Os 144.000 selados

 

"Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel." (Apocalipse 7:4)


Sobre os que recebem a marca da aprovação divina, podemos afirmar com base no texto sagrado que:

1. Eles são servos de Deus.
2. São selados na fronte.
3. Seu número é de 144.000
4. Pertencem às tribos dos filhos de Israel.

O Apocalipse identifica os servos de Deus nos últimos dias como aqueles que guardam os Seus mandamentos e mantêm a fé e o testemunho de Jesus (Apocalipse 14:12; 12:17). São eles que recebem o selo de Deus na fronte (Apocalipse 7:3; 14:1), símbolo da consolidação intelectual e espiritual na verdade.

Os ímpios, por outro lado, têm o nome ou sinal da besta inscrito na fronte ou sobre a mão (Apocalipse 13:16; 14:9). A fronte, como símbolo da consciência, expressa a vontade; a mão, como símbolo das obras, expressa as ações. Os que reconhecerem a autoridade da besta e sua imagem o farão por um ou outro motivo, ou por ambos. Isto porque o mero assentimento pode não ser suficiente para provar lealdade ao poder representado por estes símbolos proféticos. Mais do que um simples assentimento, Babilônia moderna exigirá um engajamento de todos os que quiserem ser reconhecidos no novo paradigma (Apocalipse 13:16-17).

O selo de Deus, porém, encontra-se estampado somente na fronte dos selados, indicando que estes só podem prestar obediência conscienciosa e voluntária à lei de Deus em resposta ao amor que procede dEle. Não o recebem na mão porque as obras, por si só, não podem qualificá-los para o reino de Deus (Efésios 2:8-9). Toda a pessoa que viver no fim dos tempos precisará receber na fronte o sinal divino de aprovação para ser salva.

Significado do número


O grupo dos selados de Deus é representado pelo número 144.000. Digo representado porque o número, como muitas das figuras que aparecem no livro do Apocalipse (Cordeiro, monte Sião, Babilônia, Eufrates, etc.), é uma imagem extraída do Antigo Testamento. Os 144.000 também são mencionados no contexto de profecias simbólicas que usam figuras como:

a) "quatro anjos", "quatro cantos", "quatro ventos", "Oriente" e "selo do Deus vivo" aposto na fronte de Seus servos (Apocalipse 7).

b) "Cordeiro", "castos", "Babilônia", "besta e imagem da besta", "ceifa", "vindima", "1.600 estágios" e "lagar" (Apocalipse 14).

Tornar literais esses símbolos seria distorcer o sentido original da mensagem profética, suprimindo, por conseguinte, sua significação para os cristãos dos últimos dias.

Ademais, há pelo menos quatro outras razões para não interpretarmos esse número literalmente:

1. Apocalipse 7:4-8 diz que os 144.000 procedem de 12.000, de cada uma das doze tribos de Israel. Se 144.000 for um número literal, então os 12.000 também serão, e, como consequência, as 12 tribos. Significa dizer, portanto, que os 144.000 serão judeus literais que aceitaram a Jesus. Esta é a visão dispensacionalista. É um despropósito crer que apenas 144.000 judeus poderão suster-se na segunda vinda de Cristo.

2. Devido a sucessivos cativeiros, deportações e miscigenações, os judeus perderam há muito tempo suas distinções tribais.

3. Somente Deus sabe o número real dos que serão salvos. A tentativa de Davi para numerar Israel constitui um exemplo verdadeiramente instrutivo (I Crônicas 21).

4. A lista das doze tribos em Apocalipse 7:5-8 começa com Judá, possivelmente porque Jesus Cristo pertencia a esta tribo (ver Mateus 1:1-3; Apocalipse 5:5). Naturalmente, o princípio aqui não é étnico ou geográfico, mas cristocêntrico. Em Cristo, as limitações étnicas e geográficas são removidas, ampliando-se para proporções mundiais. A igreja de Deus é o Israel espiritual do qual fazem parte judeus e gentios que aceitam a Jesus (Romanos 2:28-29; 4; 9:6-8; Gálatas 3:7-9, 29; 6:16; Tiago 1:1; I Pedro 2:1-10).

A raiz bíblica do número


Nosso Salvador indicou a chave para a identificação dos 144.000 ao escolher doze apóstolos, visando estabelecer uma continuidade com as doze tribos de Israel. Todos nós podemos fazer parte das doze tribos se aceitarmos a Cristo e os doze apóstolos. A igreja está solidamente construída sobre este fundamento (Efésios 2:20), pois "há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação" (Efésios 4:4).

A nova Jerusalém terá doze portas com os nomes das doze tribos de Israel, e os nomes dos doze apóstolos estarão gravados em seus fundamentos (Apocalipse 21:12 e 14). Ellen G. White observa:

A igreja cristã, formada por pessoas provenientes de todas as nações, e não só da nação judaica, é agora canal para transmitir a bênção divina ao mundo. Seu dirigente é Cristo, o Filho de Davi, que domina agora no coração de Seu povo, e que um dia dominará pessoalmente em Seu reino eterno. Ela é 'o reino de Deus (...) dentro de vós' (Lucas 17:21), que não vem 'com visível aparência' ['aparência exterior', Almeida antiga] (v. 20), mas cresce como o grão de mostarda (Mateus 13:31, 32). Este é o reino espiritual ao qual devemos pertencer agora, se quisermos desfrutar as bênçãos do futuro reino da glória. (1)

Assim, o número 12 representa o Israel espiritual. O produto de 12 x 12 x 1000, 144.000, enfatiza o povo remanescente de Deus no fim dos tempos. São estes os israelitas espirituais, e fora desse grupo se encontram os seguidores de Babilônia. Os 144.000 são os únicos selados na fronte - um sinal de aprovação de Deus e de proteção contra os sete últimos flagelos (Comparar Apocalipse 7:1-3 com 15:1 e 5-8. Ver também Salmo 91).

Somente os 144.000, portanto, estarão a salvo no grande dia de Deus, porque representam o grupo total de remidos durante as sete pragas. Se fosse possível a alguém ser salvo fora dos 144.000, não haveria necessidade de uma obra de selamento.

O sinal de proteção não implica, contudo, que este grupo especial de remidos não será provado. Ao descrever os sofrimentos pelos quais eles passarão durante o tempo mais angustiante da história humana (Daniel 12:1), Ellen White diz:

'Estes são os que vieram da grande tribulação' (Apoc. 7:14); passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de Deus. Mas foram livres, pois 'lavaram os seus vestidos, e os branquearam no sangue do Cordeiro'... Viram a Terra devastada pela fome e pestilência, o Sol com poder para abrasar os homens com grandes calores, e eles próprios suportaram o sofrimento, a fome e a sede. (2)

Significado escatológico do selamento


Os juízos de Deus passarão por alto aqueles que estiverem selados, da mesma forma como o anjo da destruição passou por alto as casas dos israelitas cujas portas estavam marcadas com sangue nas vésperas da libertação do cativeiro egípcio (Êxodo 12).

Em Ezequiel 9, encontramos uma cena semelhante em que os fiéis que não se contaminaram com a apostasia são selados na fronte pouco antes da destruição final resultante da ira de Deus.

Aqui, Jerusalém é também um símbolo do mundo, e as abominações de que fala o profeta dizem respeito à idolatria, à depravação moral, como o homossexualismo, e a outras perversões semelhantes que aviltam a pessoa humana e difamam o nome de Deus. Os que são selados na fronte, isto é, os que tiveram a lei de Deus escrita no coração pela virtude do sangue de Cristo, consideram tais coisas repulsivas, e clamam a Deus para que Ele intervenha em favor de Seu povo.

A mesma situação é descrita no Apocalipse. Quando os 144.000 forem selados, haverá uma separação definitiva entre os justos e os ímpios, a porta da graça se fechará e os juízos de Deus começarão a cair.

Segundo vimos com base em Apocalipse 14:1 (clique aqui), o selo de Deus representa a inscrição do caráter divino na vida do crente, ou seja, a aplicação integral do evangelho eterno mediante a obra regeneradora do Espírito Santo.

O anjo portador do selo de Deus se refere aos 144.000 como "os servos do nosso Deus" (Apocalipse 7:3), isto é, eles são identificados com base em sua relação e em seu serviço ao Senhor, caracterizados pela obediência e lealdade incondicionais. Por sua fé em Cristo e conduta cristã, eles demonstram ao mundo que são o povo de Deus.

Ao passo que Apocalipse 7 retrata os 144.000 na Terra, pouco antes do período de angústia e da consumação dos séculos, o capítulo 14 os apresenta triunfantes com Cristo no Céu. No verso 1, o monte Sião se refere à Nova Jerusalém (Hebreus 12:22), na qual estarão reunidos os 144.000 juntamente com os salvos de todas as épocas (Apocalipse 7:9-17).

Porque experimentaram uma prova sem precedentes e venceram pela fé em Jesus (Apocalipse 13:11-18; 15:2-4; 19:1-8), os 144.000 constituem um grupo especial de remidos, "as primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apocalipse 14:4), cuja perseverante fidelidade, obtida pelos méritos de Cristo, habilita-os a encontrar com o seu Senhor e entoar diante dEle um novo cântico - fruto da experiência que os demais remidos não tiveram (Apocalipse 14:3).

Características dos 144.000


Apocalipse 13 apresenta o perfil dos poderes perseguidores do povo de Deus. O capítulo 14 (versos 4 e 5) apresenta o perfil dos perseguidos, os quais finalmente triunfarão com Jesus sobre as potestades do mal. Vejamos as características altamente significativas desse grupo final de remidos:

1. Não se macularam com mulheres, porque são castos. Conforme verificamos, a figura feminina é usada muitas vezes na Bíblia para representar o povo de Deus; uma mulher pura simboliza uma igreja pura (Apocalipse 12), uma mulher impura simboliza uma igreja apostatada (Apocalipse 17). Os 144.000 conservam as características de uma igreja íntegra que não se contaminou com o vinho intoxicante de Babilônia - símbolo dos falsos ensinos provenientes de suas relações ilícitas com os poderes do mundo. Eles são espiritualmente castos porque romperam com Babilônia moderna em obediência ao chamado do Senhor (Apocalipse 18:4). Assim como as "cinco virgens prudentes", cheias do Espírito Santo, transformaram a verdade em uma experiência viva e pessoal, tornando-se, desse modo, semelhantes a Cristo (ver Mateus 25:1-13), os 144.000 são virgens espiritualmente falando, porque viveram a verdade no mais alto grau mediante a influência transformadora do Espírito Santo.

2. São os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. Ellen White observa que "o Senhor tem na Terra um povo que segue o Cordeiro aonde quer que vá. Tem Ele os seus milhares que não inclinaram os joelhos a Baal. Esses estarão com Ele no Monte Sião. Mas aqui na Terra têm de eles estar cingidos de toda a armadura, prontos para empenhar-se na obra de salvar os que estão prestes a perecer... Não precisamos esperar até que sejamos trasladados, para então seguir a Cristo. O povo de Deus pode fazer isso cá em baixo. Só havemos de seguir o Cordeiro nos átrios celestiais, se O seguirmos aqui. (...) Não devemos seguir a Cristo intermitente ou caprichosamente, apenas quando é para nossa vantagem. Devemos decidir segui-Lo. Na vida diária devemos seguir o Seu exemplo, como um rebanho segue, confiante, seu pastor. Devemos segui-Lo mesmo sofrendo por Sua causa, dizendo a todo passo: 'Ainda que Ele me mate, nEle esperarei.' Jó 13:15. A prática de Sua vida deve ser a prática da nossa. E ao assim buscarmos ser semelhantes a Ele, e a pôr nossa vontade em conformidade com a Sua, havemos de revelá-Lo. (3)

3. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro. Remidos são os que foram resgatados, comprados ou adquiridos para Deus com base no sacrifício expiatório de Jesus (Apocalipse 5:9). "Resgate" é um dos termos que melhor expressa a doutrina da expiação no Novo Testamento. Resgatar ou libertar uma pessoa envolve o pagamento de um preço, no caso de nossa redenção, o sangue de Cristo, pois "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hebreus 9:22). O próprio Mestre se referiu à Sua obra redentora ao declarar que "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20:28). Ele "mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tito 2:14, ver I Coríntios 6:20). Como todos os crentes, os 144.000 foram "comprados da terra" (Apocalipse 14:3), porém estes são as primícias ou os primeiros frutos de uma colheita maior e culminante (14:14-16).

4. Não se achou mentira na sua boca; não têm mácula. Sofonias 3:13 se refere ao remanescente fiel com estas palavras: "Os restantes de Israel não cometerão iniquidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa." Homem algum de palavras falsas ou coração enganoso receberá o selo de Deus. Os que proferem mentira serão destruídos (Salmo 5:6, ver Provérbios 19:5 e 9). Assim como Cristo é "sem defeito e sem mácula" (I Pedro 1:19; Isaías 53:9; Hebreus 7:26), Suas primícias também devem ser irrepreensíveis, sem mácula ou defeito, visto que, pela fé, receberam a justiça de Cristo e refletiram Seu caráter. Nenhum poder ou esforço meritório de nossa parte poderá nos garantir essa condição. Somente pela graça de Jesus é possível a todos os crentes alcançar os elevados padrões que Deus estabeleceu, e estar entre aqueles que herdarão Seu reino com um caráter santo e incorruptível (Filipenses 4:13).

Condições para ser como os 144.000


O Apocalipse apresenta, com efeito, quatro virtudes que caracterizam esse grupo de remidos: pureza, lealdade, santidade e verdade. Toda pessoa que deseja estar com Cristo no Céu precisa desenvolver esses caracteres estando com Cristo aqui na Terra. O Senhor prometeu enviar-nos o Consolador, o Espírito Santo, como o Agente regenerador do caráter, mas necessitamos rogar por Sua presença em nós e cooperar com Ele a fim de obtermos êxito.

Os 144.000 representam os santos perseverantes que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus (Apocalipse 14:12). Nos momentos finais da história da Terra, este povo se distinguirá dos que adoram a besta ou a sua imagem e recebem a sua marca (Apocalipse 14:9-11; Marcos 7:7).

A Escritura mostra claramente que haverá dois grupos de adoradores quando Jesus voltar, e a fidelidade a Deus será o grande divisor de águas. A observância do quarto mandamento é o sinal da obediência, pois não foi uma voz humana que ordenou: "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar" (Êxodo 20:8). Se o sábado for observado pelos que se consideram discípulos de Jesus, estes certamente guardarão todos os demais mandamentos (ver Tiago 2:10).

Os crentes que recebem a Cristo como seu Salvador e Senhor não podem permanecer em harmonia com os rudimentos do mundo. A Bíblia reitera que há somente duas classes distintas: uma é leal a Deus, guardando todos os Seus mandamentos pela fé em Jesus, enquanto a outra fala e age como o mundo, negligenciando o testemunho das Escrituras e aceitando como verdade as palavras dos poderes apóstatas que tem rejeitado a Cristo.

Com base na luz que a Palavra de Deus nos tem proporcionado, é imperativo considerar de que lado do conflito nós estamos. Minha sincera oração é que estejamos do lado do Vencedor, Jesus Cristo, até à bendita manifestação da Sua gloriosa vinda (Apocalipse 17:14)!

Notas e referências


1. Questões sobre Doutrina. Edição anotada. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008, p. 187.

2. Ellen G. White. O Grande Conflito, 19ª ed. Santo André, SP: CPB, 1978, p. 649.

3. ______________. Nos Lugares Celestiais. Meditações Matinais 1968. Tatuí, SP: CPB, p. 298.

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