Reavivando o evangelho eterno



O glorioso cumprimento do propósito de Deus para toda a história da redenção, anunciado pelo anjo da sétima trombeta - "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 11:15) - não ocorrerá sem que antes a obra mundial do "anjo forte" encontre sua plena realização (Apocalipse 10:11).

Ao proclamar que todos os períodos de tempo proféticos do livro de Daniel se cumpriram (Daniel 8:14; 12:7, 11, 12), esse poderoso Mensageiro celeste garante que não haverá mais atraso na consumação do "mistério de Deus" (Apocalipse 10:7)!

Isso significa que a derradeira fase do ministério sumo sacerdotal de Cristo no Céu - o juízo/purificação do santuário - já começou, e que, portanto, vivemos em um período soleníssimo da história da salvação. Em virtude desse fato, a igreja do tempo do fim, simbolizada na pessoa de João, recebe a ordem divina para tomar o livro que se acha aberto na mão do "anjo forte" e comê-lo (Apocalipse 10:9), uma imagem extraída do Antigo Testamento usada para representar o chamado de Deus ao profeta (Jeremias 15:16; Ezequiel 3:1-3). Trata-se, pois, de uma nova comissão de Cristo à Sua igreja, a qual deve proclamar o evangelho em seu marco do tempo do fim.

Esse sagrado mandato do Céu ao remanescente final ecoa na tríplice mensagem de Apocalipse 14, que é uma extensão da obra profética do "anjo forte" no tempo do fim. É significativo, portanto, que os capítulos que tratam da missão da igreja durante esse período (12-14) estejam localizados no centro do Apocalipse, sendo o capítulo 14 o ponto focal do livro. As três mensagens angélicas transmitem o último apelo de Deus ao mundo, o derradeiro convite da graça antes do veredito judicial do Céu, que decidirá o futuro eterno de cada pessoa, para o bem ou para o mal (Apocalipse 22:11).

Com efeito, o ultimato de Deus à geração do tempo do fim não poderia ser mais expressivo:

Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo. (Apocalipse 14:6)

A expressão "outro anjo" é bastante reveladora. Ela relaciona a obra solene desse mensageiro celeste - o primeiro dos três anjos portadores da mensagem final de Deus aos habitantes do mundo - à missão profética do último anjo mencionado por João - o "anjo forte" de Apocalipse 10! Ambos trazem consigo uma mensagem de advertência de alcance mundial. Ambos a proclamam "em grande voz". Ambos cumprem o último e definitivo sinal do fim a que se referiu nosso Salvador em Seu discurso profético:

E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. (Mateus 24:14)

Hans K. LaRondelle observa que, assim como Jesus em Mateus 24, o Apocalipse faz da proclamação mundial do evangelho o sinal preeminente dos tempos. Citando G.C. Berkouwer, ele diz:

Com muita frequência, a reflexão sobre os sinais foi separar-se do reino, que é seu ponto de concentração. Os resultados sempre são desconcertantes. Mas o assunto fundamental é a propagação universal do evangelho de Jesus Cristo (Mar. 13:10)... Geralmente os que catalogaram os sinais dos tempos incluíram isto, mas com frequência se viu simplesmente como outro elemento no "relatório da narração"... Nos últimos dias a pregação do evangelho é o ponto focal de todos os sinais. Nela podem e devem ser entendidos todos os sinais. (1)

Nesse contexto, é de grande significação que o "evangelho do reino" seja chamado no Apocalipse de "evangelho eterno". Essa expressão é única em toda a Bíblia e tem um sentido singular. Esclarece que o evangelho do tempo do fim é o mesmo evangelho de Cristo e dos apóstolos, a boa nova original e inalterável da graça salvadora, que reflete as qualidades de seu Autor (Malaquias 3:6; Hebreus 13:8; Tiago 1:17). Por sua natureza, o evangelho não pode ser alterado nem revogado pela vontade humana, sob a pena de o infrator incorrer na maldição divina (Gálatas 1:8-9).

Referindo-se à natureza e papel do evangelho eterno no tempo do fim, Ellen G. White esclarece:

A mensagem proclamada pelo anjo voando pelo meio do céu é o evangelho eterno, o mesmo evangelho que foi declarado no Éden quando Deus disse à serpente: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente." Gên. 3:15. (2)
As mensagens de Apocalipse 14 são aquelas mediante as quais o mundo há de ser provado; são o evangelho eterno e devem soar por toda parte. (3)

O adjetivo "eterno" empregado por João em Apocalipse 14:6 se torna ainda mais relevante quando consideramos que enfatiza o evangelho do reino como a contraparte positiva do "evangelho" não original do anticristo, em Apocalipse 13, cuja pretensão de reivindicar para si a prerrogativa divina da adoração demanda a lealdade de todos os habitantes da Terra a esse "evangelho" espúrio, baseado nas tradições e mandamentos dos homens e especialmente focado nos sentidos (conforme Apocalipse 13:14; 14:8; 17:2; 18:23; 19:20).

Em conexão com a sagrada obra do "anjo forte" de Apocalipse 10, cuja proclamação anuncia ao mundo o cumprimento das profecias de Daniel concernentes ao início do juízo/purificação do santuário celestial, as três mensagens angélicas desafiam cada nação, tribo, língua e povo a rejeitar as falsas reivindicações do anticristo e voltar-se para Deus, aceitando Seu evangelho.

Daí o sentido da urgência do anjo portador da mensagem divina para o tempo do fim; ele voa no zênite do céu e proclama em grande voz o último convite da graça, impelido pela realidade de um juízo que transcende em muito qualquer decisão que possa ser proferida por um tribunal humano. Assim, é natural que o anjo encarregado do evangelho eterno seja também responsável em anunciar ao mundo o justo julgamento de Deus (Apocalipse 14:7). Salvação e juízo são duas verdades inseparáveis. Como o Criador, Deus exerce ambas as funções em benefício de Seu povo!

A propósito dessa revelação, Hans K. LaRondelle escreve:

O apelo do primeiro anjo para temer a Deus e adorá-Lo como Criador do céu e da Terra na hora do juízo celestial associa o juízo com a criação: "E adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas" (Ap 14:7).
O Criador, no papel de juiz e salvador de Seu próprio povo da aliança, aparece repetidas vezes nos escritos de Moisés, dos profetas e em diversos salmos. Os rituais anuais realizados em Israel no Dia da Expiação (Lv 16) ressaltavam a obra de juízo de Yahweh como Aquele que separa os adoradores verdadeiramente contritos dos adoradores impenitentes naquele "sábado de descanso solene" (Lv 23:27-32). Os rituais de purificação do Dia da Expiação chamavam assim a atenção para o juízo divino sobre Israel como Seu professo povo da aliança; o grande dia do Senhor. (4)

A mesma verdade se aplica ao Dia da Expiação escatológico, durante o qual nosso Sumo Sacerdote assume a dupla função de salvador e juiz para benefício daqueles que vivem uma aliança viva e um relacionamento vivo com o Senhor. Durante esse solene período de mediação/julgamento no Céu, designado "tempo do fim", Jesus Cristo separa os adoradores verdadeiramente contritos dos adoradores recalcitrantes, estabelecendo uma clara e definitiva distinção entre ambos.

Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o SENHOR dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve. (Malaquias 3:16-18)

Eis por que o primeiro anjo de Apocalipse 14 apela solenemente a todos os habitantes do mundo para temer e glorificar a Deus e adorá-Lo. A aceitação desses três imperativos divinos, pela fé em nosso grande Salvador e Juiz, constitui a condição essencial para ter o nome escrito no memorial de Deus! Durante o tempo do acerto de contas (Eclesiastes 12:14; Daniel 7:10), Cristo promete lembrar-se dos que têm consagrado sua vida a Ele em resposta ao último apelo da graça! Ele promete reconhecê-los como Seu "particular tesouro" e preservá-los do destino que aguarda os adoradores impenitentes.

Aqui está a flagrante "diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve". Em contraste com os adoradores da besta e da sua imagem nos últimos dias, o verdadeiro Israel - "os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apocalipse 14:12) - permanecerá fiel ao derradeiro chamado de Deus ao Seu povo e receberá na fronte o sinal da aprovação divina (Apocalipse 7:1-3; 14:1). Sua perseverança e determinação frente à última grande crise envolvendo a lei de Deus, e sua vitória sobre os poderes apóstatas resultam da íntima união que mantêm com Cristo em Sua morte e ressurreição.

Esse é precisamente o ponto nevrálgico da mensagem evangélica do primeiro anjo em sua obra de extensão mundial. Não podemos responder positivamente ao seu derradeiro apelo sem antes compreender com clareza o que significa unir-se a Cristo em Sua morte e ressurreição. Trata-se de questão da maior importância para aqueles que não desejam ser encontrados em falta quando a sentença judicial da corte celeste for proferida. É também determinante para o remanescente final, diante de sua responsabilidade de pregar o evangelho em seu marco do tempo do fim.

Recorrendo à Bíblia como a nossa fonte primária, esperamos entender, com a ajuda de Deus, o sentido dessa união indissolúvel do crente com Cristo, tanto em Sua morte como em Sua ressurreição, ao considerarmos o evangelho em sua estrutura assinalada do tempo do fim. Esse será o principal objetivo em nossa próxima postagem.

Notas e referências


1. Hans K. LaRondelle. As Profecias do Tempo do Fim. XXV - A Mensagem do Primeiro Anjo - Apocalipse 14:6, 7.

2. Ellen G. White. Cristo Triunfante - Meditação Matinal. Versão em CD-ROM. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002, p. 337.

3. Ibid., p. 341.

4. Hans K. LaRondelle. "O Remanescente e as Três Mensagens Angélicas". Em: Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Raoul Dederen (Ed.). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 968.

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