Perder de vista a Cristo em Seu santuário equivale a perder o significado espiritual da adoração verdadeira e, portanto, tudo o que ele representa na vida do crente.
Uma renovação da adoração entre o povo de Deus deve necessariamente consistir em um retorno a Cristo, pela fé, no local de Sua derradeira obra em favor dos santos, ou seja, no santuário celestial (Hebreus 4:14-16; 7:24-25; 8:1-2; 9:23-24; 10:19-23)!
Uma renovação da adoração entre o povo de Deus deve necessariamente consistir em um retorno a Cristo, pela fé, no local de Sua derradeira obra em favor dos santos, ou seja, no santuário celestial (Hebreus 4:14-16; 7:24-25; 8:1-2; 9:23-24; 10:19-23)!
Essa é, substancialmente, a mensagem do anjo portador do evangelho eterno à geração do fim:
A palavra traduzida aqui como juízo, krisis, refere-se à ação de julgar ou separar. Em conexão com o apelo de Deus à adoração verdadeira, a hora do julgamento divino consiste, pois, na separação ou distinção entre os verdadeiros e os falsos adoradores.
O tempo do verbo grego indica o sentido de urgência desta mensagem: "é chegada a hora do seu juízo". O julgamento celestial não é um acontecimento futuro. Ele já começou! Está agora em andamento, razão por que Deus chama os homens a temê-Lo, glorificá-Lo e adorá-Lo, enquanto ainda existe oportunidade!
Para aqueles que responderem favoravelmente ao convite da graça, olhando para Cristo em Seu santuário em busca de perdão e santificação, o juízo é boa-nova que resultará em sua vindicação diante de Deus! Para aqueles, porém, que recusarem ouvir o apelo da graça e escolherem a adoração da besta e da sua imagem, o juízo será um tempo de angústia que resultará em condenação (Apocalipse 14:9-11).
O anúncio do juízo em Apocalipse 14:7 é paralelo à cena do julgamento na visão de Daniel, quando "assentou-se o tribunal, e se abriram os livros" (Daniel 7:10). A corte celeste em sessão, presidida pelo Ancião de Dias na pessoa do Filho do Homem, Jesus Cristo (Daniel 7:13, conforme João 5:22, 27), é, com efeito, o marco sobre o qual a mensagem do primeiro anjo à adoração verdadeira é estruturada!
Assim, só podemos obter uma compreensão mais profunda sobre o significado da adoração de Deus em seu marco do tempo do fim, isto é, na perspectiva da solene obra de Cristo sem Seu santuário como nosso Sumo Sacerdote e Juiz! Esse é o "novo e vivo caminho" para reavivar a verdadeira adoração entre o povo de Deus.
Da mesma forma que o israelita olhava para o antigo tabernáculo em busca de orientação, devemos nós hoje olhar para Cristo no santuário celestial, de onde emanam as verdades bíblicas sobre a adoração verdadeira no contexto do tempo do fim, de modo a obter uma orientação segura sobre aquilo que Deus espera de nós.
Fixar os olhos em Cristo e na Sua obra final de intercessão e juízo no santuário celestial é, ao mesmo tempo, uma necessidade e um desafio para o cristão. Necessidade, porque vivemos dias sobremodo solenes em virtude da natureza da obra final de Cristo em Seu santuário. Desafio, porque a linha divisória entre o sagrado e o comum se torna cada vez menos distinta, à medida que o humanismo e o secularismo avançam em nossa sociedade e nas igrejas.
A santidade de Deus e a santidade do sábado, em associação com a santidade do ministério sumo sacerdotal de Cristo na sede de operações no Céu, desafiam o cristão a respeitar a profunda distinção entre o sagrado e o comum, o santo e o profano. Negligenciar essa distinção é o caminho mais rápido para a apostasia.
A perda do senso do sagrado, conforme observa Samuele Bacchiocchi, afeta muitos aspectos da vida cristã hoje. Para muitas pessoas, nada é mais sagrado. O dia santo se tornou um feriado. O matrimônio é visto como um contrato civil que pode ser anulado facilmente pelo processo legal, em vez de ser uma aliança sagrada testemunhada e garantida pelo próprio Deus. A igreja é tratada como um centro social para divertimento, em vez de ser um lugar sagrado para adoração. A pregação tira sua inspiração de assuntos sociais, em vez de tirá-los da Palavra de Deus. Pelo mesmo motivo, a música na igreja é frequentemente influenciada pela batida do rock secular, em vez de ser influenciada pelas Sagradas Escrituras. (1)
Tudo isso decorre não somente da influência externa do secularismo e do relativismo cultural, que torna a igreja espiritualmente impotente, mas também de um problema interior, figadal, íntimo da alma, que diz respeito à nossa natureza ainda não santificada pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus. A combinação de ambos os fatores nos torna completamente vulneráveis ao vinho sedutor da Babilônia moderna (Apocalipse 14:8).
A experiência de Isaías registrada no capítulo 6:1-6 de seu livro é, com efeito, bastante instrutiva para nós hoje. O profeta contempla, em visão, uma cena de juízo que apresenta Deus como vindo para o julgamento (Isaías 5:16)! O que significa estar na presença de Deus nesse dia? Qual o resultado de ser confrontado com a santidade e a glória de Deus no Seu templo? Que esperança pode haver para o pecador nessas circunstâncias?
Isaías relata que, "no ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo" (Isaías 6:1). O fato de Isaías ter recebido esta extraordinária visão no ano da morte de Uzias, rei de Judá, é bastante significativo em relação à experiência visionária do profeta.
Durante o longo reinado de Uzias, Judá conheceu uma prosperidade material e política sem paralelos desde a morte do rei Salomão (II Crônicas 26:1-15). Essa prosperidade, porém, não foi acompanhada de um correspondente progresso espiritual. Logo o orgulho e a autossuficiência substituíram a primitiva discrição e humildade que até então haviam caracterizado o seu governo.
Exaltando-se a si mesmo, Uzias corrompeu seu coração, transgredindo, por conseguinte, o mandamento do Senhor. Levado pela presunção, o rei tentou tomar o ofício sacerdotal, que Deus havia expressamente reservado aos descendentes de Arão (Números 18:1-7). Sua ambição em queimar incenso no santuário foi alimentada por seu orgulho, decorrente do ápice do poder real (II Crônicas 26:16-21). Há aqui, certamente, uma lição para nós, laodiceanos.
A apostasia de Uzias representava a condição espiritual e moral do povo nesse tempo, deixando a nação vulnerável à invasão dos inimigos de Deus. O juízo divino que se abateu sobre o rei na forma da lepra simbolizava bem essa condição, e nos lembra sobre as trágicas implicações de se buscar a santidade de maneira presunçosa, confundindo o santo com o secular.
Foi nesse contexto que Isaías contemplou, em visão, a magnificente presença de Deus no lugar santíssimo do santuário celestial, sentado em Seu alto e sublime trono, e cujas vestes de infinita glória enchiam o templo! Ouviu as antífonas dos resplandecentes serafins em honra ao Altíssimo, os quais clamavam em alusão ao Seu mais importante atributo: "Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos", enquanto velavam o rosto, em reverente temor, não obstante o fato de serem seres perfeitos, sem pecado! Isaías sentiu os próprios fundamentos do templo tremerem ante a voz de Deus, e presenciou o santuário enchendo-se de fumaça, como que refletindo Sua luminosa glória (Isaías 6:2-4)!
Que experiência impressionante teve o profeta Isaías! Ele viu o verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores, identificado no evangelho de João como Jesus Cristo (João 12:41)! Seu relato é muito semelhante à descrição que João faz do templo de Deus no Céu, em Apocalipse 4! Ambas as visões destacam a santidade do Senhor. Como Deus santo, Ele requer santidade de Seu povo, uma mensagem enfatizada também no antigo tabernáculo (Êxodo 39:30)!
A experiência visionária de Isaías é de grande significação para a igreja de Deus hoje. Conquanto não fosse sumo sacerdote e não oferecesse incenso, foi-lhe permitido ter um vislumbre do que significa estar na presença de Deus no lugar santíssimo do santuário! As referências ao templo cheio de fumaça, ao altar, à confissão de pecados e ao juízo e expiação para o pecado e a impureza nos remetem imediatamente ao Dia da Expiação (ver Levítico 16)!
Tendo experimentado a adoração de Deus pelos lábios dos seres celestiais, Isaías percebeu a insuficiência da adoração oferecida por lábios mortais, pecaminosos. (2) Sua reação ante a glória e a santidade do Senhor é um testemunho contundente sobre a nossa verdadeira condição perante Deus:
Estar na presença de um Deus santo proporcionou a Isaías uma percepção mais exata da pecaminosidade humana. Possuído por uma angústia além da capacidade de descrever, sentiu profundamente as imperfeições e impurezas dele e do povo, sua culpabilidade diante de Deus e sua insignificância ante Sua majestade!
Que notável contraste entre a reação de Isaías e a presunção de Uzias! Enquanto o primeiro permitiu que a santidade de Deus o alcançasse, reconhecendo humildemente sua verdadeira condição perante Deus e a necessidade de perdão e justificação, o segundo procurou obtê-la por méritos próprios!
O senso de debilidade e indignidade do pecador diante da presença do Senhor em combinação com sua confiança no poder de Cristo para justificar, santificar e redimir de todo o pecado constitui o terreno fértil a partir do qual Ele pode operar os maiores milagres! O Senhor mesmo declara por intermédio de Sua Palavra: "mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra" (Isaías 66:2). "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Salmo 51:17)!
A resposta do Senhor ao clamor de Isaías foi imediata:
A brasa viva representa apropriadamente o poder purificador e refinador da graça divina, retirada do altar de incenso, símbolo da obra de intercessão de Cristo no santuário celestial em favor dos santos (Êxodo 30:6-8; Apocalipse 8:3-4; 5:8). Por meio do perdão e da purificação que vem de Deus, o caráter humano é refinado e transformado!
Curiosamente, na adoração do santuário, a principal razão para tirar uma brasa do altar era para acender o incenso (Levítico 16:12-13). Mas, em Isaías 6, o serafim aplica a brasa sobre o profeta, e não sobre o incensário. Considerando que Uzias quis oferecer incenso, Isaías se tornou o próprio incenso! Assim como o fogo santo acendia o incenso para encher a casa de Deus com santa fragrância, acendeu o profeta para espalhar uma mensagem santa. Não é por acaso que nos versos seguintes de Isaías 6 (verso 8 em diante), Deus envia o profeta para o Seu povo. (3)
No santuário celestial o pecador contrito encontra a certeza do perdão, purificação e redenção da parte de Deus! É precisamente aqui, nesse encontro pessoal com o Senhor, que a experiência da adoração verdadeira começa! Quando o serafim tocou os lábios de Isaías com a brasa viva, tornou-o santo e puro! A partir de então, o anseio do profeta por seu povo era que eles também fossem purificados e transformados. A grande necessidade hoje é de lábios tocados com fogo santo do altar de Deus. (4)
Ellen G. White escreve:
Precisamos ter uma experiência semelhante à de Isaías, de arrependimento, perdão e purificação. Precisamos, pela fé, de um encontro com Deus no Seu santuário, de modo a obter o senso da majestade e da santidade do Senhor, tanto em nossa vida pessoal como na vida da igreja - senso que perdemos juntamente com o nosso primeiro amor (Apocalipse 2:4-5). Sem essa experiência, não podemos adorar a Deus na beleza de Sua santidade, nem transmiti-la com poder aos não convertidos.
Que Deus nos conceda essa graça!
1. Samuele Bacchiocchi, "Uma Teologia Adventista da Música na Igreja". Em O Cristão e a Música Rock: Um Estudo dos Princípios Bíblicos da Música. Samuele Bacchiocchi (Ed.). Tradução de Mauro Brandão e Levi de Paula de Tavares. Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 2000, p. 172.
2. Roy Gane. Isaías: Consolai o Meu povo. Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Abril-Junho 2004, p. 21.
3. Ibid.
4. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Volume 4. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 120.
5. Ellen G. White, Review and Herald, 22 de dezembro de 1896.
Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)
A palavra traduzida aqui como juízo, krisis, refere-se à ação de julgar ou separar. Em conexão com o apelo de Deus à adoração verdadeira, a hora do julgamento divino consiste, pois, na separação ou distinção entre os verdadeiros e os falsos adoradores.
O tempo do verbo grego indica o sentido de urgência desta mensagem: "é chegada a hora do seu juízo". O julgamento celestial não é um acontecimento futuro. Ele já começou! Está agora em andamento, razão por que Deus chama os homens a temê-Lo, glorificá-Lo e adorá-Lo, enquanto ainda existe oportunidade!
Para aqueles que responderem favoravelmente ao convite da graça, olhando para Cristo em Seu santuário em busca de perdão e santificação, o juízo é boa-nova que resultará em sua vindicação diante de Deus! Para aqueles, porém, que recusarem ouvir o apelo da graça e escolherem a adoração da besta e da sua imagem, o juízo será um tempo de angústia que resultará em condenação (Apocalipse 14:9-11).
A necessidade de olhar para Cristo em Seu santuário
O anúncio do juízo em Apocalipse 14:7 é paralelo à cena do julgamento na visão de Daniel, quando "assentou-se o tribunal, e se abriram os livros" (Daniel 7:10). A corte celeste em sessão, presidida pelo Ancião de Dias na pessoa do Filho do Homem, Jesus Cristo (Daniel 7:13, conforme João 5:22, 27), é, com efeito, o marco sobre o qual a mensagem do primeiro anjo à adoração verdadeira é estruturada!
Assim, só podemos obter uma compreensão mais profunda sobre o significado da adoração de Deus em seu marco do tempo do fim, isto é, na perspectiva da solene obra de Cristo sem Seu santuário como nosso Sumo Sacerdote e Juiz! Esse é o "novo e vivo caminho" para reavivar a verdadeira adoração entre o povo de Deus.
Da mesma forma que o israelita olhava para o antigo tabernáculo em busca de orientação, devemos nós hoje olhar para Cristo no santuário celestial, de onde emanam as verdades bíblicas sobre a adoração verdadeira no contexto do tempo do fim, de modo a obter uma orientação segura sobre aquilo que Deus espera de nós.
Fixar os olhos em Cristo e na Sua obra final de intercessão e juízo no santuário celestial é, ao mesmo tempo, uma necessidade e um desafio para o cristão. Necessidade, porque vivemos dias sobremodo solenes em virtude da natureza da obra final de Cristo em Seu santuário. Desafio, porque a linha divisória entre o sagrado e o comum se torna cada vez menos distinta, à medida que o humanismo e o secularismo avançam em nossa sociedade e nas igrejas.
A santidade de Deus e a santidade do sábado, em associação com a santidade do ministério sumo sacerdotal de Cristo na sede de operações no Céu, desafiam o cristão a respeitar a profunda distinção entre o sagrado e o comum, o santo e o profano. Negligenciar essa distinção é o caminho mais rápido para a apostasia.
A perda do senso do sagrado, conforme observa Samuele Bacchiocchi, afeta muitos aspectos da vida cristã hoje. Para muitas pessoas, nada é mais sagrado. O dia santo se tornou um feriado. O matrimônio é visto como um contrato civil que pode ser anulado facilmente pelo processo legal, em vez de ser uma aliança sagrada testemunhada e garantida pelo próprio Deus. A igreja é tratada como um centro social para divertimento, em vez de ser um lugar sagrado para adoração. A pregação tira sua inspiração de assuntos sociais, em vez de tirá-los da Palavra de Deus. Pelo mesmo motivo, a música na igreja é frequentemente influenciada pela batida do rock secular, em vez de ser influenciada pelas Sagradas Escrituras. (1)
Tudo isso decorre não somente da influência externa do secularismo e do relativismo cultural, que torna a igreja espiritualmente impotente, mas também de um problema interior, figadal, íntimo da alma, que diz respeito à nossa natureza ainda não santificada pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus. A combinação de ambos os fatores nos torna completamente vulneráveis ao vinho sedutor da Babilônia moderna (Apocalipse 14:8).
O "Dia da Expiação" do profeta Isaías
A experiência de Isaías registrada no capítulo 6:1-6 de seu livro é, com efeito, bastante instrutiva para nós hoje. O profeta contempla, em visão, uma cena de juízo que apresenta Deus como vindo para o julgamento (Isaías 5:16)! O que significa estar na presença de Deus nesse dia? Qual o resultado de ser confrontado com a santidade e a glória de Deus no Seu templo? Que esperança pode haver para o pecador nessas circunstâncias?
Isaías relata que, "no ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo" (Isaías 6:1). O fato de Isaías ter recebido esta extraordinária visão no ano da morte de Uzias, rei de Judá, é bastante significativo em relação à experiência visionária do profeta.
Durante o longo reinado de Uzias, Judá conheceu uma prosperidade material e política sem paralelos desde a morte do rei Salomão (II Crônicas 26:1-15). Essa prosperidade, porém, não foi acompanhada de um correspondente progresso espiritual. Logo o orgulho e a autossuficiência substituíram a primitiva discrição e humildade que até então haviam caracterizado o seu governo.
Exaltando-se a si mesmo, Uzias corrompeu seu coração, transgredindo, por conseguinte, o mandamento do Senhor. Levado pela presunção, o rei tentou tomar o ofício sacerdotal, que Deus havia expressamente reservado aos descendentes de Arão (Números 18:1-7). Sua ambição em queimar incenso no santuário foi alimentada por seu orgulho, decorrente do ápice do poder real (II Crônicas 26:16-21). Há aqui, certamente, uma lição para nós, laodiceanos.
A apostasia de Uzias representava a condição espiritual e moral do povo nesse tempo, deixando a nação vulnerável à invasão dos inimigos de Deus. O juízo divino que se abateu sobre o rei na forma da lepra simbolizava bem essa condição, e nos lembra sobre as trágicas implicações de se buscar a santidade de maneira presunçosa, confundindo o santo com o secular.
Foi nesse contexto que Isaías contemplou, em visão, a magnificente presença de Deus no lugar santíssimo do santuário celestial, sentado em Seu alto e sublime trono, e cujas vestes de infinita glória enchiam o templo! Ouviu as antífonas dos resplandecentes serafins em honra ao Altíssimo, os quais clamavam em alusão ao Seu mais importante atributo: "Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos", enquanto velavam o rosto, em reverente temor, não obstante o fato de serem seres perfeitos, sem pecado! Isaías sentiu os próprios fundamentos do templo tremerem ante a voz de Deus, e presenciou o santuário enchendo-se de fumaça, como que refletindo Sua luminosa glória (Isaías 6:2-4)!
Que experiência impressionante teve o profeta Isaías! Ele viu o verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores, identificado no evangelho de João como Jesus Cristo (João 12:41)! Seu relato é muito semelhante à descrição que João faz do templo de Deus no Céu, em Apocalipse 4! Ambas as visões destacam a santidade do Senhor. Como Deus santo, Ele requer santidade de Seu povo, uma mensagem enfatizada também no antigo tabernáculo (Êxodo 39:30)!
A experiência visionária de Isaías é de grande significação para a igreja de Deus hoje. Conquanto não fosse sumo sacerdote e não oferecesse incenso, foi-lhe permitido ter um vislumbre do que significa estar na presença de Deus no lugar santíssimo do santuário! As referências ao templo cheio de fumaça, ao altar, à confissão de pecados e ao juízo e expiação para o pecado e a impureza nos remetem imediatamente ao Dia da Expiação (ver Levítico 16)!
Senso de debilidade e indignidade
Tendo experimentado a adoração de Deus pelos lábios dos seres celestiais, Isaías percebeu a insuficiência da adoração oferecida por lábios mortais, pecaminosos. (2) Sua reação ante a glória e a santidade do Senhor é um testemunho contundente sobre a nossa verdadeira condição perante Deus:
Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos! (Isaías 6:5)
Estar na presença de um Deus santo proporcionou a Isaías uma percepção mais exata da pecaminosidade humana. Possuído por uma angústia além da capacidade de descrever, sentiu profundamente as imperfeições e impurezas dele e do povo, sua culpabilidade diante de Deus e sua insignificância ante Sua majestade!
Que notável contraste entre a reação de Isaías e a presunção de Uzias! Enquanto o primeiro permitiu que a santidade de Deus o alcançasse, reconhecendo humildemente sua verdadeira condição perante Deus e a necessidade de perdão e justificação, o segundo procurou obtê-la por méritos próprios!
O senso de debilidade e indignidade do pecador diante da presença do Senhor em combinação com sua confiança no poder de Cristo para justificar, santificar e redimir de todo o pecado constitui o terreno fértil a partir do qual Ele pode operar os maiores milagres! O Senhor mesmo declara por intermédio de Sua Palavra: "mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra" (Isaías 66:2). "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Salmo 51:17)!
A resposta do Senhor ao clamor de Isaías foi imediata:
Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. (Isaías 6:6-7)
A brasa viva representa apropriadamente o poder purificador e refinador da graça divina, retirada do altar de incenso, símbolo da obra de intercessão de Cristo no santuário celestial em favor dos santos (Êxodo 30:6-8; Apocalipse 8:3-4; 5:8). Por meio do perdão e da purificação que vem de Deus, o caráter humano é refinado e transformado!
Curiosamente, na adoração do santuário, a principal razão para tirar uma brasa do altar era para acender o incenso (Levítico 16:12-13). Mas, em Isaías 6, o serafim aplica a brasa sobre o profeta, e não sobre o incensário. Considerando que Uzias quis oferecer incenso, Isaías se tornou o próprio incenso! Assim como o fogo santo acendia o incenso para encher a casa de Deus com santa fragrância, acendeu o profeta para espalhar uma mensagem santa. Não é por acaso que nos versos seguintes de Isaías 6 (verso 8 em diante), Deus envia o profeta para o Seu povo. (3)
Conclusão
No santuário celestial o pecador contrito encontra a certeza do perdão, purificação e redenção da parte de Deus! É precisamente aqui, nesse encontro pessoal com o Senhor, que a experiência da adoração verdadeira começa! Quando o serafim tocou os lábios de Isaías com a brasa viva, tornou-o santo e puro! A partir de então, o anseio do profeta por seu povo era que eles também fossem purificados e transformados. A grande necessidade hoje é de lábios tocados com fogo santo do altar de Deus. (4)
Ellen G. White escreve:
A visão dada a Isaías representa a condição do povo de Deus nos últimos dias. Eles têm o privilégio de ver pela fé a obra que se está realizando no santuário celestial... Ao olharem pela fé ao Santo dos santos e verem a obra de Cristo no santuário celestial, eles percebem que são um povo de lábios impuros - um povo cujos lábios com frequência disseram tolices e cujos talentos não foram santificados e utilizados para a glória de Deus. Bem podem eles perder a esperança ao contrastarem sua própria debilidade e indignidade com a pureza e amabilidade do caráter glorioso de Cristo. Mas se, como Isaías, receberem a impressão que Deus deseja fazer sobre o seu coração, se eles se humilharem diante de Deus, há esperança para eles. O arco da promessa está sobre o trono, e a obra feita por Isaías será realizada neles. Deus responderá as petições vindas do coração arrependido. (5)
Precisamos ter uma experiência semelhante à de Isaías, de arrependimento, perdão e purificação. Precisamos, pela fé, de um encontro com Deus no Seu santuário, de modo a obter o senso da majestade e da santidade do Senhor, tanto em nossa vida pessoal como na vida da igreja - senso que perdemos juntamente com o nosso primeiro amor (Apocalipse 2:4-5). Sem essa experiência, não podemos adorar a Deus na beleza de Sua santidade, nem transmiti-la com poder aos não convertidos.
Que Deus nos conceda essa graça!
Notas e referências
1. Samuele Bacchiocchi, "Uma Teologia Adventista da Música na Igreja". Em O Cristão e a Música Rock: Um Estudo dos Princípios Bíblicos da Música. Samuele Bacchiocchi (Ed.). Tradução de Mauro Brandão e Levi de Paula de Tavares. Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 2000, p. 172.
2. Roy Gane. Isaías: Consolai o Meu povo. Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Abril-Junho 2004, p. 21.
3. Ibid.
4. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Volume 4. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 120.
5. Ellen G. White, Review and Herald, 22 de dezembro de 1896.
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