O apelo para glorificar a Deus



Em cumprimento da cena do juízo/purificação do santuário em Daniel 7:9-14 e 8:14, o anúncio do primeiro anjo de que o juízo divino começou (Apocalipse 14:7) transmite ao último apelo de Deus um sentido singular de urgência e propósito.

Enquanto esse clamor ressoar por toda a Terra com a força que lhe é própria, haverá para cada pessoa plena oportunidade de salvação, antes que o seu caso seja decidido para sempre pelo tribunal celeste.

É por essa razão que o anjo portador do evangelho voa pelo meio do céu e proclama, em grande voz, o convite final da graça a todos os habitantes da Terra, a cada nação, tribo, língua e povo:

Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)

Nosso Sumo Sacerdote não é um Juiz arbitrário, nem injusto. Ele não pronunciará a sentença judicial que decidirá o destino eterno de cada pessoa, seja para justificação ou condenação (Apocalipse 22:11), sem que antes todos tenham ouvido o derradeiro apelo do Céu para renunciar as diversas formas de idolatria e falsidade e para responder positivamente ao tríplice chamado de Deus na voz do anjo que anuncia a chegada do juízo e proclama o evangelho eterno!

O primeiro destes chamados - "Temei a Deus" - foi discutido em um post anterior (clique aqui para conferir). Hoje, queremos considerar o sentido do apelo para glorificar a Deus, em sua evidente relação com o tempo do fim. Compreender as profundas verdades espirituais contidas nesses chamados é obter, sob a infalível guia do Espírito Santo, uma percepção renovada dos acontecimentos cruciais dos últimos dias e um desejo maior e mais ardoroso de atingir o alvo supremo da vida, que é viver segundo o coração de Deus!

Reconhecendo a natureza exaltada do Senhor


A palavra original traduzida como "glória" (do grego, doxa) significa opinião, julgamento, ponto de vista, seja bom ou ruim, a respeito de alguém. No Novo Testamento, é sempre uma opinião positiva a respeito de uma pessoa, que resulta em louvor, honra e glória.

Doxa é uma qualidade especialmente divina e abrange os seguintes significados: magnificência, excelência, preeminência, dignidade, graça; majestade real que pertence a Deus como supremo governante; majestade no sentido da perfeição absoluta da divindade; algo que pertence a Cristo; a majestade real do Messias; a absoluta excelência interior ou pessoal de Cristo (ver Concordância Strong, #1391).

Da maneira como empregada em Apocalipse 14:7, doxa significa "honra", "louvor", "homenagem" (comparar com Salmo 115:1; Isaías 42:12; II Pedro 3:18; Judas 25) (1), que deve ser atribuído unicamente a Deus.

Assim, a mensagem do primeiro anjo conclama todos os habitantes da Terra a dar ou atribuir a Deus a glória que Lhe é devida, em virtude de Sua exaltada natureza e dignidade. No livro do Apocalipse, o Senhor é glorificado pelo que Ele é (4:8), pelo que Ele criou (4:11) e pelo que Ele fez e fará como Redentor e Libertador do Seu povo (5:12; 7:10, 12; 11:15-18)!

Como no caso do apelo divino para temer a Deus, a exortação para glorificá-Lo é feita numa época em que ela é mais necessária. O materialismo e o consumismo, de um lado, e as filosofias humanistas e esotéricas, do outro, contribuem, à sua própria maneira, para exacerbar no homem a presunção insustentável de suas próprias qualidades, a estima exagerada que tem de si mesmo, a ponto de elevá-la a um nível que não corresponde à sua real condição diante de Deus.

Por ter sido destituído da glória de Deus como consequência imediata do pecado (Romanos 3:23), o homem natural possui a tendência de buscar a glorificação própria, numa tentativa infrutífera de preencher o vazio resultante. Mas nunca haverá motivação suficiente para saciar esse estranho apetite por reconhecimento. Nem todo o avanço técnico e científico, com suas perspectivas de um futuro melhor, nem toda a filosofia humanista, com suas promessas de autorrealização aqui e agora, poderão satisfazer a verdadeira necessidade humana, que é a presença de Deus no coração.

O apelo do Senhor na voz do primeiro anjo lembra à humanidade que a mais elevada honra pertence unicamente ao Criador, que, pela revelação de Sua providência e graça, devem os homens glorificar a Deus, e não a si mesmos. E é justamente com base nessa revelação que o pecador encontra o único meio possível de superar o orgulho e autossuficiência de que é vítima e glorificar a Deus mediante uma vida transformada pelo poder do evangelho.

O imperativo para glorificar a Deus


O chamado divino para glorificar a Deus é apresentado em um modo verbal que expressa ação. Isso requer mais que um assentimento intelectual. Exige de todo ser pensante uma atitude pró-ativa face à revelação de Cristo no evangelho eterno - uma revelação que deve resultar em uma mudança efetiva do relacionamento do homem para com Deus.

Contudo, nenhum de nós pode honrar o nome do Senhor da forma divinamente prescrita sem o temor de Deus. É por isso que o chamado para temer a Deus precede a ordem para glorificá-Lo! Ninguém pode glorificar a Deus nos pensamentos, palavras e ações se não tiver o temor do Senhor. Por outro lado, ninguém pode desenvolver o temor de Deus fora do evangelho eterno. Matthew Henry, em seu comentário sobre Apocalipse 14:7, escreve:

O evangelho é o grande meio pelo qual os homens são levados a temer a Deus e glorificá-lo. A religião natural não é suficiente para manter o temor de Deus, nem para assegurar-lhe a glória dos homens. É o evangelho que revive o temor de Deus, e restaura a sua glória no mundo. Quando a idolatria entra nas igrejas de Deus, é mediante a pregação do evangelho, assistida pelo poder do Espírito Santo, que os homens são desviados dos ídolos para servir ao Deus vivo, como Criador do céu, da terra, do mar e das fontes das águas. (2)

Portanto, o chamado do primeiro anjo para glorificar a Deus não pode ser separado do chamado para temê-Lo. E ambas as experiências dependem exclusivamente da aceitação do evangelho eterno. O "evangelho" popular, com sua ênfase nos aspectos físico e emocional, é incapaz de suprimir o orgulho do coração humano e conduzir os homens no temor de Deus, despertando-lhes na alma o senso de Sua presença e a disposição de glorificá-Lo adequadamente. Essa é uma prerrogativa do evangelho eterno!

O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. (Provérbios 8:13)

É de grande significação, pois, que o anjo portador do evangelho eterno em Apocalipse 14 tenha sob sua responsabilidade o anúncio do último apelo da graça, antes do grande Dia do Senhor. Somente pela aceitação do evangelho de Cristo - o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16) - podem os homens aprender a temer a Deus e glorificá-Lo.

"De glória em glória"


Temer a Deus, como já observamos, constitui a experiência fundamental do crente. Sem o temor de Deus não é possível amá-Lo, nem apreciar os Seus mandamentos. O temor do Senhor é uma experiência de fé, e a fé, por sua vez, é uma experiência que se adquire com a Palavra de Deus (Romanos 10:17), sob a orientação do Espírito Santo (João 16:13). Ora, o conhecimento de Deus é como um tesouro de grande valor. Necessita-se cavar fundo, ir além, até alcançar o precioso veio das riquezas espirituais. Não se encontra tesouros escondidos na superfície (Provérbios 2:1-5)!

Assim como Cristo é glorificado na suprema obra do Espírito Santo de conduzir a alma sincera e diligente a toda a verdade (João 16:14), o mesmo Espírito também capacitará o crente a glorificar a Cristo em cada aspecto da vida, desde os pensamentos mais íntimos até as escolhas mais óbvias, à medida que cresce no conhecimento da verdade. Se o povo de Deus estiver cheio de fé e do Espírito Santo, então Deus será glorificado neles.

E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (II Coríntios 3:18)

Pela contemplação, somos transformados, e a transformação será proporcional à contemplação do caráter de Jesus Cristo. Mediante o evangelho, todo crente têm o privilégio de contemplar a plenitude da glória de Cristo tão efetivamente como o fez Moisés no monte Sinai, quando ele pediu para ver a glória do Senhor (Êxodo 33:18)! E a contemplação da imagem de Cristo atua sobre a natureza moral e espiritual da mesma forma que a presença de Deus atuou sobre o rosto de Moisés (Êxodo 34:29-30).

A transformação é um processo, e depende da presença do Espírito Santo agindo no coração, corrigindo, renovando e purificando cada traço da personalidade, de modo que o cristão reflita progressivamente o caráter imaculado de seu Mestre, Jesus Cristo. Isso é santificação! Através dela, o homem é reconciliado com Deus e posto em harmonia com os princípios de Sua lei. Esse é o plano do Senhor para o Seu povo! Seria injusto da parte de Deus se Ele estabelecesse uma condição para a vida eterna inferior aquela que desfrutavam nossos primeiros pais antes do pecado.

Porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. (I Tessalonicenses 4:7)
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. (Hebreus 12:14)

Porém não há santificação sem doutrina bíblica. Em Sua oração intercessora pelos discípulos, o Salvador clamou:

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (João 17:17)

Embora o conhecimento da doutrina da salvação não seja o mesmo que experimentar a salvação, só podemos estar seguros de que nossa experiência com Cristo é legítima por meio da doutrina (João 7:17). Ela dirá se estamos cheios de fé e do Espírito Santo, se de fato tememos a Deus e glorificamos o Seu santo nome, ou se ainda vivemos em função de nossa natureza não santificada, com seus apetites e paixões inferiores.

A ordem divina: do ser ao fazer


Nós nunca, jamais glorificaremos a Deus em cada aspecto da vida sem o temor do Senhor, e jamais aprenderemos a temê-Lo se não formos santificados por Sua Palavra. Se nossa vida não for transformada e moldada segundo o caráter de Cristo, se o velho homem que ainda reclama reconhecimento não for subjugado pelo poder de Deus, em combinação com um árduo e perseverante esforço de nossa parte, nosso cristianismo não passará de uma farsa.

Sabedores de que não podemos, por nós mesmos, alcançar a justiça, seria estranho esperar obter a justiça de Cristo sem um desejo e um esforço proporcionais ao bem que se busca, como Jacó, que naquela noite memorável com Deus, clamou: "Não te deixarei ir se me não abençoares" (Gênesis 32:26)! Precisamos considerar isso seriamente. Não são nossas posses materiais ou segurança social que estão em jogo, mas nosso destino eterno! Em breve nosso Sumo Sacerdote encerrará Sua obra de intercessão e juízo no santuário celestial, e que sentença se pronunciará a nosso respeito?

Se Cristo estiver em nossos pensamentos, se Ele for o motivo de nossa maior afeição e devoção, nossa vida o demonstrará. Vamos temer a Deus na mesma proporção de nosso relacionamento com Ele, na mesma medida em que conhecemos a natureza de Seu caráter, e O glorificaremos na exata extensão em que compreendemos a Sua vontade.

Ellen G. White escreve:

Todo aquele que é salvo deve renunciar a seus próprios planos, a seus projetos ambiciosos, que significam glorificação pessoal, e seguir aonde Cristo conduz. O entendimento precisa ser submetido a Cristo, a fim de que o limpe, refine e purifique. Isso sempre será feito quando se dá o devido acolhimento aos ensinos do Senhor Jesus. É difícil para o próprio eu morrer diariamente, mesmo que a maravilhosa história da graça de Deus seja apresentada com a profusão de Seu amor, o qual Ele desdobra à necessidade da alma. (3)

Eis aqui o significado de ser um cristão, de negar-se a si mesmo, dia a dia, tomar a própria cruz e seguir a Cristo (Lucas 9:23)! Não podemos esperar temer a Deus e glorificar o Seu santo nome de outra forma. A experiência da salvação implica renunciar tudo aquilo que constitui um obstáculo entre nós e nosso Senhor. O amor à moda, o amor ao mundo, o amor a si mesmo, tudo precisa ser renunciado por amor a Cristo. Ele nunca nos prometeu uma jornada fácil, mas garantiu que estará conosco todos os dias, até à consumação dos séculos (Mateus 28:20)!

Conclusão


Não deveria fazer sentido para um verdadeiro cristão a popular ideia: "Cristo me aceita do jeito que eu sou, porque Ele me ama". Sim, Cristo nos ama de fato, mas isso não significa que Ele será condescendente com nosso estilo de vida não santificado. O Senhor nos adquiriu por um elevado preço, e não seria razoável que Ele dividisse nossa afeição e lealdade com o mundo.

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus. (I Coríntios 6:19-20, Almeida Corrigida e Fiel)

A pena inspirada declara (note mais uma vez a ênfase na resolução pessoal):

Jesus requer obediência perfeita. Deve haver uma obra completa e prática. Devemos crescer diariamente no conhecimento da vontade divina. Cristo comunicará Seu Espírito a todos os que labutarem harmoniosamente e com humildade. [...]
Se queremos levar uma vida cristã, precisamos cooperar constantemente com Deus, perdendo de vista o próprio eu na dependência de Jesus Cristo. Devemos trabalhar cada dia como se fosse para a eternidade. (4)

Esse deve ser o alvo supremo da vida, o caminho para glorificar a Deus em nosso corpo e em nosso espírito. O evangelho eterno de Jesus Cristo completará sua obra milagrosa em nossa vida, mediante a atuação do Espírito Santo e da Palavra, em união com o nosso decidido esforço em vencer o pecado e glorificar a Deus com todas as faculdades de nosso ser.

O apelo do primeiro anjo espera uma resposta positiva de seus ouvintes. Nosso Deus é um Pai amoroso e misericordioso! Ele não quer que nenhum de Seus filhos pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (II Pedro 3:9)! Vale à pena cooperar com o Senhor para o desenvolvimento de nossa salvação, de modo que possamos glorificar a Deus em todas as coisas, pois todo sacrifício pessoal empregado nesse sentido parecerá pequeno demais se comparado às coisas que o Senhor preparou para aqueles que o amam (I Coríntios 2:9)!

Notas e referências


1. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Volume 7. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, p. 915.

2. http://biblehub.com/commentaries/mhcw/revelation/14.htm

3. Ellen G. White. Este Dia com Deus - Meditações Matinais 1980. Versão em CD-ROM. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, p. 62.

4. Ibid., p. 253.

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