Escravidão e catolicismo – 15. A Igreja e o poder temporal

Muitos de nós amam os Estados Unidos, "A Terra dos Livres e o Lar dos Bravos". Valorizamos as oportunidades que nos são oferecidas, como a capacidade de escolher nossas profissões, selecionar nossas refeições, residir nos locais de nossa preferência, praticar nossa fé ou abster-se dela, participar de eleições, se assim o desejarmos, e inúmeras outras liberdades que não são acessíveis a milhões de pessoas em todo o mundo atualmente. Essas liberdades também estiveram ausentes por séculos em regiões governadas pela autoridade papal.

Por essa razão, antes de nos entregarmos nas mãos da igreja, como peões a serem usados para sua glória, devemos dar a devida atenção a seus objetivos, os quais podem ser identificados claramente ao investigarmos a história de seus esquemas e conspirações.

Mas não dependemos inteiramente de evidências históricas quanto aos objetivos da Igreja. Suas próprias declarações ousadas não deixam margem para dúvidas sobre a questão.

Quando o cardeal Gibbons se refere às "detestáveis leis que estão sendo promulgadas pelo governo prussiano contra a Igreja" e afirma que "a Igreja Católica, ao se opor a essas leis, não está apenas defendendo seus próprios interesses, mas também está advogando pelo princípio da liberdade de consciência universalmente" (Faith of Our Fathers, 1876, 91ª Ed., p. 245), ele está sendo um tanto irônico. Quando um católico expressa sentimentos dessa natureza, isso normalmente significa "a liberdade de praticar a adoração de acordo com as tradições católicas".

Na mesma página há uma expressão de patriotismo e apreço que soa muito inspiradora. Gibbons diz: "Talvez, neste momento, não haja nação na face da Terra onde a igreja esteja menos limitada e onde ela tenha mais liberdade para realizar seu sublime destino do que nos Estados Unidos."

Essa declaração revela um notável reconhecimento de que, em vários países do Velho Mundo, onde a Igreja manteve o controle sobre a população por séculos, a maioria agora se revoltou e se recusa a conceder a ela a liberdade que antes usava indevidamente. É importante considerar sua percepção de "seu sublime destino", que ela imagina como a subjugação de todos os povos sob seu domínio opressivo.

Essa afirmação nos faz lembrar de uma rima muito antiga chamada:

A Fábula de La Fontaine

Uma cadela sem lar, com uma ninhada pequena,
Sofria com o frio, uma sina plena.
Outra cadela, bondosa, se aproximou,
E todas as suas dores escutou.
Em resumo, permissão obteve para se abrigar,
Na cabana amiga, para se aquecer e descansar.

No tempo certo, a dona da casa veio cobrar,
O espaço emprestado, seu lar a reclamar.
A mãe, fraca, até a porta se arrastou,
E humildemente, 'mais quinze dias' implorou.
"Meus filhotinhos mal podem andar."
A dona da casa, então, resolveu esperar.

Mais quinze dias se passaram, enfim,
Os filhotes cresceram, fortes desde o confim.
E quando a amiga, novamente, veio buscar,
Sua casa e seu lar, para lá retornar,
A cadela, como se fosse morder, respondeu,
"Estou pronta com minha ninhada, o momento é meu.
"Para ir embora, me expulse se for capaz.
"Meus filhotes cresceram, ferozes e sagazes.
"E se pela sua velha casa quiser lutar,
"Verá que eles sabem arranhar e morder, sem hesitar."

Moral da história:

"Se em sua casa o inimigo um pé colocar,
Certamente o outro entrará, sem tardar."

Em seu livro, Cinquenta anos na Igreja de Roma, o padre Chiniquy, ex-sacerdote católico, diz: "Outro fato ao qual os protestantes americanos não têm prestado atenção suficiente é que os jesuítas foram astutos o bastante para garantir uma grande maioria de generais e oficiais católicos no comando do exército e da marinha dos Estados Unidos.

"Roma conspira constantemente contra as liberdades e os direitos do homem em todo o mundo, mas hoje particularmente nos Estados Unidos.

"Muito antes de ser ordenado padre, eu sabia que minha igreja era o inimigo mais implacável desta República. Meus professores de filosofia, história e teologia foram unânimes em me dizer que os princípios e as leis da Igreja de Roma eram absolutamente antagônicos às leis e aos princípios que são as pedras fundamentais da Constituição dos Estados Unidos.

"1º. O princípio mais sagrado da Constituição dos Estados Unidos é a igualdade de todos os cidadãos perante a lei; o princípio fundamental da Igreja de Roma nega essa igualdade.

"2º. A liberdade de consciência é proclamada pelos Estados Unidos um princípio extremamente sagrado que todo cidadão deve defender, mesmo ao preço de seu sangue; os papas e concílios de Roma declaram que a liberdade de consciência é uma coisa extremamente ímpia, profana e diabólica, que todo bom católico deve abominar e eliminar a qualquer custo.

"3º. A Constituição americana assegura a independência absoluta do poder civil em relação ao poder eclesiástico ou da igreja; a Igreja de Roma declara, por meio de todos os seus pontífices e concílios, que tal independência é uma impiedade e uma rebelião contra Deus.

"4º. A Constituição americana deixa todo homem livre para servir a Deus de acordo com os ditames de sua consciência; a Igreja de Roma declara que nenhum homem jamais teve esse direito, e que somente o papa pode saber e decretar em que o homem deve crer e cumprir.

"5º. A Constituição dos Estados Unidos nega o direito de qualquer pessoa de punir qualquer outra por diferir dela em matéria de religião; a Igreja de Roma diz que tem o direito de punir, com o confisco de seus bens ou com a pena de morte, aqueles que diferem em fé do papa.

"6º. Os Estados Unidos estabeleceram escolas em todos os seus imensos territórios, onde convidam o povo a enviar seus filhos para que possam cultivar sua inteligência e se tornarem cidadãos bons e úteis; a Igreja de Roma amaldiçoou publicamente todas essas escolas e proibiu seus filhos de frequentá-las, sob pena de excomunhão neste mundo e condenação no próximo. (Nota: Isso agora foi alterado por uma questão de conveniência).

"7º. A Constituição dos Estados Unidos baseia-se no princípio de que o povo é a principal fonte de todo poder civil; mas centenas de vezes a Igreja de Roma proclamou que esse princípio é ímpio e herético. Ela diz que 'todo governo deve repousar sobre o fundamento da fé católica, tendo somente o papa como fonte e intérprete legítimo e infalível da lei'." – Cinquenta anos na Igreja de Roma, p. 672, 673.

Samuel F. B. Morse, inventor do telégrafo, publicou um livro em 1834, chamado Conspiracies Against the Liberties of the United States. "O erudito Dr. S. Irenaeus Prime, em sua Life of Professor Morse, diz: 'Quando o Sr. Morse estava na Itália, ele conheceu vários eclesiásticos da Igreja de Roma e foi levado a crer, pelas informações que recebeu deles, que uma conspiração política, sob o disfarce de uma missão religiosa, foi formada contra os Estados Unidos. Quando chegou a Paris e desfrutou da confiança e da amizade de Lafayette, declarou suas convicções ao general, que concordou plenamente com ele quanto à existência de tal conspiração'." – Cinquenta anos na Igreja de Roma, p. 674.

E, no que diz respeito ao nosso presente tema, há um item interessante na introdução de um livro intitulado The Devil in Robes, que cita o arcebispo católico John Ireland dizendo: "Podemos ter a América em dez anos. Eu lhe dou três alvos: os índios, os negros e as escolas públicas".

Na época do arcebispo Ireland, acreditava-se que o índio se tornaria suficientemente numeroso para justificar a conquista de seu voto, mas essa parte de seu programa parece não ter se concretizado.

No entanto, a importância dos negros para as organizações políticas continuou a crescer, e não é necessário destacar as inúmeras menções na mídia sobre os esforços contínuos da Igreja Católica para assumir o controle das escolas públicas sempre que possível.

Uma citação de uma autorizada fonte católica justifica o reconhecimento de que a acusação referente à busca da igreja por poder político ou temporal não é meramente uma invenção ou ilusão.

"Júlio II era, de certa forma, mais poderoso do que Gregório VII ou Inocêncio III, e ele estava ciente do fato. Ele se autoproclamava árbitro dos destinos das nações e queria ser o senhor e mestre do jogo do mundo." (Ver a nota de rodapé 'Il papa vol esser il dominus et maistro del jocho del mundo'. Sommario de la relation di domenigo Trivixan, MS. citado por Ranke, I, p. 40) – History of the Catholic Church (obra católica oficial) Mourret-Thompson, vol. 5, p. 245.

E para indicar que o possível impacto desse princípio em nossa própria nação foi percebido no período após a Guerra Civil, o livro Cinquenta anos na Igreja de Roma, de Chiniquy, p. 674, traz a seguinte citação:

"Esse grande estadista e patriota, o falecido Richard W. Thompson, Secretário da Marinha, em sua admirável obra, The Papacy and the Civil Power, (p. 209), diz: 'Nada é mais claro do que o fato de que, se esses princípios prevalecessem aqui, nossas instituições necessariamente cairiam. Os dois não podem existir juntos. Eles estão em antagonismo aberto e direto com a teoria fundamental de nosso governo e de todo governo popular em qualquer lugar'."

Esse objetivo, por mais contrário que seja ao Espírito de Jesus, que disse: "Meu reino não é deste mundo" (João 18:36), e a oposição da Igreja a todo progresso, é expresso nesta citação de Chiniquy na mesma página: "O eloquente orador espanhol, Castelar, falando de sua própria Igreja de Roma, disse, em 1869, 'Não há um único princípio progressista que não tenha sido amaldiçoado pela Igreja Católica. Isso se aplica à Inglaterra e à Alemanha, bem como a todos os países católicos. A Igreja amaldiçoou a Revolução Francesa, a Constituição Belga e a Independência Italiana. Nenhuma Constituição nasceu, nenhum passo de progresso foi dado, nenhuma reforma solitária foi efetuada, que não tenha sido sob os terríveis anátemas da Igreja.'"

É surpreendente como os porta-vozes da Igreja têm se tornado ousados às vezes. Pode ser que eles fiquem embriagados com a expectativa da realização de seus planos, assim como as Escrituras dizem que ela está "embriagada com o sangue dos santos" (Apocalipse 17:6).

Essa grande Igreja, que afirma ser a única Igreja do manso e humilde Jesus, que, "quando injuriado, não tornou a injuriar" (1 Pedro 2:23), diz:

"A Igreja é necessariamente intolerante. A heresia, ela suporta quando e onde deve, mas ela a odeia e direciona todas as suas energias para destruí-la." E os hereges também. Ver Dens, vol. II, nº 56, p. 89.

Jesus disse: "Se eu der testemunho de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro". (João 5:31). No entanto, essa Igreja, esse grupo de homens liderados por um homem que afirma ser o Vigário de Cristo na Terra, espera que o mundo siga todos os seus ensinamentos, cegamente, contrariando as Escrituras, com base em seu mero ipse dixit ["ele mesmo disse", uma expressão dogmática de opinião].

"Nenhum homem tem o direito de escolher sua religião. O catolicismo é o mais intolerante dos credos. Ele é a própria intolerância. Poderíamos sustentar racionalmente que dois e dois não são quatro, como a teoria da liberdade religiosa. Sua impiedade só é igualada por seu absurdo." – New York Freeman, jornal oficial do bispo Hughes, 26 de janeiro de 1852.

Alguns podem dizer: "Faz muito tempo que a Igreja não diz essas coisas". Mas lembre-se de que, segundo seu princípio inabalável, ela nunca muda e, portanto, pela própria natureza das coisas, seria obrigada a assumir a mesma posição hoje.

Assim, a data poderia muito bem ser alterada para "1956" de acordo com o seguinte:

"A Igreja foi instituída, como todo católico que entende sua religião crê, com o propósito de guardar e defender o direito de Deus contra todo e qualquer inimigo, em todos os momentos e em todos os lugares. Ela, portanto, não aceita e não pode aceitar, ou em qualquer grau favorecer a liberdade, no sentido protestante da palavra." – Catholic World, abril de 1870.

"A Igreja Católica é o meio e o canal pelo qual a vontade de Deus é expressa. Embora o estado tenha direitos, ele só os tem em virtude e com a permissão da Autoridade Superior, e essa autoridade só pode ser expressa por meio da Igreja." – Catholic World, julho de 1870.

"O protestantismo não tem, e nunca poderá ter, qualquer direito onde o catolicismo triunfou. Portanto, para nós é um exercício inútil denunciar o fanatismo e a intolerância ou defender a Liberdade Religiosa, ou o direito do homem de professar qualquer religião que melhor lhe convenha." – Catholic Review, Junho de 1865.

"A liberdade religiosa é meramente suportada até que o oposto possa ser aplicado sem perigo para a Igreja Católica." – Rev. O'Connor, bispo de Pittsburgh. Citado por Chiniquy, p. 675.

O propósito de longo prazo da Igreja Católica pode ser visto na seguinte declaração em um jornal católico de oitenta anos atrás.

"A Igreja Católica representa um terço da população americana; e se seu número de membros aumentar nos próximos trinta anos, como aconteceu nos trinta anos anteriores, em 1900 Roma terá a maioria e será obrigada a tomar este país e mantê-lo. Em breve, haverá uma religião estatal neste país, e essa religião estatal será a católica romana.

"1º. O católico deve exercer seu voto com o propósito de garantir a ascendência católica neste país.

"2º. Toda legislação deve ser governada pela vontade de Deus, indicada infalivelmente pelo Papa.

"3º. A educação deve ser controlada pelas autoridades católicas e, no âmbito da educação, estão incluídas as opiniões individuais e as declarações da imprensa, e muitas opiniões devem ser proibidas pelo braço secular, sob a autoridade da Igreja, inclusive em questões de guerra e violência." – Padre Hecker, Catholic World, julho de 1870.

Parece ter havido um deslize em algum ponto do cumprimento dessa profecia, embora o tempo possa facilmente remediar esse erro de cálculo.

O erro deve ter sido cometido como resultado do exagero característico da Igreja com relação à população católica. Embora a porcentagem de católicos na América tenha aumentado expressivamente desde 1870, eles ainda não têm o "terço" reivindicado em 1870.

Tem havido considerável especulação com relação às razões por trás das estimativas generosas da Igreja sobre o número de seus membros. O melhor palpite é que seu objetivo consiste em atrair os indiferentes, incentivando-os a "aderir ao movimento antes que ele os atropele".

A população católica global estimada em quase 400 milhões é determinada pela atribuição de números específicos a vários países. Por exemplo, se um país tem uma população total de 20 milhões e é predominantemente católico, presume-se que todos os 20 milhões sejam católicos praticantes. Não importa se muitos indivíduos vivem em áreas remotas, adorem ídolos (que não sejam imagens da igreja) ou participem de outras práticas não católicas. Todos são contabilizados como bons católicos, o que, em última análise, torna os números impressionantes.

Mais algumas citações podem nos ajudar a entender os objetivos finais da Igreja Católica.

"Foi proposto que todas as convicções religiosas deveriam ser livres e sua adoração deveria ser exercida publicamente. Mas nós rejeitamos esse artigo por ser contrário aos cânones e concílios da Igreja Católica." – Papa Pio VII, Encíclica, 1808. E lembre-se: "A Igreja Católica nunca muda".

"Embora os hereges não devam ser tolerados por merecerem, devemos suportá-los até que, por uma segunda admoestação, possam ser trazidos de volta à fé da Igreja. Mas aqueles que, depois de uma segunda admoestação, permanecerem obstinados em seus erros, não devem apenas ser excomungados, mas entregues ao poder secular para serem exterminados." – São Tomás de Aquino (um dos teólogos mais reverenciados da Igreja Católica), em sua Suma Teológica, vol. 4, p. 90. Citado por Chiniquy, p. 676.

O cardeal Manning, falando em nome do papa, disse: "Não reconheço nenhum poder civil; não sou súdito de nenhum príncipe; e reivindico mais do que isso. Pretendo ser o juiz supremo e o diretor da consciência dos homens. Dos camponeses que cultivam os campos e do príncipe que se senta em seu trono; da família que vive à sombra da privacidade e do legislador que faz leis para os reinos. Eu sou o único, o último e supremo juiz do que é certo e errado. Por isso, declaramos, afirmamos, definimos e decretamos que é necessário para a salvação que toda criatura humana sujeitar-se ao Pontífice Romano!!" – Tablet (publicação católica), 9 de outubro de 1864.

"Sem dúvida, a intenção do papa é possuir este país [os Estados Unidos]. Nessa intenção, ele é auxiliado pelos jesuítas e por todos os prelados e padres católicos." – Brownson's Review, maio de 1864 (Orestes Augustus Brownson, seu editor e proprietário, tornou-se católico em 1844).

"Aproveitamos esta oportunidade para expressar nossa sincera satisfação com a supressão da Capela Protestante em Roma. Isso pode ser considerado intolerante; mas quando, perguntamos, professamos ser tolerantes com o protestantismo ou favorecemos a questão de que o protestantismo deve ser tolerado? Pelo contrário, odiamos o protestantismo. Nós o detestamos de todo o coração e alma, e rezamos para que nossa aversão a ele nunca diminua." – Pittsburgh Catholic Visitor, julho de 1848, jornal oficial do bispo.

"O poder da igreja exercido sobre os soberanos na Idade Média não foi uma usurpação, nem tampouco originou-se das concessões dos príncipes ou do consentimento do povo, mas foi e é mantido por direito divino, e quem resiste a esse direito se rebela contra o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores" – Brownson's Review, junho de 1851.

"Os votos dos católicos devem ser decididos com firmeza a favor da Democracia na próxima eleição. É a única esperança possível para eliminar o sistema escolar (público)." – Toledo Catholic Review. Chiniquy, p. 680.

A Igreja Católica diz: "Nosso negócio é forjar:

"1º. Que os católicos sejam imbuídos de ódio contra os hereges, sejam eles quem forem, e que esse ódio aumente constantemente e os una estreitamente uns aos outros.

"2º. Que esse ódio seja, no entanto, dissimulado, de modo a não transparecer até o dia designado para manifestar-se.

"3º. Que esse ódio oculto seja acompanhado de esforços vigorosos para persuadir os fieis a se separarem de qualquer governo que se oponha a nós e a utilizá-los, uma vez que tenham formado uma entidade separada, para desferir golpes mortais contra a heresia." – Planos Secretos dos Jesuítas, revelados por Albate Leon, p. 127.

Em um sermão pregado em St. Louis, em 30 de junho de 1912, pelo padre D. S. Phelan, editor do conhecido jornal romanista local The Western Watchman, o padre Phelan disse: "Nós, da Igreja Católica, estamos prontos para ir até a morte pela igreja. Sob Deus. Ela é o objeto supremo de nossa devoção. Dizem que pensamos mais na Igreja do que nos Estados Unidos; é claro que pensamos. Dizem que somos católicos primeiro e americanos ou ingleses depois; é claro que somos.

"Dizem que, num conflito entre a Igreja e o governo civil, ficaríamos do lado da Igreja; é claro que sim. Se o governo dos Estados Unidos estivesse em guerra com a Igreja, diríamos amanhã: 'Para o inferno com o governo dos Estados Unidos'; e se a Igreja e todos os governos do mundo estivessem em guerra, diríamos: 'Para o inferno com todos os governos do mundo'." – America's Menace, C. W. Bibb, p. 115, 116. (1914).

A bula Unam Sanctam, promulgada em 1302 pelo papa Bonifácio VIII, articula o conceito de supremacia papal em termos claros e inequívocos, delineando os fundamentos sobre os quais essa doutrina é estabelecida. Ele afirma: "Quando os apóstolos declararam: 'Eis aqui duas espadas!', o Senhor não respondeu que isso era excessivo, mas sim suficiente. De fato, qualquer um que afirme que a espada temporal não pertence a Pedro interpreta mal as palavras do Senhor quando Ele instrui: 'Ponha sua espada na bainha!' Assim, tanto a espada espiritual quanto a temporal estão sob a autoridade da Igreja; a primeira deve ser exercida para a Igreja, enquanto a segunda é empunhada pela Igreja. A espada espiritual é mantida pelo sacerdote, enquanto a espada temporal é governada por reis e cavaleiros, mas somente a critério e tolerância do sacerdote. Pois, como a verdade testifica, o poder espiritual deve estabelecer o poder terreno e julgá-lo se não for bom. Assim, com relação à Igreja e ao poder eclesiástico, confirma-se a profecia de Jeremias: 'Eis que hoje te constituí sobre as nações e sobre os reinos', e as outras coisas que se seguem. Portanto, se o poder terreno errar, será julgado pelo poder espiritual. Se o poder espiritual inferior errar, será julgado pelo poder superior. Mas, se o poder superior errar, somente Deus poderá julgá-lo e não o homem, como testifica o apóstolo: 'O homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém'. Essa autoridade, ainda que tenha sido dada a um homem e por ele seja exercida, não é humana, mas de Deus. Foi dada a Pedro pela boca de Deus e fundada para ele e seus sucessores Naquele que ele, a rocha, confessou, quando o Senhor disse a Pedro: 'Tudo o que ligares', etc. Assim, quem resiste a este poder determinado por Deus 'resiste à ordem de Deus'. Por isso, declaramos, dizemos e definimos que é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice." – Tradução de Henderson, Hist. Docs. of the Middle Ages, p. 435, citado em George Burton Adams, Civilization During the Middle Ages, p. 394, 395.

Essa doutrina da Igreja Católica, segundo a qual ela presume ter autoridade de Deus para governar em todas as coisas temporais e espirituais, contraria o relacionamento mais fundamental entre o homem e seu Criador. Nega o poder de escolha dado por Deus às criaturas feitas à Sua própria imagem. A Igreja de Roma rouba do homem o poder de escolha – escolha entre servir a Deus e não servi-Lo.

Deus deu ao homem o poder de escolha porque desejava o serviço do amor – o serviço que brota da apreciação de Seu caráter e de Sua providência para com o homem. Ele não poderia ter prazer em uma obediência forçada. E, portanto, pela própria natureza do caso, Deus deu ao homem a liberdade de vontade, para que este pudesse prestar o serviço do amor voluntariamente.

Se Deus tivesse se contentado com qualquer outra forma de serviço, Ele teria criado a humanidade como meros autômatos, compelidos a seguir Sua vontade sem o poder de escolha. Claramente, se tal serviço fosse agradável a Deus, Ele não teria dotado a humanidade com o dom do livre-arbítrio. Nesse caso, o pecado teria sido impossível, a queda do homem não teria ocorrido e o mundo poderia ter sido poupado do fardo do pecado. Esse entendimento é acessível a nós, e é evidente que Deus também estava ciente disso. Portanto, está claro que o livre exercício da escolha tem uma importância significativa no projeto de Deus; contudo, o catolicismo parece minar esse aspecto essencial da existência humana.

Não encontramos nada na vida e nos ensinamentos de Jesus que indique qualquer preocupação com o governo terreno. Ele disse: "Dai, pois, a César o que é de César". (Mateus 22:21) Deus espera que Seu povo "esteja sujeito aos poderes superiores... os poderes que existem foram ordenados por Deus". (Romanos 13:1) Isso é explicado em Daniel 2:21, onde lemos: "Ele remove reis e estabelece reis; dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes."

O grande rei Nabucodonosor da Babilônia reconheceu isso quando disse: "Os viventes podem conhecer que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer e até ao mais humilde dos homens constitui sobre eles." (Daniel 4:17).

Aparentemente, em sua humildade, à qual havia sido levado pela maneira como Deus o tratou, Nabucodonosor reconheceu que ele próprio, embora fosse o mais humilde dos homens, havia sido autorizado por Deus a governar o mundo. E como governante do mundo, Deus o usou como instrumento para punir Seu próprio povo professo, mas tristemente transviado. Assim, vemos que Deus prepara o palco, move as cenas e controla o resultado final do drama da história deste mundo.

O mundo está sob Seu controle quanto ao resultado final, mas os atores individuais têm liberdade para escolher seus papeis, sendo que o próprio Deus mantém o julgamento final sobre cada um.

A Igreja, não obstante, arrogou para si a prerrogativa de "estabelecer reis" e "remover reis" – e, como mostra a história, quando ela teve esse poder, muitas vezes, e literalmente, escolheu "o mais vil dos homens".

Uma vez que o propósito declarado do papado é governar o mundo, tanto temporal quanto espiritualmente, e a doutrina sob a qual ele reivindica esse direito ensina, de fato, que quando a Igreja Católica tiver assumido o controle de todo o mundo, a condição resultante será o estabelecimento do Reino de Deus na Terra, será interessante ter um vislumbre desse "reino" como o encontramos no governo absoluto exercido pela Igreja de Roma nos Estados Papais.

De uma fonte católica oficial, com a aprovação de Joannes Rothensteines, Censor Librorum, e Joannes J. Glennon, arcebispo de St. Louis, encontramos um relato sobre "A condição dos Estados Papais", que começa na página 416 de Short History of the Popes, de Francis X. Seppelt e Clement Loeffler, que fizeram uma adaptação autorizada de uma obra alemã semelhante de Horace A. Frommelt, da qual citamos: "O eminente estadista italiano Luigo Carlo Farini, que em 1848 era subsecretário de Estado de Pio IX, nos apresenta um quadro das condições nos Estados Papais naquela época. Há muitas sombras, mas poucas luzes para aliviá-las.

"As forças militares locais demonstravam pouca disciplina, recebiam remuneração inadequada e eram consideradas pouco confiáveis; em contrapartida, os mercenários estrangeiros, embora mais eficazes, impunham um fardo ao povo, o que gerava impopularidade. O comércio era lento e havia uma completa ausência de indústrias de grande escala. A polícia operava de forma tirânica, tendo como alvo os liberais. As gangues armadas representavam uma ameaça para as áreas urbanas e rurais. Os órgãos governamentais eram desorganizados, impondo tributos excessivos e injustos aos cidadãos, enquanto as condições econômicas se deterioravam devido à má administração, à redução dos serviços ferroviários e à imobilidade dos grandes acúmulos de riqueza. Os recursos jurídicos eram escassos e os cidadãos não gozavam de igualdade de tratamento perante a lei, pois havia vários privilégios e imunidades. O processo judicial era caracterizado pela lentidão, complexidade, falta de confiabilidade e altos custos. A educação era extremamente deficiente em todos os campos, inclusive na instrução religiosa. O progresso da civilização enfrentava oposição ou era recebido com apatia. A imprensa local, juntamente com a literatura e os periódicos estrangeiros, estava sujeita a uma censura rigorosa. Os altos escalões do poder eram predominantemente ocupados por membros do clero. Muitos cidadãos foram 'admoestados' (ammoniti), o que os tornou inelegíveis para cargos no Estado e nas paróquias locais; muitos outros enfrentaram o exílio e foram submetidos a penalidades políticas. As comissões militares funcionavam continuamente. O governo não tinha a força derivada da lealdade de seus cidadãos e de uma opinião pública sólida. Enfrentava críticas e zombarias constantes de entidades estrangeiras e tornou-se alvo de boatos maliciosos. Havia uma crença generalizada de que era necessária uma renovação urgente e que reformas abrangentes eram imperativas. Os diplomatas eram perpetuamente assombrados pela ameaça de insurreição e revolução.

"O Cardeal Hergenrother caracteriza Farini como um revolucionário extremista e critica seu livro por ser excessivamente tendencioso e baseado em informações insuficientes. No entanto, a narrativa direta e contundente de Farini é bem apoiada por memórias contemporâneas e várias outras fontes. Cesare Cantú, que tem uma visão favorável do papado, fornece uma descrição bastante honesta em sua History of the Italians. Ele observa (capítulo 189) que 'constituições, orçamentos e outras invenções peculiares que são estranhas à teologia e têm pouca ou nenhuma relação com o Reino de Deus estavam além das capacidades do papa, de modo que ele deixou tudo para os ministros e para as circunstâncias. Consequentemente, as reformas prometidas em 1831 não produziram resultados expressivos ou até mesmo tiveram efeitos prejudiciais. O governo percebeu que essas concessões parciais estavam sendo feitas sob coação e procurou revogá-las. A justiça não era apenas suscetível à corrupção, mas também estava frequentemente à mercê das decisões arbitrárias e tirânicas dos funcionários. Qualquer desafio à ordem pública levava ao estabelecimento de uma comissão militar, que continuou até a formação da Consulta, embora esse órgão também estivesse sujeito a inúmeras regulamentações excepcionais. A prevalência de roubos, a corrupção que há muito tempo assolava Roma, a influência de maquinadores e a tirania de indivíduos poderosos e oficiais papais aumentaram significativamente.... As obras públicas priorizavam a ostentação em detrimento da praticidade. O viajante lamentava o estado dessas ruínas notáveis e questionava por que a agricultura e o cultivo não haviam tornado a área ao redor de Roma saudável e produtiva, por que os navios a vapor não navegavam pelo Tibre e por que nenhuma ferrovia ligava a capital cristã aos dois oceanos. A situação da moral pública era ainda mais preocupante. Além da força policial, havia uma facção que, sob o pretexto de lealdade ao governo, reprimia agressivamente as opiniões divergentes, fabricava falsas conspirações para satisfazer suas vinganças pessoais e incitava o conflito entre os súditos e seu governante. O papa permaneceu alheio a essas questões, pois seus confidentes garantiram que ele nunca fosse informado sobre tais assuntos. Consequentemente, ele foi levado a acreditar que tudo estava em perfeita ordem'."

Parece que o papa estava ciente das circunstâncias predominantes, conforme evidenciado pela declaração de Gregório XVI em 1843: "A administração civil dos Estados Pontifícios exige uma reforma abrangente, mas eu já estava com idade avançada quando fui eleito papa; não esperava viver tanto tempo e não tinha a determinação necessária para assumir uma tarefa tão importante. Quem quer que assuma essa responsabilidade deve levá-la até o fim. Agora, só me restam alguns anos ou dias de vida. Um papa mais jovem será nomeado como meu sucessor, e será seu dever realizar essa reforma essencial, sem a qual o progresso será inatingível." Essa citação é registrada como sendo "de uma declaração bem autenticada" na página 407 de Short History of the Popes. Gregório XVI serviu como papa de 1831 a 1846, o que significa que ele ocupou o cargo por doze anos na época dessa declaração. Foi dois anos após sua morte que Farini observou as condições descritas, e as "reformas prometidas" devem ter sido aquelas a que Gregório aludiu no início de seu papado em 1831.

A Enciclopédia Católica, vol. VII, p. 7, diz que "Dentro de quinze dias (da elevação de Gregório XVI ao pontificado em 2 de fevereiro de 1831) quase todos os Estados Papais haviam repudiado a soberania do papa", mas mesmo assim foram mantidos em sujeição.

Não obstante, em 1843, Gregório declarou que "a administração civil dos Estados Papais exige uma reforma abrangente", e então encontramos no vol. IV, p. 667, que "Gregório XVI fundou esta ordem (Ordem de Gregório Magno) para recompensar as virtudes civis e militares dos súditos dos Estados Papais por meio do breve 'Quod Summis', em 1º de setembro de 1831, e a colocou sob o patrocínio (controle do céu) do grande papa (Gregório I), cujo nome ela leva"!

Ainda na página 667 do vol. IV, ao relatar muitas condecorações pontifícias, títulos de nobreza, ordens de cavalaria cristã e outras marcas de honraria e distinção que a corte papal confere a "homens de caráter ilibado que promoveram de alguma forma os interesses da sociedade, da Igreja e da Santa Sé", afirma que a "Ordem de São Gregório Magno" ocupa o terceiro lugar em "importância e dignidade"! Grandes parecem ter sido as realizações daqueles que compunham os Estados Papais, conforme descrito nas páginas anteriores! Que importância! Que dignidade!

Se a descrição fornecida representa com precisão um pequeno paraíso na Terra – um reflexo do Reino de Deus que o papado pretende estabelecer, acreditando que tem um mandato divino para fazê-lo – não seria um mundo notável para se habitar se essa visão prevalecesse? E para ilustrar a oposição fundamental da Igreja Católica ao nosso sistema democrático, refiro-me à mesma História Católica oficial de Seppelt e Loeffler, que observa que Gregório XVI mencionou "aquela doutrina absurda e errônea de que a liberdade de consciência é necessária para todos os homens.... A experiência de todas as nações ensina que a destruição dos estados mais prósperos foi causada por esse único mal, a saber: a liberdade de expressão e pensamento e a mania de reforma. A isso deve ser acrescentada a desavergonhada e detestável liberdade de imprensa que alguns ousam exigir." – Short History of the Popes, p. 408-9.

Qualquer pessoa minimamente familiarizada com a maravilhosa Constituição dos Estados Unidos e sua Declaração de Direitos reconhecerá imediatamente que essa é uma condenação inequívoca de alguns de nossos patrimônios mais estimados.

É evidente que quando o papa Gregório XVI se referiu à "destruição dos estados mais prósperos", ele estava aludindo ao declínio da autoridade papal nessas regiões, significando a perda de influência do papado sobre elas. Também é evidente que os mesmos elementos que Gregório condenou, a saber, "liberdade de expressão e pensamento e a mania de reforma", provocaram sua "queda". Especificamente, foi o exercício dessas liberdades, independentemente de sua legalidade, que levou ao que Gregório XVI chamou de "destruição dos estados mais prósperos". Na Enciclopédia Católica, volume XII, p. 265, a "natureza e extensão do poder papal" é delineada, começando com "A jurisdição coercitiva universal do papa". Quais seriam as implicações para você e para mim se o papa exercesse controle sobre os Estados Unidos hoje?

Há evidências convincentes das maquinações do papado com o objetivo de adquirir autoridade temporal, conforme detalhado em uma biografia católica oficial do bispo Manning, da Inglaterra. Essa biografia, intitulada Life of Manning, vol. I, p. 663, é citada na obra de Augusta Cook, The Divine Calendar, vol. V, parte III, p. 97. O texto diz: "Com Leão XIII, Manning não era muito querido; sua proposta de estabelecer uma forte facção papal na Câmara Italiana para defender a restauração do Poder Temporal, em oposição à estratégia dos jesuítas de instigar um grande conflito europeu, não foi aceita pelas autoridades do Vaticano. Manning se opôs a uma Grande Guerra, reconhecendo que ela levaria à perda de muitas vidas romanistas; no entanto, essa preocupação não repercutiu em Roma ou nos jesuítas", e a Primeira Guerra Mundial começou em 1914.

"Os princípios e as doutrinas dos jesuítas permitem, ou obrigam, que eles se envolvam em qualquer ato ilícito e defendam qualquer sistema de crença, seja religioso ou secular, em busca de seu objetivo final: o domínio global. Um aspecto fundamental de sua agenda é o desmantelamento do protestantismo. O primeiro alvo é a Grã-Bretanha, pois ela serve como centro da influência protestante. Para desmantelar o Império Britânico, é necessária uma guerra externa e uma revolução interna. Essa revolução requer não apenas o caos, mas também o elemento fundamental do caos – o ateísmo. Consequentemente, observamos que o aumento da irreligião, do ceticismo em relação à Bíblia e ao cristianismo, do hedonismo e do declínio moral coincidiu com o aumento da presença dos jesuítas na Inglaterra. A erosão da fé genuína e dos padrões éticos pode ser atribuída não apenas aos jesuítas declarados abertamente, mas também a seus numerosos apoiadores, conhecidos como 'jesuítas coadjutores'." – The Divine Calendar, vol. V, parte III, p. 234, .

Não precisamos nos maravilhar com o fato de a Igreja Católica não ter escrúpulos quanto à escravização do negro africano ou dos índios nativos das Índias Ocidentais (pelo menos até que esses últimos fossem praticamente exterminados), pois descobrimos que ela não apenas tolerou, mas instituiu e incentivou a escravidão de protestantes brancos no reinado de Luís XIV da França, durante as últimas décadas do século XVII e os primeiros anos do século XVIII.

Em um livro chamado Torments of Protestant Slaves, do professor Edward Arber, D. Litt. (Oxon.) F.S.A., membro do King's College, Londres, impresso em 1907, encontramos uma compilação de comunicações de alguns dos protestantes escravizados nas galés do rei católico Luís XIV, da França católica. O prof. Arber apresenta, na página 5 de um adendo ao seu primeiro volume, uma página de amostra de um livro publicado por volta de 1700 sobre as terríveis crueldades infligidas aos protestantes na França católica naquela época, que não se conformaram com a religião do Estado:

"1700. Escravos protestantes assassinados nas galés.

"Afirmo que essa forma de punição é mais horrível e terrível do que a Roda, pois as vítimas estão à beira da morte, mas não são executadas. Os carrascos continuam a golpear até ficarem exaustas e sem fôlego, sendo obrigados a enviar as vítimas para o hospital. Quem poderia testemunhar uma cena tão chocante sem tremer e se emocionar profundamente? Como aqueles que se dizem cristãos puderam se tornar tão insensíveis a ponto de impor um sofrimento tão terrível?

"A mesma carta de 16 de outubro nos informa que:

"Com relação aos detalhes específicos, devo dizer, com profundo pesar, que houve tratamento severo em quase todas as galés, com exceção da Old Reale, destinada aos escravos deficientes, e algumas outras. Aqueles que se recusaram a saudar a Hóstia foram brutalmente executados, a ponto de, em certas galés, seis ou sete escravos, ou até mais, terem sido submetidos à tortura na prateleira (ou seja, no passadiço) e espancados 50, 100 ou até 120 vezes com uma corda revestida de piche e alcatrão e embebida em água do mar. Essa punição desumana foi infligida a eles repetidas vezes – duas, três, quatro ou mais vezes – até que concordassem em saudar a Hóstia ou fossem enviados ao hospital devido à gravidade de seus ferimentos.

"Há relatos de que o Sr. Maurin sofreu tormento semelhante em três, possivelmente quatro, ocasiões; ele foi confinado na última segunda-feira em uma das masmorras do hospital. Além disso, Monsieur Carriere e Monsieur Lostalet sofreram abusos severos em duas ocasiões distintas, cada um recebendo um total de cento e vinte golpes simultaneamente. Como resultado, foram enviados ao hospital em um estado muito ruim, cobertos de feridas e hematomas. Durante toda essa provação, o Sr. Lostalet permaneceu firme, ao lado dos Srs. Serres, Maurin, Grange e Peleivier, todos atualmente hospitalizados devido aos ferimentos sofridos. Observa-se que o Sr. Lostalet passou por um sofrimento tão extremo que só pode sair de sua cama com o auxílio de cordas suspensas no teto e com a ajuda de outras pessoas.

"O major declarou, hoje, que eles seriam deixados em paz até que se recuperassem; e então deveriam ser açoitados repetidas vezes, até que morressem ou prometessem saudar a Hóstia."

Essa página nos diz que, pela ofensa de se recusar a prestar continência tirando os chapéus para a "Hóstia", que é a hóstia consagrada que os católicos acreditam ser o corpo real de Cristo depois que algum sacerdote pronunciou em latim as palavras mágicas "Este é o meu corpo" (Hoc est Corpus Meum), de acordo com sua doutrina da transubstanciação, aqueles que não se conformaram abjetamente com a religião do Estado foram submetidos a crueldades indescritíveis.

Na página XXIII da introdução, o professor Arber apresenta a seguinte citação: "Chegamos agora ao ponto central dessa correspondência sobre os huguenotes. Henry Savile serviu como enviado inglês em Paris por trinta meses, mantendo estreitas conexões tanto com a corte francesa quanto com a principal comunidade protestante da cidade. Nenhum inglês estava em melhor posição do que ele para identificar os verdadeiros instigadores dessa grande perseguição, que ele atribui à malevolência dos jesuítas e à autoridade esmagadora de Luís XIV."

É realmente triste encontrar tal evidência de que os jesuítas, os padres que pertencem à chamada Companhia de Jesus, foram os próprios originadores dessa terrível prática de vingança contra aqueles que não se conformavam à religião do Estado. Temos mais evidências, na página 295 de Torments of Protestant Slaves, de que foram os clérigos católicos os gênios motivadores nesses assuntos, pois lemos: "Esses fieis confessores (da religião não conformista ou protestante) imploraram permissão para deixá-los ir para os porões (esgoto), ou para os lugares mais sujos e escuros dos bancos; mas os papistas não são tão gentis agora, como foram no inverno passado, com os confessores a bordo da [galé] Old Reale; pois eles nunca podem ser convencidos a conceder-lhes nada. Alguém dirigiu uma humilde petição ao intendente, implorando o favor de desencorajar tais atrocidades, e de deixar esses confessores permanecerem nos porões, mas ele se mostrou surdo aos seus pedidos. Pelo contrário, eles fizeram com que todos os irmãos de seis ou sete galés fossem esticados, no dia seguinte, na Coursey, os quais corajosamente se recusaram a saudar a Hóstia. Eles fizeram o mesmo em todas as galés; mas nenhuma execução, até agora, na Old Reale; onde estão nossos queridos e honrados velhos confessores.

"Essa é uma parte da política dos missionários (católicos), que, sem dúvida, reservam suas ações para a conclusão da tragédia, apresentando-se como excepcionalmente lenientes. Eles mantêm controle exclusivo sobre a situação, sem nenhum capitão para supervisionar suas operações, garantindo que ninguém os perceba como os instigadores dessas atrocidades. Entretanto, suas tentativas de disfarçar sua verdadeira natureza são inúteis; sob sua aparência externa, eles são, na verdade, lobos vorazes. São os principais instigadores dessas punições, tendo se comunicado com a corte e fornecido inúmeros relatos falsos sobre o sofrimento de nossos irmãos e sua conduta. Eles também são responsáveis pelas diretrizes rígidas dadas aos comandantes e majores, que até enfrentaram repreensões por serem excessivamente brandos em certas ocasiões. Esta carta, datada de 16 de outubro de 1700, de Marselha, ilustra ainda mais o envolvimento direto do clero católico nessas terríveis perseguições."

Um relato detalhando as experiências de certos escravos protestantes revela, na página 337, as seguintes informações: "Ambos os indivíduos foram confinados em calabouços localizados nos pontos mais distantes de Marselha; Monsieur De Marolles foi aprisionado no Forte Saint Nicolas, enquanto Monsieur Le Fevre foi mantido no Forte Saint Jean. Essa ação, como observado, foi executada sob uma ordem que o bispo e o intendente receberam da corte. Eles permaneceram presos até suas mortes: Monsieur De Marolles faleceu em 17 de junho de 1692, entregando sua alma a Deus, e Monsieur Le Fevre morreu na noite de 13 ou 14 de junho de 1702, dez anos após a perda de seu querido companheiro."

Esse fragmento de uma carta mostra que não era apenas o clero comum, mas que até mesmo os bispos estavam vigorosamente empenhados em garantir a condenação e o processo desses protestantes nas mãos das autoridades civis da França católica.

Outra carta, mencionada na página 179 de Torments of Protestant Slaves, da época da perseguição, ilustra que o abuso ia além dos homens e incluía as mulheres, que também sofriam muito. O trecho a seguir destaca esse fato: "Uma jovem foi convocada perante o Conselho, onde foi pressionada a renunciar à verdade do Evangelho. Recusando-se corajosamente a fazê-lo, ela foi mandada de volta para a prisão. Ali, sua cabeça foi raspada e, depois de ser despida completamente, desfilou pelas ruas da cidade, sofrendo várias agressões e pedradas.

"Em seguida, eles a colocaram em uma banheira cheia de água, submergindo-a até o pescoço. Depois de algum tempo, eles a retiraram da banheira e a vestiram com uma camisola embebida em vinho. Quando o tecido secou e aderiu à sua pele dolorida e machucada, eles o removeram à força e o substituíram por outra roupa, também embebida em vinho. Esse processo foi repetido seis vezes. Como resultado desse tratamento cruel, seu corpo ficou extremamente cru e sensível. Eles então perguntaram se ela se sentia inclinada a aceitar a fé católica, como eles se referem à sua religião.

"No entanto, ela, fortalecida pelo espírito e pelo amor d'Aquele por quem suportou tais dificuldades, respondeu corajosamente que já havia declarado seu compromisso inabalável, que não mudaria. Ela reconheceu que, embora eles tivessem controle sobre seu corpo, ela estava determinada a não entregar sua alma a eles; em vez disso, pretendia preservá-la pura e imaculada para seu Divino Amado. Ela entendeu que seu sofrimento logo chegaria ao fim, levando ao início de sua paz eterna.

"Suas palavras aumentaram o ódio de seus algozes, pois agora não tinham esperança de convertê-la; tomaram-na e a penduraram pelos pés a algo que servia como uma forca; e lá a deixaram pendurada, naquela posição ignominiosa, com a cabeça para baixo, até que finalmente morreu."

Esse exemplo ilustra a extensão da crueldade que os indivíduos podem infligir uns aos outros quando afirmam sua autoridade e orgulho para ditar as crenças dos outros. É importante reconhecer que a Igreja Católica mantém sua reivindicação de infalibilidade, afirmando que ela permaneceu inalterada e não pode mudar. Isso levanta a possibilidade de que injustiças semelhantes possam ocorrer em nossa querida América se a Igreja Católica obtiver controle sobre a autoridade civil. De acordo com a Enciclopédia Católica, vol. VII, p. 260, "todas as punições que exigem o envolvimento do poder secular foram suspensas". Além disso, ela afirma: "Quando a Igreja considerar apropriado empregar força física, ela o fará." – The Western Watchman (publicação católica) 24 de dezembro de 1908.

Sem dúvida, o autor será acusado de fanatismo e intolerância. Portanto, o leitor deve conhecer um pouco das declarações oficiais dos porta-vozes do catolicismo, que não deixam dúvidas de que eles são culpados daquilo de que acusam os outros. Fariam bem em tirar a "trave dos próprios olhos".

Em um livro intitulado Plain Talk About the Protestantism of Today, de mons. Segur, parte 2, prop. XVII, p. 134, afirma-se: "Seria um insulto ao clero católico ser comparado aos pastores das seitas protestantes. Como o protestantismo não é uma religião, não importa o que digam em contrário, seus ministros não têm a autoridade do sacerdócio, não importa o quanto tentem transparecer isso."

Na parte 3, proposição VI, p. 183, o mesmo autor afirma que "a Igreja proclama e defende verdades que são tão certas quanto as encontradas na matemática. A Igreja ensina e defende essas verdades com um nível de intolerância comparável ao da ciência matemática em seu próprio domínio. Isso é totalmente lógico; a Igreja Católica, em meio a uma infinidade de seitas diferentes, afirma possuir a verdade absoluta, que é essencial para o cristianismo autêntico. Somente ela tem autoridade para ser intolerante. Somente ela deve declarar, como tem feito consistentemente ao longo da história em seus concílios: 'Se alguém disser ou crer em algo contrário ao que eu ensino, que é a verdade, que seja anátema'."

Com relação à Inquisição Espanhola, La Maistre (um católico) reconheceu em Letters on the Spanish Inquisition, p. 22-39, que ela foi estabelecida na Espanha "em virtude da bula do soberano pontífice" e observou que o grande inquisidor "é sempre um arcebispo ou um bispo". Na parte 3, proposição VII, p. 186, mons. Segur diz: "Você pode avaliar essa instituição como quiser; você tem a liberdade de denunciar os abusos e crueldades que ela cometeu – mas é preciso reconhecer que o grande papel desempenhado pelo clero em seus julgamentos representa um exercício legítimo e natural da autoridade eclesiástica."

Essa é a filosofia que supostamente converterá o mundo a Jesus! Com base nas evidências apresentadas, não pode haver dúvida quanto à natureza da Igreja Católica; ela é mais política do que religiosa e apenas nominalmente cristã.

Não há dúvida de que a instituição da escravidão na América, desde a chegada de Colombo em 1492 até o final da Guerra Civil em 1865, foi estabelecida, apoiada, endossada, protegida e racionalizada pela Igreja Católica Romana e seus seguidores. Essa influência começou com Cristóvão Colombo, chamado de "filho querido" da Igreja, e se estendeu até o primeiro tiro disparado em Fort Sumter pelo general católico Beauregard, que marcou o início da Guerra Civil. Além disso, a assistência secreta fornecida por figuras católicas, como o arcebispo John Hughes, em Nova York, e o bispo John England, em Charleston, Carolina do Sul, teve um papel significativo, culminando no assassinato do presidente Abraham Lincoln em 14 de abril de 1865, pelo católico John Wilkes Booth.

Não há dúvida de que a Ordem dos Jesuítas da Igreja Católica planejou, conspirou e levou a cabo o trágico evento.

Os historiadores católicos descrevem os resultados do controle político católico durante vários séculos na Europa, especialmente nos Estados Papais, que foram governados pelos papas durante onze séculos. Esse retrato nos leva a concluir que não desejamos nenhum envolvimento em um sistema desse tipo para a América.

Leitor, ore para que a América permaneça livre do jugo papal e para que você mesmo não se deixe levar pela grandeza e pelas pretensões avassaladoras do "Mistério da Iniquidade".


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