O “novo normal” e o fim da liberdade


Desde os atentados terroristas de 11 de setembro, o mundo ocidental tem caminhado a passos largos em direção ao que Ayn Rand chama de o "estágio da inversão final" que caracteriza os períodos mais sombrios da história, "o estágio do governo pela força bruta" [1]

Nesse estágio, os cidadãos podem agir apenas com permissão, ao passo que o governo, livre das restrições impostas pelas liberdades civis, pode fazer o que bem entender em nome da segurança pública.

Sim, a tirania sempre começa em nome do "bem comum", e o primeiro passo consiste em remover as proteções constitucionais enquanto o medo e a desorientação provocados pelo choque de uma crise impedem os cidadãos de vigiar as ações de seu governo.

É suficientemente reconhecido que a elite política usa o medo e o intensifica para aumentar seu próprio poder.

Ao engendrar o medo público, essa elite espera induzir o cidadão a aceitar sem questionamentos restrições às suas liberdades civis que ele nunca aceitaria em outras circunstâncias.

Assim, o cidadão é privado dos meios de obrigar seu governo a restringir suas ações, e as medidas emergenciais em resposta à pandemia se tornam políticas permanentes ao serem incorporadas à estrutura governamental.

Medo e conformidade estão definindo os contornos do "novo normal". As políticas invasivas, a propaganda e o condicionamento ideológico serão cada vez mais onipresentes e constantes. Trata-se de um caminho sem volta.

Mais alguns exemplos perturbadores

O que vem a seguir parece ter saído das páginas de uma obra de ficção, mas representa apenas um aspecto daquilo que o The Economist chamou de "a extensão mais dramática do poder do estado desde a Segunda Guerra Mundial". [2]

Mais uma vez, não se trata de questionar a legitimidade das medidas restritivas do ponto de vista da saúde pública, mas de chamar a atenção do leitor para a ameaça aos princípios democráticos de liberdade quando o governo eleito pelo povo trata seus cidadãos como suspeitos e criminosos.

Na França, policiais da tropa de choque (sim, da tropa de choque!) invadiram um bar em Paris, onde torcedores assistiam à final de um campeonato de futebol, e os removeram violentamente por não respeitarem o distanciamento social. Mais de 200 pessoas receberam advertências da polícia por não usarem proteção facial.




E na Espanha, duas mulheres foram espancadas por uma policial, aparentemente por não usarem proteção facial de maneira adequada (as imagens podem impressionar alguns).


Estes dois casos, que aconteceram há poucos dias e em países com longa tradição democrática, lembram o incidente ocorrido na Filadélfia no auge da pandemia, quando policiais retiraram violentamente um homem de um ônibus porque ele se recusou a usar máscara.

Estas medidas policiais e invasivas, no entanto, não são exclusividade do poder público.

Uma universidade de Michigan está exigindo que os alunos baixem um aplicativo que rastreia em tempo integral sua localização e informações médicas privadas, sob o pretexto de protegê-los do coronavírus.

Segundo o Free Beacon, a Albion College é uma das primeiras universidades dos Estados Unidos a adotar o rastreamento de contatos.

Os alunos devem permanecer dentro de um perímetro de 4,5 milhas da universidade durante todo o semestre. Se um aluno sair do perímetro, o aplicativo notificará a administração e o aluno poderá ser temporariamente suspenso.

Além de baixar o aplicativo, os alunos devem passar por uma quarentena obrigatória de três dias depois de regressarem ao campus.

Eles receberão uma lista de "estabelecimentos aprovados" que podem frequentar e deverão preencher um formulário online com cinco dias de antecedência caso planejem deixar o campus para atividades "aprovadas", como consultas médicas, obrigações religiosas e "obrigações familiares significativas"!

Se isso não for orwelliano, nada mais será.

Transição para um “novo” mundo

Thomas Jefferson escreveu:

A liberdade legítima é a ação desobstruída de acordo com nossa vontade, limitada pelo igual direito de terceiros. Não acrescento "nos limites da lei", pois a lei é, muitas vezes, apenas a vontade do tirano, e sempre o é, quando viola os direitos do indivíduo.

Ele também disse que a "maior calamidade que poderia nos acontecer seria a submissão a um governo de poderes ilimitados".

A liberdade legítima não pode subsistir em um governo com poderes ilimitados, cuja tirania é legalmente reconhecida.

A maior calamidade provocada pela atual crise não está relacionada à saúde pública, mas às nossas liberdades constitucionais.

O que estamos testemunhando não é outra coisa senão a transição para uma ordem política e social que nega os princípios democráticos ocidentais de liberdade e governo do povo.

Agora, pense por um instante. Qual organização será mais favorecida com esta ordem de coisas?

Escrevi recentemente que o papado, em virtude de sua estrutura rigidamente hierárquica e das pretensões temporais de seu chefe, dialoga melhor com um estado forte e autoritário, do que com um sistema no qual o poder soberano reside no povo.

Como observou perceptivamente Samuel Morse [3], o princípio de governo que Roma reconhece é o da subserviência do povo, o da absoluta dependência que se espera de um súdito, o da submissão passiva aos comandos de quem governa, em que o governante é o mestre e o povo é escravo.

Esse princípio não pode coexistir com o princípio que sustenta a supremacia do povo, a igualdade de direitos e poderes do cidadão, e a submissão às leis que emanam do próprio povo, em que o governante é servo, e o povo é mestre.

Para o catolicismo (refiro-me ao sistema, e não aos católicos sinceros), o estado ideal é [4]

... um estado em que cada um se coloca humilde e voluntariamente no nicho orgânico que lhe foi designado pela autoridade suprema, sem qualquer desejo "diabólico e desarmonioso" de abandoná-lo. É assim que se constrói a própria Ordem dos Jesuítas, e esta é a meta católica ideal para estados e grupos de estados na ordem política e social. É o sistema orgânico, estático, hierárquico, integralista e corporativo do ensino nazifascista.... Está em oposição direta ao conceito não integralista, dinâmico, liberal, livre e democrático de ordem política e social.

Um estado civil autoritário não pode funcionar adequadamente sem o auxílio de um sistema eclesiástico autoritário, assim como um estado baseado em eleições livres é impossível sem o apoio espiritual e a nutrição de uma igreja livre. [5]

Os efeitos colaterais da crise pandêmica representam, pois, a oportunidade do século para o papado, a maior desde a assinatura do Tratado de Latrão em fevereiro de 1929.

Roma papal nunca renunciou às suas pretensões quanto ao seu poder temporal, e renuncia hoje menos que nunca. [6]

O lado positivo desta história perturbadora é que estamos hoje mais próximos do cumprimento de profecias como as de Apocalipse 13:11-17; 16:13-14; e 17:12-13 do que em qualquer outro momento da história recente, o que significa que a vinda de nosso amado Senhor Jesus está mesmo às portas!

Que o Senhor nos desperte e nos capacite por meio de Seu Espírito a fim de que sejamos testemunhas vivas da Palavra de Deus e do Testemunho de Jesus num tempo em que as trevas da opressão e da ignorância cobrem a terra.

Notas e referências

1. Ayn Rand, Capitalism: The Unknown Ideal. New York: The New American Library, 1967, p. 332.

2. The Economist, 28 de março de 2020, p. 7.

3. Samuel F. B. Morse, Foreign Conspiracy against the Liberties of the United States. Fifth Edition. New York: H.A. Chapin & Co., 1841, p. 50-52.

4. L. H. Lehmann, Behind the Dictators: A factual analysis of the relationship of Nazi-Fascism and Roman Catholicism, 1942, p. 24.

5. Ibid., p. 43.

6. Joseph Bernhart, O Vaticano: potência mundial. História e figura do Papado. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1942, p. 334.

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