Conspiração estrangeira contra as liberdades dos Estados Unidos – Observações preliminares

As páginas seguintes, escritas para o New York Observer no início de 1834 e durante várias semanas de confinamento por indisposição, foram, talvez, mais extensivamente reproduzidas nos jornais religiosos das diferentes denominações cristãs do que quaisquer comunicações de mesma extensão desde o estabelecimento dos jornais religiosos (com talvez uma única exceção). E embora o assunto seja quase totalmente político e forneça provas de uma séria conspiração estrangeira contra o governo, ainda assim o autor não tem conhecimento de que um único jornal secular nos Estados Unidos tenha se dado ao trabalho de investigar o assunto, ou mesmo de questionar se, de fato, há boas razões para acreditar que seja verdade. O silêncio da imprensa secular sobre um assunto que despertou a atenção de um grupo tão expressivo da comunidade protestante pode, na verdade, ser explicado em parte (senão totalmente) pelas disputas eleitorais envolventes que agitaram o país de um extremo a outro. Pois o autor certamente relutaria muito em admitir que os periódicos seculares não ousam atacar o papado, algo que tem sido repetidamente instigado por muitos. Ele se recusará a acreditar que essa falta de ousadia se interpôs no caminho do dever de qualquer dirigente patriótico independente da imprensa americana. [1]

A pedido de muitos cidadãos, não obstante suas crenças e preferências políticas, o autor consentiu em reunir os artigos em um panfleto, com a adição de notas explicativas dos muitos assuntos que não poderiam ser tão bem introduzidos nas colunas de um jornal.

Que há um esforço vigoroso e sem precedentes dos governos tirânicos da Europa para difundir o papado neste país, é um fato demasiado evidente para ser questionado. Se os documentos oficiais publicados recentemente não colocam esse fato acima de qualquer dúvida, o próprio autor teve acesso pessoal a evidências suficientes para convencê-lo da realidade e do objetivo político do empreendimento enquanto residia na Itália nos anos 1830-31, obtidas a partir de conversas com nobres e cavalheiros de diferentes países, com oficiais de vários governos estrangeiros, de visitas aos estados romano e austríaco, e com padres e outros eclesiásticos da fé romana. Às vezes, a informação era sugerida como que para atenuar antecipações demasiadamente otimistas do triunfo do experimento de nosso governo republicano democrático. Outras vezes, era-lhe revelado pelos padres, em tom de exultação, que uma causa estava em andamento, a qual certamente derrubaria nossas instituições e gradualmente nos levaria em direção a uma forma de governo menos detestável ao orgulho e menos perigosa à existência dos antiquados sistemas despóticos da Europa. Além dessas evidências fornecidas ao autor sobre os esforços dos governos europeus no sentido de levar o papado para todas as nossas fronteiras, outros viajantes americanos testemunharam sugestões semelhantes. Um deles me autorizou a dizer que o célebre naturalista, o falecido Barão Cuvier, conhecido também como um zeloso protestante, perguntou a ele, com sinais de preocupação, se era realmente verdade que o papado havia feito tal progresso nos Estados Unidos, a ponto de causar exultação entre a realeza europeia (o que parece não ser segredo). E ainda, que um membro distinto de uma das embaixadas protestantes alemãs em Roma também lhe fez perguntas semelhantes, tendo ouvido muito alarde sobre o progresso do papado nos Estados Unidos, acrescentando esta observação pertinente: "Eles serão martelo ou pregos, senhor. Perseguirão ou serão perseguidos". Esses fatos podem contribuir tanto para corroborar outras provas de conspiração reveladas nestas páginas, como para mostrar que, entre as várias classes dominantes da Europa, o empreendimento de uma cruzada papal neste país não é só um assunto notório, mas é visto com grande interesse e é considerado como tendo uma importância política significativa.

Nas páginas seguintes, o autor optou por basear a evidência da conspiração principalmente em documentos oficiais publicados em Viena, porque foram traduzidos e publicados, [2] e estão ao alcance de qualquer cidadão americano que decida examiná-los atentamente. O autor também se valeu de fatos sobre as operações dos agentes papais neste país, na medida em que sua atuação foi ocasionalmente revelada.

Para concluir, o autor deve acrescentar que não está escrevendo no interesse de uma denominação religiosa ou de um partido, pois a questão envolvendo o papado não se restringe a nenhum partido político. O autor adquiriu muita experiência em países estrangeiros para se identificar com os interesses locais de um mero partido em seu país, seja no âmbito religioso ou político. As grandiosas características democráticas das instituições americanas, em contraste com os sistemas despóticos, monárquicos e aristocráticos da Europa, são para o autor motivo de admiração, pois lhe pareciam mais corajosamente reveladoras vistas do exterior, contrastando marcadamente com tudo ao seu redor. E ele está totalmente convencido de que, uma vez que sigam livremente seu curso, sem nenhuma obstrução, exceto pelos controles naturais da educação e da religião, essas instituições democráticas ativamente e universalmente difundidas e sustentadas são mais favoráveis à liberdade civil e ao triunfo da verdade e à felicidade humana do que quaisquer outras instituições civis no mundo. O autor que nutre essas convicções considera um dever imperativo alertar a todo custo seus compatriotas sobre um inimigo sutil da democracia americana e conclamá-los, na medida em que valorizam suas instituições civis e religiosas, a observar as formas multifacetadas do papado, a suspeitar e temer mais quando ele se alia aos nossos interesses sob o disfarce de um amigo.

A desconfiança em relação a tudo o que o papado faz ou pretende fazer em qualquer parte do país, seja como amigo ou inimigo, é o único sentimento que a verdadeira caridade, a caridade universal, nos permite.

Nova York, janeiro de 1835.


1. Um amigo a quem essa parte foi lida sorriu e disse: "Você é bastante cauteloso em sua linguagem, mas quantos dirigentes patrióticos independentes da imprensa americana existem? Você pode citar pelo menos um?"

2. No New York Observer, dos meses de janeiro e fevereiro de 1834.


Capítulo 1

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