com ele, come à sua mesa, é seu conselheiro, e dele a cada passo recebe conselhos. Sendo secretário do bispo, mantinha para com este a mesma relação que os braços têm para com o corpo.
"Agora, pergunto: Não é evidente que os bispos e padres de Washington confiaram esse assassino aos ternos cuidados dos bispos e padres de Montreal, para que pudessem escondê-lo, alimentá-lo e protegê-lo por quase seis meses, à sombra do palácio do bispo? Teriam feito isso se não fossem seus cúmplices? Por que permaneceram tão continuamente com ele, dia e noite, se não estivessem temerosos de que ele pudesse comprometê-los com uma palavra indiscreta? Por que vemos esses padres (devo dizer, esses dois embaixadores e representantes nomeados pelo papa) sozinhos na carruagem que leva esse grande culpado de seu esconderijo até o navio a vapor? Por que o mantiveram ali, trancado, até transferi-lo, sob outro nome, para o 'Peruvian', em 15 de julho de 1865? Por que tanta simpatia por esse estrangeiro? Por que os bispos e padres do Canadá se deram a tanto trabalho e despesa por aquele jovem americano? A resposta é uma só. Ele era um de seus instrumentos, um de seus homens selecionados para atingir em cheio a grande República da Igualdade e da Liberdade. Por mais de seis meses antes do assassinato, os padres se hospedaram, comeram, conversaram e dormiram com ele sob o mesmo teto em Washington. Treinaram-no para o ato de sangue, prometendo-lhe proteção na terra e uma coroa de glória no céu, unicamente a troco de sua estrita fidelidade aos planos que desejavam realizar. E o assassino cumpriu a promessa que lhes fizera.
"Agora o grande crime está consumado! Lincoln foi assassinado! Jeff Davis, o querido filho do papa, foi vingado! A grande república foi atingida em seu coração! Os soldados da liberdade de todo o mundo choram sobre o cadáver daquele que os conduziria à vitória; um clamor de profunda desolação sobe da terra aos céus.
"Dir-se-ia estarmos ouvindo o dobre fúnebre anunciando a morte da liberdade, da igualdade e da fraternidade entre os homens. Há muitos séculos que os inimigos implacáveis dos direitos e liberdades humanas vinham combatendo este gigantesco inimigo: agora a alegria deles é tão grande quanto a sua completa vitória.
"Mas o leitor não vê por entre as trevas aquele homem fugindo de Washington em direção ao norte? Ele tem na fronte a marca de Caim, suas mãos estão tintas de sangue, está pálido e trêmulo, pois sabe que toda uma nação ultrajada vai atrás dele para sua justa vingança; ele ouve já a voz trovejante de Deus: 'Onde está teu irmão?' Onde ele encontrará refúgio? Onde, fora do inferno, ele encontrará amigos que o protejam e o salvem da justa vingança de Deus e dos homens?
"Oh! Ele acha refúgio seguro nos braços daquela igreja que, por mais de mil anos, vem clamando: 'Morte a todos os hereges! Morte a todos os soldados da Liberdade!' Ele encontra amigos devotados entre os mesmos homens que, depois de prepararem o massacre do Almirante Coligny e seus 75.000 compatriotas protestantes, tocaram os sinos de Roma para expressar sua alegria quando souberam que, finalmente, o Rei da França havia massacrado todos eles.
"Mas para onde os bispos e padres do Canadá enviarão John Surratt quando descobrirem que é impossível escondê-lo dos milhares de detetives dos Estados Unidos, que estão vasculhando o Canadá para descobrir seu refúgio? Quem o esconderá, alimentará, hospedará e protegerá depois que os padres do Canadá apertaram sua mão pela última vez, a bordo do 'Peruvian', em 15 de setembro de 1865?
"Quem pode ter alguma dúvida sobre isso? Quem pode supor que alguém, a não ser o próprio papa e seus jesuítas, protegerá o assassino de Abraham Lincoln na Europa?
"Se se o amigo leitor quiser vê-lo, após haver ele atravessado o oceano, vá até Vitry, às portas de Roma, e aí o encontrarás alistado sob as bandeiras do papa, na 9ª companhia de seus Zouaves, sob o nome falso de Watson (Julgamento de John Surratt, vol. I., p. 492). Evidentemente, o papa se viu forçado a desampará-lo, logo que o governo dos Estados Unidos o encontrou lá e o trouxe de volta a Washington para ser julgado.
"Mas ao chegar como prisioneiro nos Estados Unidos, seu padre confessor jesuíta sussurrou em seu ouvido: 'Não temas, não serás condenado! Por influência de uma senhora católica da alta sociedade, dois ou três dos jurados serão católicos e daí estarás a salvo'.
"Aqueles que leram os dois volumes do julgamento de John Surratt sabem que nunca foram apresentadas provas mais evidentes de culpa contra um assassino do que naquele caso. Mas os jurados católicos aprenderam na Teologia de São Tomás (um livro que o papa ordenara fosse ensinado em todos os colégios, academias e universidades de Roma) que é dever dos católicos exterminar todos os hereges – St. Thomas' Theology, vol. IV., p. 90.
"Também haviam aprendido, com o decreto dos concílios de Constança, que nunca se deve confiar num herege; com o concílio de Latrão, que os católicos que pegam em armas para o extermínio dos hereges têm todos os seus pecados perdoados e recebem as mesmas bênçãos prometidas àqueles que lutam pela libertação da Terra Santa.
"Esses jurados foram informados por seus padres confessores que o santíssimo papa Gregório VII havia declarado, solene e infalivelmente, que 'matar um herege não constituía crime algum' – Jure Canonico.
"Assim doutrinado, qual dos jurados católicos julgaria John Surratt culpado de assassinato por matar o herege Lincoln? Como o júri não chegou a um consenso, não foi possível dar um veredito. E o governo teria que deixar o assassino impune.
"Porém, quando os inimigos irreconciliáveis de todos os direitos e liberdades humanas congratulavam-se por seus esforços bem-sucedidos pela libertação de John Surratt, o Deus do céu estampava novamente em seus rostos, de modo indubitável, o estigma de Caim, para que todos os olhos o vissem.
"'O assassínio não pode ficar em segredo' – eis uma verdade repetida por todas as nações desde o início do mundo. Foi o conhecimento dessa verdade que me sustentou em minhas longas e difíceis pesquisas sobre os verdadeiros autores do assassinato de Lincoln e que me permite hoje apresentar ao mundo um fato que se dirá quase milagroso: a cumplicidade dos sacerdotes de Roma no assassinato do presidente mártir.
"Há algum tempo, encontrei-me providencialmente com o rev. F. A. Conwell, em Chicago. Sabendo que eu estava em busca de fatos sobre o assassinato de Abraham Lincoln, ele me disse que conhecia um desses fatos, que talvez pudesse lançar alguma luz sobre o assunto de minhas pesquisas.
"'No dia do crime – disse-me – 'achava-me na vila católica de St. Joseph, Minnesota, quando, cerca das seis da tarde, um católico do lugar, fornecedor de um grande número de padres ali residentes num mosteiro, me contou que o Secretário de Estado Seward e o Presidente Lincoln acabavam de ser assassinados! E isso me foi dito na presença de Bennett, a pessoa mais respeitável do lugar, o qual não se mostrou menos perplexo que eu. Não pudemos saber como tais novas se espalharam assim pela cidade, uma vez que St. Joseph dista dezessete léguas da estrada de ferro e só tem posto telegráfico a trinta e quatro léguas! No dia imediato, 15 de abril, estive em St. Cloud, três léguas mais além, a qual também não é servida por estrada de ferro nem por telégrafo; aí disse eu a alguns que na cidade de St. Joseph um católico falara no assassínio de Lincoln e do secretário Seward. Disseram-me não ter ouvido nada a respeito. No dia seguinte, porém, domingo 16 de abril, de caminho para a igreja de St. Cloud, um amigo me mostrou uma cópia de um telegrama que lhe fora enviado no sábado, comunicando o assassínio dos dois estadistas justamente no dia anterior, isto é, na sexta-feira, dia 14, às 10 da noite! Como poderia o católico fornecedor dos padres de St. Joseph ter dito a mesma coisa ante várias testemunhas, justamente quatro horas antes de sua consumação?! No mesmo dia, falei a muitos de coisa tão estranha, e no dia imediato escrevi à St. Paul Press algumas palavras sob o título 'Uma Estranha Coincidência'. Algum tempo depois, havendo o redator do The St. Paul Pioneer negado houvesse em escrito alguma coisa sobre esse assunto, dirigi-lhe a seguinte nota, que ele estampou, e de que guardei cópia. Ei-la aqui; o sr. poderá ficar com ela, como prova infalível de que digo a pura verdade.
"'Ao Redator do 'The St. Paul Pioneer':
"'Afirma o sr. não ser verdadeira a pequena nota que enderecei à 'St. Paul Press' e que é a seguinte:
"'Uma Estranha Coincidência!'
"'Às seis e meia da tarde, da sexta-feira 14 de abril, contaram-me como estupenda novidade, a três léguas deste lugar, que Lincoln e Seward haviam sido assassinados. Faz três horas que ouvi as últimas.'
"'S. Cloud, 17 de abril de 1865.
"'A integridade da história requer que se aclare a coincidência do que acima se acha. E se alguém puser isso em dúvida, poderão ser apresentadas então provas mais fortes que as engendradas nas sombras sanguinárias para aliviar um traidor.
"'Respeitosamente,
"'F. A. Conwell.'
"Pedi a esse senhor a bondade de jurar sobre esse fato, para que eu o pudesse usar no memorial que tencionava publicar sobre o assassínio de Lincoln. Bondosamente me atendeu da seguinte forma:
"'Estado do Illinois, Condado de Cook,
"'O rev. F. A. Conwell, após juramento, depõe e diz ter setenta e um anos de idade, que reside em North Evanston, do condado de Cook, Illinois; que exerce o ministério há cinquenta e seis anos, sendo atualmente um dos capelães da 'Seamen’s Bethel Home', de Chicago; que foi capelão do primeiro regimento de Minnesota, na Guerra da Secessão. Que no dia 14 de abril de 1865, A.D., achava-se em St. Joseph, Minnesota, tendo chegado aí antes das seis da tarde em companhia do sr. Bennett, que residia e ainda reside em St. Cloud, Minnesota. Que nessa época não havia telégrafo nas vizinhanças, estando o mais próximo em Minneapolis, a trinta e quatro léguas de St. Joseph; a estação de estrada de ferro mais próxima então era a de Avoka, Minnesota, a dezessete léguas. Que, quando chegou a St. Joseph, no dia 14 de abril de 1865, um tal sr. Linneman, que então tomava conta do hotel do lugar, disse-lhe confiadamente que o presidente Lincoln e o secretário Seward tinham sido assassinados; não passava de seis e meia da tarde, da sexta-feira, 14 de abril de 1865, quando o sr. Linneman me disse isso. Logo depois chegou ao hotel o sr. Bennett, e eu lhe contei que o sr. Linneman dissera que o presidente Lincoln e o secretário Seward tinham sido assassinados; daí o sr. Linneman tornou a contar a mesma coisa ao sr. Bennett em minha presença. Nessa ocasião contou-me ainda o sr. Linneman que tinha a seu cuidado o seminário dos moços que em St. Joseph estudavam para o sacerdócio. Que nessa ocasião havia grande porção dessa gente em St. Joseph. Afiançou ainda que no sábado, 15 de abril de 1865, pela manhã, foi a St. Cloud, quase a três léguas além, aí chegando às oito da manhã mais ou menos. Este lugar não era servido por telégrafo e nem por estrada de ferro. Chegado a St. Cloud, contou ao hoteleiro, o sr. Haworth, o que lhe haviam dito do assassínio de Lincoln e do secretário Seward, indagando se não era boato. Já havia contado isso a Henry Clay, Wait, Charles Gilman, que havia sido vice-governador de Minnesota, e ao rev. Tice, e lhes perguntara o que sabiam do assunto, respondendo estes que nada tinham ouvido.
"'Depôs ainda que no domingo de manhã, 16 de abril de 1865, pregou em St. Cloud, e que, de caminho para a igreja, foi-lhe apresentada uma cópia de um telegrama comunicando que o presidente Lincoln e o secretário Seward haviam sido assassinados na sexta-feira à noite, cerca das nove horas. Tal telegrama fora trazido a St. Cloud pelo sr. Gorton que chegara a St. Cloud pela diligência. Foi essa, sobre tal assunto, a primeira informação que alcançou St. Cloud.
"'Depôs ainda que na segunda-feira, 17 de abril de 1865, pela manhã, enviou ao Press, jornal da cidade de St. Paul, Minnesota, uma informação em que afirmava que, três horas antes do crime, fora ele informado em St. Joseph, Minnesota, do assassínio do presidente; e tal informação foi publicada pelo Press.
"'Francis Asbury Conwell.
"'Assinado, após juramento, por Francis A. Conwell, em minha presença, como tabelião do Condado de Kankakee, Illinois, em Chicago, Condado de Cook, a seis de setembro de 1883.
"'Stephen R. Moore, Tabelião.'
"Conquanto esse documento me parecesse muito importante e precioso, senti que maior valor teria ainda uma vez corroborado pelo testemunho dos srs. Bennett e Linneman. Assim, imediatamente enviei um oficial de justiça a procurá-los para que, se estivessem vivos e ainda se lembrassem dos fatos, dessem seu testemunho. Pela boa Providência divina ambos viviam ainda e puderam depor o seguinte:
"'Estado de Minnesota, Condado Sterns, Cidade de St. Cloud.
"'Horace B. Bennett, após juramento, depôs e disse ter sessenta e quatro anos de idade; que reside em St. Cloud, Minnesota, e que nesse condado reside desde 1856; que conheceu o rev. F. A. Conwell, que foi capelão do Primeiro Regimento de Minnesota na Guerra da Secessão; que no dia 14 de abril de 1865, achava-se em St. Joseph, Minnesota, em companhia do sr. Francis A. Conwell; que chegaram a St. Joseph ao escurecer do dito dia 14 de abril; que nesse tempo St. Joseph não possuía comunicação telegráfica, nem estrada de ferro, sendo a mais próxima a de Avoka, a dezessete léguas. Em chegando ao hotel dirigido pelo sr. Linneman, foi à cocheira, enquanto o rev. Conwell entrou no hotel; pouco depois, retornou ao hotel e o rev. Conwell lhe disse ter ouvido do sr. Linneman que o presidente Lincoln tinha sido assassinado; o sr. Linneman estava presente no momento e reafirmou o que dissera ao rev. Conwell.
"'Depôs mais que no sábado, 5 de abril, pela manhã, veio com o rev. Conwell a St. Cloud, e contaram o que tinham ouvido em St. Joseph acerca do assassinato de Lincoln; e que em St. Cloud ninguém sabia ainda de nada, e que a primeira notícia que alcançou St. Cloud chegou na manhã do domingo 16, quando a notícia veio por intermédio de Leander Gorton, recém-chegado de Avoka, Minnesota; que falaram em St. Cloud com várias pessoas a respeito do assunto, quando aí chegaram, no domingo pela manhã, mas não se lembra agora quem eram tais pessoas, e nada mais disse.
"'Horace B. Bennett.
"'Fez o juramento e assinou em minha presença, no dia 18 de outubro de 1883, A. D.
"'Andrew C. Robertson, Tabelião.'
"Tendo o sr. Linneman recusado jurar sobre sua declaração escrita que tenho em minha posse, tomei dela apenas o que se refere ao fato principal, isto é, que três ou quatro horas antes de Lincoln ser assassinado em Washington, a 14 de abril de 1865, o crime era já dado como perpetrado na vila de St. Joseph, Minnesota.
"'Ele (Linneman) lembra-se da ocasião em que os srs. Conwell e Bennett chegaram a este lugar (St. Joseph, Minnesota), na sexta-feira à tardinha, antes de ser assassinado o presidente, e ele lhes perguntou se tinham ouvido alguma coisa da morte do mesmo, e eles lhe responderam que não. E ouvira tal notícia em seu armazém, de gente que entrava e saia. Não se lembra de quem ouviu tal coisa.
"'20 de outubro de 1883.
"'J. H. Linneman'
"Apresento aqui ao mundo um fato da maior gravidade, e tal fato acha-se tão bem autenticado que não deixa a menor possibilidade de dúvida.
"Três ou quatro horas antes de Lincoln ser assassinado em Washington, a 14 de abril de 1865, tal crime não só era conhecido por alguém, mas sua notícia circulava já e era objeto de comentários nas ruas e nas casas da mui católica cidade de St. Joseph, Minnesota! Esse fato é inegável. As testemunhas são inimputáveis, e St. Joseph não era servida por estrada de ferro ou telégrafo, que distavam dezessete e trinta e quatro léguas.
"Mui naturalmente perguntará alguém: 'Como tais novas se espalharam ali? Qual a fonte de tais novidades?' O sr. Linneman, católico, nos diz que, conquanto as ouvisse de várias pessoas em seu armazém e nas ruas, não se lembra sequer o nome de uma delas. E quando ouvimos isso dele, compreendemos porque razão não ousou jurar sobre o assunto e porque se encolheu à ideia de jurar falso.
"Sim, porque vê-se claro que a memória do sr. Linneman não é coisa assim tão fraca e pobre, uma vez que se lembra perfeitamente do nome dos dois estranhos, os srs. Conwell e Bennett, aos quais anunciou o assassínio de Lincoln há dezessete anos. Mas, se a memória dele é coisa tão deficiente quanto a esse assunto, nós o podemos ajudar, dizendo-lhe com exatidão matemática:
"'O sr. ouviu a novidade dos padres de St. Joseph! A conspiração que custou a vida do presidente mártir foi preparada pelos padres de Washington na casa de Mary Surratt, número 541 da rua H. Os padres de St. Joseph iam constantemente a Washington, hospedavam-se mui provavelmente na casa de Mary Surratt, assim como também os padres de Washington estavam a visitar constantemente os colegas de St. Joseph.
"'Os padres de Washington estavam diariamente em comunicação com os padres, seus co-rebeldes, de St. Joseph; eram seus amigos íntimos. Não havia segredos para eles, como nunca os há entre padres. Eram todos membros de um mesmo corpo, ramos da mesma árvore. Dos pormenores do homicídio, bem como da data marcada para executá-lo, de tudo estavam mui bem enfronhados, tanto os padres de St. Joseph como os de Washington. Sim, porque a morte de Lincoln seria para todos eles um glorioso acontecimento! Era preciso matar aquele infame apóstata que fora batizado na Igreja Romana e que contra ela se rebelara, quebrando seu voto de fidelidade ao papa, voto esse feito no dia de seu batismo; e indivíduo que estava agora vivendo como um verdadeiro apóstata. Sim, era preciso trucidar aquele infame Lincoln que ousara batalhar contra a Confederação Sulista, cuja causa ainda naqueles dias fôra solenemente declarada pelo Vigário de Cristo como uma causa justa, legítima e santa! Sim, aquele tirano sanguinolento, aquele homem ímpio e infame receberia finalmente a justa retribuição de todos os seus crimes; e isso seria no dia 14 de abril! Oh! que novas gloriosas! Como poderiam os padres papistas esconder tão gloriosa novidade ao seu amigo do peito, o sr. Linneman?! Este era o confidente deles; era o seu fornecedor; era a mão direita deles em St. Joseph! Os padres sentiam que aquele amigo do peito teria razões sobejas de censurá-los, acusando-os de falta de confiança, caso eles nada lhe contassem do glorioso acontecimento daquele grande dia. E, certamente, pediram-lhe que nunca revelasse os nomes deles, se se resolvesse a espalhar as alegres novas entre os devotos católicos de que se compunha quase que exclusivamente a população de St. Joseph. E o sr. Linneman fiel e honradamente cumpriu sua promessa de nunca revelar o nome deles; e assim é que hoje temos em nossas mãos a declaração por ele assinada de que alguém, a 14 de abril, lhe contou que o presidente Lincoln acabava de ser assassinado, e afirma não se recordar quem foi que lhe disse tal coisa!'
"Mas não há uma pessoa só de juízo são que tenha qualquer dúvida sobre o fato: no dia 14 de abril de 1865, os padres católicos já sabiam, e faziam circular na cidade católica de St. Joseph, Minnesota, e quatro horas antes do ocorrido, a notícia do assassínio de Abraham Lincoln. Não poderiam, porém, ter feito circular tal nova sem que dela soubessem alguma coisa; e de nada saberiam, se não pertencessem ao bando dos conspiradores que mataram Lincoln."
Naturalmente, esse é o testemunho de um homem – mas de um homem que se esperaria que não fosse culpado de deturpação intencional, e quando se considera que este livro foi impresso apenas 20 anos após a morte de Lincoln, e que os eventos ali alegados estavam na memória da maioria dos que viviam à época de sua publicação, e que, tanto quanto se saiba, a igreja nunca fez nenhuma tentativa de refutar as alegações, certamente a posteridade tem o direito de presumir que o testemunho seja verdadeiro. (Naturalmente, eles o ridicularizaram.)
No funeral de Lincoln, "Sessenta mil espectadores assistiram a uma procissão de 40 mil pessoas enlutadas". (incluindo) "Uma delegação católica de 250 alunos e professores do Gonzaga College." – Sandburg's Abraham Lincoln, vol. VI, p. 391.
"Nos exercícios da Union Square após o desfile, o arcebispo católico McCloskey pronunciou a bênção." Ibid, p. 399. Há muita ironia nisso, se a declaração feita pelo padre Chiniquy em Cinquenta anos na Igreja de Roma, de que todos os acusados pelo assassinato de Lincoln eram católicos, for verdadeira.
"O condutor de diligência John Gallagher foi condenado a seis meses por dizer: 'Serviu bem a Abe Lincoln; ele deveria ter sido fuzilado há muito tempo; isso teria acabado com a guerra'." (Ibid.) Gallagher é um bom nome católico irlandês.
Ação católica na Guerra Civil
É interessante e esclarecedor voltar aos registros de alguns dos eventos da Guerra Civil e encontrar muitas provas e evidências da acusação de Chiniquy quanto ao papel desempenhado pela Igreja Católica durante esse conflito.
E como essas questões são apresentadas, é interessante lê-las à luz de uma declaração feita por um dos prelados mais ilustres de Roma na América, a saber, o cardeal James Gibbons, arcebispo de Baltimore, que em seu conhecido livro Faith of Our Fathers, nonagésima primeira edição, p. 140, diz: "Um governante civil que se mete em religião é tão repreensível quanto um clérigo que se mete em política. Ambos se tornam odiosos, além de ridículos".
Em meados do século XIX, o renomado inventor do telégrafo, professor Samuel F. B. Morse, escreveu seu livro, Conspiração Estrangeira, no qual ele apresentou a tese de que a Igreja Católica estava ativamente envolvida em uma conspiração para derrubar o governo dos Estados Unidos da América. Vários incidentes ligados à Guerra Civil, de 1861 a 1865, são vistos por muitos como tendo sido planejados para concretizar essa conspiração.
Certamente, a carta a seguir, endereçada pelo papa Pio IX a Jefferson Davis, pode ser considerada um passo importante:
"Ilustre e Honorável Senhor;
"Jefferson Davis, Presidente dos Estados Confederados da América, Richmond.
"Recebemos com grande satisfação as pessoas enviadas em seu nome para nos entregar sua carta, datada de 23 de setembro passado. [1863] Foi com grande prazer que soubemos, tanto por essas pessoas quanto pela carta, dos sentimentos de alegria e gratidão que o animam. Ilustre e Honrado Presidente, assim que o senhor tomou conhecimento de nossas cartas aos nossos veneráveis irmãos, John, Arcebispo de Nova Orleans, e John, Arcebispo de Nova York, datadas de 18 de outubro do ano passado, nas quais, com toda a nossa força, incitamos e exortamos esses veneráveis irmãos a que, em sua piedade e solicitude episcopal, se empenhassem, com o mais ardente zelo e em nosso nome, para pôr fim à fatal Guerra Civil que irrompeu nesses países, a fim de que o povo americano possa obter paz e concórdia, e viver unido em caridade. Agrada-nos particularmente ver que o senhor, Ilustre e Honrado Presidente, e seu povo, estão animados com os mesmos desejos de paz e tranquilidade que inculcamos em nossas cartas aos nossos veneráveis irmãos. Queira Deus, ao mesmo tempo, fazer com que os outros povos da América e seus governantes, refletindo seriamente sobre quão terrível é a guerra civil e quais calamidades ela gera, ouçam as inspirações de um espírito mais calmo e adotem resolutamente o caminho da paz. Quanto a nós, não cessaremos de oferecer as mais fervorosas orações a Deus Todo-Poderoso, para que Ele derrame sobre todo o povo da América o espírito de paz e caridade, e que Ele ponha fim aos grandes males que os afligem. Ao mesmo tempo, rogamos ao Deus da misericórdia que derrame sobre o senhor a luz de Sua graça e o una a nós por uma amizade perfeita.
"Dado em Roma, na Basílica de São Pedro, no dia 3 de outubro de 1863, 18º do nosso Pontificado.
"Pio P. P. IX."
Essa carta é citada em American Sentinel of Religious Liberty, novembro de 1930, p. 2.
A Igreja Católica tenta minimizar essa carta dizendo que ela não tinha significado político, que era meramente uma tentativa de encorajar a resolução das diferenças entre o Norte e o Sul, mas lembre-se que a habilidade política do papado é o resultado de muitos séculos de experiência em lidar com assuntos internacionais, e não foi um mero erro diplomático ingênuo, mas sim parte de uma estratégia astuta de "Dividir para Conquistar", o plano que Hitler extraiu do livro de truques do papa. Nem o papa faz qualquer admoestação contra a escravidão, da qual ele estava inquestionavelmente bem ciente. Note, também, que ele se refere ao Norte e ao Sul como "esses países"!
Mas, quanto ao significado e aos resultados dessa carta de Pio IX a Jeff Davis, as seguintes cartas dos arquivos oficiais são esclarecedoras:
Em 2 de janeiro de 1864 (menos de 3 meses após a data da carta do papa a Jeff Davis), o Sr. Dayton, Ministro dos Estados Unidos em Paris, escreveu ao Secretário (de Estado) Seward o seguinte:
"Senhor:
"V.sa. provavelmente já viu a correspondência entre o Sr. Davis [Jeff] e o papa antes disso, mas como ela foi traduzida e impressa no Moniteur desta manhã, eu a anexo aos seus cuidados:
"O objetivo desse quase reconhecimento do Sr. Davis, que é chamado três vezes de 'Ilustre e Honorável Presidente', é evidente. Trata-se de um último esforço para despertar algum sentimento contra o Norte entre os católicos e usar, talvez, a influência do Santo Padre no sentido de impedir que seus eleitores irlandeses se voluntariem.
"Eu soube, há pouco tempo, que estava sendo feito um esforço para estabelecer uma correspondência com esse propósito e falei com o núncio do papa aqui sobre o assunto, mas ele não deu importância a isso e, como disse, não acreditou. Sobre o Sr. [John] Slidell, ele falou como um completo desconhecido, dizendo que nunca o tinha visto, a não ser uma vez em sua vida, e apenas casualmente.
"A correspondência, é verdade, não tem muito valor, mas ilustra a crescente atividade do chefe rebelde em recorrer a todas as fontes possíveis.
"W. L. Dayton."
Os arquivos do Departamento de Estado dos Estados Unidos também contêm uma carta, que foi escrita pelo Ministro dos Estados Unidos na Itália, de Turim, e é aqui apresentada em parte:
"Legação dos Estados Unidos,
"Turim, 8 de janeiro de 1865
"Nº 81
"Senhor:
(Último parágrafo)
"Muitos acreditam que as cartas [entre o papa e Jeff Davis] mostram que entre o grande inimigo da liberdade africana na América e o grande inimigo de toda a liberdade na Europa existe uma simpatia que não é compartilhada pelo povo do Norte nem pelo governo que o representa. As cartas foram publicadas em todos os jornais liberais da Itália, exceto naqueles hostis à causa da União, que, até onde posso saber, não notaram a correspondência em suas colunas.
"George P. March."
"Sr. William H. Seward
"Secretário de Estado
"Washington, D.C."
(Arquivos do Departamento de Estado dos Estados Unidos)
Citado no American Sentinel, nº 180, novembro de 1930, p. 2.
Cerca de seis semanas após o papa Pio IX escrever a carta para Jeff Davis, A. Dudley Mann, um diplomata confederado ativamente engajado na promoção da causa da Confederação na Europa, foi o homem que encaminhou a carta do papa para Richmond, conforme indicado pelo fato de que ele escreveu a seguinte carta para J. P. Benjamin, Secretário de Estado dos Estados Confederados.
"40 Albemarle Street
"Londres, 15 de janeiro de 1864
"Nº 74
"Senhor:
"Em todos os círculos britânicos esclarecidos, nosso reconhecimento pelo Soberano Pontífice é considerado formal e completo.
"A influência que a medida exercerá em nosso favor é incalculável. Acredita-se que os desejos sinceros expressos por Sua Santidade serão considerados como ordens imperativas pela grande parte da família humana que o considera o Vigário de Cristo.
"Se esse for o caso, o espírito de guerra de Lincoln e companhia sofrerá uma ferida que o enfraquecerá a ponto de prejudicar totalmente suas capacidades de resistência. Estou plenamente confiante de que esse será o resultado....
"A. Dudley Mann", Ibid.
(Citado em United States War of the Rebellion)
Nas páginas 666-7 do livro The Shaping of the American Tradition, de Hacker, encontramos duas cartas de Slidell, missionário da Confederação dos Estados Unidos na França (nunca recebidas oficialmente), relatando algumas coisas que aconteceram quando ele foi visitar o imperador Napoleão III, um católico.
Ele menciona o general confederado Fleury (um bom nome católico francês), como sendo "um grande favorito do imperador". Uma carta, datada de 25 de julho de 1862, afirma ainda que "o imperador falou sobre a derrota dos exércitos federais diante de Richmond, o que pareceu lhe dar muita satisfação".
Nessas duas cartas, a questão de obter o reconhecimento dos Estados Confederados da América como uma nação independente é mencionada três vezes, indicando que esse era o principal objetivo dos apelos ao imperador Napoleão. Entretanto, o imperador estava aparentemente cauteloso quanto a uma medida tão drástica, que seria uma afronta ao governo dos Estados Unidos.
Isso explica o grande júbilo com o reconhecimento da Confederação pelo Vaticano por meio da carta a Jeff Davis como presidente dos Estados Confederados.
O mesmo diplomata confederado, ao manter seu Secretário de Estado informado sobre os efeitos da carta do papa, escreveu o seguinte:
"Bruxelas, 11 de março de 1864
"Nº 80
"J. P. Benjamin, Secretário de Estado dos Estados Confederados da América, Richmond, Va.
"Senhor:
"Sob os auspícios da carta do papa ao presidente, foram feitas demonstrações formidáveis na Irlanda contra os esforços de Lincoln e companhia para obter mais imigrantes daquela parte do reino britânico. Assim, as chances de que haja uma grande diminuição no número de recrutas estrangeiros para os exércitos do Norte estão se multiplicando dia a dia. Para a honra imortal da Igreja Católica, ela está agora empenhada em lançar todos os obstáculos que possa criar no caminho do prosseguimento da guerra pelos guerrilheiros ianques. Desde minha audiência com o Santo Padre e minha entrevista com o Cardeal Secretário de Estado, estou confiante de que a Igreja realizará pouco menos do que maravilhas nesse sentido.
"A. Dudley Mann."
Essa carta tem uma anotação indicando que foi recebida em 19 de abril de 1864 e com a inicial J.P.B., American Sentinel, novembro de 1930, p. 4.
Em 23 de dezembro de 1863, o general Rufus King, o novo ministro americano, chegou a Roma. Em uma carta ao Secretário de Estado Americano, datada de 15 de janeiro de 1864, ele contou sobre uma observação feita pelo papa Pio IX, como segue: "Quanto a intervir em seus assuntos, não me resta outra arma a não ser esta caneta." – Ibid., p. 9, 10.
"Ele [o papa] havia declarado repetidamente que o Vaticano não interviria. Ele havia sido notificado várias vezes de que o governo dos Estados Unidos não aceitaria a intervenção: e trinta e seis dias antes ele havia usado sua caneta para escrever a Jeff Davis, 'Ilustre e Honorável Presidente', o que, na verdade, era tanto reconhecimento quanto intervenção, e tinha o objetivo de impedir o alistamento de irlandeses católicos nos exércitos da União, bem como induzi-los a desertar. O Papa admite que sua caneta tinha o poder de intervir. Era a única arma de que dispunha para fazê-lo, como ele mesmo afirma." – American Sentinel, novembro de 1930, p. 10.
"Você está certo quando diz que essa carta do papa mudou completamente a natureza e a base da guerra." (Declaração feita por Abraham Lincoln ao Padre Chiniquy, citada em The American Sentinel, dezembro de 1929, p. 1).
O autor não havia compreendido totalmente os desafios enfrentados pelas forças da União nos estágios iniciais da Guerra Civil, nem a magnitude das vitórias do Sul, até visitar o local da Batalha de Gettysburg, travada de 1º a 3 de julho de 1863. Nessa batalha, o General Lee sofreu quase 30.000 baixas, enquanto o Norte perdeu 23.000 homens. Foi nesse momento que o autor reconheceu o quanto os exércitos do Norte haviam sido empurrados de volta para a Pensilvânia.
Evidentemente, esse sucesso do Norte, ao deter a maré cinzenta em Gettysburg, causou grande alarme em Richmond e também em Roma, empenhada em ajudar o Sul, e é significativo que dez dias após essa batalha, de 13 a 17 de julho de 1863, ocorreram os grandes motins de recrutamento na cidade de Nova York, organizados quase que inteiramente por católicos irlandeses, em protesto contra o recrutamento de homens necessários para fortalecer os exércitos do Norte.
Podemos ver claramente a mão de Roma nesses tumultos na citação a seguir:
"Em 16 de julho de 1863, o proeminente arcebispo John Hughes fez um convite aos 'homens de Nova York', que foram chamados de 'desordeiros' em vários jornais, para encontrá-lo em sua residência no dia seguinte, às 14h. No horário e local designados, reuniu-se um grande grupo de católicos irlandeses, aos quais ele se referia carinhosamente como seus filhos. Eles o consideravam mais importante do que o presidente e o governador. O arcebispo Hughes aconselhou essas pessoas – que haviam participado dos violentos tumultos de 13 a 15 de julho, durante os quais uma multidão de católicos irlandeses havia agredido e matado negros inocentes – a permanecerem em casa e a respeitarem a lei. Em seguida, ele lhes concedeu sua bênção, que receberam com a cabeça descoberta." (Romanism As It Is, p. 585-586). O arcebispo parecia ter um controle firme da situação em relação a essas turbas.
Algo mais pode ser extraído com relação à mentalidade católica (resultado direto da educação católica) nesta outra citação do mesmo livro, escrita 12 anos após a Guerra Civil.
"Durante os distúrbios ocorridos em Nova York de 13 a 15 de julho de 1863 (ver a página 586), a raiva inicial da multidão foi direcionada às autoridades e estruturas associadas ao recrutamento militar destinado a reforçar as forças do governo nacional. No entanto, essa raiva rapidamente se voltou para a comunidade negra, que foi perseguida, retirada à força de seu esconderijo e submetida a tratamento brutal, incluindo espancamentos e queimaduras que demonstravam extrema crueldade. Um asilo de órfãos de cor foi completamente destruído por um incêndio, e as vidas dos residentes vulneráveis foram poupadas apenas devido à intervenção corajosa de um punhado de indivíduos resolutos." (Romanism As It Is, do rev. S. W. Barnum, p. 711, notas de rodapé, 1877). Mais detalhes sobre esse tumulto serão fornecidos mais adiante.
Outros efeitos desta Quinta Coluna eclesiástica sutil e sinistra podem ser vistos nos fatos bem fundamentados apresentados a seguir:
As estatísticas apresentadas abaixo foram divulgadas no Sun, periódico católico com sede na cidade de Nova York, em 30 de agosto de 1891, e posteriormente no Boston Globe, em 27 de setembro de 1891. Para rebater a afirmação, membros da comunidade papista conduziram uma investigação dentro do Departamento de Pensões, determinando, por fim, que a alegação era falsa. Contudo, o Sr. R. J. Long, do American Citizen, direcionou a atenção deles para o Departamento de Guerra, após o que nenhuma outra negação foi emitida. A comparação a seguir foi publicada no artigo intitulado "Parochial School Fallacies":
Alistamentos de 1861 a 1865 (nos exércitos do Norte)
- Americanos nativos: 1.523.000 (75,48%)
- Alemães: 177.800 (8,76%)
- Irlandeses: 144.200 (7,14%)
- Americanos britânicos: 53.500 (2,60%)
- Ingleses: 45.500 (2,26%)
- Outros estrangeiros: 74.800 (3,76%)
- Total: 2.018.800
Deserções
- Irlandeses: 72%
- Alemães: 16%
- Americanos: 05%
- Todos os demais: 07%
– America's Menace, de C. W. Bibb, p. 112
De acordo com esses números, de cada dez mil irlandeses (quase todos católicos) alistados, houve 33 vezes mais deserções do que de cada dez mil de todos os outros grupos juntos.
Uma questão apresentada em um livro escrito apenas alguns anos antes da Guerra Civil é interessante como uma indicação da consideração da igreja pelo negro.
"Em 22 de maio (1854), o general Pezuela instruiu o bispo de Havana a suspender a lei da Igreja que proibia o casamento entre brancos e negros, o que foi feito por meio de uma circular aos padres que oficiavam." – J. S. Thrasher's, 1856, Trad. de Alexander Humboldt's, Island of Cuba, p. 71 (Referência feita a 'Secretaries del Obispado de la Habana, Circular Nº 50').
O fato de tal lei ter sido suspensa em maio de 1854 pressupõe que a Igreja Católica tinha em vigor naquela época uma lei que discriminava os negros. Não temos uma cópia dessa lei que, sem dúvida, está enterrada em segurança nos arquivos empoeirados do Vaticano – sim, enterrada duas vezes, em virtude de ter sido redigida em latim.
Sir Arthur Helps, esse inglês muito erudito, oferece uma visão interessante sobre como o oficial colonial treinado pelos católicos implementou sua autoridade sobre o infeliz negro que caiu em suas mãos.
"Zuazo, o juiz de residência, juntamente com seu colega legal Las Casas, um padre católico que mais tarde se tornou o bispo de Chiapas, fornece seu próprio relato sobre sua abordagem ao gerenciamento de escravos. Essa perspectiva deveria ter provocado a reflexão de qualquer estadista: 'A apreensão de que os escravos possam se revoltar é infundada; tudo depende da maneira como eles são tratados. Ao chegarem, observo que alguns exibem um comportamento astuto, enquanto outros tentam fugir; no primeiro caso, uso o chicote e, no segundo, recorro ao corte de orelhas, o que alivia minhas preocupações'." – Spanish Conquest in America, vol. II, p. 12, nota de rodapé.
Se dermos crédito total à afirmação da igreja quanto à sua imutabilidade, poderemos ver qual é sua verdadeira atitude em relação ao negro hoje.
Talvez seja bom considerar outras evidências irrefutáveis de que a Igreja Católica e seus correligionários não eram a favor da abolição da escravidão em nosso solo, mas, ao contrário, planejaram e conspiraram de todas as formas possíveis para evitar o fim da escravidão.
Benjamin J. Blied, um reconhecido historiador católico, discute em sua obra Catholics and the Civil War que vários fatores desencorajaram os católicos a apoiar o movimento abolicionista, conforme observado na página 20. Além disso, na página 48, ele cita o arcebispo John Hughes, de Nova York, com relação ao recrutamento para o Exército da União: "Não vou dizer que o processo de recrutamento seja suspenso, mas que fique confuso no quartel-general por quinze ou vinte dias. Um dia sim, outro dia não, um terceiro dia ainda não decidido, até que o povo desta cidade, tão numeroso e tão suscetível a emoções, tenha tempo para refletir. Ficarei feliz, e não deixo de ter esperança, de que sua execução rígida não seja necessária para a preservação da União.... Que o esboço não seja abandonado, mas que seja frustrado por algumas semanas, e não tenho nenhuma preocupação quanto ao resultado." Blied cita isso em The War of the Rebellion, Official Records of the Union and the Confederate Armies, publicado em Washington em 1889, Série 1, Volume XXVII, Parte II, p. 938.
Nas citações anteriores, não apenas encontramos uma declaração muito clara de que os católicos não se identificavam com nenhum movimento abolicionista, mas também um exemplo notável do modelo de guerra psicológica da Igreja Católica na Guerra Civil.
Os anos de 1861 a 1865 representam alguns dos períodos mais desafiadores da história de nossa nação, marcados por uma profunda escuridão que muitos de nossos cidadãos desconhecem. Durante os primeiros meses de 1863, os exércitos sulistas obtiveram uma série de vitórias, obrigando as forças da União a recuar várias vezes. Em meados do ano, especificamente em 1º de julho, os exércitos do Sul obtiveram uma vantagem tão grande que os exércitos do Norte se viram posicionados no interior da Pensilvânia, em Gettysburg. Os primeiros dias de julho foram marcados por essa batalha devastadora, em que o ataque de Pickett acabou sendo repelido, resultando em baixas significativas para ambos os lados.
Atualmente, no topo da colina em que as investidas de Pickett foram feitas, há um monumento com uma enorme réplica de bronze de um livro, que conta em letras maiúsculas os detalhes da batalha, e o ponto em que esse monumento se encontra é chamado de "O ponto alto da rebelião". Em outras palavras, esse foi o ponto mais avançado alcançado pelos exércitos do Sul rebelde, que buscavam preservar o status quo ante bellum e lutavam para manter seus milhões de escravos africanos em cativeiro.
Durante um período particularmente terrível da história americana, caracterizado por adversidades prolongadas que levaram a essa batalha, o governo federal enfrentou desafios significativos para alistar soldados suficientes para o exército. Consequentemente, foi implementado um recrutamento para atender às necessidades de mão de obra das forças armadas. Relatos históricos indicam que, menos de dez dias após essa batalha, a cidade de Nova York passou pelo que ficou conhecido como "Motins de recrutamento".
Um exame minucioso da história oficial do governo, especificamente The War of the Rebellion, Official Records of the Union and Confederate Armies, juntamente com fontes católicas confiáveis, deve levar um leitor imparcial a chegar à conclusão inevitável de que a liderança católica na cidade de Nova York desempenhou um papel na instigação desses "motins de recrutamento". De acordo com o historiador católico oficial Blied, "na segunda-feira, 14 de julho de 1863, uma multidão atacou a sede do recrutamento em Nova York; prédios foram incendiados, negros foram submetidos a tortura e fuzilamento; confrontos eclodiram entre os desordeiros e a polícia nas ruas, levando a um estado de caos na cidade que durou vários dias"... "Lincoln assinou a lei de recrutamento, tornando todos os homens em idade militar sujeitos ao serviço. Os nomes de todos os responsáveis foram colocados em cilindros giratórios, dos quais foram retirados nomes suficientes para preencher as cotas. A lei era um tanto injusta porque dispensava qualquer pessoa que fornecesse um substituto ou pagasse US$ 300,00."
Pode-se questionar como foi possível que alguns milhares, ou mesmo dezenas de milhares, de civis desordeiros agissem com tamanha liberdade por vários dias em meio a uma guerra, especialmente em um local tão estrategicamente significativo como o maior porto marítimo do país, onde normalmente se esperaria uma presença militar substancial e a aplicação da lei local. No entanto, considerando que isso ocorreu apenas dez dias após a Batalha de Gettysburg, depois de vários meses de vitórias do Exército do Sul ao contornar o Capitólio de Washington e avançar para o norte, fica claro por que os líderes militares reduziram significativamente a presença militar na cidade de Nova York, realocando forças para a Pensilvânia em um esforço para deter o avanço sulista.
Gettysburg está localizada a aproximadamente trezentos e vinte quilômetros da cidade de Nova York, o que torna sua proximidade uma preocupação significativa para a própria cidade. Durante esse período, o arcebispo John Hughes, da cidade de Nova York, viu uma oportunidade de prejudicar o governo federal incitando a grande população de católicos irlandeses da cidade a se envolver em tumultos. Além disso, a citação de Blied revela que "os negros foram torturados e fuzilados".
A declaração de Blied indica que o projeto de lei era "um tanto injusto, pois permitia que os indivíduos fornecessem um substituto ou pagassem uma taxa de US$ 300,00". Essa disposição injusta parece ter sido explorada pela Igreja Católica, conforme observado em uma nota de rodapé na página 45, em que Blied menciona: "Nomes de padres também foram incluídos, e muitos tiveram que pagar US$ 300,00 pela isenção". O historiador Gilbert J. Garraghan, em sua obra The Jesuits of the Middle United States (1938), vol. II, p. 164, diz que "Não há evidência de que algum padre católico tenha servido nos exércitos da União como soldado convocado".
A partir disso, parece que os padres católicos que, de outra forma, estariam sujeitos à convocação para o serviço militar, foram dispensados desse serviço com o pagamento de US$ 300,00; ou talvez eles pudessem ter conseguido algum irlandês pobre para substituí-los como "bucha de canhão".
Os Registros Oficiais, War of the Rebellion, Série I, Volume XXVII, Parte II, p. 886, contém uma correspondência de E. S. Sanford, do Serviço Telegráfico Militar dos Estados Unidos, endereçada ao Honorável E. M. Stanton, Secretário de Guerra. A carta, datada de 13 de julho de 1863, de Nova York, diz o seguinte: "Senhor: O motim atingiu um nível grave e está completamente fora do controle da polícia. O superintendente Kennedy sofreu ferimentos significativos. Atualmente, os manifestantes parecem estar em vantagem, com estimativas que variam de 30.000 a 40.000 indivíduos envolvidos. Entretanto, acredito que o número real de envolvidos esteja entre 2.000 e 3.000. A situação sugere um esforço coordenado para explorar a falta de presença militar. Respeitosamente, E. S. Sanford."
O relatório do Telégrafo Militar dos Estados Unidos para o Secretário de Guerra indica que os tumultos pareciam ser um esforço coordenado para explorar a ausência da presença militar. Essa afirmação dá crédito à hipótese de que a Igreja Católica, com sua influência expressiva sobre as crenças e ações de seus seguidores, pode ter desempenhado um papel na instigação e execução desses tumultos. A avaliação do conselheiro militar de que apenas "2.000 a 3.000 pessoas estavam de fato envolvidas" ressalta o estado gravemente enfraquecido da autoridade na cidade de Nova York, uma situação exacerbada pela ameaça militar representada pelo avanço dos exércitos confederados na Pensilvânia.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Sanford comunicou o seguinte a Stanton: "Nova York, 13 de julho de 1863 - 21h30. Senhor: A situação não melhorou desde o anoitecer. O cenário mudou para pequenos grupos perseguindo negros isolados, semelhante a cães à caça de uma raposa. Menciono isso para mostrar que o espírito da máfia é desenfreado, afetando todas as áreas da cidade. O escritório do Tribune foi alvo de um grupo de reconhecimento e sofreu um saque parcial. Um contingente maior de policiais conseguiu repelir os agressores, mas há previsão de outro grande ataque. O Telégrafo está correndo um risco especial de destruição; um escritório já foi incendiado pelos manifestantes e vários outros foram forçados a fechar. O escritório principal está agora fechado, com as operações transferidas para Jersey City.
"Em resumo, a cidade de Nova York está hoje à mercê de uma multidão, seja ela organizada ou improvisada, não sei ao certo. Até onde posso saber, os bombeiros e as companhias militares simpatizam demais com o movimento de resistência ao recrutamento para que se possa confiar neles para debelar incêndios ou restaurar a ordem." (E. S. Sanford para Stanton)
Aqui encontramos a narração de uma situação incrivelmente caótica na maior cidade de nossa nação, provocada pelo tumulto de apenas alguns milhares de homens, no máximo.
É interessante observar que "Os bombeiros e as companhias militares" simpatizam demais com o movimento de resistência ao recrutamento para serem confiáveis. Evidentemente, essas forças devem ter sido tão preponderantemente compostas de católicos irlandeses que não se podia contar com elas para desempenhar adequadamente suas funções.
Esses Registros Oficiais nos dizem ainda que "No dia seguinte (terça-feira), 14 de julho de 1863, Sanford enviou um telegrama a Stanton: 'Os desordeiros estão agora (12:00 horas) em posse da casa do prefeito Opdyke e a estão destruindo'."
Essa declaração aponta para o fato de que esses tumultos não foram algo que simplesmente irrompeu por uma ou duas horas, mas que "no dia seguinte" ainda estavam tão descontrolados que os desordeiros tinham o controle total da casa do prefeito da cidade.
Na tarde de 14 de julho de 1863, Sanford enviou um telegrama a Stanton: "Desculpe-me por dizer que essa multidão está testando o governo quase tão fortemente quanto a Rebelião do Sul.... É necessária uma ação imediata, ou o governo e o país serão desonrados".
Essas declarações não refletem as divagações ou reclamações temerárias de um indivíduo covarde; ao contrário, representam as crenças deliberadas e formais de um telegrafista do exército. Ele considerou as circunstâncias tão terríveis que transmitiu essas informações ao Secretário de Guerra em Washington apenas algumas horas depois de sua mensagem anterior para o mesmo quartel-general, ao meio-dia daquele mesmo dia.
A extrema urgência da situação pode ser mais bem compreendida quando se sabe que, no mesmo dia, pela segunda vez após o telegrama do meio-dia, Sanford enviou novamente um telegrama a Stanton: "Nada menos que 10.000 bons soldados nativos devem estar aqui neste momento para restaurar a ordem".
Quero chamar a atenção do leitor para a palavra "nativo" na comunicação acima. Isso mais uma vez comprova a suposição de que o grande número de imigrantes irlandeses que compunham uma porcentagem tão esmagadora do Corpo de Bombeiros, da polícia e da milícia eram absolutamente inúteis como forças para a preservação da lei e da ordem.
A agitação persistiu por vários dias e chegou ao fim na ocasião de um importante discurso proferido por John Hughes, o arcebispo católico de Nova York. Esse discurso ocorreu somente após vários regimentos terem sido enviados de Gettysburg. Em 17 de julho, o arcebispo Hughes falou para uma reunião de milhares de apoiadores, que ele convidou para ouvi-lo da varanda de sua residência. O New York Tribune publicou o texto completo do discurso de Hughes em 18 de julho, na página 8, coluna 3. Em uma correspondência telegráfica datada de 17 de julho de 1863, Sanford forneceu ao Secretário de Guerra Stanton um resumo dos comentários do arcebispo Hughes até as 14h45 daquele dia, citando Hughes como tendo declarado: "'Não me dirijo a vocês como presidente, nem como comandante militar, nem como prefeito, mas como seu pai. Vocês sabem que há anos sou seu amigo. Eu os apoiei com minha voz e minha pena. Agora, com relação aos motivos dessa infeliz agitação, reconheço que algumas de suas queixas podem ser imaginárias, embora muitas sejam de fato reais.' O arcebispo, que falou com grande clareza, captou efetivamente a simpatia da multidão de aproximadamente três a quatro mil pessoas."
A menção do arcebispo ao presidente, ao comandante militar e ao prefeito está impregnada de sarcasmo, pois era evidente que tanto o presidente quanto o comandante militar se tornaram ineficazes devido às limitações de suas forças. É importante observar que esse distúrbio ocorreu menos de dez dias após a Batalha de Gettysburg, na Pensilvânia. Como mencionado anteriormente, os exércitos do Sul haviam obtido vitórias significativas, repelindo as forças da União para dentro da Pensilvânia, enquanto o comando da União havia esgotado toda a mão de obra disponível nas regiões vizinhas, incluindo a cidade de Nova York, em um esforço para combater a ameaça que avançava. A referência do arcebispo ao prefeito foi igualmente sarcástica, especialmente à luz do recente ataque à residência do prefeito Opdyke apenas três dias antes de seu discurso. Notavelmente, o New York Times, em 18 de julho de 1863, um dia após o discurso, publicou o texto completo, que incluía as palavras do arcebispo: "Não me dirijo a vocês como presidente [risos] ou como governador, prefeito ou oficial militar [Ouve-se da multidão: 'O senhor vale por todos eles']. Eu me dirijo a vocês como seu pai [aplausos]". Os risos e zombarias da plateia indicam claramente que o sarcasmo do arcebispo repercutiu na multidão diversificada presente.
Great Riots, de Headley, p. 243, sob o título "Third Day", diz: "Os regimentos que voltam de (Gettysburg), Pensilvânia, podem chegar a qualquer momento.... O Sétimo Regimento, especialmente, ele (o comissário Acton) sabia que se esperava que chegasse à cidade naquela quarta-feira à noite por um trem especial...." O regimento não chegou até depois do amanhecer (quinta-feira, o "Quarto Dia").
A página 246 diz que foi nesta quinta-feira que o arcebispo Hughes fez um convite aos irlandeses para irem à sua casa no dia seguinte, sexta-feira, para ouvir seu discurso.
Na página 251, é registrado que "O Sexagésimo Quinto Regimento de Nova York chegou de Harrisburg à tarde (quinta-feira) e, pouco antes da meia-noite, o Centésimo Quinquagésimo Segundo também entrou na cidade". É compreensível que, na tarde de sexta-feira, o arcebispo tenha reconhecido que continuar com os tumultos seria imprudente e decidiu dispersar seus apoiadores irlandeses. Além disso, a página 265 indica que os desordeiros eram "predominantemente irlandeses".
As páginas 270 e 271 afirmam que foi estimado com autoridade que 1.200 manifestantes e 3 policiais foram mortos.
O fato de os negros terem se tornado um objeto especial da violência da multidão é mencionado dezenas de vezes nesse relato dos tumultos.
O historiador católico oficial Blied, em seu Catholics and the Civil War, p. 22-23, diz: "Daniel O'Connell, o libertador irlandês, tentou estimular os católicos americanos a participarem de um movimento abolicionista, mas seu esforço foi prontamente impedido, tanto no Norte quanto no Sul, por dois proeminentes filhos da própria Irlanda, o arcebispo Hughes, de Nova York, e o bispo England, de Charleston."
Daniel O'Connell, o libertador irlandês, parece ter sido realmente uma rosa entre os espinhos da Igreja Católica, e foi o único entre eles que se opôs veementemente a todos os aspectos da escravidão, e por isso descobrimos que ele foi severamente censurado em várias ocasiões pelos prelados da Igreja na América.
A citação acima, do católico Blied, não deixa dúvidas quanto à posição da Igreja Católica e sua atitude em relação à escravidão na América, já que ele afirma claramente que os esforços de O'Connell para estimular os interesses dos católicos americanos no movimento abolicionista foram "prontamente impedidos, tanto no Norte quanto no Sul, por dois filhos proeminentes da própria Irlanda, o arcebispo Hughes, de Nova York, e o bispo England, de Charleston". Leitor, leia essas palavras novamente.
E o próprio fato de esse historiador católico oficial afirmar que o arcebispo Hughes, de Nova York, interferiu no abolicionismo entre os católicos nos permitiria ver sua mão por trás dos motins do recrutamento na cidade de Nova York.
Temos uma dívida de gratidão para com o historiador Blied, que, na página 24 de sua obra, fornece mais evidências definitivas que ilustram o apoio inabalável da Igreja Católica à continuidade da escravidão entre os negros nos Estados Unidos. Ele observa: "Em Nova Orleans, o padre Perché era o editor do Le Propagateur Catholique. Essa publicação, firmemente alinhada com a Confederação, destacava o fanatismo dos abolicionistas e afirmava com orgulho que os onze estados do sul resistiriam à abolição." (A nota de rodapé faz referência a edições datadas de 21 de dezembro de 1861 e 4 de janeiro de 1862). "O editor expressou admiração pelo bispo Verot, de Savannah, por seu famoso sermão que defendia a escravidão e, ao promover a edição francesa, condenou os ensinamentos dos abolicionistas como falsos e criminosos."
Em uma época em que a população negra aumentou significativamente e seus direitos de voto são amplamente reconhecidos, a influência política que eles exercem também é reconhecida pela Igreja Católica. Esse reconhecimento levou a Igreja a ocasionalmente expressar sua oposição à segregação racial para seu próprio benefício. É digno de nota examinar as percepções do historiador católico Blied sobre a postura do bispo católico em relação aos negros durante o início da Guerra Civil.
Na página 25, Blied diz: "O bispo Martin de Natchitoches [Alexandria], um francês de nascimento, em sua carta sobre a guerra, datada de 12 de agosto de 1861, declarou que os brancos, como membros mais privilegiados da família humana, não deveriam ser apenas senhores dos negros, mas também seus pastores".
Em seguida, na página 65, Blied se refere novamente a esse bispo, dizendo: "O bispo Martin de Natchitoches [Alexandria], em 21 de agosto de 1861, publicou uma longa carta em francês na qual não apenas menosprezava os horrores da escravidão, mas exultava com as vitórias confederadas e dava sua opinião sobre a moralidade da guerra. Como seus colegas sulistas, ele não encontrou nada no governo do norte digno de admiração."
Nos trechos extraídos da História Católica oficial, as observações feitas por autoridades seniores da Igreja revelam uma falta de preocupação com o bem-estar da comunidade negra. Não há discurso sentimental sobre igualdade ou dessegregação; em vez disso, afirma-se que "os brancos, como membros mais privilegiados da família humana, estavam destinados não apenas a dominar os negros, mas também a servir como seus líderes espirituais". Além disso, na longa carta em francês, mencionada anteriormente e escrita aproximadamente vinte e quatro anos após McIntosh ter sido amarrado a uma árvore e queimado vivo em St. Louis – período durante o qual essas atrocidades sem dúvida aumentaram –, o bispo Martin não apenas minimizou os horrores da escravidão, mas também expressou satisfação com as vitórias confederadas ocorridas nas fases iniciais da guerra.
Blied, p. 61, cita o rev. Michael Kenny, S.J., "As intensas simpatias confederadas do Bispo Quinlan [de Mobile] eram notórias em Mobile; e tenho muitas histórias sobre isso de antigos padres jesuítas e de muitos soldados confederados e antigos residentes de Mobile".
Blied continua: "O bispo McGill, de Richmond, não estava menos entusiasmado com a causa sulista. ... ele promoveu o alistamento nas guardas de Emmet e Montgomery."
Na página 62, Blied diz que Verot, bispo de Savannah, pregou um sermão em 4 de janeiro de 1861. Nele, ele declarou que "Deus no Antigo Testamento, sob a lei da natureza e sob a lei de Moisés, não apenas não proibiu a escravidão, mas a sancionou, regulamentou e especificou os direitos dos senhores e os deveres dos escravos".
Na página 69, fica evidente que os bispos do Sul não apoiavam a União; pelo contrário, agiam como cúmplices da Confederação. A posição da Igreja Católica em relação ao abolicionismo a tornou querida para muitos sulistas, permitindo que uma parte significativa da culpa pela guerra fosse atribuída ao clero protestante. O leitor pode ter certeza de que a Igreja Católica não é "uma casa dividida contra si mesma".
Na página 73, Blied diz: "Em Nova York, James McMaster editou o Freeman's Journal. O editor era um convertido [católico]... um escritor brilhante; portanto, não é de surpreender que seu jornal fosse influente no norte. ... Como resultado de seus ataques à administração [em Washington], ele foi preso por um ano em Fort Lafayette e seu jornal foi suprimido de 24 de agosto de 1861 a 19 de abril de 1862."
A Igreja Católica procurou freneticamente explicar a carta do papa a Jefferson Davis, presidente dos Estados Confederados, como sendo simplesmente uma tentativa de incentivar a restauração da paz, e negou enfaticamente que fosse qualquer indicação de simpatia pelos Estados Confederados, mas nessa última citação acima temos algumas declarações muito claras feitas por um historiador católico oficial, em que ele diz que "Os bispos do Sul eram... apoiadores da Confederação".
Qualquer pessoa com um sólido entendimento da hierarquia da Igreja Católica e de sua dinâmica operacional, bem como da estreita colaboração entre a Igreja e seus bispos, acharia difícil acreditar que os "Bispos do Sul" não estivessem agindo de forma coordenada, direta e obediente, de acordo com as verdadeiras políticas do papado. Não se trata de um caso de "uma casa dividida contra si mesma". Segundo o Dicionário Webster, um cúmplice é definido como alguém que ajuda ou apoia, com sinônimos que incluem "acessório" e "cúmplice". O dicionário explica ainda que, em termos legais, um cúmplice é alguém que participa do planejamento e da promoção de um ato criminoso, se não de sua execução real. Um cúmplice é definido como um indivíduo que, ciente das intenções criminosas, se abstém de intervir para impedi-las, ao mesmo tempo em que fornece apoio ou ajuda a ocultar as atividades criminosas.
Pode-se argumentar que o historiador Blied não empregou o termo "cúmplice" em um contexto estritamente legal. Contudo, ao examinar o intrincado raciocínio apresentado pelo bispo England em sua correspondência com John Forsyth, em que ele diferencia meticulosamente os vários termos encontrados na bula do papa Gregório XVI, fica evidente que os católicos são deliberados em sua escolha de palavras, demonstrando uma consideração cuidadosa do significado de cada termo.
E essa cumplicidade parece claramente não ter se limitado à mera aquiescência nas atividades do Sul, mas se manifestou até o ponto de planejar e levar a efeito a conspiração para assassinar Lincoln.
Em João 16:2, lemos: "Vem a hora em que qualquer que vos matar pensará que está prestando um serviço a Deus."
Uma nota localizada na parte inferior das páginas 69 e 70 da obra de Winfield H. Collins, M.A., The Domestic Slave Trade of the Southern States, faz referência ao livro Slavery Unmasked, de Tower, especificamente a nota na parte inferior da página 53, que afirma "O relato a seguir me foi contado por uma pessoa familiarizada com os eventos que ocorreram na plantação do Sr. J, que abrigava aproximadamente 100 escravos. Um dia, o proprietário convocou todas as mulheres para um celeiro. Armado com um chicote, ele ameaçou açoitá-las até a morte. Em resposta, elas instintivamente gritaram: 'O que foi que fizemos, mestre?' Ele retrucou: '_____, vou fazê-las saber o que fizeram; vocês não estão se reproduzindo. Não vejo um filhote de vocês há vários meses'. Elas rapidamente responderam que não podiam se reproduzir enquanto trabalhavam nas valas de arroz". Em seguida, Winfield Collins acrescenta: "Slavery Unmasked foi publicado em 1856. Um relato quase idêntico pode ser encontrado em Interesting Memoirs and Documents Relating to American Slavery, publicado em 1846."
Essa data faz com que o incidente volte à época em que o bispo John England interpretou a carta apostólica de Gregório XVI como não sendo uma condenação da "escravidão doméstica praticada nos estados do Sul".
Na página 68, capítulo IV, Collins diz: "O Duque de Saxe Weimer diz: 'Muitos proprietários de escravos nos Estados de Maryland e Virgínia têm... viveiros de escravos, de onde os plantadores de Louisiana, Mississippi e outros Estados do Sul retiram seus suprimentos'."
E na página 69, Collins diz que, em uma narrativa de "uma visita às igrejas americanas" (por Reed e Mathesen), o escritor, ao falar sobre o acúmulo de negros nos Estados do Golfo, diz: "Os escravos são geralmente criados em alguns Estados como gado para o mercado do Sul".
Collins afirma ainda que Philo Tower apresenta um retrato mais impressionante, declarando: "Na Virgínia, assim como em Maryland, Carolina do Norte, Kentucky, Tennessee e Missouri, dedica-se uma atenção considerável à criação e à reprodução de negros, semelhante à de cavalos e mulas. É comum que os fazendeiros incentivem suas trabalhadoras, casadas ou solteiras, a ter filhos; fui informado de que muitas meninas negras são vendidas principalmente porque não geraram descendentes." Essa citação leva à reflexão sobre o fato de que tais práticas também prevaleciam na Carolina do Norte, que está sob a jurisdição da diocese do bispo England em Charleston, Carolina do Sul.
Moses Grandy, que nasceu escravo no condado de Camden, Carolina do Norte, acabou conquistando sua liberdade e escreveu um livro intitulado Narrative of the Life of Moses Grandy. A autenticidade de seu relato é apoiada por várias pessoas respeitadas, registradas na folha de rosto do livro. Essa obra foi publicada em 1844. Na página 23, Grandy relata o tratamento severo que ele e outros escravos sofreram sob o comando de Wiley McPherson, declarando: "McPherson atribuiu a mesma tarefa a todos os escravos; naturalmente, os indivíduos mais fracos muitas vezes não conseguiam concluí-la. Com frequência, eu o via amarrando e chicoteando pessoas pela manhã, simplesmente porque elas não tinham conseguido terminar o trabalho do dia anterior. Após o chicoteamento, ele aplicava salmoura de porco ou de carne bovina em suas costas dilaceradas para intensificar o sofrimento, enquanto ele se sentava por perto, descansando e observando a provação. Após essa punição brutal, as vítimas geralmente eram deixadas amarradas o dia todo, com os pés mal tocando o chão, as pernas amarradas e pedaços de madeira presos entre elas. O único movimento permitido era uma leve virada do pescoço. Nesse estado vulnerável, numerosas moscas amarelas e mosquitos se aglomeravam em torno de suas costas feridas e inflamadas, causando ainda mais agonia. Esse tormento persistia durante todo o dia, pois as vítimas só eram libertadas ao anoitecer. Durante os açoites, às vezes ele cobria a cabeça do escravo com a camisa para evitar que ele recuasse diante dos golpes; em outras ocasiões, ele exacerbava o sofrimento deles provocando-os com ameaças de mais punições, que ele podia ou não cumprir. Eu o vi espancá-los com tanta ferocidade que seus órgãos internos se tornaram visíveis, e vi os corpos sem vida daqueles que foram derrubados depois. Ele nunca foi responsabilizado por suas ações." O livro Bancroft's History, p. 173, faz referência a um anúncio na coluna City Intelligence do Charleston Courier, de 15 de fevereiro de 1860, que mencionava 220 escravos da propriedade de J. E. McPherson.
Não é de surpreender que McPherson não tenha sofrido nenhuma repercussão por suas ações, já que ele era o proprietário dos escravos, considerando-os sua propriedade pessoal. Em geral, os Estados do Sul não tinham leis que classificassem esse tipo de tratamento como crime ou mesmo contravenção. Embora alguns estados tenham promulgado leis que proibiam os senhores de assassinar seus escravos, essas regulamentações muitas vezes se tornavam ineficazes devido a cláusulas que exoneravam os senhores nos casos em que os escravos resistiam violentamente à punição. Considerando que em todos os Estados do Sul os negros não podiam testemunhar em juízo contra os brancos, fica evidente a liberdade com que os senhores podiam e infringiam os direitos físicos e morais de seus escravos.
Esse livro, escrito em 1844, provavelmente abordou as experiências do ex-escravo Grandy durante os anos que antecederam sua publicação. Ele relata eventos que refletem a realidade da "Escravidão doméstica praticada nos Estados do Sul", uma prática que a Igreja Católica não denunciou na época. Esse contexto está situado na Carolina do Norte, que estava sob a jurisdição do bispo John England, de Charleston. Naquele período, havia alguns membros negros da Igreja Católica em Charleston. É razoável supor que esses escravos católicos, plenamente conscientes das terríveis circunstâncias que enfrentavam, comunicaram essas questões a seus padres e bispos, inclusive ao bispo England. É muito provável que o bispo England estivesse ciente dessas questões.
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