A lei e o testemunho e a adoração



O próprio fato de haver tantas referências à adoração no Apocalipse, em especial no contexto do tempo do fim, revela que esse assunto será o ponto central no último grande drama a desenrolar-se no palco da história pouco antes da vinda de nosso Senhor Jesus.

Há profundas verdades espirituais relacionadas ao tema, e a realidade de um juízo investigativo no santuário celestial, cuja sentença demarcará uma linha definitiva entre os verdadeiros e os falsos adoradores (Apocalipse 22:11), confere ao derradeiro chamado de Deus à adoração verdadeira um solene significado (Apocalipse 14:7).

Ademais, Satanás ainda deseja usurpar para si a prerrogativa divina da adoração. Ele ainda está determinado a exaltar-se "acima das estrelas de Deus", "acima das mais altas nuvens" e ser "semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:13-14). Não aspira ao caráter do Criador, mas à Sua posição e autoridade.

Portanto, enquanto durar o conflito cósmico entre a luz e as trevas, esse ardiloso adversário e sua hoste de anjos caídos aplicarão a sabedoria e o poder que retêm na obra de enganar e confundir os incautos e, se possível, até os próprios escolhidos quanto ao assunto da adoração.

Diante desse quadro, nós precisamos ponderar cuidadosamente as profecias do tempo do fim, as quais estabelecem uma clara distinção entre a verdadeira adoração e a idolatria.

Nosso amado Redentor deixou-nos em Sua santa Palavra um guia seguro pelo qual somos advertidos sobre os estratagemas de Satanás, suas reais motivações e intenções, e os recursos e técnicas que tem empregado e ainda empregará para enlaçar o mundo no engano, de modo que será impossível ao sincero estudante da Palavra de Deus ficar confundido com relação à verdade.

Um tempo decisivo


O apelo da mensagem do primeiro anjo para adorar o Criador, tendo em vista o início do juízo no Céu, leva-nos a concluir que, ao chegar o tempo da derradeira obra de Cristo no santuário celestial, em 1844, esse solene apelo se revestiria de importância e urgência sem paralelos.

É evidente que, em virtude de sua natureza, a mensagem para adorar a Deus compreende toda a era cristã, e não somente uma geração em particular. Porém, face ao juízo, há em torno dessa mensagem um sentido muito mais premente.

Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)

De fato, logo depois da proclamação das três mensagens angélicas, João vê, em visão, a vinda de nosso Senhor Jesus, representada por uma dupla colheita (Apocalipse 14:14-20)! Isso significa que ninguém será deixado na ignorância. É o poderoso anúncio da mensagem de Deus para o tempo do fim, habilitado pelo Espírito Santo (Joel 2:28-29), que iluminará a Terra com a glória do evangelho eterno (Apocalipse 18:1), levando à maturação ou decisão de seus habitantes, para o bem ou para o mal.

Assim, o chamado divino à geração do fim não deixa margem para dúvidas: Deus deve ser crido e adorado como o Criador de tudo o que existe. E a respeito de todos os que responderem positivamente ao convite final da graça, aceitando o evangelho eterno, está escrito:

Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. (Apocalipse 14:12)

Eis as duas doutrinas essenciais que distinguem nitidamente os verdadeiros e os falsos adoradores! Nós precisamos compreender o sentido dessa dupla verdade à luz das Escrituras, antes de avançarmos em nossas considerações sobre a adoração no tempo do fim.

Duas características da igreja verdadeira


Os mandamentos de Deus são o reflexo de Seu santo caráter, tão imutáveis como Ele mesmo, e aqueles que os guardam são chamados "santos" e detentores da fé em e de Jesus! Distinguem-se dos demais adoradores por unir novamente, mediante a fé em Jesus, a lei e o evangelho.

Eles sabem que não podem desfrutar da graça divina permanecendo em pecado, que decorre da transgressão da lei de Deus (I João 3:4), e que lhes é impossível obedecer ao evangelho de Cristo desprezando os Seus mandamentos (João 14:15, 21, 24; 15:10), visto que por eles serão julgados (Eclesiastes 12:13-14; Tiago 2:10-12).

Essas duas características distintivas dos santos em Apocalipse 14:12 conecta esse texto ao capítulo 12:17, que diz:

Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus.

É interessante notar que a descrição da adoração verdadeira, revelada como a norma divina para distinguir entre o verdadeiro culto e a idolatria, ocorre no contexto de uma ameaça real aos santos, em reação àquilo que é legítimo em matéria de adoração.

Em Apocalipse 12:17, o remanescente final, à semelhança da igreja apostólica e dos santos mártires da Idade Média, se vê ameaçado pelo dragão, que tem como último alvo esses crentes fiéis. Em Apocalipse 14:12, o remanescente é mencionado no contexto da terceira mensagem angélica, que adverte contra os adoradores da besta e da sua imagem, os quais, unidos ao dragão, impõe ao mundo o seu falso modelo de culto, sob a ameaça das mais severas punições (Apocalipse 14:9-11, conforme 13:14-17).

Com efeito, "guardar" (do verbo grego, téreó; "manter" ou "preservar", pela obediência) os mandamentos de Deus e "ter" (do verbo grego, echó; "manter" ou "guardar", no sentido de ter em mente) o testemunho ou a fé de Jesus descrevem de forma exemplar outra qualidade essencial dos santos de todas as eras, em particular do remanescente do tempo do fim, face às falsas reivindicações do anticristo. Essa qualidade é expressamente indicada em Apocalipse 14:12: "Aqui está a perseverança dos santos..."!

A dupla norma da adoração cristã


Em todas as épocas, a igreja verdadeira de Cristo, para usar as palavras de Hans K. LaRondelle (1), tem perseverado em duas doutrinas básicas de e moralidade, mencionadas seis vezes (sete, se incluirmos Apocalipse 1:2), com ligeiras variações:

Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. (Apocalipse 1:9)
Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. (Apocalipse 6:9)
Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. (Apocalipse 12:11)
Irou-se o dragão contra e mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus. (Apocalipse 12:17)
Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. (Apocalipse 14:12)
[...] Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. (Apocalipse 20:4)

Há, portanto, duas verdades essenciais que os fiéis seguidores de Cristo de todas as eras mantiveram ou guardaram, e que a igreja remanescente do tempo do fim manterá ou guardará durante o conflito final contra o anticristo, mesmo sob ameaça de privação econômica e até de morte (Apocalipse 13:15-17): a "palavra" ou os "mandamentos de Deus" e o "testemunho" ou a "fé" de Jesus!

A natureza da autoridade final para os crentes


Para a igreja remanescente de Deus não há nada mais importante do que viver em função dessas duas grandes verdades, as quais constituem a norma divina que estabelece a diferença entre a adoração verdadeira e a apóstata.

É significativo que ambas as verdades reflitam a prova definitiva de Isaías para identificar a verdade e o engano, e que constituíam a autoridade final para o antigo Israel:

À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva. (Isaías 8:20)

A lei (do hebraico, torah, onde a mesma palavra é usada, por exemplo, em Provérbios 3:1), em seu sentido mais amplo, refere-se a toda a vontade revelada de Deus, e, no sentido mais específico, aos mandamentos do Decálogo ou Pentateuco. O testemunho diz respeito aos profetas de Deus, que eram testemunhas dessa verdade divina, cuja mensagem dirigia a mente dos homens para a mais elevada norma da excelência moral e intelectual, para os princípios que constituem a verdadeira força de caráter.

Essas duas partes constitutivas da Bíblia Hebraica formavam a norma canônica para distinguir entre a verdade e o engano no antigo Israel. (2) Essa dupla norma também é enfatizada no Novo Testamento. Jesus Cristo e os apóstolos se referiram a ela repetidas vezes (Mateus 5:17; 7:12; 22:40; Lucas 16:29, 31; 24:27; João 1:45; Atos 24:14; Romanos 3:21). Porém, o testemunho pessoal de Jesus a Israel ampliou o antigo cânon da autoridade divina:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. (Hebreus 1:1-2)

O testemunho dos profetas acerca da Palavra de Deus estendeu-se até João Batista, o último dos profetas de Israel (Lucas 16:16). Como o Filho de Deus é imensamente superior a qualquer dos profetas, o testemunho de Cristo constitui agora a autoridade final para interpretar a lei e os profetas de Israel (João 3:31-33)!

Assim, toda a revelação de Jesus Cristo nos Evangelhos, nas Epístolas e, em especial, no Apocalipse compõe o testemunho de Jesus à Sua igreja (Apocalipse 1:1-2; 22:16). É a verdade de Deus e o testemunho de Jesus acerca dessa verdade que preservarão a igreja remanescente durante a crise final envolvendo a adoração.

Conclusão


O que distingue entre o adorador verdadeiro e o falso, entre o fiel e o infiel? A fidelidade à dupla norma da verdade enfatizada ao longo do Apocalipse: a "palavra de Deus" e o "testemunho de Jesus"!

Foi em virtude da crença incondicional nessas duas doutrinas básicas da fé que João foi preso e desterrado, e numerosos crentes ao longo da história sofreram o martírio. Não se exige de nós hoje menor prova de lealdade e perseverança, em vista dos desafios que a igreja remanescente tem diante de si.

LaRondelle escreve:

O testemunho de Deus e de Jesus, confiado à igreja de Cristo, foi pervertido pelo anticristo e substituído por sua própria norma de adoração e moralidade. Na luta final dos séculos, a igreja de Deus é chamada a permanecer firme sobre o evangelho eterno e a lei de Deus, em continuidade com a igreja dos apóstolos e os mártires.

E, mais adiante, o mesmo autor conclui:

O testemunho de Jesus será o instrumento para desmascarar as afirmações enganosas "do falso profeta" do tempo do fim (ver Apocalipse 16:13, 19:20 e 20:10). Vista sob esta luz, a igreja remanescente em Apocalipse 12:17 e 14:12 se caracteriza pela restauração dos mandamentos históricos de Jesus e pelo testemunho histórico de Jesus, quer dizer, o evangelho eterno. Estas duas características foram as marcas que identificaram a igreja apostólica (Apocalipse 1:9) e as marcas dos santos pós-apostólicos (Apocalipse 6:9). Constituem as marcas distintivas permanentes da igreja verdadeira de todas as épocas. No livro do Apocalipse, estas características traçam uma linha entre o fiel e o infiel. (3)

Considerando que o testemunho de Jesus acerca da "palavra de Deus" é o "espírito da profecia" (Apocalipse 19:10) - o "Espírito da verdade" que "dará testemunho" de Cristo e "guiará a toda a verdade" (João 15:26; 16:13), ser-nos-á impossível distinguir entre a adoração verdadeira e a apóstata, entre o santo e o comum, sem o Espírito Santo e a Palavra de Deus.

Nossa maior prioridade, portanto, deve ser a de buscar, com diligência e perseverança, a Palavra e o Espírito, como nunca antes, de modo a obter uma experiência com Jesus verdadeiramente significativa e fecunda, se quisermos estar entre os companheiros do Cordeiro no monte Sião (Apocalipse 14:1).

Notas e referências


1. Hans K. LaRondellle. As Profecias do Tempo do Fim. XXI - A Mensagem do Tempo do Fim na Perspectiva Histórica - Apocalipse 12-14.

2. Ibid.

3. Ibid.

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