Nosso Sumo Sacerdote - 9. Então o Santuário Sairá Vitorioso


Por Edward Heppenstall

Para captarmos a importância do santuário celestial e sua purificação no grande conflito entre Cristo e Satanás, nós deveríamos ter certas coisas em mente. Primeira, o santuário celestial é o centro nevrálgico do programa de Deus no trato com o problema do pecado e da redenção do homem. Ele unicamente está apto a tratar com o pecado dos pecadores. Segunda, por ser o centro divino de operação, é também o objeto de ataque por parte de Satanás e seus representantes na terra; daí, portanto, o ataque contra o santuário de Deus e o ministério sacerdotal de Cristo por parte da ponta pequena. Terceira, a doutrina bíblica da purificação do santuário fornece a chave para as atividades finais de Deus e revela aos homens a última fase da obra sacerdotal de Cristo levando à vindicação de Deus e de Seu povo, e à erradicação do pecado e de Satanás.

Isso pode ser comprovado ao analisarmos o símbolo. O mais sagrado dos dias, o Dia da Expiação, o dia do juízo final para os judeus, prometia que Cristo ministraria uma obra final do juízo a culminar com a Sua segunda vinda. Cristo em Sua obra sacerdotal cumpre todos os aspectos da ordem levítica. Desde que a remoção típica do pecado no santuário, realizada uma vez ao ano no Dia judaico da Expiação, não garantia realmente o cancelamento final do pecado e suas consequências, então nós devemos aguardar uma solução real a ser executada na fase final da obra sacerdotal de Cristo no Dia da Expiação (ver Hebreus 9:23; 10:3 e 4; Levítico 16:18, 30). Essa purificação do santuário, de acordo com Daniel 8:14, começou no fim dos 2.300 dias proféticos.

Como no serviço típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete a obra de Cristo para a redenção do homem, há também uma expiação para tirar o pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias. Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso sumo sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua solene obra - purificar o santuário.

Como antigamente eram os pecados do povo colocados, pela fé, sobre a oferta pelo pecado, e, mediante o sangue desta, transferidos simbolicamente para o santuário terrestre, assim no novo concerto, os pecados dos que se arrependem são, pela fé, colocados sobre Cristo e transferidos, de fato, para o santuário celeste. E como a purificação típica do santuário terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra, igualmente a purificação real do santuário celeste deve efetuar-se pela remoção, ou apagamento, dos pecados que ali estão registrados. Mas antes que isto possa cumprir-se, deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma investigação - um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras. - O Grande Conflito, p. 456.

A Purificação do Santuário

Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado. (Daniel 8:14).

As versões e traduções modernas desse texto variam consideravelmente. "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs, e o santuário será restaurado ao seu legítimo estado" (Revised Standard Version); "Então os erros do santuário serão endireitados" (American Translation); "Então o santo lugar sairá vitorioso" (New English Bible).

Esse verso é uma resposta à pergunta feita por um anjo a outro anjo. Os versos 9-12 dão uma revelação inicial da nefanda obra da ponta pequena em oposição a Deus, Sua verdade, Seu povo e Seu santuário. No verso 13, o primeiro ser santo pergunta: "Até quando durará a visão do costumado sacrifício e da transgressão assoladora, visão na qual era entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados?". A resposta foi: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado", ou "sairá vitorioso". A implicação clara é que, ao fim dos 2.300 dias, esse poder profano será derrotado e o santuário de Deus "será restaurado", "purificado", "sairá vitorioso".

Para expressar essa mudança a versão King James usa a frase "então o santuário será purificado". A palavra hebraica para "purificado" é tsadeq. O seu significado básico é "justificar". A palavra é usada quarenta e uma vezes na forma verbal no Antigo Testamento. Ela é traduzida como "purificado" somente nesse verso. Da raiz hebraica e outras derivações vem a ideia de justificação, estar direito, vindicação. Descreve um julgamento ou veredito justo (ver Jó 29:14; Salmo 37:6; Isaías 32:1). Dezoito ocorrências do verbo tem o significado de "estar justo" ou "justificado" (ver Isaías 43:9, 26; Salmo 51:4, 6); também de um juiz dando a alguém o veredito de ser justo ou reto (Deuteronômio 25:1; I Reis 8:32; Isaías 5:23; Provérbios 17:15). Um significado apropriado, portanto, é "justificado". Assim, o santuário será justificado ou demonstrado estar certo. Através da luta com a ponta pequena, Deus será justificado em Seu trato com o problema do pecado. Também os verdadeiros santos de Deus serão manifestos justificados e declarados justos. Com relação ao santuário de Deus e Sua obra, é-nos dito que todos os homens comparecem diante de Deus. O santuário em seu reto juízo sairá vitorioso e será restaurado à sua justa condição.

Mas examinemos melhor este aspecto do grande conflito à luz do que emana da Palavra de Deus.

A Ponta Pequena Ataca as Verdades e o Povo de Deus

Histórica e profeticamente, a visão de Daniel 8 está intimamente relacionada à visão de Daniel 7 e a amplia mais. As repetições e semelhanças do capítulo 8 são evidentemente feitas como elucidação e ênfase adicionais. Isto é indicado, em parte, pela profunda ansiedade que Daniel sente quanto às atividades monstruosas da ponta pequena ou chifre pequeno, e ao aparente sucesso desse poder que se levantou contra Deus e Seu povo, o que Daniel não compreendia. "Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me perturbaram e o meu rosto se empalideceu, mas guardei essas coisas no meu coração" (Daniel 7:28). Nada seria suficiente a não ser uma maior revelação de Deus.

Quase dois anos se passaram entre as visões do capítulo 7 e 8. Daniel não está basicamente preocupado com o leão de Babilônia, o carneiro da Medo-Pérsia e o bode da Grécia. Ele podia entender-lhes o destino. O império da Babilônia fora destruído. Sua sorte foi selada. A destruição impendente sobre os Medo-Persas estava às portas. Os sucessivos impérios mundiais iriam durar somente pouco tempo. Seu intenso desejo era compreender a obra da ponta pequena, particularmente seus ataques contra o santuário de Deus. Nenhum poder descrito nas Escrituras excedeu-o em oposição a Deus e Seu povo.

A visão de Daniel 7 revelou que Deus poria fim à sucessão histórica dos poderes mundiais e à ponta pequena por meio de uma obra de julgamento a ocorrer no santuário divino, no Céu, começando após o término dos 1.260 anos. Em Daniel 8, a intervenção divina ocorre ao fim dos 2.300 anos, quando o lugar santo "sairia vitorioso" (verso 14).

Daniel primeiro relata a visão dada a ele (versos 3-14) - o carneiro, o bode, os quatro chifres, a ponta pequena e os 2.300 dias. Devido ao intenso interesse e desejo de Daniel em saber o significado do que ele havia visto, o anjo Gabriel é comissionado a fazê-lo "compreender a visão" (versos 15-16).

Gabriel resumidamente interpreta o carneiro como a Medo-Pérsia e o bode como sendo a Grécia, e então descreve a queda do primeiro grande rei. Rapidamente ele passa ao tema central da visão - o lugar e a obra do pequeno chifre na história. Ele esclarece que o mistério da ponta pequena e dos 2.300 dias não será plenamente compreendido até aquele tempo porque isto é para "o tempo do fim" (versos 17-19). Ele termina com a declaração enfática de que a visão da tarde e da manhã é para uma época diferente.

O ponto central desta visão é o desafio e a oposição da ponta pequena contra o Deus do Céu. Seu ataque é quádruplo: primeiro, contra Cristo, o "príncipe do exército" (verso 11); segundo, contra a verdade de Deus - "e lançou a verdade por terra" (verso 12); terceiro, contra os santos ou o povo santo (verso 24); e quarto, contra o santuário de Deus, o centro divino onde Deus reina e ministra a salvação, deitando abaixo o santuário e seus serviços (versos 11, 13).

A mais forte linguagem é usada e comparações superlativas são feitas para descrever as atividades esmagadoras da ponta pequena: "excessivamente grande", até o "exército do céu" (versos 9 e 10), "engrandeceu-se até o príncipe do exército" (verso 11), "o que fez prosperou" (verso 12), "transgressão assoladora" (verso 13), "rei de feroz semblante" (verso 23), "causará estupendas destruições" (verso 24).

Este é o quadro aterrador de um poder religioso em oposição a Deus. Não é de admirar que tudo isto tenha trazido grande ansiedade ao profeta.

A Ponta Pequena e Antíoco Epifânio

Frequentemente, estudiosos da Bíblia tem interpretado essa "ponta pequena" como se referindo a Antíoco Epifânio. Na história religiosa dos judeus, Antíoco Epifânio é lembrado especialmente por um infame acontecimento: ele destruiu o santuário de Jerusalém. Por esta razão, intérpretes bíblicos identificam Antíoco com a "ponta pequena". Nada era tão sagrado aos judeus como a área do templo, seu santuário e seu ritual. Antíoco invadiu Jerusalém com seu exército, erigiu altares idólatras e realizou ritos pagãos no lugar sagrado.

Essa profanação do santuário sagrado de Jeová é chamada "a transgressão da desolação" ou a "abominação da desolação" (Daniel 8:13; 9:26). Foi contra tais atrocidades que os judeus se revoltaram, atacando e expulsando o exército de Antíoco e conquistando sua liberdade por cerca de cem anos. Esses eventos foram considerados por muitos como suficientes para esclarecer a obra da ponta pequena, que iria deitar abaixo o santuário.

Há uma série de razões importantes, entretanto, pelas quais Antíoco Epifânio não poderia ser a ponta pequena de Daniel 8:

Primeira, Cristo, em Mateus 24:15, aplicou o termo "o abominável da desolação" ao exército romano, o qual destruiu tanto a cidade como o santuário em 70 A.D. Jesus Cristo ao menos incluiu Roma pagã nessa perspectiva, estendendo para muito além qualquer interpretação literal dos 2.300 dias.

Segunda, Antíoco não destruiu completamente a cidade ou o santuário. Ele deixou-o em pé (Daniel 8:13; 9:26).

Terceira, a ponta pequena iria exercer seu poder destrutivo até o final dos 2.300 dias. Isto é considerado por alguns como 2.300 dias literais; por outros, como 1.150 dias, por causa dos dois sacrifícios oferecidos pela tarde e pela manhã.

A frase "tarde e manhã" é usada no primeiro capítulo de Gênesis, onde a semana da criação é constituída de seis unidades de tarde-manhã, cada uma delas formando um dia de duas partes. Portanto, 2.300 unidades de tarde-manhã constituem 2.300 dias completos de vinte e quatro horas. Nenhum desses períodos de dias se estende desde o tempo em que Antíoco invadiu o santuário e fez cessar os sacrifícios, até o tempo quando eles seriam restaurados; o relato histórico é claro e específico. Desde o tempo em que ele profanou o santuário até à sua restauração, decorreram 1.940 dias, 360 dias menos que 2.300, e 790 dias além dos 1.150 (ver I Macabeu 1:20, 21; 4:53). A data desses eventos não pode ser alterada por qualquer esforço da imaginação.

Quarta, é dito que a ponta pequena se tornaria "muito forte" (Daniel 8:9). Quando comparado com a Medo-Pérsia, que "tornou-se grande" (verso 4), e Alexandre, que se "engrandeceu sobremaneira" (verso 8), ou com todos os outros reis da dinastia dos selêucidas, Antíoco Epifânio não chegou a ser "excessivamente forte".

Quinta, é nos dito que a ponta pequena surgiria "no fim do reinado deles" (verso 23), isto é, no final dos quatro reinos nos quais o império de Alexandre foi dividido. Eles governaram de 301 a 31 a.C. Antíoco governou de 175 a 163 a.C. Em sua própria dinastia ele está localizado no meio do período.

Sexta, a ponta pequena levantar-se-ia contra Cristo, "o Príncipe dos príncipes" (versos 11, 25). Se a referência é ao tempo quando Cristo viveu sobre a terra ou à oposição de Antíoco contra o reino de Deus na terra, Antíoco não teve sucesso. Como consequência de sua guerra com o povo de Judá, surgiu uma nação judaica independente. O templo profanado foi restaurado e a independência triunfou por vinte anos.

Sétima, a visão é dito ser "para o tempo do fim" (versos 17, 19). Que fim poderia isto significar? Obviamente, a visão, como aplicada a ele, não pode significar o fim do império selêucida ou o fim da independência judaica ou o fim dos tempos. A frase parece inteiramente sem significado quando aplicada a Antíoco.

Essas são as ações e características que não correspondem a Antíoco Epifânio e são contrárias a seu caráter e governo. De qualquer maneira, essas características aparecem em frequentes referências proféticas ao anticristo.

O Santuário Identificado

A mais extraordinária ação de oposição da apóstata ponta pequena é o seu ataque ao santuário e seus serviços: "por ele, o sacrifício diário foi tirado e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo" (Daniel 8:11). "Era entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados" (verso 13). Que santuário é "deitado abaixo" e que sacrifício diário "foi tirado"?

Primeiro, a Bíblia revela a existência de dois santuários - o terrestre e o celestial. O terrestre é um tipo, uma amostra ou modelo do celestial. A relação entre esses dois santuários é muito antiga, remontando aos dias de Moisés. A ideia de um templo no qual Deus habitasse surgiu quando Deus deu a Moisés uma visão sobre isto e um modelo para ser seguido ao construir o tabernáculo no deserto, e quando Deus deu a Davi os planos para uma mais elaborada e permanente estrutura do templo localizado em Jerusalém. A crença no santuário onde Deus habita foi dada a Israel desde o início de sua história. Ainda hoje, a área antigamente ocupada pelo templo é o lugar mais sagrado para o judeu moderno. O que Meca é para o maometano, Jerusalém e a área do templo são para o judeu. Este era o seu centro de culto e de comunhão com Deus.

Moisés construiu o antigo tabernáculo, com todos os seus móveis, de acordo com o modelo e plano mostrados por Deus a ele enquanto estava no monte Sinai (Êxodo 25:9, 40). Deus deu, verbalmente, instruções completas a Moisés, o que explica o fato de os profetas e escritores bíblicos subsequentes, incluindo Isaías, Ezequiel e o apóstolo João, descreverem o santuário celestial com imagens típicas do santuário terrestre. Quando Daniel fala do serviço "diário", a mente se volta para a época do santuário terrestre, quando os sacerdotes ministravam a contínua oferta queimada. Pela manhã e à tarde, o cordeiro era morto, o sangue era aspergido, e o corpo, consumido sobre o altar no pátio do templo. Outros sacrifícios pessoais seguiam-se ao longo do dia. Essas eram as cerimônias às quais os posteriores escritores bíblicos se referiam. Todos esses serviços apontavam para Cristo, nosso Sumo Sacerdote, tanto em Seu sacrifício na terra como em Seu ministério sacerdotal no santuário celeste.

Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem. Pois todo sumo sacerdote é constituído para oferecer assim dons como sacrifícios; por isso, era necessário que também este sumo sacerdote tivesse o que oferecer. Ora, se ele estivesse na terra, nem mesmo sacerdote seria, visto existirem aqueles que oferecem os dons segundo a lei, os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte. Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também mediador de superior aliança, instituída com base em superiores promessas. (Hebreus 8:1-6).

Assim, quando Daniel fala do "diário" e do "santuário" e das 2.300 "tardes e manhãs", ele está usando a linguagem simbólica, como o fazem outros escritores bíblicos ao falarem do santuário celestial e do ministério de Cristo ali. O fato de Daniel usar a linguagem simbólica não exclui o santuário celestial como parte da visão. O apóstolo João, escrevendo vinte anos depois sobre a destruição do santuário terrestre em Jerusalém, viu os sete castiçais de ouro simbolizando as sete igrejas (Apocalipse 1:12, 20); um "cordeiro como se tivesse sido imolado" (Apocalipse 5:6); "o altar" e "um incensário de ouro" (Apocalipse 8:3), o qual permanecia diante do véu; o oferecimento do incenso, que simbolizava os méritos de Cristo oferecidos com as orações dos santos (Apocalipse 8:3).

João viu o templo de Deus aberto no céu, "e foi vista a arca da aliança no seu santuário" (Apocalipse 11:19). O único santuário existente quando João escreveu o Apocalipse era aquele do Céu, o celestial, entretanto, ele usa a linguagem do terrestre para descrevê-lo.

Segundo, Jesus identificou o "abominável da desolação" da ponta pequena com Roma pagã e a destruição da cidade e do santuário feita por ela em 70 A.D., e desde então este nunca mais foi reconstruído. O local do templo é agora ocupado por uma mesquita maometana. O antigo santuário não saiu vitorioso nem foi restaurado ou purificado. Um correto cumprimento da profecia referente ao santuário deve culminar com o seu ressurgimento vitorioso, e com a restauração a seu estado de retidão.

Terceiro, a profecia e perspectiva divina são escatológicas. O anjo disse a Daniel que "a visão se refere ao tempo do fim... Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo" (Daniel 8:17-19).

O povo teria uma completa compreensão da visão somente depois de muitos dias, no fim dos tempos, quando o pequeno chifre fosse quebrado sem auxílio de mãos (verso 25), isto é, não pela força de exércitos e de homens, mas pelo juízo e ação divinos, quando o santuário celestial sairia vitorioso. Gabriel termina com uma enfática declaração de que a visão da tarde e da manhã é verdadeira. Todas essas frases, tais como "o tempo do fim", "muitos dias", indicam a Daniel um futuro mui distante. A plena compreensão dessa parte da visão não viria até uma época distante, o fim dos 2.300 dias. O único santuário a estar envolvido após 70 A.D. é o santuário celestial.

Quarto, as frases referentes a tirar o sacrifício costumado ou diário, e deitar por terra o santuário, são repetidas em conexão com todos os períodos proféticos de Daniel. Em Daniel 8, ela está ligada aos 2.300 dias. Em Daniel 11, está ligada à perseguição dos santos, à idade escura, quando muitos "cairão à espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo... Alguns dos entendidos cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim" (Daniel 11:31-36). Em Daniel 12, tirar o "diário" está ligado aos 1.260, 1.290 e 1.335 anos:

Ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão direita e a esquerda ao céu e jurou por aquele que vive eternamente, que isso seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão. Eu ouvi, porém não entendi; então eu disse: Meu senhor, qual será o fim destas coisas? Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim... Depois do tempo em que o costumado sacrifício for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias... Tu, porém, segue o teu caminho até o fim; pois descansarás, e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança. (Daniel 12:7-13).

Todos esses escritos tem uma coisa em comum - eles envolvem o ataque ao santuário e ao seu ministério e estão inevitavelmente ligados a esses períodos proféticos que se estendem ao tempo do fim. As visões de Daniel 7, 8, 9, 11 e 12 envolvem esse poder, a apóstata ponta pequena. Em todos os casos, tanto quanto se refira ao santuário celestial, Deus vence Sua causa, e Seu ministério no santuário sai vitorioso juntamente com Seus santos.

Quinto, ambos os períodos - os 2.300 anos de Daniel 8 e os 490 anos de Daniel 9 - fazem parte da mesma visão, à qual são feitas referências frequentes. Ambos começam no mesmo tempo, durante o reino da Medo-Pérsia. Ambos centralizam-se no ataque ao santuário de Deus, à Sua verdade e ao Seu povo. Ambos revelam a intensa ansiedade de Daniel em compreender a visão. Ambos envolvem o esforço de Gabriel em fazer Daniel compreender a visão.

Um exame cuidadoso dos capítulos 8 a 12 revela quanto eles se complementam e se assemelham um ao outro, indo dos dias de Daniel ao tempo do fim.

"O Diário"

"Por ele (a ponta pequena) o diário sacrifício foi tirado" (Daniel 8:11). A palavra hebraica para "diário" é tamid, que significa "contínuo", "perpétuo". A Revised Standard Version traduz "a contínua queima de ofertas", e a New English Bible, a "oferta regular". A ênfase não está no sacrifício, mas na natureza contínua do ministério sacerdotal. Ela se refere à totalidade dos serviços do templo oferecidos diariamente pelos sacerdotes para mediar o perdão e a redenção. "Todo sacerdote se apresenta dia após dia a exercer o serviço sagrado" (Hebreus 10:11). Os serviços diários tipificavam a contínua e completa provisão de Deus na obra sacerdotal de Cristo por aqueles que vêm em busca de perdão e salvação.

Ao compararmos o ministério sacerdotal de Cristo com o dos levitas não podemos pensar que seja igual ao do santuário terrestre. Porque o incenso oferecido com as orações dos santos simboliza os méritos de Cristo, nós podemos crer que Cristo ofereça esses méritos e não que Ele queime incenso. Uma vez que as sete "tochas de fogo" simbolizam o Espírito Santo (ver Apocalipse 4:5), nós podemos crer que Cristo ministre-nos o Espírito Santo e não que esteja envolvido em tochas luminosas. Moisés, Daniel e João representaram as realidades divinas por meio de aspectos terrestres literais, porque o homem, como pecador, não poderia contemplar as realidades divinas; e para ver o eterno através do visível, símbolos são usados. Assim somos informados a respeito do programa divino de redenção e juízo.

O sacrifício e o ministério sacerdotal de Cristo devem ser vistos como preenchendo todos os símbolos e serviços do santuário e do sacerdócio levítico. Bem no centro da fé cristã está o nosso Sumo Sacerdote que derramou Seu sangue pela humanidade e assenta-Se à direita do Pai como nosso eterno Mediador.

Nós somos adquiridos por Seu sangue, redimidos por Seu sangue, e temos o perdão de nossas transgressões segundo as riquezas de Sua graça (ver Efésios 1:7; 2:13; Colossenses 1:20; I Pedro 1:18 e 19). Assim, Cristo fez uma completa, perfeita e suficiente oblação pelos pecados do mundo todo. NEle, todos os nossos pecados são expiados. Eles não mais impedem nossa admissão ao favor e à presença divina. Cristo nunca deixa de ser o Mediador entre Deus e o homem. Nenhuma outra obra mediatória é aceitável a Deus.

A obra e o ministério de Cristo é salvar homens. Ele faz isso não somente por Sua morte na cruz, mas também por Sua vida (Romanos 5:10). Cristo propicia a todos que vêm a Ele as realidades espirituais e os resultados da redenção realizada na cruz.

Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. (Atos 5:30 e 31).

Cristo ofereceu Seu próprio sangue a Deus e iniciou Seu ministério sacerdotal em um "maior e mais perfeito tabernáculo" (Hebreus 9:11). Ele, unicamente, é o "mediador de uma melhor aliança", do "novo concerto" (Hebreus 8:6; 12:24). O novo concerto baseia-se no divino perdão dos pecados (Hebreus 8:12; 10:16 e 17). Por isso, Cristo é chamado "misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo" (Hebreus 2:17), e quebrar o poder do pecado (Hebreus 7:11 e 19). Unicamente Ele pode levar os pecadores a tal comunhão com Deus. Um dos mais distintivos marcos do ministério sacerdotal de Cristo é assegurar-nos o acesso à presença de Deus, a todos que têm corrido para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta (Hebreus 6:18). Diante de Deus, o pecado e a desobediência não são banais. Cristo abre a porta do santuário para que o homem veja a arca do concerto que contém a lei de Deus (Apocalipse 11:19). Jesus Cristo, nosso incorruptível Sumo Sacerdote, leva os homens a honrarem tanto a lei como o evangelho. Remover o pecado e a desobediência, restaurar no homem a imagem de Deus, tal é o principal serviço de Cristo prestado à humanidade.

Pois "quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus" (Marcos 2:7). "Eu, eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Isaías 43:25). Cristo, nosso Sumo Sacerdote, "pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hebreus 7:25). Se Cristo não houvesse ressuscitado para realizar o Seu ministério sacerdotal, nós não poderíamos ser salvos (I Coríntios 15:17 e 18). Devido ao Seu ministério no santuário celestial, o Espírito Santo veio:

Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. (João 16:7-11).

Além do mais, porque Cristo ministra no santuário, a obra do evangelho eterno avança na terra:

Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai. (João 14:12).

Em virtude de Seu contínuo ministério, Cristo também virá outra vez:

Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis. (João 16:16).

O ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial significa tudo para o mundo e para a igreja. Nesse verdadeiro santuário Cristo é o centro de irrestritos e ilimitados méritos, misericórdia, amor e poder. Ele unicamente é o autor da salvação do homem, o único Sumo Sacerdote diante do supremo Deus do universo, em perfeita harmonia para com Deus e simpatia para com o pecador (Hebreus 2:16-18).

Deus o Pai deve considerar e considera a intercessão de nosso Salvador e aceita os méritos de Cristo e de nenhum outro em nosso favor. Cristo, nosso Sumo Sacerdote, obtém para o Seu povo todas as riquezas e bênçãos que emanam de Sua completa expiação na cruz. Nada mais tem valor para o Céu. Confiando unicamente em Seus méritos, não nos de santos ou anjos, nós somos levados ao trono da graça divina. Cristo propicia para nós uma herança eterna (Hebreus 9:15). Ele é o capitão da nossa salvação; Ele conduz muitos filhos à glória por Seu ministério (Hebreus 2:10). Assim, Ele ensina os homens a olharem para Ele, o autor e consumador de nossa fé. Em Sua função sacerdotal, Ele reclama o Seu povo como direito Seu. Os crentes podem andar na terra como cidadãos do Céu.

Esse ministério de Cristo nunca deverá ser obscurecido por tradições, contrafações, julgamento errado ou verbalizações de pecadores. Ao assumir ou usurpar esse direito que pertence só a Cristo, o homem falho está fazendo a obra do anticristo. Os homens necessitam de um sacerdócio incorruptível, além do poder de uma vida infinita (Hebreus 7:16). Cristo, como verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, está plenamente capacitado para a execução da obra de Sumo Sacerdote.

Compreender e submeter a vida ao ministério salvador de Cristo no santuário celestial significa conhecer Aquele cujo conhecimento é vida eterna (João 17:3). Seguir a Cristo no santuário, olhar unicamente para o Cristo vivo, garante aos homens certeza e segurança quanto à salvação e à vitória final. A necessidade fundamental é termos a Cristo como o centro da nossa vida e obra. O problema da Igreja através da história é que os cristãos não têm permitido que Ele ocupe Seu justo lugar.

Tirando o Sacrifício Diário

Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício costumado e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. (Daniel 8:11).

Aqueles que creem que Daniel 8:11 se refere ao santuário terrestre literal, interpretam isto como significando uma profanação literal do santuário por uma invasão de seus lugares sagrados, pela ereção de altares a deuses pagãos e pela cessação dos serviços e sacrifícios diários dos judeus por um período literal de 2.300 dias ou 1.150 dias.

Aqueles que creem que o santuário e o diário referem-se ao santuário celestial, veem o assunto em termos de um conflito entre sistemas religiosos, ideias, e doutrinas oponentes - o reinos de Jesus Cristo, o Príncipe da luz, contra o reino do príncipe das trevas -, um conflito entre Cristo e o anticristo.

A referência ao "diário" e a "deitar abaixo o santuário" é evidentemente a mesma mencionada em Daniel 11:31-35 e 12:9-13. Dos períodos de tempo mencionados em conexão com esse santuário, os 1.260, 1.290 e 1.335 dias, nós podemos inferir que as 2.300 tardes e manhãs simbolizam anos. Isto é mais bem evidenciado nas setenta semanas de anos de Daniel 9, que são um tempo literal, e os 1.260 dias proféticos de Apocalipse 12 e 13. Portanto, há boa razão para crermos que essas figuras numéricas constituem o tempo profético; que o santuário referido é o celestial e não o terrestre, que deixou de existir depois de 70 A.D.

Além disso, parece impossível explicar satisfatoriamente os grandes temas tratados nessas visões em termos de dias literais. As várias visões e as profecias envolvidas se estendem a um futuro distante. A íntima relação e escopo dessas visões estão entre as mais convincentes evidências de que esses dias representam anos, e de que nós estamos tratando do santuário no Céu. O selamento da visão do diário e do santuário até o tempo do fim, a promessa a Daniel de ser-lhe dada a sua herança quando viesse o tempo da plena revelação da profecia, apontam para muito além do dia em que ele ouviu essas palavras.

Um dos problemas na interpretação situa-se no uso do termo "santuário", seja o terrestre ou o celeste, que Daniel tinha em mente. A história da salvação começa com o santuário terrestre e muda para o santuário celestial, ao antítipo atingir o tipo. Isto é visível no sacrifício e ministério dos sacerdotes levíticos quando comparados com o sacrifício de Cristo e o Seu ministério sacerdotal. A visão de Daniel abrange os dois, pois eles fazem parte do plano e do propósito de Deus na história judaica e cristã.

Se Daniel 8:9-14 se refere à desolação literal de Jerusalém e à destruição dos judeus, então a libertação viria por meio de uma força militar, seguida de uma restauração literal dos serviços diários do templo. Mas a comunicação do anjo com Daniel claramente indica que o assunto vai, além do santuário terrestre, ao celestial.

Um deles disse ao homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio: Quando se cumprirão estas maravilhas? Ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão direita e a esquerda ao céu, e jurou por aquele que vive eternamente, que isso seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão. Eu ouvi, porém, não entendi; então eu disse: Meu senhor, qual será o fim destas coisas? Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão. (Daniel 12:6-10).

O que os maus não entenderão se tudo o que está envolvido aqui é a restauração literal do santuário e seus serviços? Não se trataria aí de uma compreensão espiritual das formas religiosas e de assuntos sobrenaturais a serem revelados no tempo do fim, quando estas profecias de tempo terminar? Quem está apto a prevalecer quando Miguel se levantar (verso 1)? Quem poderá enfrentar a prova do santuário de Deus, o Seu juízo e Sua investigação? A verdade é que isto tem sido posto abaixo, e não a estrutura física. Os santos é que têm sido destruídos, e não a cidade. É o ministério de Cristo que tem sido obscurecido, não a cessação dos serviços religiosos. O ataque da ponta pequena é contra a verdade de Deus, contra a atividade redentora de nosso grande Sumo Sacerdote, contra a lei de Deus e contra o povo de Deus.

As visões relatadas no livro de Daniel que se relacionam com o capítulo 8 também revelam que a controvérsia e os resultados dela são espirituais. Na visão da grande imagem de Daniel 2, a pedra cortada sem mãos decide o assunto. Em Daniel 7, a longa história de oposição do homem a Deus é resolvida por um juízo de Deus no santuário celestial. Em Daniel 8 nós aprendemos que o poder apóstata da ponta pequena será quebrado sem auxílio de mão humana. Daniel 11 nos fala que um rei que se exalta a si mesmo contra o Deus dos deuses chegará a seu fim e ninguém o ajudará. De acordo com Daniel 12, é somente quando Miguel, o grande príncipe, se levantar, os homens serão libertos e Deus sairá vitorioso. A vindicação de Deus e de Seu povo é realizada não por métodos humanos, mas por métodos divinos. O assunto é a verdade contra o erro, a luz contra as trevas. A vitória é alcançada não pela presença ou poder de exércitos mundiais ou decretos humanos, mas pela verdade e pelo poder do Deus vivo. Este é o triunfo que essas grandes visões proféticas antecipam e requerem.

O Tema

Em Daniel 8, o que está em jogo é a vindicação de Deus e de Seu povo contra as forças do mal. A mensagem do santuário trata do problema do pecado e da fé e obediência ao Deus que governa e faz propiciação no lugar em que habita. Pode a realidade do ministério de Cristo no santuário celestial vencer os juízos injustos dos homens e as forças das trevas, e fazer a justiça "resplandecer como o fulgor do firmamento... sempre e eternamente" (Daniel 12:3)?

João, o apóstolo, escrevendo no escopo do tempo do fim, fala em "medir o templo, o altar, e os adoradores" (Apocalipse 11:1 e 2). Nenhum construtor ou alfaiate foi chamado para tirar as medidas. Nenhum literalismo semelhante pode tornar clara a verdade de Deus. Medir o santuário é compreender seu ministério sacerdotal, sua obra de redenção e juízo. Medir o altar significa compreender e proclamar a verdade da expiação. Medir os adoradores significa examinar a fim de ver quem são os verdadeiros adoradores. Por esse símbolo de medir, os pecadores são dirigidos a Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, e a Cristo como o Mediador do homem no santuário celestial.

O Direito de Perdoar e Julgar

Uma vez que a visão de Daniel centraliza-se no santuário celestial e na obra mediatória de Cristo, o que então significa a afirmação de que "por ela (a ponta pequena) foi tirado o sacrifício costumado, e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo" (Daniel 8:11)? Obviamente, a apóstata ponta pequena não tinha condições de acesso ao santuário celestial. Porém ela privou os homens do verdadeiro conhecimento da justiça salvadora e do juízo através de um Mediador entre Deus e o homem, pois usurpou o lugar e o ministério de Cristo. Os homens não poderiam valer-se de alguma coisa que ignorassem.

A ponta pequena reclama para si o direito e o poder de perdoar pecados, de decidir casos e perdoar ou não perdoar, de julgar homens e de decretar vida eterna ou sofrimento eterno. Essa pretensão, se aceita pelo homem, obscurece o ministério que pertence a Cristo. Como Sumo Sacerdote do homem, Cristo subiu ao santuário celestial para dar arrependimento e perdão dos pecados. Deus deu a Ele, unicamente, o direito de julgar as vidas humanas e dar um veredito final.

O contínuo ministério no santuário celestial fica destituído de qualquer sentido e eficácia quando algum homem ou sistema presume usurpar o lugar de Jesus Cristo. A perda do conhecimento da obra sacerdotal de Cristo mantém o homem no pecado e nas trevas. Tal sistema põe Cristo fora do processo de salvação. A crença de que sacerdotes na terra podem perdoar pecados e decidir casos para o bem ou para o mal, não importa quão generosamente você explique esta intenção e ação, não livra os homens de seus pecados e de suas culpas. Nem os santos, nem a mãe de Jesus, nem os sacerdotes terrestres podem interceder por nós diante de Deus. O cristão não é deixado à mercê dos julgamentos e decisões dos homens. É idolatria confiarmos nosso destino eterno a algum ser humano. Em Cristo nós temos o próprio Deus por nosso auxílio.

A ponta pequena tem competido pelo ministério salvador no santuário e por decidir quem está apto para a salvação. Como então vai sair vitorioso o santuário de Deus e será ele finalmente justificado? Esta não é uma ação arbitraria de Deus. Não é pela força ou por decreto que Deus derrotará Seus oponentes. Entretanto, Deus mesmo condescende em tornar públicas as Suas decisões e Seus juízos e pô-los à disposição do universo. Deus abre os livros do Céu para todos verem. Ele fez Suas criaturas livres para pensar, decidir e determinar qual o líder celestial que seguirão - Cristo ou Satanás. Deus honra tal liberdade por colocar a verdade a Seu respeito e o Seu plano de redenção diante dos homens e permitir-lhes escolherem por si mesmos. O veredito final do santuário vindicará a Deus e Seus santos.

Mas o plano da redenção tinha um propósito ainda mais vasto e profundo do que a salvação do homem. Não foi para isto apenas que Cristo veio a Terra; não foi simplesmente para que os habitantes deste pequeno mundo pudessem considerar a lei de Deus como devia ela ser considerada; mas foi para reivindicar o caráter de Deus perante o universo. - Patriarcas e Profetas, p. 64.

Todo perdão e juízo devem basear-se em um fundamento universal e ser individualmente reconhecidos. Quando isto vem de Cristo, nosso Sumo Sacerdote, Salvador e Juiz, nós podemos confiar. O dia da revelação dos retos juízos de Deus é chegado. Os juízos de Cristo no santuário serão o único veredito justo. Do centro divino de operações procede a ação plena e perfeita da Divindade concentrada em perdoar e julgar por meio de Jesus Cristo, "no dia em que Deus julgar os segredos do coração humano, por meio de Jesus Cristo" (Romanos 2:16).

Vi na mão direita daquele que estava sentado no trono um livro escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. Vi também um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e lhe desatar os selos? Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro... Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos... Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro...
Digno és de tomar o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação... Vi, e ouvi uma voz de muitos anjos... Milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. (Apocalipse 5:1-13).

Ellen G. White coloca o evento acima no tempo do fim, e o abrir dos selos como sendo a abertura dos livros de registros revelando o destino dos homens e o triunfo de Deus:

Deste modo, os guias judeus fizeram a escolha. Sua decisão foi registrada no livro que João viu na mão direita dAquele que estava assentado no trono, no livro que ninguém podia abrir. Esta decisão lhes será apresentada em todo o seu caráter reivindicativo naquele dia em que o livro há de ser desselado pelo Leão da tribo de Judá. - Parábolas de Jesus, p. 294.

Devido a esta revelação do santuário, as decisões dos poderes apóstatas da ponta pequena sobre as vidas humanas demonstrar-se-ão falsas. Suas decisões serão invertidas. Todos os seus pronunciamentos de perdão e as decisões para vida ou para a morte serão rejeitadas pelo Deus do Céu. Nada, a não ser o reto juízo de Deus no santuário, poderá decidir com perfeição a sorte dos homens. Tendo-lhe sido confiado todo o juízo, Cristo unicamente pode tornar conhecido ao universo o perdão que corresponde a um verdadeiro arrependimento, um juízo que confirma o caráter, uma salvação que não pode ser cancelada. Cada perdão oferecido, cada sentença dada por Jesus Cristo sobre cada vida, demonstrar-se-á completamente justo.

Esta é a razão porque o "juízo investigativo" ao final dos 2.300 anos assume um significado universal na grande luta entre a verdade e o erro. O universo honrará e apoiará o juízo de Deus, não o dos homens na terra, a despeito de sua posição e poder. Os injustos e falhos juízos humanos serão rejeitados. A verdade do santuário é a revelação da palavra final de Cristo quanto à condição e o destino de todos os homens. As decisões feitas por homens na terra nunca poderão ser justas e finais.

O juízo investigativo é uma amorável revelação das decisões justas, feitas por Cristo em favor dos que tem confiado nEle. A mulher escarlate, Babilônia, é a mãe do mundial sistema falso de culto que está em oposição à verdade e à lei de Deus, aos filhos de Deus e à obra expiatória e redentora de Cristo, que é o único Sumo Sacerdote e Mediador do pecador diante de Deus (Apocalipse 17:1-5). Através dos anos, essa Igreja apóstata tem irreverentemente pretendido falar em lugar de Deus e ministrar Sua graça salvadora aos que estão na terra, e decidir entre os salvos e perdidos. Mas, em realidade, nenhum juízo justo tem sido executado pelo homem. Os homens são tão facilmente enganados pelas aparências e pelas palavras! O pecado é mais do que um ato exterior. Ele é também um estado de mente e do coração. Somente Cristo pode ler as mentes humanas. Fé é a resposta vital do homem a Cristo. Somente Deus pode julgar tal fé. A hora do juízo de Deus provará a obra de cada homem.

Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. (I Coríntios 3:11-13).

Do verdadeiro santuário no Céu, Cristo ministra com amor e poder para transformar Sua obra redentora na cruz em regeneração humana e crescimento à Sua semelhança. Por Seu Espírito Ele restaurou a imagem de Deus naqueles que confiam nEle. Aquilo que deve permanecer por toda a eternidade não é baseado em obras e decisões humanas. Redenção e juízo são atos próprios de Deus em favor de Seus filhos, o que nenhum homem pode fazer. NEle e através dEle os homens podem saber com certeza que os juízo de Deus são para sempre verdadeiros e irreversíveis. A hora do juízo revelará isso.

Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (Atos 17:31).
Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. (I Coríntios 4:5).

Essas ações no santuário são tão pessoais e tão justas que o resultado final será uma conclusão uniforme por parte do universo. Tal veredito não é em qualquer ocasião, mediante alegações e julgamentos humanos. É chegada a hora do Seu juízo para restaurar a verdade a respeito de Deus e de Sua atividade final em favor de um mundo agonizante. Deus nos fala do santuário para que restauremos o verdadeiro culto em confiança e obediência. Unicamente Deus resolverá o problema do pecado e justificará Sua soberania através do universo.

Satanás está constantemente em atividade, com intensa energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal, Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o universo a natureza da mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu trato com o mal. - Patriarcas e Profetas, p. 74.

Em conexão com o término da obra do evangelho sobre a terra, João viu o templo (santuário) de Deus aberto no Céu, "e foi vista a arca da aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada." (Apocalipse 11:19).

Isto tudo não ocorreu com a Reforma, pois a lei e o santuário estavam ainda calcados a pés. A igreja naquela ocasião recebeu "um pequeno auxílio" (Daniel 11:34).

Se nós necessitamos de arrependimento, salvação, juízo e vindicação, a resposta deve vir de Deus e não do homem. O que é requerido é Alguém que seja Ele mesmo nosso Salvador, nosso Juiz, nosso Mediador, nosso Intercessor e Sumo Sacerdote; Alguém cujos juízos não possam ser contrariados, cuja confissão diante do Pai e perante o universo a nosso favor somente possa ser louvada e nunca rejeitada. Unicamente aí está o irrefutável e incontestável julgamento moral de Deus.

Proclamarei o decreto do Senhor; Ele me disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão. (Salmo 2:7 e 8, ver também Hebreus 7:25).

Este juízo trará satisfação e certeza eterna a todas as criaturas de Deus e garantirá que o pecado jamais irá ressurgir. Por meio do ministério sacerdotal de Cristo, Deus executa a redenção e o juízo em favor de Seus filhos, os quais nunca mais poderão ser questionados.

O chamado para sair de Babilônia é um chamado para estudar o ministério mediatório de Cristo e olhar unicamente para Ele. A purificação ou justificação do santuário também significa que Deus tomou em Suas próprias mãos a ação de julgar Seu povo e decidir-lhes o destino, expondo assim a falsidade e inutilidade desse sistema apóstata. Há uma obra contínua de expiação ou reconciliação efetuada por Cristo no Céu, a qual Ele não delegou a nenhum poder religioso na terra. "Se alguém pecar, temos Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." (I João 2:1).

Quão sério é olhar para uma igreja ou instituição ao invés de olhar a Cristo! Quão alarmante o pensamento de permitir que algum poder na terra se interponha entre nós e Cristo! Se é fatal perder de vista a salvação da cruz, é igualmente fatal aceitar um mediador humano entre o pecador e Deus.

Por isso, repousa sobre nós a responsabilidade de olharmos para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé:

E tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. (Hebreus 10:21-23).

Nós somos chamados a confiar em Seu juízo e Seu amor. Nem o diabo nem a impotência dos homens poderá destruir nossa confiança, abalar nossa paz e banir nossa segurança. Contemplemos a incomparável justiça de nosso Salvador e Juiz, pois Seu veredito eterno nos garantirá os lugares celestiais em Cristo Jesus nosso Senhor.

Esta é a resposta divina para as maquinações dos demônios e homens e os poderes das trevas, a resposta àqueles que se têm levantado contra Deus, que têm lançado a verdade por terra, que têm se exaltado até ao Príncipe do exército, que através dos séculos têm destruído o poderoso e santo povo, e que têm tirado o ministério diário de Cristo das mentes humanas e deitado abaixo o lugar do Seu santuário. O juízo divino está implícito na afirmação: "ele será quebrado sem esforço de mãos humanas" (Daniel 8:25).

Deus mesmo julgará esse poder - seu arrogante desafio a Ele, os ataques contra os Seus santos, sua auto-adoração e supremo desprezo para com a verdade e a justiça de Deus. Nesse juízo Cristo reivindicará o Seu povo, os que estão vestidos com Sua justiça, os que "guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apocalipse 14:12).

Nessas grandes profecias, no centro do conflito, situam-se aqueles que habitam na terra. Os poderes celestiais disputam por sua lealdade. A batalha pelas almas humanas é vasta e sua importância, tremenda, porque o destino eterno dos homens e de nosso mundo está em jogo. Muito da história humana envolve uma visão pessimista em termos do grande número dos que se têm colocado a favor de Satanás, e do remanescente que se tem decidido por Cristo. A Igreja tem uma urgente necessidade de ganhar homens para Cristo e prepará-los para estar em pé quando os livros forem abertos no juízo. Quando Cristo voltou ao Pai, Ele comissionou a Seus seguidores:

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. (Mateus 28:19).

Que implicação tem isto com a "purificação do santuário", a "restauração do santuário a seu legítimo estado"? Num sentido, isto significa chamar a atenção dos homens para a única Fonte de perdão, redenção e santificação.

Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção. (I Coríntios 1:30).

Isto significa também que um reto juízo sobre os homens não existe em nenhum outro lugar. O juízo que considera o caso dos homens no santuário celestial é o único que vale. Tal juízo permanecerá para sempre. Acima das pretensões dos homens há o juízo de Deus.

Por isso é que, em Daniel 8, a ênfase está sobre a purificação, a restauração, o triunfo do santuário. Ali, e unicamente ali, o caráter dos santos estará apto a subsistir à luz da presença de Deus. Por esta razão, Deus trará Seu povo ao local do juízo. Isto é essencial ao triunfo do santuário e do ministério sacerdotal de Cristo. Isto demonstrará ser Deus justo em todos os Seus juízos. Isto completará o propósito divino de redenção para o homem. Isto tornará possível o retorno de Cristo para dar a Seus santos a vida eterna.

Tal triunfo não pode ser obtido por poderes apóstatas na terra. Cristo inverterá o juízo da ponta pequena. A restauração do santuário é uma vitória do juízo de Deus sobre o dos homens.

É suficiente dizer que tanto os mortos justos como os justos vivos entrarão na glória do reino eterno de Deus por meio da execução do ministério de Cristo. Este é o juízo de exultante esperança, de efetiva vitória.

Após os santos comparecerem diante do local de juízo no esplendor da justiça de Cristo, eles serão elevados e transladados para viverem e reinarem com Cristo por mil anos. Eles pertencerão àquela classe de pessoas de quem Cristo será o Rei eterno, o qual estará para sempre com o Seu povo. O juízo deve ocorrer antes da volta de Cristo, pois essa é a entrada que conduz para além da tumba na primeira ressurreição e que está reservada para todos os que foram vindicados no tribunal de Deus.

A mensagem do santuário celestial é segura. A visão dos 2.300 dias é verdadeira. Nada pode negar o justo juízo de Deus, pois tudo está registrado, até as mínimas coisas. Prossigamos com Cristo, pois agora é o tempo de permanecermos firmes nestes últimos dias.



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