O efeito das escatologias jesuítas na América – 11. Os jesuítas e o ecumenismo

Malachi Martin acreditava que os jesuítas, ao promoverem suas guerras de libertação, também estavam envolvidos na promoção da igreja ecumênica para toda a humanidade, não apenas para os católicos. Ele acreditava que o ecumenismo dos jesuítas era uma traição ao propósito original de sua Ordem: defender o papado de todos os concorrentes, especialmente os protestantes intransigentes. Penso que a história provou que Martin estava errado. Ele escreveu seu livro sobre os jesuítas há quase trinta anos. Desde então, os jesuítas, apesar de buscarem sua igreja ecumênica, não traíram seus objetivos originais. Eles simplesmente usaram a cegueira contemporânea nas igrejas não católicas para promover a causa do papado, ligando-o a uma "igreja" ecumênica mundial que abrange toda a humanidade. Essa igreja estará sob o domínio do papado, embora algumas fachadas escondam esse fato de milhões de pessoas. O conglomerado apóstata final está centralizado em Roma, e isso não mudará, não importa o quanto a retórica e a semântica tentem ocultar essa verdade dos não católicos desavisados.

Por mais de cem anos, os jesuítas têm se esforçado muito para criar uma igreja católica universal. No início, eles enfrentaram séria oposição e alguns foram excomungados. Entretanto, eles não desistiram. Continuaram sua luta para criar a “igreja” de toda a humanidade. O fato de os jesuítas terem sido bem recebidos no início do movimento ecumênico protestante liberal foi uma grande ajuda. Logo eles se tornariam líderes do Movimento Carismático após o Vaticano II e, em seguida, seriam acolhidos no evangelicalismo moderno por Bill Bright, da Campus Crusade, e por outros líderes evangélicos, para ajudar a elaborar o ECT I (Evangélicos e Católicos Juntos).

O que Malachi Martin chamou de "MODERNISMO" começou a se infiltrar na Igreja Católica na virada do século XX. Durante anos, muitos católicos questionaram a autenticidade das Escrituras. Nenhum deles, contudo, estava disposto a desafiar a autoridade do Papa e da Igreja até que George Tyrrell, o jesuíta, o fez.

George Tyrrell nasceu na Irlanda em 1861. Ele se converteu do anglicanismo ao romanismo em 1879, provavelmente como resultado do Movimento Tractariano que estava em alta naquela época. Como Scott Hahn hoje, Tyrell se tornou um defensor declarado do romanismo, pois se tornou jesuíta. Entretanto, de acordo com Martin, ele foi infectado pelo MODERNISMO. Tyrrell escreveu:

"A fé no mundo torna-se mais fundamental do que a fé na Igreja, pois o mundo – a humanidade – é, por definição revisada, a revelação mais completa e abrangente de Deus.

"O Espírito de Deus está em todos nós. O espírito humano desperta para a autoconsciência e reconhece seu parentesco com o Espírito que busca se expressar no processo histórico da ciência, da moralidade e da religião." [1]

Ele gostava de dizer isto:

"O que faz um católico não é esta ou aquela teoria abstrata, mas a crença na comunidade católica (romana) histórica." [2]

(É daí que vem a ênfase moderna na "comunidade" e "unidade" nos livros e ministérios não católicos modernos: dos jesuítas.)

Tyrrell não escondia seus ensinamentos sobre o universalismo e a comunidade da humanidade. Ele foi expulso da Ordem dos Jesuítas em 1960. Assim como muitos outros na história, Tyrrell ainda sentia saudades da Igreja Católica, a despeito de sua expulsão.

Malachi Martin afirma que Tyrrell foi expulso dos jesuítas porque eles temiam a natureza conservadora do papado naquela época (1960) e a possibilidade de a Ordem ser novamente esmagada pelo papa e sua cúria. Tyrrell ensinava doutrinas que eram contrárias à posição oficial de Roma naquela época. Foi-lhe dito que se retratasse, mas ele se recusou. Foi então expulso da Ordem dos Jesuítas e deixou a Igreja Católica.

Tyrrell, juntamente com Ernesto Buonaiuti e Pierre Teilhard De Chardin, estava sob suspeita por causa de seus ensinos. Buonaiuti foi excomungado. Tyrrell foi expulso da Ordem dos Jesuítas e deixou a igreja, aparentemente percebendo que, se não o fizesse, seria excomungado de qualquer forma. De Chardin sobreviveu e, de acordo com Martin, ele foi o pior dos três e, de longe, o escritor e professor mais influente.

Malachi Martin afirma que muitos estudiosos católicos modernos seguiram Tyrrell e De Chardin. Homens, diz ele, como Karl Rahner, Leonardo Boff, Hans Kung e Charles Curran. Esses homens viam Tyrrell como seu "exemplo". Martin escreveu:

"Sem dúvida, se Tyrrell estivesse vivo hoje, ele estaria prosperando em uma cadeira de professor em uma universidade ou seminário jesuíta." [3]

Tyrrell ainda acreditava na Igreja Católica, mesmo depois de ter sido expulso pelos jesuítas e a abandonado.

Segundo Tyrrell, o verdadeiro católico acredita na humanidade, no mundo. Ele escreveu: "Ser católico é sentir a relação de fraternidade entre os vários membros da família religiosa". [4] Ele também disse:

"A Igreja de Roma, de modo geral, preservou a mensagem de Cristo mais fielmente do que qualquer outra... e nela podemos encontrar o germe daquela futura religião universal que todos nós buscamos." [5]

Ele considerava todas as outras igrejas como "obra do Diabo, uma armadilha, uma impostura, uma evolução espúria" e "seja lá o que Jesus tenha sido, ele não era protestante". [6] Portanto, embora defendesse algumas mudanças no sistema do romanismo, ele certamente não era protestante. Se você visitar seu túmulo, verá a lápide exatamente como ele mesmo a projetou antes de morrer: a hóstia e o cálice no topo; abaixo de suas datas e as palavras "A priest of the Catholic Church" [Um sacerdote da Igreja Católica]. [7]

Poucas pessoas parecem perceber hoje que a academia cristã moderna é muito mais influenciada pelos ensinamentos jesuítas do que pelos ensinamentos protestantes reformados. Veja a influência dos ensinamentos jesuítas em lugares como Calvin College, Wheaton College, Westminster Theological Seminary, Fuller Seminary, Gordon Conwell e Biola. Nessas e em outras faculdades e seminários, os ensinamentos dos reformadores foram suplantados pelos ensinamentos dos jesuítas. Pode-se dizer com segurança que não há praticamente UMA ÚNICA instituição acadêmica na América que ensine a posição escatológica protestante, de que o Homem do Pecado corresponde ao domínio papal no mundo.

Martin afirma que a NOVA IGREJA UNIVERSAL dos jesuítas tem sido promovida por uma miríade de grupos, tanto católicos quanto não católicos. Todos eles defendem a nova ideia de que a igreja é o "POVO DE DEUS". [8] Entretanto, ele afirma que foram os jesuítas que "abriram o caminho" [9] e deram os exemplos mais consistentes ao ajudar a estabelecer tais igrejas. Certamente, o que hoje é chamado de igreja "emergente" na América do Norte segue os ensinamentos jesuítas.

Martin acreditava que Karl Rahner dedicou sua vida a mudar o cenário católico. E Martin acreditava que, até certo ponto, ele foi bem-sucedido e que seu êxito

"o marcou como o líder do que pode ser apropriadamente descrito como o grupo de lobos dos teólogos católicos que, desde 1965, tem dilacerado e retalhado... a própria substância do catolicismo." [10]

A verdade é que a influência deles também dilacerou e destruiu o que hoje é chamado de "não catolicismo". A NOVA Unidade dos jesuítas invadiu todo o Movimento Carismático na América do Norte, bem como o establishment evangélico.

Rahner viajou por toda a Europa e América do Norte, vestindo terno e gravata no lugar do traje clerical do padre romano, "incansável", afirma Martin, em "sua crítica mordaz e sarcástica ao papado e à autoridade papal". [11]

É verdade que jesuítas como De Chardin, Tyrrell e Buonaiuti contrariavam com seus ensinos o que a "igreja" desejava que fosse ensinado em algumas áreas, mas em outras, todos esses homens, e outros como eles, ainda defendiam a Igreja Católica. Eles queriam que a "igreja" atraísse um público mais amplo. Assim como os homens das mega igrejas modernas não católicas, eles alegavam apegar-se à Bíblia, mas queriam atrair um público mais diversificado. Isso é visto no chamado movimento da DIREITA Cristã. Há alguns anos, quando estava em declínio, a liderança disse que "precisava evitar o cristianismo" para atrair um público mais amplo.

Esse apelo, tanto no romanismo quanto no protestantismo, foi então estendido para incluir TODA a humanidade. Se vamos apelar para um público mais amplo, por que não fazer com que esse público seja o mundo inteiro? Essa foi a mensagem de Karl Barth. De fato, ele enfatizou que a mensagem a ser pregada é que todos são os eleitos de Deus.

De Chardin também enfatizou a "cristianização" não só de um grupo de elite, mas de TODA a humanidade. Portanto, tanto os jesuítas quanto os não católicos, usando terminologias diferentes, estavam na verdade pregando e ensinando a mesma coisa. Ambos rejeitavam os eleitos de Deus e promoviam toda a humanidade como o verdadeiro povo do Senhor.

Quem será o líder dessa igreja ecumênica conjunta de toda a humanidade? Bem, há vários anos muitos porta-vozes "não católicos" vêm promovendo o Papa de Roma (que eles consideram ser um dos principais cristãos do mundo) como o líder "lógico" da nova igreja universal. O bispo anglicano de Guildford, em sua declaração sobre a posse do Papa Francisco, referiu-se a ele como o "Primaz universal, que alguns anglicanos e muitos outros cristãos estavam começando a reconhecer".* [12]

Malachi Martin, aquele filho leal de Roma, afirmou em seu livro sobre os jesuítas que eles haviam se afastado de sua missão histórica de levar o mundo aos pés do Pontífice Romano. Entretanto, certamente o tempo mostrou que Martin não entendeu o que os jesuítas faziam. Eles simplesmente abandonaram algumas de suas formas mais antagônicas empregadas durante séculos contra os hereges protestantes e as substituíram por um diálogo irênico. Eles procuraram, então, trabalhar com os evangélicos, carismáticos, reformados e batistas para criar uma "igreja ecumênica". Os jesuítas podem ter chamado essa igreja de vários nomes: O Povo de Deus; a igreja de TODA a Humanidade; a NOVA Igreja Ecumênica, mas o que eles estavam promovendo era uma igreja AINDA liderada pelo Papa de Roma. O nome pode ter sido diferente, mas o resultado foi o mesmo.

O que Malachi Martin considerava uma traição de sua missão histórica era apenas mais um estratagema de longa data da contrarreforma dos jesuítas. Eles haviam mudado suas táticas, mas não seu objetivo. Cessariam sua oposição ao protestantismo e a substituiriam por um espírito de cooperação. Criticariam certos aspectos do catolicismo, criando confusão e mistério.

A Bíblia ensina que a mesma velha religião prostituta continuará até que Deus a derrube no juízo. Todas as atuais fachadas ecumênicas não podem esconder a verdadeira natureza da Grande Meretriz. Ela ainda é o reservatório do mal no mundo, a habitação dos demônios, covil de todo espírito imundo e esconderijo de toda ave imunda e detestável liderada na Terra pelo Homem do Pecado Papal.

A fim de atrair a todos e convocá-los a se unirem, os jesuítas simplesmente recorreram a slogans como a NOVA igreja de toda a humanidade; a NOVA Unidade; a NOVA Comunidade; a NOVA teologia; e até mesmo, como disse um jesuíta, o NOVO Deus da humanidade.

A Palavra de Deus declara infalivelmente que o "deus" deste mundo cegou o entendimento dos que não creem, para que lhes não resplandeça a luz do glorioso evangelho de Cristo, que é a imagem de Deus (II Coríntios 4:4). A grande igreja ecumênica de toda a humanidade realmente adora seu NOVO "deus", e a Bíblia revela claramente quem é ele – o próprio Satanás, o deus desta era, o líder da grande "anti-igreja" de toda a humanidade.


* A pressão para que o Papa de Roma seja o Primaz universal da igreja de toda a humanidade é agora cada vez mais comum entre aqueles determinados a trazer o que resta do protestantismo aos pés do Pontífice Romano. Talvez o esforço esteja aumentando à medida que nos aproximamos de 2017 d.C. e da comemoração do 500º aniversário do protestantismo. Será que a REFO 500, o movimento agora em andamento para ajudar a celebrar o início da Reforma Protestante, também celebrará o FIM da divisão que o protestantismo provocou, declarando a cura da ferida e a introdução da NOVA Igreja UNIVERSAL? A REFO 500 está comemorando o início do protestantismo em 1517 ou o seu fim em 2017? Teremos que esperar para ver! [Os que acompanharam essa celebração já sabem a resposta.]


Referências

1. Martin, op.cit., p. 276.

2. Ibid., p. 277.

3. Ibid, p. 283.

4. Ibid, p. 280.

5. Ibid, p.283.

6. Loc. cit.

7. Loc. cit.

8. Ibid., p. 22

9. Loc. cit.

10. Loc. cit.

11. Ibid., p. 23.

12. English Church Newspaper, 22 de março de 2013, p.12.


Capítulo 12

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