O último apelo divino



A obra do primeiro anjo consiste em proclamar ao mundo o evangelho eterno, imutável, que apresenta Jesus Cristo como a solução para a aflitiva condição humana.

Almas sedentas, abatidas e desorientadas podem encontrar no evangelho a fonte única de vida e graça, obtendo não apenas o perdão, mas também a purificação e a justiça de Cristo, através dos quais podem praticar a vontade de Deus (I João 1:9; Romanos 6:17-18).

Não admira que esta grandiosa abertura do evangelho seja feita "em grande voz", significando que Deus deseja que Seu último convite da graça seja ouvido por todos, indistintamente.

Os que ouvem o evangelho e são convertidos por Cristo desejarão compartilhar com outros a Seu respeito. Sob a direção do Espírito Santo, anunciarão as boas novas da salvação como uma força viva que transforma o caráter, e não como uma teoria sem vida.

O sentido bíblico de temer a Deus


O convite para temer a Deus em Apocalipse 14:7 nada tem que ver com o medo, nem tampouco com o terror que os ímpios sentirão durante a volta de Cristo (Apocalipse 6:15-17).

O temor do Senhor significa, antes, profunda reverência e respeito diante de Sua santa presença, tendo em vista a compreensão e aceitação de Seu caráter, majestade e poder em contraste com nossa própria indignidade.

A consciência de encontrar-se na presença de Deus, mediante a fé, é que dá lugar à verdadeira santificação do crente, na medida em que este vive cada momento sob o olhar compassivo e misericordioso de um Deus santo.

Temer a Deus transmite a ideia de completa submissão à Sua vontade, de incondicional lealdade e obediência aos mandamentos divinos pela fé em Jesus. Constitui a origem e o fundamento da verdadeira adoração, devoção e serviço.

Tal relacionamento com Deus encontra no amor, e não no medo, sua mais perfeita expressão, pois o amor fino, como dom de Deus, não pode dar margem ao medo. Pelo contrário, o amor é capaz de eliminar todos os outros temores e ansiedades provocados pelo pecado e preservar o crente de seus efeitos destrutivos, como diz a Escritura:

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. (I João 4:18)
No temor do Senhor, tem o homem forte amparo, e isso é refúgio para os seus filhos. O temor do Senhor é fonte de vida para evitar os laços da morte (Provérbios 14:26-27)

A dimensão moral de temer a Deus


Não obstante, o temor do Senhor requer de cada pessoa uma firme resolução diante da realidade do juízo e castigo eterno. Uma rejeição aos princípios de vida de Cristo e Sua oferta de salvação resultará inevitavelmente em uma pena de consequências eternas que não pode ser menosprezada. Com efeito, a Bíblia diz:

O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca do perverso, eu os aborreço. (Provérbios 8:13)
Feliz o homem constante no temor de Deus; mas o que endurece o coração cairá no mal. (Provérbios 28:14)

A comparação entre a nossa natureza e a natureza de Cristo provê a valiosa oportunidade de corrigir, mediante o poder do Espírito Santo, tudo aquilo que nos priva das bênçãos de Deus, e nos ajuda a manter-nos vigilantes contra os ardis de Satanás. Se resistirmos ou recusarmos esse auxílio divino, não nos sobrevirá outra coisa senão a ruína da alma.

A decadência moral e o aumento vertiginoso da impiedade em nosso tempo são uma evidência assustadora da ausência do temor de Deus no coração do homem, e indicam com inegável clareza que o Espírito Santo não agirá para sempre na consciência dos que se recusam a atender ao chamado divino.

De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. (Eclesiastes 12:13-14)

Como já foi observado, a graça de Deus não exclui a necessidade de obediência à Sua lei, mas nos concede a oportunidade de sermos leais a Ele, o que não seria possível de outra forma. O medo de perseguição ou preconceito por aceitar o plano de Deus é substituído pelo temor de Deus, que conduz à observância de Seus mandamentos.

O chamado do primeiro anjo para temer a Deus consiste de um solene aviso sobre a importância da verdade divina como um todo e adverte contra qualquer iniciativa que procure associá-la a falsos ensinos ou colocá-la ao nível das coisas comuns. Conceitos errôneos sobre Deus e nosso dever para com Ele fatalmente resultam em confusão religiosa.

Infelizmente, a religiosidade pós-moderna tem sido bem sucedida nesse sentido, ao favorecer uma experiência existencialista com Deus baseada em uma compreensão imanentista e panteísta da Divindade. Como consequência, os pós-modernos sentem a necessidade de um Deus que não é o Deus tradicional da Bíblia, mas uma substância de si mesmos, elevada a um status divino. (1)

Promessa para os que temem a Deus


O convite do primeiro anjo para temer a Deus (Apocalipse 14:7) inclui uma grande promessa, revelada em Malaquias 3:16-18.

O temor do Senhor evita a perda da verdadeira espiritualidade e nos estimula a cumprir a vontade de Deus como revelada em Sua Palavra (I Tessalonicenses 4:3; II Coríntios 7:1). Infunde o senso de indignidade diante da presença de Deus e favorece nossa maior dependência dEle. Fortalece nosso caráter para fazer o que é correto, mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis.

Longe de ser arbitrário e opressivo, o temor reverente constitui o meio pelo qual Deus nos concede perdão, santidade e livramento. O resultado se resume na distinção entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não O serve.

Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos na estrebaria. (Malaquias 4:2)

Deus promete honrar a perseverança e a fidelidade de todos os que, pela fé em Jesus, desejarem obter o temor do Senhor:

Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. (Provérbios 2:1-5)

Glorificando a Deus


Em Apocalipse 14:7, o incisivo convite para temer a Deus vem acompanhado do apelo para glorificá-lO. Glorificar a Deus é o resultado de temê-lO.

Durante Seu ministério terrestre, Jesus Cristo manifestou fino amor em atos de serviço e redenção tendo em vista elevar a condição humana e reconciliar a humanidade com Deus (Atos 10:38). Através de Seu exemplo e graça, podemos adotar um estilo de vida piedoso e abnegado, de proveitoso serviço ao próximo.

O mundo está mais propenso à glorificação própria. Moda, ambição e status social promovem a exaltação do próprio eu e a condescendência com a natureza carnal. Somos diariamente induzidos a satisfazer nossos desejos de maneira egoísta, imprópria e exagerada. A mensagem do primeiro anjo rompe com esse padrão fútil e superficial e nos conduz de volta ao propósito original de Deus na criação.

O apóstolo Paulo, cuja conduta de abnegação e serviço também é digna de imitação, exortou:

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12:2)

Ellen G. White observa perceptivamente:

É praticando em nossa vida os puros princípios do evangelho de Cristo que honramos e glorificamos nosso Pai, que está no Céu. Ao fazer isso, estamos refletindo sobre o escuro mundo ao nosso redor a luz dada pelo Céu. Pecadores serão levados a admitir que não somos os filhos das trevas, mas os filhos da luz. Como eles saberão isso? Pelos frutos que produzimos. Homens podem ter seus nomes no livro da igreja; isso, porém, não os torna filhos da luz. Podem ocupar posições honrosas e receber o louvor dos homens; isso, porém, não os torna filhos da luz. (...) Precisa haver uma profunda obra da graça - o amor de Deus no coração, e esse amor é expresso pela obediência. (2)

Eis aqui o desafio de Deus em Seu derradeiro apelo na mensagem do primeiro anjo. Se escolhermos ouvi-lo a atendê-lo, Ele certamente suprirá todas as nossas necessidades (Filipenses 4:19)!

Notas e referências


1. Vanderlei Dorneles. Cristãos em Busca do Êxtase: Adoração e Espiritualidade no Cenário Atual. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, p. 29.

2. Ellen G. White. Exaltai-O - Meditação Matinal 1992. Tatuí, SP: CPB, p. 267.

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