Como consequência de sua resposta à pandemia, o poder do estado cresceu de modo assustador nos últimos quinze meses, tanto em escopo quanto em escala, e, por isso, vivemos no período mais obscuro para as liberdades individuais.
Vigilância e monitoramento dos cidadãos, penas desproporcionais, coleta arbitrária de dados, identificação biométrica, intimidação e repressão devido a pontos de vista divergentes sobre assuntos de interesse público... As reações do estado à crise sanitária sob o pretexto da segurança estão estabelecendo um precedente terrível. Como Thomas Jefferson advertiu: "A maior calamidade que poderia nos acontecer seria a submissão a um governo de poderes ilimitados".
Nada, porém, ilustra melhor a maneira pela qual a lógica inerente a estas políticas tem levado os governos a um tipo de coerção até há pouco tempo impensável, do que os chamados "certificados de imunidade" ou "passaportes de saúde", uma medida que expandirá ainda mais os poderes estatais sobre o cidadão.
Em 24 de março de 2020, Bill Gates se referiu a esses passaportes em uma entrevista a Chris Anderson, o curador do TED, a organização sem fins lucrativos que dirige as famosas séries de palestras, justificando seu emprego como uma forma de identificar pessoas imunizadas e, assim, garantir seu direito de ir e vir. Em outras palavras, pessoas sem essa certificação poderiam ser privadas desse direito.
Era evidente na ocasião que a adoção desses certificados criaria uma sociedade de dois níveis, em que um grupo teria acesso aos direitos básicos que era possível desfrutar livremente antes da pandemia e o outro, não.
Nos meses seguintes, governos ocidentais sinalizaram que não adotariam essa política. Mas, contrariamente às suas declarações, empresas estão se unindo ao governo para impor a política dos passaportes de saúde, de maneira que, a princípio, os governos não precisarão implantar essa medida arbitrária, uma vez que as empresas estão fazendo isso por eles.
Assim, os passaportes de vacinação estão sendo implementados sem qualquer supervisão ou consentimento do público. Sua admissão tem consequências devastadoras e de longo alcance para as liberdades constitucionais. O direito de acesso à economia é negado.
Como Birsen Filip observou, liberdade econômica significa basicamente liberdade para consumir, trocar, produzir e cooperar de forma espontânea e voluntária.
Em outras palavras, se as ações coercitivas do estado violassem ou abolissem a liberdade econômica, os indivíduos seriam essencialmente privados da liberdade geral, incluindo liberdade de discurso, liberdade de expressão, liberdade de religião, liberdade de reunião, liberdade de imprensa e liberdade intelectual.
Refletindo sobre as mesmas implicações de tal política, Brandon Smith escreveu:
Muitas pessoas parecem não entender que existem diferentes tipos de monopólios com os quais precisamos nos preocupar. Monopólios nas redes sociais e nas comunicações são um exemplo, mas e os monopólios ideológicos em geral? Você pode ter uma centena de pequenas empresas e grandes varejistas em uma comunidade, mas se todos eles decidirem cumprir coletivamente as leis contra a covid, ou se todos eles forem obrigados a fazer cumprir essas leis, todas as opções serão indistintamente removidas do mercado. Este é um monopólio ideológico tão perigoso quanto qualquer monopólio corporativo.
Naturalmente, você pode se recusar a tomar a vacina, mas se a maioria das empresas em sua comunidade exigir uma prova de vacinação antes que você possa trabalhar ou fazer compras nelas, sua recusa virá com a promessa de pobreza e possivelmente fome. Você seria completamente excluído da economia convencional.
Por mais assustador que seja, é em direção a essa realidade que o mundo caminha rapidamente.
Na Alemanha, por exemplo, um certificado digital de vacinação permitirá que os usuários baixem o comprovante de seu status de vacinação em um aplicativo no smartphone, o que lhes possibilitará acesso a restaurantes, museus e outros locais que exijam prova de imunização.
No chile, a ausência desse documento digital impediu que uma idosa de 100 anos fizesse compras em um supermercado em Santiago. O segurança do estabelecimento que negou sua entrada insistiu que perderia o emprego se permitisse seu acesso sem o certificado de imunização.
Mesmo uma pequena aldeia no Alasca com menos de 500 habitantes está exigindo que os moradores sejam totalmente vacinados para que possam fazer compras presencialmente.
Medidas emergenciais podem começar como respostas justificáveis a preocupações legítimas, mas invariavelmente se tornam instrumentos de conformidade e controle nas mãos de governos que tiram proveito das crises para aumentar seu poder.
Sabemos que essas pequenas tiranias e hostilidades contra os interesses dos indivíduos, da sociedade e do estado de direito em nome do bem social são uma preparação para a crise vindoura (veja, por exemplo, Apocalipse 13:16-17).
Mas não devemos esquecer que elas também representam uma prova para o povo de Deus no presente.
A quem vamos obedecer?
Qualquer pessoa que sustente um posicionamento contrário às políticas de saúde em vigor, seja por questões de razão ou consciência, se expõe ao risco de ser ridicularizada como anticientífica, considerada egoísta e censurada. A atmosfera de medo e intimidação em torno desse assunto diz muito sobre os tempos tenebrosos em que vivemos. Mas o problema não para aí.
Como mencionei há pouco, as políticas cada vez mais restritivas estão criando uma sociedade de duas camadas, em que as liberdades e direitos básicos são garantidos apenas para os totalmente imunizados, ao passo que os não imunizados são tratados como cidadãos de segunda classe.
De que maneira isso nos afeta como igreja? Considere a seguinte situação.
O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde dos EUA) publica em seu website um guia atualizável sobre relacionamentos e atividades consideradas seguras, distinguindo entre vacinados e não vacinados. Nos exemplos de atividades em ambientes fechados, o CDC inclui a "plena assistência aos serviços de adoração" e "cantar em um coro" como atividades "seguras" para os totalmente vacinados e "minimamente seguras" para os não vacinados.
Pense por um instante no significado prático dessa distinção e seu impacto no modo como conduzimos a igreja de Deus.
Sabemos que é um dever moral reconhecer e obedecer à autoridade devidamente constituída e às leis do país enquanto forem justas e legitimamente exercidas. Mas quando suas reivindicações estão em desacordo com as reivindicações e princípios do reino de Deus, devemos fazer a escolha de Atos 5:29 e deixar com Deus as consequências.
Evidentemente, a vacina não é a marca da besta, mas as mesmas questões fundamentais de consciência e liberdade religiosa estão envolvidas, ainda que em menor escala, e devemos prestar atenção a elas.
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