A mudança nos tempos e na lei



Cumulando-se de prerrogativas divinas, não admira que a Igreja Católica e o papado tenham premeditado uma mudança nos tempos e na lei de Deus, cumprindo o que fora predito por meio do profeta Daniel: "... e cuidará em mudar os tempos e a lei" (Daniel 7:25, comparar com Apocalipse 12:17).

O "chifre pequeno" pretende exercer o direito divino de mudar os tempos, isto é, dirigir o curso da história humana segundo lhe apraz.

Mas somente Deus possui esta prerrogativa, pois "é ele quem muda os tempos e as estações, remove reis e estabelece reis" (Daniel 2:21, ver também Atos 17:26; Provérbios 8:15-16).

Este poder anticristão também decidiu mudar a lei de Deus, a qual é o sólido fundamento de Seu governo (Salmo 89:14; 97:2, comparar com 119:142 e 151). Leis humanas estão sujeitas às variações do tempo e dos costumes, e podem ser alteradas segundo o critério dos legisladores. O próprio papado, durante os séculos de ferro da Igreja, interferiu nos decretos de potentados europeus.

Tais mudanças, contudo, não constituem o tema da profecia, mas as que dizem respeito à lei de Deus. O papado só poderia exaltar-se sobre Deus alterando Sua lei, um ato que ele imagina poder executar por direito divino.

A mudança na lei de Deus: sinal de autoridade do anticristo


Com referência a esta arrogante pretensão, encontramos na Prompta Bibliotheca, de Lucius Ferraris, as seguintes declarações: (1)

O Papa tem tão grande autoridade e poder que ele é capaz de modificar, explicar e interpretar até mesmo as leis divinas.
O Papa pode modificar a lei divina, uma vez que seu poder não é de homem, mas de Deus, e ele atua como vice-regente de Deus sobre a terra com o mais amplo poder de ligar e desligar suas ovelhas.

O papado afirma ser o representante de Cristo na Terra, e que a mudança nos mandamentos foi feita em Seu nome. Nosso Senhor, porém, declarou enfaticamente que não veio mudar a lei (Mateus 5:17) e que não autoriza a mudança de um til sequer dos mandamentos (Lucas 16:17). Ele mesmo testifica de Seu caráter ao afirmar: "Porque Eu, o Senhor, não mudo" (Malaquias 3:6). Qualquer alteração na lei de Deus é uma obra do anticristo, e tal presunção certamente diz muito a respeito dele. Ellen G. White assinala as implicações de se sujeitar a esse poder: (2)

Unicamente mudando a lei de Deus poderia o papado exaltar-se acima de Deus; quem quer que conscientemente guarde a lei assim modificada, estará a prestar suprema honra ao poder pelo qual se efetuou a mudança. Tal ato de obediência às leis papais seria um sinal de vassalagem ao papa em lugar de Deus.

O leitor poderá apreciar no Catecismo da Igreja Católica a extensão das mudanças introduzidas na lei de Deus. Compare com a relação original dos mandamentos em Êxodo 20:3-17 e Deuteronômio 5:7-21. Não é preciso ser um bom observador para perceber as diferenças.

No Catecismo, os dois primeiros mandamentos foram arrolados na primeira coluna como um só. O segundo mandamento, que proíbe o uso de imagens, foi suprimido da segunda e terceira colunas. O último mandamento foi dividido em dois para conservar o número de dez preceitos. A alteração mais evidente e audaciosa, contudo, aparece no quarto mandamento (que corresponde ao terceiro no Catecismo), em que o santo sábado do Senhor é substituído pelo domingo - uma flagrante mudança no Decálogo para a qual não existe nenhuma base escriturística.

Roma reivindica a mudança como sinal de seu poder


Curiosamente, as patentes alterações na lei de Deus não são motivo de constrangimento para a Igreja. O papado não só admite sua responsabilidade por tais mudanças, como também afirma possuir a autoridade para efetuá-las. As duas citações a seguir são representativas nesse sentido (para mais referências, clique aqui). Note como a Igreja explica sua decisão, expondo a contradição protestante.

Em An Abridgment of the Christian Doctrine, de Henry Tuberville, encontramos o seguinte diálogo: (3)

P. Como vocês podem provar que a igreja tem poder para ordenar festas e dias santos?

R. Pelo próprio ato de mudar o sábado para o domingo, que os protestantes reconhecem; portanto, eles se contradizem ingenuamente ao observar estritamente o domingo e transgredir muitas outras festas ordenadas pela mesma Igreja.

P. Como vocês podem provar isso?

R. Porque, ao guardarem o domingo, eles reconhecem o poder da Igreja de ordenar festas e de ordená-las sob pecado; e, ao não guardarem as demais festas ordenadas por ela, eles [os protestantes] novamente negam, de fato, o mesmo poder.

Stephen Keenan faz uma exposição semelhante em seu Catecismo de 1876: (4)

P. Você tem alguma outra maneira de provar que a Igreja tem poder para instituir festas e preceitos?

R. Se ela não tivesse tal poder, não poderia ter feito aquilo em que todos os religiosos modernos concordam com ela; não poderia ter substituído a observância do domingo, o primeiro dia da semana, pela observância do sábado, o sétimo dia, uma mudança para a qual não há autoridade bíblica.

P. De que maneira podemos mostrar a um protestante que ele fala sem razão contra o jejum e a abstinência?

R. Pergunte-lhe por que ele guarda o domingo, e não o sábado, como seu dia de descanso, já que não está disposto a jejuar nem a se abster. Se ele responder que a Escritura ordena que ele guarde o domingo, mas nada diz sobre jejum e abstinência, diga a ele que a Escritura fala do sábado ou do Sabbath, mas não prescreve nenhum mandamento em lugar algum a respeito do domingo ou do primeiro dia da semana. Se, então, ele negligencia o sábado como um dia de descanso e santificação, e o substitui pelo domingo, e isso meramente porque era o costume da Igreja primitiva, não deveria ele, se deseja agir consistentemente, observar o jejum e a abstinência, porque a Igreja primitiva assim ordenou?

P. A Igreja, na época de Cristo e antes desse período, não guardava o dia de descanso das cinco horas do sábado às cinco horas do domingo?

R. Sim; e, no entanto, os protestantes o guardam de meia noite à meia noite, sem qualquer garantia das Escrituras. Não, eles se opõem à Escritura de Levit. xxiii, 32: "De uma tarde a outra celebrareis o vosso sábado".

P. Quando os protestantes fazem trabalho profano no sábado, ou no sétimo dia da semana, enquanto seguem a Escritura como sua única regra de fé, eles encontram essa permissão claramente estabelecida no Volume Sagrado?

R. Pelo contrário, eles têm apenas a autoridade da tradição para essa prática. Ao profanar o sábado, eles violam um dos mandamentos de Deus, que Ele nunca revogou claramente: "Lembra-te de santificar o dia de sábado".

P. A observância do domingo, como o dia de descanso, é uma questão claramente estabelecida nas Escrituras?

R. Certamente não; e, no entanto, todos os protestantes consideram a observância desse dia específico como essencialmente necessária para a salvação. Dizer que observamos o domingo porque Cristo ressuscitou dos mortos nesse dia é dizer que agimos sem a garantia das Escrituras; e poderíamos muito bem dizer que deveríamos descansar na quinta-feira porque Cristo ascendeu ao céu nesse dia e descansou, na realidade, da obra de redenção.

P. O que você conclui de tudo isso?

R. Que os protestantes não podem encontrar nada nas Escrituras para normatizar seu dia de descanso; que eles aboliram a observância do sábado sem autorização das Escrituras; que eles o substituíram pelo domingo sem autoridade das Escrituras; que para tudo isso, consequentemente, eles têm apenas a autoridade da tradição... Portanto, devemos concluir que a Escritura, que não ensina essas coisas claramente, não contém todas as verdades necessárias e, por conseguinte, não pode ser a única regra de fé.

Ou seja, a Igreja Católica admite francamente que não existe autoridade bíblica para a santificação do domingo, e que os protestantes se contradizem ao observar um dia cuja santificação se baseia exclusivamente na tradição e autoridade da mesma Igreja, da qual supostamente se separaram.

Pode uma instituição humana reclamar o direito de mudar a lei de Deus? Sir Isaac Newton responde apropriadamente a essa questão:

A autoridade dos imperadores, reis e príncipes é humana; a autoridade dos concílios, sínodos, bispos e presbíteros é humana. Mas a autoridade dos profetas é divina e compreende toda a religião, reconhecendo MOISÉS e os apóstolos entre os profetas; e se um anjo do céu pregar um outro evangelho, que não o que foi dado, que seja anátema. (5)

Os profetas e apóstolos, ainda que investidos de autoridade divina, jamais ousaram perpetrar alguma mudança na lei de Deus. Todavia, a Igreja Católica Romana admite abertamente que, como instituição, foi responsável pela mudança do sábado para o domingo como dia de guarda, uma medida pretensiosa e arbitrária que não encontra nenhum apoio nas Escrituras. Substituir o sábado bíblico por um falso dia de repouso significa suprimir do Decálogo o único preceito que identifica seu supremo Legislador.

O verdadeiro foco do grande conflito


É a inimizade de Satanás à lei de Deus que o compele a agir contra cada preceito do Decálogo. Enquanto Moisés recebia do Senhor a lei e o evangelho no monte Sinai, o inimigo da verdade incitou os israelitas a violarem o segundo mandamento, esperando rebaixar suas concepções a respeito de Deus e desviá-los de seus deveres para com Ele. Dificultando a observância do sábado no cativeiro egípcio, levá-los-ia a esquecer de seu Criador, de modo que não pudessem oferecer qualquer resistência ao poder do mal.

Roma é um instrumento que serve aos mesmos objetivos. Suprimindo o segundo mandamento, ela desfigura a imagem do Ser divino, estimula os homens à idolatria e destrói a eficácia de todo culto. Alterando o quarto mandamento, aniquila o memorial eterno da criação e apaga da mente dos homens a lembrança de Deus. Uma vez que se esqueçam do Criador, não podem resistir ao poder das trevas.

A mudança na lei de Deus é uma obra do anticristo, conforme antecipou o profeta Daniel (7:25). E esta alteração desavergonhada tornou-se possível em razão de o clero romano ter se apoderado indevidamente do direito divino, como previu Paulo em sua exortação aos cristãos de Tessalônica (II Tessalonicenses 2:3-4). Essa mudança constitui o sinal de seu poder e autoridade.

Em uma carta escrita em novembro de 1895, o Sr. H.F. Thomas, chanceler do cardeal Gibbons, respondendo a uma questão sobre a afirmação de que a Igreja mudou o sábado, disse:

Naturalmente, a igreja católica afirma que a mudança do sábado é um ato totalmente seu... e que esse ato é o sinal de sua autoridade nas coisas religiosas. (6)

Transferindo o repouso semanal do sábado para o domingo, o papado substituiu o sinal de autoridade suprema de Deus pelo sinal de sua própria autoridade, colocando-se, dessa forma, acima do trono de Deus. Essa atitude revela claramente o espírito de apostasia dessa instituição, cumprindo o que a seu respeito foi predito nas Escrituras.

Notas e referências


1. Lucius Ferraris. Prompta Bibliotheca, Vol. VII. Venetiis, Apud Gasparem Storti, 1782, verbete "Papa", artigo II, p. 29, #30. Tradução das citações do latim para o inglês disponível aqui. Acesso em: 21 jul. 2011, 08h10min.

2. Ellen G. White. O Grande Conflito, 19ª ed. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978, p. 446.

3. Henry Tuberville, An Abridgment of the Christian Doctrine. New York: John Doyle, 1833, p. 58.

4. Stephen Keenan. A Doctrinal Catechism, Third American edition, New York: P.J. Kenedy and Sons, 1876, p. 174, 181, 351 e 352, 354 e 355.

5. Sir Isaac Newton. As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel: As Raízes do Código da Bíblia. São Paulo: Pensamento, 2008, p. 26.

6. Ministry, outubro de 1944, p. 23. Citado em A.S. Mello, A Verdade sobre as Profecias do Apocalipse. São Paulo, 1959, p. 387.

Se você gostou desta postagem e quer apoiar o nosso trabalho, não esqueça de divulgá-la em suas redes sociais. Você também pode contribuir com este ministério clicando no botão abaixo. Sua doação permitirá que o evangelho eterno alcance muito mais pessoas em todo o mundo, para honra e glória de nosso Senhor Jesus. Que Deus o abençoe ricamente!

Postar um comentário

0 Comentários