A posse de Donald Trump e os eventos finais



Com a posse de Donald Trump como o 45º presidente dos Estados Unidos, o pêndulo da política americana oscila mais uma vez em direção ao discurso conservador, e desta vez com maior tenacidade, em vista do legado liberal da administração Obama.

Sem dúvida o evento representa um novo marco no cumprimento das profecias de Daniel e Apocalipse, não no sentido de que o evento em si tenha sido previsto, mas no que diz respeito ao curso dos acontecimentos que a política de Trump poderá determinar, ou seja, as tendências que suas ações poderão favorecer durante o seu governo.

Do discurso histórico de Trump na ocasião da posse, duas frases chamaram minha atenção. A primeira delas foi o mote de sua campanha:

Juntos nós iremos tornar a América grande novamente.

Uma América grande para os americanos, naturalmente. Contudo, o governo de Donald Trump poderá criar as condições ideias para que o país seja grande o bastante para, num futuro próximo, usar seu poder e influência de modo a levar outras nações a reconhecer o papado como o líder espiritual do mundo, dentro da proposta de uma nova ordem mundial (para compreender o papel profético dos EUA nos últimos acontecimentos, clique aqui).

Unir todas as nações sob uma única autoridade religiosa com força política suficiente para impor sansões econômicas e perseguir os que se recusam a aderir à nova ordem (Apocalipse 13:14-17) é prerrogativa de uma superpotência, neste caso os Estados Unidos. Mas isso significaria trair os princípios que fizeram dessa nação um baluarte da liberdade civil e religiosa. As tendências em curso na América demonstram, contudo, que esses princípios não só têm sido desafiados, mas abertamente atacados por aqueles que deveriam protegê-los.

Referindo-se ao plano de subsidiar igrejas com recursos públicos para a prestação de serviços sociais, iniciado no governo de George W. Bush e mantido pela gestão de Obama, o ex-presidente americano Jimmy Carter escreve:

O financiamento do governo de programas sociais por meio de "iniciativas baseadas na fé" apela a grupos religiosos que não têm escrúpulos em derrubar a parede histórica entre religião e governo.

E acrescenta:

Há uma ampla, clara e imperdoável cruzada sendo cuidadosamente articulada em ambos os lados para fundir os cristãos fundamentalistas com a ala direita do Partido Republicano. Embora possa ser considerada como desejável por alguns norte-americanos, esta fusão entre Igreja e Estado é bastante preocupante para os que sempre acreditaram nessa separação como um de nossos valores morais. (1)

E são esses mesmos grupos que Donald Trump pretende favorecer, caso cumpra as promessas feitas durante a campanha. É possível que esse apoio estratégico seja parte da nova orientação política a qual o recém-empossado presidente dos EUA se referiu em seu discurso, a segunda de suas declarações que me parece mais significativa:

Deste dia em diante, uma nova visão vai governar nossa terra.

A nova visão que governará o país incluiria, então, o possível cumprimento de promessas de campanha sobre questões caras aos cristãos conservadores, algumas das quais eu pessoalmente partilho, como a defesa da vida e da família, mas que, além de implicarem uma interferência cada vez maior da religião na esfera pública, algo que ameaça a separação constitucional entre Igreja e Estado na América, também poderão ensejar outras questões menos virtuosas, como a observância compulsória do domingo, em nome do "bem comum".

Consideremos, por exemplo, a promessa de Trump de revogar a Emenda Johnson. Proposta pelo então senador democrata Lyndon B. Johnson e aprovada pelo Congresso em 1954, a lei proíbe as organizações que gozam de isenção fiscal - como igrejas e outras entidades sem fins lucrativos - a "participar ou intervir (incluindo publicar ou distribuir declarações) em qualquer campanha política em nome de (ou em oposição a) qualquer candidato a cargos públicos". Recentemente, a proibição tornou-se controversa entre os conservadores, os quais argumentam que a lei fiscal federal viola a liberdade de expressão das igrejas sobre questões de importância pública.

Em entrevista transmitida pela EWTN, e publicada no site do National Catholic Register, Trump declarou:

As pessoas religiosas não têm [liberdade de expressão], você sabe, elas simplesmente não estão tendo, elas não estão sendo aceitas. É quase como se elas não fossem aceitas em nosso país. A administração Obama tem sido um desastre, em termos de liberdade religiosa. E uma das coisas de que estou muito orgulhoso: eu estive com pastores, ministros, padres, rabinos em numerosas ocasiões, em grande número. E na primeira reunião, pude perceber que tinha um apoio tremendo. E eu disse: "Quando vocês vão me apoiar [oficialmente]?" E eles responderam: "Nós não podemos fazer isso". E eu disse: "Por que não podem?". Eles disseram: "Não é permitido fazê-lo. Se o fizéssemos, perderíamos nosso status de isenção fiscal".
E eu disse: "Por que isso?" E eles me contaram sobre a Emenda Johnson, de 1954. E eu pensei sobre isso por um mês. E tivemos uma nova reunião - 56 diferentes pastores, ministros, etc., e eu disse: "Vamos nos livrar da Emenda Johnson, porque nossos pastores e ministros devem ter o direito de falar publicamente sobre o que pensam". Estas são pessoas que respeitamos, e elas realmente estão impedidas de proferir suas opiniões. Se o fizerem, todo o seu status de isenção fiscal poderá ser tirado.
Então estamos nos livrando [da Emenda Johnson]... e eu acho que é uma das coisas mais importantes que vou fazer pelos evangélicos e pela religião. Então, eu acho que é muito, muito importante. Assim, vamos nos livrar da Emenda Johnson. (2)

Em outra ocasião, durante a campanha, Trump declarou no final de suas observações:

Neste momento, quero agradecer à comunidade evangélica e religiosa em geral que tem sido tão boa para mim e tão solidária. Vocês têm muito a contribuir para a nossa política, mas nossas leis impedem que expressem suas opiniões de seus próprios púlpitos.
Uma emenda, empurrada por Lyndon Johnson há muitos anos, ameaça instituições religiosas com a perda de seu status de isenção fiscal se elas defenderem abertamente suas opiniões políticas. Vou trabalhar muito para revogar essa lei e proteger a liberdade de expressão para todos os americanos. (3)

A preocupação com a liberdade de expressão das igrejas não é infundada. Um ministro que se referir em seu sermão a questões sensíveis como aborto e união entre pessoas do mesmo sexo poderia ter o status de isenção fiscal de sua igreja suspenso, caso fosse interpretado como uma declaração oficial da igreja, de natureza política. Além disso, a lei implica a necessidade de monitorar e fiscalizar as diversas congregações religiosas, de modo a garantir que a legislação esteja sendo cumprida, algo que representa uma interferência imprópria do Estado na esfera religiosa.

No entanto, os críticos da Emenda Johnson, que parecem ter encontrado em Donald Trump seu maior representante, vão ao outro extremo quando reivindicam a completa revogação da lei. Conforme observa Edward A. Zelinsky, sem algumas restrições, entidades sem fins lucrativos (incluindo igrejas e outras congregações religiosas) poderiam tornar-se veículos para canalizar recursos dedutíveis do imposto de renda para campanhas políticas. Se não houver uma Emenda Johnson, uma igreja (ou uma escola ou hospital) pode concordar em receber uma contribuição dedutível de um doador político e então transferir esses fundos para a campanha que o doador apoia. (4)

A possibilidade de que essa lei seja revogada durante a administração de Trump pode abrir mais um precedente potencialmente perigoso à separação constitucional entre Igreja e Estado na América, na medida em que permite uma interferência ainda maior da religião na esfera pública. Autorizar as igrejas a fazer lobby político sob o pretexto de defesa da liberdade de expressão, um direito constitucional ratificado pela Primeira Emenda, significará, paradoxalmente, um atentado às próprias liberdades constitucionais que se pretende defender.

Ellen G. White, referindo-se à ameaça que políticas com esta representam, escreve:

Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável. (5)

A julgar pelas atuais tendências em curso, nós estamos muito próximos desse desfecho. E os crentes só poderão enfrentar com serenidade e determinação a iminente crise que envolverá os reclamos da lei de Deus se depositar plena confiança em Sua Palavra, honrando-a não somente com os lábios, mas, sobretudo, pelas ações. Devem viver e agir segundo os seus princípios, e deixar com Deus as consequências. "Pessoa alguma, a não ser os que fortaleceram o espírito com a verdade da Escritura, poderá resistir no último grande conflito". (6)

Notas e referências


1. Jimmy Carter. Nossos Valores em Risco: A Crise Moral dos EUA. Barueri, SP: Manole, 2007, p. 49 e 51.

2. http://www.ncregister.com/daily-news/raymond-arroyos-interview-with-donald-trump

3. http://www.msnbc.com/rachel-maddow-show/why-trump-keeps-focusing-the-johnson-amendment

4. http://blog.oup.com/2016/10/church-politics-johnson-amendment-repealed/

5. Ellen G. White. O Grande Conflito. Décima Nona Edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978, p. 443.

6. Ibid., p. 592.

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2 Comentários

  1. Análise muitíssimo bem feita e correta, à luz do que está revelado sobre os acontecimentos finais!

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    1. Obrigado, Pastor Paulo, por seu comentário e apoio! Um forte abraço!

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