O grande movimento do advento



Em nossa postagem anterior, vimos que o poderoso anjo de Apocalipse 10, cujas características indicam tratar-se da pessoa de nosso amado Salvador, é representante de um amplo movimento missionário a ocorrer na Terra no tempo do fim.


O profeta Daniel fora instruído a selar ou fechar a visão sobre esse período especial de tempo, pois se referia "a dias ainda mui distantes" (Daniel 8:26; 12:4, 9).

O fato, porém, de o próprio Senhor Jesus, na figura de um mensageiro celeste, apresentar-se com um livrinho aberto na mão e jurar em nome de Si mesmo que "já não haverá demora", revela de maneira impressiva que a porção profética de Daniel outrora fechada acha-se agora aberta, e, portanto, chegara o tempo em que muitos a esquadrinhariam, e a ciência a seu respeito multiplicar-se-ia entre as nações rapidamente.

Em virtude da natureza de seu conteúdo, o livrinho aberto não deveria permanecer na mão do "anjo forte" indefinidamente, e, por essa razão, o apóstolo João assume um papel ativo na visão ao aproximar-se do mensageiro celeste e pedir-lhe o livrinho (Apocalipse 10:9). Embora o anjo dessa profecia represente o grande movimento religioso no tempo do fim, ao tomar parte na visão, João se torna representante pessoal e físico do mesmo movimento, passando a desempenhar simbolicamente o papel que a igreja deveria exercer a seu devido tempo segundo antecipado na profecia, ou seja, no início do século XIX. Desse modo, temos a igreja de Deus e o seu amplo movimento missionário a realizar-se no tempo do fim representados, desse ponto em diante da visão, na pessoa do profeta!

A sensação agridoce experimentada por João ao tomar o livrinho da mão do "anjo forte" e devorá-lo é, conforme já observamos, semelhante às experiências simbólicas de Jeremias e Ezequiel quando de seus chamados à missão profética (Jeremias 1:4-9; 15:16; Ezequiel 3:1-3). Ora, os mensageiros comissionados pelo Céu devem assimilar sua mensagem antes que possam anunciá-la a outros. Devem tomar posse da verdade e permitir que a verdade tome posse de suas vidas, pois, do contrário, não poderão fazer frente aos grandes desafios de seu ministério. Se a experiência com a mensagem não exercer um impacto transformador na vida do mensageiro, dificilmente fará alguma diferença na vida daqueles que a ouvirem.

Essa é uma lição que todo o cristão precisa aprender. E a nova época determinada pelo início do tempo do fim traz consigo uma urgência tal, que os seguidores de Cristo devem fazer da mensagem desse livrinho aberto sua própria vida e missão.

Predito um grande movimento religioso


O único livro que permaneceu fechado para a compreensão do homem até "o tempo do fim" foi o livro de Daniel, particularmente a porção profética do capítulo 8, versículo 14. Há, portanto, uma conexão entre esse livro e o livrinho aberto na mão do "anjo forte". E o Seu solene juramento, o ato mais importante desse poderoso anjo na visão de Apocalipse 10, constitui uma prova cabal nesse sentido, pois suas palavras apontam diretamente ao juramento do anjo em Daniel 12:7. O livrinho aberto na mão de nosso Senhor revela à igreja do tempo do fim uma compreensão clara daquilo que Daniel não pôde entender, razão por que foi instruído a preservar a revelação profética até à devida época de seu descobrimento.

Com efeito, a experiência doce e amarga de João ao comer o livrinho (Apocalipse 10:10) prediz tantos as sensações doces como amargas que experimentariam os piedosos homens e mulheres da igreja de Deus ao tomarem, a princípio do século XIX, o livro de Daniel outrora fechado, e estudarem com fervor suas profecias.

Fora esclarecido a Daniel que o saber a respeito das palavras proféticas seladas até ao tempo do fim multiplicar-se-ia somente depois de transcorridos "um tempo, dois tempos e metade de um tempo", ou 1.260 anos (Daniel 12:4-7), período que se refere aos séculos de ferro da Igreja romana, de 538 a 1798 (Daniel 7:25). Os leitores que desejarem mais detalhes sobre o início e o fim desse importante período profético poderão obtê-los através dos seguintes links:

Antecedentes históricos das leis dominicais
O fim (transitório) de uma era trágica

Assim, o tempo do fim, período durante o qual o livro de Daniel é aberto, foi iniciado depois de 1798, isto é, posteriormente à queda do poder temporal do papado. É interessante notar que exatamente seis anos depois foi fundada a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e em 1816, a Sociedade Bíblica Americana, as quais tornaram a Palavra de Deus acessível em uma infinidade de línguas e dialetos.

Também significativo é o princípio do movimento missionário nos últimos anos do século XVIII, que espalhou a Bíblia entre as nações como folhas de outono. Nas palavras de George Park Fisher, esse movimento "inaugurou uma era brilhante de atividade missionária, uma era que, na história das missões, só é menos notável que nos primeiros séculos cristãos" (1). Ellen G. White observa que os aperfeiçoamentos da imprensa à obra da circulação da Escritura Sagrada, as ampliadas facilidades de comunicação entre os diferentes países, a ruína de antigas barreiras de preconceitos e exclusivismo nacional, e a perda do poder secular pelo pontífice de Roma, têm aberto o caminho para a entrada da Palavra de Deus a cada parte habitável do globo. (2)

Foi neste interessantíssimo contexto que o movimento do advento, como ficou conhecido, apareceu simultaneamente em vários países da cristandade. Com as facilidades que se apresentavam então, homens piedosos foram levados a estudar as profecias fechadas até àquela época, convencendo-se perante as irrefutáveis provas do relato inspirado de que o fim de todas as coisas estava próximo. À América, porém, coube o papel de abrigar o grande centro da obra do advento, cujos mais destacados representantes foram Guilherme Miller e seus colaboradores.

A grande profecia evangélica de Daniel


Para Miller, a profecia que mais claramente parecia revelar o tempo do segundo advento, e que, de fato, formou a base do despertamento do movimento adventista na primeira década dos anos 1830 e 1840, era a de Daniel 8:14: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs, e o santuário será purificado" (o leitor poderá encontrar maiores explicações sobre essa e outras profecias correlatas a partir deste link).

Fiel à regra de fazer das Escrituras o seu próprio intérprete, Miller descobriu o princípio bíblico do dia/ano, segundo o qual um dia em profecia simbólica representa um ano literal (Números 14:34; Ezequiel 4:4-6). Desse modo, compreendeu que a profecia da tarde e da manhã abrangia um período de tempo de 2.300 anos, estendo-se, portanto, muito além da dispensação judaica, donde o não poder ele referir-se à purificação do santuário daquela dispensação. Miller, porém, não pôde encontrar no capítulo oito de Daniel a mais leve referência quanto ao ponto de partida desse período profético, visto que o profeta recebera apenas uma explicação parcial da visão (Daniel 8:26).

O anjo explicara a Daniel toda a parte histórica da profecia (versos 19 a 25), mas deixara de esclarecer-lhe a parte relativa ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias (verso 14). O mensageiro celeste apenas testificou de sua veracidade e advertiu o profeta de que a visão "se refere a dias ainda mui distantes" (verso 26). Foi a respeito dessa parte não explicada da profecia que Daniel declarou: "Espantava-me com a visão, e não havia quem a entendesse." (verso 27).

O profeta, contudo, não deveria ser deixado sem luz, e, em obediência à ordem divina, o anjo voltou a Daniel algum tempo depois com o expresso objetivo de explicar-lhe a parte da visão do capítulo 8 que ele não havia compreendido (Daniel 9:21-23).

As primeiras palavras do anjo foram: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade" (verso 24). Note que a explicação da visão da tarde e da manhã começa com a introdução de um novo período profético - as setenta semanas, ou 490 anos! A palavra traduzida aqui como "determinadas" (do hebraico chathak) significa "dividas" ou "separadas" (ver Dicionário Bíblico Strong, #2852), referindo-se especialmente aos judeus. Naturalmente, foram separadas do período maior mencionado em Daniel 8, sendo, por conseguinte, uma parte daquela profecia, de modo que ambos os períodos devem ter a mesma data inicial.

O anjo declara a Daniel que o ponto de partida para as setenta semanas (e, portanto, para os 2.300 dias) é "a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém" (Daniel 9:25). O livro de Esdras registra que a casa do Senhor em Jerusalém foi edificada "segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia" (Esdras 6:14). Os decretos desses três reis possibilitaram a restauração do templo e, mais tarde, de Jerusalém, mas o decreto de Artaxerxes, promulgado em 457 a.C., representou a forma definitiva da ordem que permitiu a reconstrução da cidade e a restauração da condição de Judá (ver Esdras 4:7, 11-12).

A ordem para restaurar e edificar Jerusalém, que entrou em vigor no outono de 457 a.C., marca, pois, o ponto de partida da profecia, a qual nos conduz ao advento do Ungido, o Príncipe, nosso bendito Salvador, 69 semanas ou 483 anos depois ("sete semanas e sessenta e duas semanas"), ou seja, no outono do ano 27 da era cristã. Nessa data, Cristo foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito Santo (Mateus 3:13-17; Lucas 3:22-23; Atos 10:38). Depois de Seu batismo, Ele foi para a Galileia, "pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido" (Marcos 1:14-15. Destaque acrescentado).

O anjo revela que o Messias "fará firme aliança com muitos, por uma semana" (Daniel 9:27), a última das setenta semanas, compreendendo os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus, e que se estende do outono do ano 27 ao outono do ano 34 de nossa era. O próprio Salvador instruíra Seus discípulos no tocante à sua missão: "Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mateus 10:5-6).

Na metade da última semana, informa o anjo, o Messias "fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares". Na primavera do ano 31, por ocasião da Páscoa, exatamente três anos e meio depois de Seu batismo, nosso amado Salvador foi crucificado. A morte de Cristo determinou o fim do sistema cerimonial de ofertas que apontava para o Redentor do mundo. Três anos e meio mais tarde, na última metade da septuagésima semana da profecia, a nação judaica selou a sua recusa do evangelho pelo martírio de Estevão e perseguição aos seguidores de Cristo (Atos 7:54-60; 8:1-3). A partir desse momento, a pregação das boas-novas do reino não se restringiu mais a Jerusalém, mas passou a ser anunciada ao mundo (Atos 8 e seguintes).

A experiência doce do movimento adventista


As especificações da profecia são de tal ordem que não é possível ceder a qualquer conjectura ou a alguma dúvida realmente justificável. Há suficientes evidências que apontam para o outono do ano 457 a.C. como o início das setenta semanas, e seu termo no ano 34 de nossa era. Os 490 anos foram cortados ou separados dos 2.300 dias/anos de Daniel 8:14. Logo, com base nessas informações, é perfeitamente possível localizar o fim desse grande período profético, seja a partir do outono de 457 a.C., ou do outono do ano 34 da era cristã. Neste último caso, considerando que os 490 anos foram separados dos 2.300 anos, restam ainda 1810 anos, os quais, contados do ano 34, conduzem ao outono de 1844, a data para a purificação do santuário!

Desde que se empenhara em compreender as Escrituras com um espírito de humildade e diligência, Miller não só constatou a harmonia de todas as suas partes aparentemente contraditórias, como, melhor do que tudo, descobrira que Jesus, seu amorável Amigo e Salvador, prometera voltar à Terra! Constatara que muitas outras promessas de cunho profético haviam sido cumpridas, e não havia razão para duvidar que as predições relativas à Sua vinda se cumprissem. Das passagens que se deparou em seus estudos, Daniel 8:14 mudaria sua vida para sempre: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs, e o santuário será purificado."

Os cálculos de Miller refletem exatamente a explicação acima, com a diferença de que, a princípio, ele e seus companheiros creram que os 2.300 dias terminariam na primavera de 1844, e não no outono conforme indicado na profecia. Esse equívoco, que foi causa de grande perplexidade entre os adventistas que esperavam o retorno de Cristo para aquela ocasião, foi corrigido por Samuel Sheffield Snow durante a memorável campal em Exeter, New Hampshire, em agosto de 1844, reacendendo com toda a força a esperança na iminente volta de Cristo, conforme se cria então. Os cálculos da profecia indicavam não a primavera, mas o outono de 1844, mais precisamente o dia 22 de outubro como correspondendo ao décimo dia do sétimo mês (Levítico 23:27), o dia da Expiação ou Purificação do santuário, que eles identificavam como o advento de Jesus.

O apelo de Snow no clímax de seu discurso nos dá uma ideia dos sentimentos que dominavam a assistência naquele dia inesquecível:

Irmãos, pensai nisto. Estamos na segunda semana de agosto. Em menos de três meses o Senhor completará a expiação e sairá do santuário para abençoar Seu povo expectante. Levítico 9:22 e 23. Em menos de três meses a obra de Deus será completada. Nunca mais teremos um inverno nesta fria e velha Terra. Em menos de três meses o Noivo estará aqui para levar Sua noiva que O espera. Não é agora o tempo para o clamor da meia-noite, o clamor: "Eis o noivo! Saí ao Seu encontro"? (3)

A doçura dessa mensagem era inexprimível para quem não a tivesse experimentado. C. Mervyn Maxwell relata o que se seguiu depois:

Lágrimas de gratidão e alegria corriam livremente. Snow foi instado a repetir seu discurso no dia seguinte para que todos se certificassem de terem entendido bem. Outros líderes exortavam o povo a empregar bem o limitado número de dias que restavam.
Solenes, humildes, mas eletrizados, os crentes tomaram os trens, barcos a vapor e carroças de retorno para seus lares. Levavam as novas a toda parte. Campal após campal testemunhava a mesma tranquila, mas excitante reação.
[...] Do Canadá a Maryland, do Atlântico ao Meio-Oeste, simultânea e quase unanimemente o "movimento do sétimo mês" espalhou-se até que cada cidade, vila e choupana ouviu as novas... Guilherme Miller estudou-o meticulosamente, orou intensamente a respeito e depois escreveu com alegria: "Vejo uma glória no 'sétimo mês' como nunca vi antes. Estou quase no lar, Glória! Glória! Glória!" (4)

Ellen G. White, que viveu essas cenas de profundo interesse, forneceu seu testemunho pessoal quanto às vibrantes, mas solenes expectativas que animavam os que esperavam encontrar o seu Senhor nas nuvens do Céu:

Aqueles que sinceramente amam a Jesus podem apreciar os sentimentos dos que aguardavam com intenso anelo a vinda de seu Salvador. O ponto culminante estava próximo do cumprimento. O tempo em que esperávamos encontrá-Lo estava muito próximo. Aproximávamos-nos dessa hora com calma solenidade. Os verdadeiros crentes permaneciam em doce comunhão com Deus - um penhor da paz que lhes estava garantida no brilhante futuro. Ninguém que experimentou essa esperança e fé poderá jamais esquecer aquelas preciosas horas de espera. (5)

Esses testemunhos dão prova do intenso regozijo que encheu o coração dos primeiros adventistas, uma experiência doce como mel que elevou suas esperanças a um nível incomum para a maioria de nós, cujos interesses parecem estar mais centrados no mundo do que no Céu.

O amargo sabor da rejeição e do desapontamento


Mas a experiência visionaria de João em Apocalipse 10 incluiu também uma sensação amarga com relação ao conteúdo do livrinho. A geração de crentes que descobrira a grande profecia evangélica de Daniel para o tempo do fim havia experimentado um sentimento de indizível gozo ao absorver o significado de sua mensagem. Para os que amavam a Cristo e almejavam Sua vinda, a única coisa que realmente importava era anunciar o mais rapidamente possível a boa-nova da iminência de Sua volta, a fim de que ninguém fosse encontrado em falta naquele grande dia. Aceitar a doutrina do advento, porém, significava a necessidade de arrependimento e humilhação perante Deus, coisa que muitos cristãos professos não estavam dispostos a fazer.

Assim, ao mesmo tempo em que experimentavam grandes esperanças e antecipado gozo ante a iminente volta de Cristo, segundo criam, os crentes do advento enfrentaram uma crescente e tenaz oposição da parte dos que professavam seguir a Cristo. À semelhança dos primeiros reformadores, as verdades que Miller e seus companheiros apresentavam não eram favoravelmente recebidas pelos mestres populares da religião. As igrejas que nominalmente representavam o Redentor achavam-se ainda divididas entre Cristo e o mundo, e em face da mensagem que se lhes apresentava e que exigia uma posição decidida, parecia-lhes mais fácil silenciar a consciência culpada perante Deus e rejeitar a mensagem que seus irmãos, imbuídos do Espírito Santo, anunciavam em fervorosos apelos.

No entanto, essa triste condição foi apenas parte da experiência amarga que os crentes do advento enfrentaram em consequência de sua mensagem.

Há uma semelhança instrutiva entre a experiência dos discípulos que pregaram o evangelho do reino no primeiro advento de Cristo e a experiência dos que proclamaram a mensagem de Seu segundo advento. Os discípulos foram enviados pelo Salvador com a mensagem: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." (Marcos 1:15). Essa mensagem baseava-se na profecia de Daniel 9, cujo período se estendia até o Messias. Cristo viera no momento exato indicado na profecia, e a mensagem que os discípulos anunciavam era correta em todos os pormenores.

Mas não compreendiam tudo o que se relacionava com a natureza da mensagem que proclamavam, pois suas esperanças centralizavam-se numa concepção popular do Messias como um libertador político, em fragrante contraste com o testemunho das Escrituras. Daí o fato de terem experimentado profunda angústia e desapontamento pela morte do Salvador.

Da mesma forma, Miller e seus colaboradores proclamaram que o período profético mais longo e último apresentado na Bíblia estava a ponto de terminar. Cada uma das pregações - a dos discípulos e a dos crentes do advento - baseava-se no cumprimento de uma porção diversa do mesmo grande período profético! E como os discípulos, Miller e seus companheiros não compreenderam inteiramente o significado da mensagem que apresentavam.

Os cálculos de Miller estavam corretos em cada detalhe, mas sua conclusão a respeito da purificação do santuário foi profundamente influenciada pela opinião geralmente mantida de que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário. Seu erro e o consequente desapontamento que produziu não resultaram, pois, de uma falha na profecia, mas da adoção de uma opinião popular quanto ao que constitui o santuário. Não há aqui uma advertência para nós sobre o perigo de aceitar opiniões humanas em lugar do claro testemunho das Escrituras?

À luz do cerimonial típico, a purificação do santuário, o último serviço realizado pelo sumo sacerdote no conjunto anual de cerimônias ministradas na antiga dispensação, não prefigurava a purificação da Terra pelo fogo durante a vinda de Jesus, mas a derradeira fase da obra redentora de Cristo no santuário celestial - uma obra de purificação ou remoção definitiva de pecados, ao fim da qual nosso Redentor voltará para buscar Seu povo. Esse ministério especial de Cristo, realizado em conjunto com Sua obra intercessora, envolve uma investigação e um julgamento que precede imediatamente a vinda de Jesus, ocasião em que Ele retribuirá a cada um segundo as suas obras (Apocalipse 22:12). É precisamente este juízo pré-advento que o primeiro anjo anuncia com grande voz: "Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo" (Apocalipse 14:7).

Pode se ter um vislumbre do quão amargo foi o desapontamento para os que esperavam a vinda de Cristo no dia 22 de outubro de 1844 nas palavras de Hirão Edson, um dos mais proeminentes representantes do movimento do advento:

Nossas expectações haviam-se elevado alto, e assim aguardávamos a vinda de nosso Senhor, até que o relógio soou às doze horas da meia-noite. O dia havia-se passado então, e nosso desapontamento havia-se tornado uma certeza. Nossas mais fundas esperanças e expectações foram derruídas, e sobre nós veio tal espírito de pranto como jamais havíamos experimentado antes. Parecia que a perda de todos os amigos terrestres não podia ter comparação. Choramos e choramos, até que o dia raiou. [...] (6)

Contudo, embora resultasse de uma compreensão errônea da mensagem que os adventistas proclamavam, o desapontamento foi providencialmente permitido por Deus como uma prova para os que haviam professado receber a mensagem de advertência. Se fossem de fato sinceros, não abandonariam sua experiência cristã, renunciando à confiança na Palavra de Deus, mas, ao contrário, com oração e humildade, procurariam discernir aquilo que não haviam compreendido na profecia. Essa prova revelaria a força de sua fé e a resistência de sua perseverança, constituindo também uma advertência quanto ao perigo de aceitar teorias e interpretações humanas, em lugar de fazer da Bíblia sua própria intérprete.

"É necessário que ainda profetizes"


A experiência amarga do povo do advento, representada no ato simbólico de João comer o livrinho e sentir seu amargor, não deveria ser permanente, embora a visão paralela de Apocalipse 13:1-13 revele quão amarga será a oposição à igreja de Deus no tempo do fim. As palavras consoladoras que Cristo dirige a Seu servo o instruem a profetizar mais uma vez. Como representante do movimento missionário do tempo do fim, João recebe a ordem de proclamar uma mensagem adicional mais ampla, revelada na voz do terceiro anjo (Apocalipse 14:9-12), e que deve ser anunciada a "muitos povos, nações, línguas e reis" (Apocalipse 10:11). A consumação do "mistério de Deus" - o triunfo do governo e reino visível de Cristo (Apocalipse 11:15) - não se realizará antes que esse anjo cumpra seu papel de extensão mundial.

Com efeito, o ato de João comer o livrinho é explicado na ordem para profetizar novamente, da mesma maneira que o ato de Jeremias e Ezequiel comerem as palavras de Deus é esclarecido no âmbito do significado e propósito de suas respectivas mensagens, as quais anunciavam juízos vindouros e novas promessas.

Logo depois da experiência agridoce, portanto, João recebe a comissão divina para proclamar o evangelho eterno dentro do marco do tempo do fim, ou seja, deve ainda profetizar a partir de uma nova perspectiva, sobre acontecimentos relacionados a esse período especial e derradeiro de tempo, em face da nova luz proporcionada pelas profecias de Daniel.

Essa comissão profética do "anjo forte" de Apocalipse 10 é desenvolvida na tríplice mensagem angélica do capítulo 14, de modo que ambas as visões estão intimamente relacionadas. Em virtude do fato de que essas mensagens devem absorver toda a nossa atenção, vamos considerar cada uma delas em nossas próximas postagens.

Notas e referências


1. George Park Fisher. History of the Christian Church. London: Hodder and Stoughton, 1890, p. 585.

2. Ellen G. White. O Grande Conflito. Décima Nona Edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978, p. 285.

3. C. Mervyn Maxwell. História do Adventismo. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982, p. 32.

4. Ibid.

5. Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja, vol. 1. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, p. 51.

6. _______________. Cristo em Seu Santuário. Quinta Edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997, p. 8.

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