Por que a abordagem historicista é importante para os adventistas? O que é um adventista do sétimo dia? Um adventista é comumente descrito como um cristão que observa o sábado do sétimo dia e que está se preparando para a segunda vinda do Salvador. Isso é verdade, mas a perspectiva é bem mais ampla.
Por Frank B. Holbrook, Biblical Research Institute
Por que a abordagem historicista é importante para os adventistas
O que é um adventista do sétimo dia? Um adventista é comumente descrito como um cristão que observa o sábado do sétimo dia e que está se preparando para a segunda vinda do Salvador. Isso é verdade, mas a perspectiva é bem mais ampla.
A verdadeira moldura distintiva que mantém unida a imagem da verdade, conforme percebida pelos adventistas do sétimo dia, é sua compreensão das profecias de Daniel e Apocalipse. Nessas profecias apocalípticas, os adventistas encontraram seu lugar no tempo, sua identidade e sua missão.
O entendimento adventista da profecia bíblica deriva dos princípios da "escola historicista" de interpretação profética. Essa visão historicista (também conhecida como a visão "histórica contínua") vê o desdobramento das profecias de Daniel e Apocalipse em vários pontos do tempo histórico, muitas vezes abrangendo a varredura da história desde os dias de Daniel e João (os autores humanos desses livros) até o estabelecimento do reino eterno de Deus.
Uma ilustração bíblica desse desenrolar do pergaminho profético ao longo do contínuo da história humana é o sonho profético dado ao rei neobabilônico Nabucodonosor e sua interpretação pelo profeta Daniel (ver Dn 2:31-45). Em seu sonho, o rei viu a imagem de uma estátua composta de vários metais de valores decrescentes: cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze, pernas de ferro, pés e dedos de ferro e argila. O sonho culmina com uma grande pedra, misteriosamente extraída sem ajuda humana da encosta de uma montanha, que caiu com uma força devastadora sobre a estátua, esmiuçando-a. Quando o vento soprou esses elementos metálicos para longe "como a palha das eiras no estio", a pedra "se tornou um grande monte e encheu toda a terra" (Dn 2:35).
Daniel identificou claramente que a cabeça de ouro simbolizava o império da Babilônia sob Nabucodonosor (v. 37, 38). Ele seria seguido por três reinos mundiais sucessivos correspondentes aos três metais diferentes. A história registra que esses reinos foram a Medo-Pérsia, a Grécia e a "monarquia de ferro" de Roma. Na última parte do século V d.C., o império de Roma no Ocidente foi totalmente desmembrado. Suas partes vieram a formar as nações da Europa Ocidental – simbolizadas pelas partes fortes e frágeis dos pés e dedos compostos de ferro e argila. A "pedra", que finalmente destruirá essas e todas as outras entidades humanas e políticas, simboliza o reino eterno que "o Deus do céu estabelecerá" no final da história humana (ver os versos 44, 45, RSV).*
Assim, o sistema historicista de interpretação reconhece nas profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse a mão da Providência Divina movendo-se através dos séculos, dominando os eventos de maneira a cumprir os propósitos de Deus.
Jesus, nosso Senhor, viu um desenrolar semelhante do rolo profético em Daniel 9:24-27, parte de uma profecia muito mais extensa revelada a Daniel pelo anjo Gabriel nos primeiros anos do império Medo-Persa. Nessa parte, foram feitas várias previsões importantes. Um período de "setenta semanas" seria concedido a Israel após sua libertação do cativeiro babilônico. Com base no princípio de que, na profecia apocalíptica, um "dia" simbólico equivale a um ano literal, esse período se traduz em 490 anos (70 semanas de sete dias cada equivalem a 490 dias, ou 490 anos literais). Perto do fim desse período, o tão esperado Messias apareceria. Esse poderia e deveria ter sido o melhor momento de Israel, quando o Salvador do mundo "daria fim aos pecados", "expiaria a iniquidade" e "traria a justiça eterna" (verso 24).
Mas havia uma sombra – um lado sombrio do quadro profético. Implicava a rejeição do Messias, que seria "cortado, mas não para si mesmo". Uma retribuição trágica viria em seguida, com a destruição de Jerusalém e de seu templo (verso 26).
Os aspectos messiânicos dessa profecia tiveram seus respectivos cumprimentos na vida, no ministério e na morte expiatória de Jesus Cristo. Mas a destruição da cidade e do templo ainda eram eventos futuros quando o Salvador fez Seu importante discurso no Monte das Oliveiras dois dias antes de Sua paixão (ver Mateus 24). Com base na profecia registrada em Daniel 9, nosso Senhor apontou para a iminente ruína nacional (ver Mateus 24:15; cf. cap. 24:1, 2; Lucas 21:20-24), que se cumpriu ardentemente pelas armas romanas cerca de quarenta anos depois, no ano 70 d.C.
Daniel 9:26, ao qual Jesus fez alusão, é parte de uma visão muito maior que ocupa os capítulos 8 e 9 do livro de Daniel e simboliza eventos que se estendem desde os tempos persas até o início do juízo final de Deus (ver cap. 8:13, 14). Mais uma vez, temos aqui outro exemplo notável da perspectiva historicista da profecia apocalíptica que serve para confirmar e fortalecer a fé na liderança de Deus ao longo dos séculos, em meio a todos os jogos e contra jogos da oposição satânica, do orgulho e da ambição humana.
Historicismo e a Reforma
Os mileritas, os antepassados espirituais imediatos dos adventistas do sétimo dia, eram historicistas, ou seja, interpretavam Daniel e Apocalipse em harmonia com os princípios da "escola histórica" de interpretação profética. Mas o método não se originou com os mileritas americanos de meados do século XIX; pelo contrário, eles simplesmente refletiram e elaboraram os trabalhos de muitos estudantes da Bíblia das eras da Reforma e pós-Reforma.
A pregação da Reforma do século XVI sobre as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse tendia a se concentrar no que os reformadores acreditavam ser uma apostasia cristã que havia surgido na cristandade europeia e que eles viam simbolizada no chifre pequeno (cap. 7), na besta semelhante a leopardo (Apocalipse 13) e na mulher montada na besta de cor escarlate (Apocalipse 17). Essa pregação teve um efeito significativo na Europa.
Na Contrarreforma, que inevitavelmente se seguiu, Roma respondeu ao desafio procurando desviar a importância dessas aplicações que ela considerava perigosas. O resultado foi a publicação da argumentação inicial para o que mais tarde se tornaria dois métodos distintos, mas diversos, de interpretação profética: os sistemas futurista e preterista. Estudiosos católicos e protestantes concordam sobre a origem desses dois sistemas distintos, ambos em conflito com o método historicista e as interpretações dele derivadas.
Futurismo
Perto do fim de sua vida, o jesuíta espanhol Francisco Ribera (1537-1591) publicou um comentário de 500 páginas sobre o livro de Apocalipse. Ele atribuiu os primeiros capítulos à Roma antiga, mas propôs que a maior parte das profecias seria cumprida em um breve período de três anos e meio no final da era cristã. Nesse curto espaço de tempo, o anticristo (um único indivíduo, de acordo com Ribera) reconstruiria o templo de Jerusalém, negaria Cristo, aboliria o cristianismo, seria recebido pelos judeus, fingiria ser Deus e conquistaria o mundo. Dessa forma, a alegação protestante de que os símbolos apocalípticos do anticristo denotavam um sistema religioso apóstata foi rebatida, e o foco das profecias foi desviado do presente para um futuro distante.
Preterismo
Outro jesuíta espanhol, Luis de Alcazar (1554-1613), também publicou uma obra acadêmica sobre o Apocalipse, postumamente, em 1614. Resultado de um esforço de quarenta anos para refutar o desafio protestante, a publicação de Alcazar desenvolveu um sistema de interpretação conhecido como preterismo (do latim praeter, que significa "passado"). Sua tese, oposta à de Ribera, era que todas as profecias do Apocalipse haviam sido cumpridas no passado, ou seja, nos séculos V e VI d.C., os primeiros séculos do cristianismo. Ele afirmava que esse livro profético simplesmente descrevia uma guerra dupla da igreja - sua vitória sobre a sinagoga judaica, por um lado (caps. 1-11), e o paganismo romano, por outro (caps. 12-19). Alcazar aplicou os capítulos 21 e 22 à Igreja Católica Romana como a Nova Jerusalém, gloriosa e triunfante.
Com o tempo, esses sistemas distintos de contra interpretações começaram a penetrar com sucesso no pensamento protestante. O preterismo foi o primeiro, no final do século XVIII. Sua forma atual está ligada ao surgimento e à disseminação de metodologias e abordagens da alta crítica para o estudo das Escrituras. As interpretações preteristas das profecias tornaram-se hoje a visão padrão do protestantismo liberal.
As sementes do futurismo católico, embora refutadas no início, acabaram criando raízes no solo do protestantismo durante o primeiro quarto do século XIX. O futurismo, ampliado com outros elementos (por exemplo, muitos futuristas ensinam um arrebatamento secreto e pré-tribulacional), é atualmente seguido de alguma forma pela maioria das entidades protestantes conservadoras.
Assim, nos séculos que se seguiram à Reforma, os contramovimentos de Roma para desviar de si a aplicação das profecias apocalípticas pelos reformadores foram amplamente bem-sucedidas. O sistema futurista de interpretação, como é conhecido hoje, limpa a era cristã de qualquer significado profético, removendo o cumprimento da maior parte das profecias do Apocalipse (e certos aspectos de Daniel) para o fim dos tempos. O sistema preterista atinge o mesmo objetivo ao relegar as profecias de ambos os livros ao passado. Segundo o preterismo, as partes proféticas significativas de Daniel são atribuídas a eventos do século II a.C. e aos tempos de Antíoco IV Epifânio; o Apocalipse é restrito ao judaísmo e a Roma nos primeiros quinhentos anos de nossa era. Portanto, para a maioria dos protestantes e católicos, a era cristã do século VI até o fim dos tempos é totalmente desprovida de significado profético no que diz respeito aos livros de Daniel e Apocalipse.
Os adventistas do sétimo dia estão praticamente sozinhos hoje como expoentes da "escola historicista" de interpretação profética. Se nossas interpretações da profecia e nossa autocompreensão diferem daquelas sustentadas pelos amigos cristãos fora de nossas fileiras (ou de alguns críticos que podem surgir de dentro de nossa comunhão), isso se deve em grande parte ao fato de que nós, como povo, sempre estivemos e estamos comprometidos com o sistema historicista de interpretação profética, que acreditamos ser solidamente bíblico.
Nosso tempo e missão
Em Daniel 7, o profeta registra a primeira de várias visões que lhe foram dadas pessoalmente. Essa visão é semelhante ao sonho profético dado muitos anos antes a Nabucodonosor. No entanto, em vez de uma imagem de metal para simbolizar a sequência da história, Daniel vê os mesmos impérios mundiais da Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma como animais selvagens – leão, urso, leopardo e uma quarta criatura, sem paralelo com nenhum outro animal da natureza. Em Daniel 7, a divisão de Roma nas nações da Europa Ocidental é simbolizada por dez chifres que sobem da cabeça da quarta besta. Contudo, dois novos elementos são introduzidos nessa visão: (1) um chifre pequeno que se ergue entre as nações da Europa Ocidental com "olhos como os de homem, e uma boca que fala grandes coisas" (verso 8) – ou seja, o anticristo – e (2) a fase inicial do juízo final.
Duas coisas são imediatamente dignas de nota sobre a descrição profética do juízo. Primeiro, ele ocorre no céu. "Eu olhava", diz Daniel, "até que foram postos os tronos, e se assentou o ancião de dias, cuja veste era branca como a neve, e os cabelos da sua cabeça como a pura lã; o seu trono era como a chama de fogo, e as suas rodas como fogo ardente. Milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e abriram-se os livros" (versos 9 e 10).
Segundo, essa cena da corte celestial ocorre antes da segunda vinda de Jesus. Trata-se de um juízo pré-advento que se inicia e opera durante o tempo da graça. No final da visão, Daniel vê outra cena no céu que confirma essa observação. "Tive visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um semelhante ao filho do homem, e dirigiu-se ao Ancião de dias, e o fizeram chegar diante dele. E foi-lhe dado o domínio, e a glória, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino, um reino que jamais será destruído" (versos 13 e 14). Durante Seu julgamento, Jesus Cristo se identificou como o "Filho do homem" celestial descrito por Daniel (cf. Mt. 26:63, 64).
De acordo com Daniel 7, é no final dessa cena do juízo celestial que Cristo receberá Seu reino, bem como todos os que forem dignos de serem Seus súditos em Seu reinado eterno. Então, Ele virá pela segunda vez a esta Terra, não como um bebê humilde, mas como "Rei dos reis e Senhor dos senhores", para pôr fim ao domínio de Satanás e do pecado e levar Seu povo para Si.
Mas quando ocorrerá essa fase de juízo pré-advento? Acaso a profecia especifica um momento para esse evento impressionante que não seja em termos gerais - no fim dos tempos? Os adventistas do sétimo dia creem que sim. Na segunda visão de Daniel (Dn 8 e 9) – que mais uma vez é paralela e desenvolve o sonho e a visão dados anteriormente nos capítulos 2 e 7 – o juízo pré-advento é descrito como a "purificação" do santuário ou templo celestial.
É revelado um elemento temporal de 2.300 "dias" proféticos, ou um período de 2.300 anos segundo o princípio dia-ano. Iniciando com a profecia das 70 semanas (parte integrante da visão e da interpretação de Dn 8 e 9) em 457 a.C., na época do decreto de Artaxerxes que restaurou a autonomia judaica, esses 2.300 anos se estendem pelos séculos, até o outono de 1844 d.C. Naquela ocasião, no céu, "assentou-se o tribunal, e abriram-se os livros" (Dn 7:10), e o processo de purificação do santuário celestial, ou a restauração de seu estado legítimo, foi iniciado (Dn 8:14).
São essas linhas de profecia encontradas nos capítulos 2, 7, 8 e 9 de Daniel, interpretadas segundo os princípios historicistas, que fazem com que os adventistas do sétimo dia sintam a seriedade do tempo em que o mundo vive agora, desde 1844. O juízo pré-advento está em andamento, a primeira fase do juízo final. Em 1844, o mundo ingressou nessa etapa como se fosse a última entrada no jogo da vida, a última volta da corrida. Cristo entrou em Sua fase final do ministério sacerdotal mediador. A misericórdia começou a fazer seu último apelo a um planeta condenado. As areias do tempo da graça quase se esgotaram na ampulheta do tempo, e Jesus Cristo está prestes a deixar de lado Seu papel de intercessor do homem e vir como o legítimo proprietário e governante deste mundo.
É no cenário impressionante deste juízo pré-advento que os adventistas do sétimo dia creem que o livro companheiro de Daniel, o Apocalipse, identifica seu movimento e sua missão no tempo do fim. De acordo com o profeta João, o convite do evangelho, juntamente com certas ênfases específicas, deve ser proclamado em todo o mundo imediatamente antes do retorno de nosso Senhor (ver Apocalipse 14:6-14). Essa obra especial do tempo do fim é simbolizada por três anjos que têm uma mensagem para os habitantes da Terra enquanto voam pelo céu. Observe alguns detalhes específicos:
O primeiro anjo é descrito como pregando "o evangelho eterno" a um público global, clamando em alta voz: "Temei a Deus e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu juízo [grego, "chegou"]; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (verso 7). O segundo anjo anuncia a queda da Babilônia mística, e o terceiro adverte contra a adoração da besta, da sua imagem e o recebimento de sua marca.
Nessas cenas proféticas, os adventistas do sétimo dia veem delineada sua missão – de alcance global para anunciar a seus semelhantes que a hora do juízo de Deus chegou, que o juízo pré-advento no céu, conforme descrito por Daniel, começou e está agora em andamento. À medida que o tempo da graça se aproxima inexoravelmente de seu fim, seu apelo a todas as raças e culturas é para que aceitem a salvação oferecida em Jesus Cristo, voltem à adoração de Deus, que criou a humanidade, respeitem-no e honrem-no vivendo em harmonia com Sua lei, incluindo a observância de Seu sábado, conforme declarado no quarto mandamento. Essa missão também inclui advertências contra a apostasia e contra a adoração e as instituições falsas que substituíram o que Deus ordenou.
O mundo atual é como o de Noé. Há uma estranha entrega à toda forma de maldade e prazer, sem muita consideração pelo futuro. Não tarda o dia em que a sentença solene será proferida: "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras." (Apocalipse 22:11-12).
Consequentemente, embora os adventistas procurem apresentar Cristo como o centro de toda doutrina e enfatizar a centralidade de Sua morte expiatória, ainda assim é a urgência e a seriedade da atual hora do juízo que impele esse povo a alcançar, por todos os meios possíveis, "toda nação, e tribo, e língua, e povo" (cap. 14:6) com o bálsamo da graça curativa do Céu.
* As citações das Escrituras neste artigo marcadas com RSV são da Versão Padrão Revisada da Bíblia, com direitos autorais de 1946, 1952, © 1971, 1973.
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1 Comentários
Que Deus continue te usando irmão para transmitir as verdades biblicas
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