Nosso Sumo Sacerdote - 8. As Setenta Semanas


Por Edward Heppenstall

Em suas visões, Daniel, sob a inspiração do Espírito Santo, predisse e interpretou os eventos em uma perspectiva histórica. Particularmente é isto verdade nas visões da grande estátua (Daniel 2); dos quatro animais, dos chifres, dos 1.260 anos e do juízo, de Daniel 7; do carneiro e do bode, da ponta pequena; dos 2.300 dias e das setenta semanas, de Daniel 8 e 9. Todo o futuro jaz desvendado diante dele conforme pintado pelos emissários divinos. Essas visões foram unidas em um todo da mesma maneira como uma pessoa contempla os vários picos em uma cadeia de montanhas. Desta maneira o profeta contemplou a história da salvação, o desenvolvimento do grande conflito entre Cristo e as forças do mal. Essas visões contêm uma sequência definida, levando ao "tempo do fim", o qual Daniel enfatiza como essencial ao quadro escatológico. Seu propósito era reforçar o triunfo final de Deus por meio da salvação e do juízo de Deus.

É importante notar que essas visões são paralelas a muitas das visões encontradas no livro do Apocalipse, predizendo também eventos que devem preceder a volta de Cristo. Daniel e Apocalipse estão unidos no relatar visões que cobrem a história da salvação. Elas são grandemente significativas para o povo de Deus em todas as épocas, pois visam inspirá-lo e encorajá-lo ao ser chamado para enfrentar oposição, perseguição e morte. Tanto Daniel como João escreveu sobre a passagem de grandes impérios - Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma, as sucessivas nações do mundo nos tempos modernos. Eles viram eventos e nações em relação ao reino de Deus, o qual triunfava sobre cada força oponente que se levantasse contra o governo divino. Os poderes básicos do mundo e seus lugares na história, expressos através de linguagem figurada e de símbolos, todos eles anteciparam a consumação da história da salvação a ser realizada no "tempo do fim" (ver Daniel 8:17, 19; 11:35; 12:4), quando "nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre" (Daniel 2:44).

Uma Provação Nacional

Nos capítulos oito e doze do livro de Daniel, muito da atenção e da ação gira em torno do santuário. O grande conflito é visto amplamente do ponto de vista do Céu e não do da terra. Em Daniel oito e nove, a obra de Cristo, nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial, é pintada em dois aspectos - um começando no fim das setenta semanas, o outro no fim dos 2.300 dias. O primeiro culmina com as palavras "para ungir o Santo dos Santos" (Daniel 9:24). O segundo culmina com as palavras "e o santuário será purificado" (Daniel 8:14) ou "o santuário será restaurado a seu legítimo estado" (Revised Standard Version).

Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos. (Daniel 9:24).

A preocupação de Daniel através do capítulo 9 é com o retorno dos judeus à terra de Judá e com a restauração do santuário e da cidade de Jerusalém, que havia permanecido desolada por quase setenta anos. O povo de Israel tinha estado no exílio por quase todo esse período quando Daniel escreveu este capítulo. Jeremias havia profetizado muitos anos antes a respeito dessa restauração.

Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações, e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio. (Jeremias 29:10-14).

A razão para  a oração de Daniel em Daniel 9, versos 3 a 19, é encontrada nessa profecia de Jeremias, conforme ele indicou no verso 2: "Eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos." Todos os acontecimentos expostos nessa profecia tiveram lugar em relação à raça judaica e à história. Por esta razão, o anjo Gabriel declara a Daniel: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade" (verso 24). Em resposta a uma das mais profundas e significativas orações da Bíblia, Deus envia o anjo Gabriel para revelar a Daniel o destino do seu povo. "Setenta semanas" era todo o tempo deixado aos judeus como nação, para cumprir o propósito original de Deus ao fazer deles o Seu povo.

A frase "setenta semanas" em realidade significa setenta períodos de sete anos cada um, ou 490 anos. Nós estamos, assim, tratando com um período que vai da restauração dos judeus ao tempo de Cristo. Os setenta anos de cativeiro foram o juízo de Deus sobre uma nação idólatra. As setenta semanas prometiam libertação e uma oportunidade de cumprirem o propósito divino. A mensagem das setenta semanas era uma mensagem de esperança para Israel. A perspectiva histórica incluía não somente o retorno de Israel do cativeiro, mas também a realização da esperança messiânica durante a septuagésima semana.

Essa profecia proclamava a misericórdia e a determinação de Deus em cumprir Seu propósito para com Israel - enviar o Redentor prometido e estabelecer o reino de Deus. Deus ainda amava Israel. Seu plano por eles estava ainda em operação. O objetivo da profecia neste capítulo era dar esperança e direção a Israel, àqueles dispersos em terra estrangeira. Ele conclamou Israel a retornar, não somente à própria terra, mas a Deus, e cumprirem o propósito divino para o qual foram eles originalmente eleitos. Deus ainda planejava cumprir para com eles todas as profecias messiânicas. Deus havia fixado nesse período o tempo do primeiro advento de Cristo e Sua obra redentiva sobre a terra.

As setenta semanas estavam divididas em três períodos: de sete semanas, sessenta e duas semanas, e uma semana, respectivamente. As "sete semanas" e as "sessenta e duas semanas" alcançaram "até ao Messias, o Príncipe". O terceiro período, de uma semana, incluía eventos que envolviam o ato supremo de Deus pela redenção do homem. "Depois das sessenta e duas semanas, o Messias será morto e já não estará... na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares" (Daniel 9:26 e 27, ver também o verso 24). Isto é, Cristo deveria morrer em algum tempo durante a septuagésima semana.

Os filhos de Judá foram levados para o cativeiro babilônico como uma justa retribuição por sua contínua apostasia e idolatria. O país tornou-se sujeito a poderes estrangeiros. Sua independência nacional era coisa do passado. O impacto do exílio foi suficiente para levar muitos ao arrependimento e a voltarem-se aos profetas, tais como Jeremias, que proclamava o retorno à sua própria pátria após setenta anos. Consequentemente, continuou a existir no coração do povo de Israel a espera ansiosa de voltarem e reconstruírem a sua cidade e o santuário.

Historicamente, os fatos são bem documentados. Primeiro, Tiro, rei da Pérsia, após sua conquista de Babilônia, autorizou os judeus a retornarem sob a liderança de Zorobabel (ver Esdras 1). Somente uma minoria aproveitou esse decreto. A maioria dos judeus preferiu permanecer onde estava.

Levou mais de setenta anos a reconstrução do templo, devido tanto à oposição de fora, como à indiferença entre os próprios judeus, fazendo com que a restauração completa fosse retardada por muitos anos mais. O decreto que levou ao cumprimento da profecia foi o de Artaxerxes I, no sétimo ano de seu reinado, 457 a.C. Sob a liderança de Esdras, um grande número de exilados judeus voltou a Jerusalém e restaurou o sistema judicial sob a lei judaica (ver Esdras 7 e 8). Esdras inclui esse decreto em seu sumário das ordens e autorizações para a restauração completa dos judeus na Palestina: "Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia." (Esdras 6:14). Anos mais tarde, Artaxerxes enviou Neemias a Judá para apressar a reconstrução da cidade (ver Neemias 2). Finalmente a restauração foi concluída. Os judeus permaneceram sob o domínio da Pérsia e dos poderes subsequentes dos impérios grego-macedônico e romano.

Esdras e Neemias chamaram o povo de volta ao culto do Deus verdadeiro, à obediência de Sua lei e ao propósito de Deus para com eles no mundo. O concerto divino feito por Deus com Abraão e com Israel no Sinai foi renovado. Um grande reavivamento espiritual teve lugar. O povo solenemente comprometeu-se a guardar o divino concerto (ver Neemias 8-10). A obra realizada por Esdras e Neemias foi tão bem sucedida que daquele dia em diante Israel permaneceu como um povo separado e distinto, apartando-se da idolatria das nações vizinhas. Esdras chegou a ser lembrado pelos judeus dos séculos posteriores como um segundo Moisés. Tudo isso visava preparar Israel para a vinda do Messias dentro desse período de 490 anos divinamente determinado para eles.

Desde o tempo de Abraão, o povo de Israel fora parte do grande desígnio de Deus no mundo; através deles a revelação de Deus devia ser divulgada. A existência dos judeus era um ato de Deus. Eles foram deliberadamente escolhidos e guiados aonde quer que a revelação divina fosse acatada e seguida. Para esse fim Deus os tirara do Egito com mão poderosa; e novamente Deus os tirou do cativeiro babilônico através da guia divina dada a diversos reis persas.

Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fosseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito. Sabereis, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos. (Deuteronômio 7:6-9).

Assim Deus escolheu e procurou moldar os judeus para ser Seu supremo instrumento na proclamação da lei e do evangelho e na preparação do mundo para a vinda do Messias. Por meio de Israel, Deus tencionava ensinar o mundo a respeito de Si mesmo. Acima e além de todas as filosofias dos homens e invenções do pensamento humano, vinha a revelação divina por meio do povo judeu. Deus separou uma nação a fim de fazer desse povo o instrumento de Seu propósito em revelar-Se a todos os homens e salvar a raça humana mediante o advento do Filho de Deus, nascido judeu. Entretanto, através da história, o povo de Israel mostrou-se desobediente à voz divina, recusando-se a guardar Seus mandamentos. Moisés, falando da infidelidade de Israel, disse:

Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci. (Deuteronômio 9:24).
Porque conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Pois, se, vivendo eu, ainda hoje, convosco, sois rebeldes contra o Senhor, quanto mais depois da minha morte? (Deuteronômio 31:27).

Estevão, ao ser martirizado, expressou a mesma convicção:

Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos, e não a guardastes. (Atos 7:51-53).

Ao longo de toda a história de rebeliões e frequente arrependimento, o propósito de Deus permaneceu constante até a vinda de Cristo. A história dos judeus foi a essência da história da salvação com a vinda do Messias em vista. Porém os judeus frustraram o propósito de Deus. Eles se opuseram à vontade divina. Ainda a despeito de tudo isso, durante mil e quinhentos anos Deus procurou realizar Seu propósito pela lei, pelo evangelho, pelo concerto e pelo juízo.

A profecia das setenta semanas proclamou o esforço final de Deus em cumprir Seu propósito com os judeus e através deles. A septuagésima semana foi o clímax. O que tinha Deus determinado executar em Seu Filho durante esta semana final da profecia? Os eventos que deviam ocorrer durante esta semana de anos, ou seja, de 27 A.D. a 34, são:

Cessar a transgressão,
dar fim aos pecados,
expiar a iniquidade,
trazer justiça eterna,
selar a visão e a profecia,
ungir o Santo dos Santos (ver Daniel 9:24).

Os primeiros três envolvem a obra de expiação de Cristo; o quarto, o dom da justiça na vida perfeita de Jesus Cristo, o quinto, selar a visão e a profecia - isto é, confirmar a profecia das 70 semanas em particular, atestando-a como verdadeira e genuína. A última era "ungir o Santo dos Santos". Todos esses eventos pertenciam à esperança messiânica e foram realizados na obra redentiva de Cristo sobre a terra. Obviamente, o retorno dos judeus do exílio somente começou a cumprir a profecia. A septuagésima semana foi o clímax da história dos judeus como nação. Este foi o dia de sua visitação.

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mateus 23:37 e 38).

A tragédia suprema dos judeus foi sua rejeição de Cristo e sua recusa em serem ministros de Deus para iluminar e salvar os homens. O Salvador do mundo nasceu judeu. Jesus disse à mulher de Samaria: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus." (João 4:22). O povo judeu tinha esperado por esse dia e por um Rei e Salvador. Quando Ele veio, os líderes deliberadamente cegaram-se porque Ele não era o Messias e o Rei que eles queriam. Assim, eles o crucificaram. Separados de Cristo, os judeus não podem ter um futuro no plano de Deus, pois Cristo era a verdade central à qual apontavam os 490 anos. Separados dEle, eles não são mais o instrumento de Deus para a comunicação do conhecimento de Deus e da salvação do mundo. Separado de Cristo, o santuário terrestre em Jerusalém, com seus elaborados ritos religiosos e cerimônias cuidadosamente construídas, não tinha razão de ser. Isto não exclui a salvação para o judeu. Paulo afirmou isto quando disse: "Deus não rejeitou o Seu povo, a quem de antemão conheceu... agora, pois, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça." (Romanos 11:2-5). O judeu tem um testemunho a dar desde que ele retorne ao conhecimento de Cristo como Senhor e Salvador.

Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que em Cristo é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado. (II Coríntios 3:14-16).

O que acontece finalmente? O fim das setenta semanas proclamou o juízo de Deus, não somente sobre Israel como nação, mas também sobre o santuário terrestre.

Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele. (Daniel 9:26 e 27).

Nosso Senhor mesmo alertou Seus discípulos sobre a iminente destruição de Jerusalém, sobre aquela catástrofe vindoura, trinta e cinco anos mais tarde. Eles deveriam fugir da cidade. Eles saberiam o tempo do juízo divino:

Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê, entenda), então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar da casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado. (Mateus 24:15-20).

Após a rejeição de Jesus Cristo como Messias e a recusa deles em aceitar o evangelho proclamado por Seus discípulos, os judeus foram sujeitos a um juízo final sob os romanos. Em 66 A.D., eles revoltaram-se contra seus governadores romanos. Jerusalém caiu em 70 A.D. O templo foi totalmente destruído, os serviços do santuário terrestre desapareceram. Ressurgindo novamente em 132 A.D., eles foram derrotados com brutalidade selvagem e quase foram exterminados. Todos os judeus foram banidos de Jerusalém e muitos milhares foram vendidos como escravos por todo o império. Essas revoltas levaram ao seu fim como nação.

Cristo teria evitado a condenação da nação judaica se o povo O tivesse recebido. Mas a inveja e o ciúme tornaram-nos implacáveis. Decidiram que não receberiam a Jesus de Nazaré como o Messias. Rejeitaram a luz do mundo, e daí em diante suas vidas foram circundadas com o negror das trevas da meia-noite. A condenação predita veio sobre a nação judaica... Seu orgulho rebelde e obstinado atraiu sobre eles a ira dos conquistadores romanos. Jerusalém foi destruída, o templo foi feito em ruínas, e o sítio onde se erguia foi lavrado como um campo... Aquilo que Deus propôs realizar em favor do mundo por intermédio de Israel, a nação escolhida, Ele executará afinal por meio de Sua igreja na Terra hoje. - Profetas e Reis, p. 712, 713.

Para Ungir o Santo dos Santos

O que tem esta profecia a dizer-nos como uma consequência dos eventos dos 490 anos, relativo ao santuário divino? Com respeito ao santuário terrestre dos judeus, "no meio da semana, Ele (Cristo) faria cessar o sacrifício e a oferta de manjares" (Daniel 9:27); ao mesmo tempo, o texto declara que a última fase da obra de Cristo durante a septuagésima semana seria "ungir o Santo dos Santos" (verso 24).

A expressão hebraica usada aqui para "Santíssimo" é qodesh qodashim, forma plural que significa "lugares santos". No Antigo Testamento a expressão refere-se a vários aspectos dos compartimentos Santo e Santíssimo do santuário (ver Êxodo 29:30, 36; 30:25-38; 40:9-15; Levítico 8:10-12; Ezequiel 43:12). Indubitavelmente, referem-se ao interior do santuário. Ezequiel, falando do templo divino, chama-o o Santo dos Santos (Ezequiel 43:12; 45:3; 48:12). A frase ocorre quarenta e quatro vezes no Antigo Testamento e refere-se sempre ao lugar do santuário e não a uma pessoa ou pessoas. I Crônicas 23:13 é considerado como a única exceção. Porém é uma exegese pobre adotar o único uso dúbio, que difere dos outros quarenta e três, como base para dizer que essa frase em Daniel se refere à pessoa de Cristo.

A palavra ungir pode significar uma unção material com óleo sagrado; ou melhor, uma unção espiritual com a ideia de consagração ou dedicação do santuário ao serviço de Deus. A unção do santuário terrestre era um ritual que ocorria visando o início do ministério sacerdotal no santuário. Nenhum serviço ou ministração poderia iniciar-se até que o santuário em todas as suas partes e todos os sacerdotes tivessem sido ungidos, isto é, separados em um ato específico de consagração para o serviço de Deus.

Depois que os detalhes para a construção do santuário foram dados, e antes que os serviços iniciassem, a unção foi descrita:

Assim se concluiu toda a obra do tabernáculo, da tenda da congregação... E Moisés viu toda a obra e eis que a tinham feito segundo o Senhor havia ordenado. (Êxodo 39:32-43).
Depois disse o Senhor a Moisés: No primeiro dia do primeiro mês levantarás o tabernáculo... E tomarás o óleo da unção e ungirás o tabernáculo, e tudo que nele está, e o consagrarás com todos os seus pertences, e será santo... Farás também chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os ungirás... (Êxodo 40:1-15, ver também Levítico 8:10-12).

Daniel declarou que na septuagésima semana Cristo iria ungir o Santo dos Santos. O santuário terrestre em Jerusalém estava para ter seu fim. O santuário a ser ungido ou dedicado antes do início do ministério sacerdotal de Cristo não era outro senão o santuário do Céu.

Esta visão, então, leva o leitor através dos 490 anos da história dos judeus à septuagésima semana e à obra expiatória de Cristo pela salvação dos homens. Este grande evento messiânico constituía o centro da revelação e do propósito de Deus para os judeus. Seu fracasso em manter o concerto de Deus feito com seus pais, e de receber o Cristo a quem apontavam todos os sacrifícios, não afetaram o eterno concerto de Deus. O propósito de Deus continuou a prevalecer. Cristo deve reinar "até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés" (I Coríntios 15:25).

A chave para desvendar o contínuo propósito de Deus no santuário celestial é introduzida aqui pela primeira vez no Antigo Testamento pela frase "ungir o Santo dos Santos". Ela é introduzida tão rapidamente, como se fosse para subordiná-la à obra suprema de Cristo na cruz. Todavia, a profecia dos 490 anos nos leva a abrir a porta do santuário celestial através da qual Cristo, ao concluir sua obra na terra, entrou para continuar Seu ministério sacerdotal, "um sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hebreus 5:6).

A transição do santuário terrestre para o celeste é especialmente digno de nota. Não é acidental e sem importância, mas intencional e significativo. Os eventos da septuagésima semana realizados por Cristo combinam o passado com o futuro, o terrestre com o celeste, o temporal com o eterno. Vista deste modo, a obra mediadora e expiatória de Cristo não é um evento único na história dos judeus; ela é uma parte essencial de Cristo, o Sumo Sacerdote eterno.

Por isso Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firma, e que penetra além do véu, onde Cristo, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. (Hebreus 6:17-20).

É notável que na profecia das setenta semanas seja feita referência à unção do santuário celestial. A razão é mostrar-nos que Cristo tornou-Se o autor da salvação eterna - primeiro, pela virtude de Seu sacrifício expiatório, e, segundo, por Seu sacerdócio ser eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.

Quando Cristo voltou ao Céu Ele foi aclamado Sumo Sacerdote em reconhecimento por Sua obra na terra, e agora "Deus o exaltou a Príncipe e Salvador com sua destra, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados" (Atos 5:31). O centro do plano de Deus passou do santuário terrestre para o celestial. Cristo foi feito Sumo Sacerdote por aclamação divina.

A unção do santuário celestial ocorreu após a ascensão de Cristo com vistas ao início da obra sacerdotal de Cristo.

A ascensão de Cristo ao Céu foi, para Seus seguidores, um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Por ela deviam esperar antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as portas celestiais, foi Jesus entronizado em meio à adoração dos anjos. Tão logo foi esta cerimônia concluída, o Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre os discípulos, e Cristo foi de fato glorificado... O derramamento pentecostal foi uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. De conformidade com Sua promessa, Jesus enviara do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em sinal de que Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o Ungido sobre o Seu povo. - Atos dos Apóstolos, p. 38 e 39.

O livro de Hebreus afirma vez após vez que Cristo foi "feito" um sumo sacerdote, eficiente no mais alto grau, reconhecido como tal pelo Pai (ver Hebreus 5:5; 6:20; 7:15, 16; 9:11).

No sistema levítico, em adição ao oferecimento do sacrifício sobre o altar, havia a apresentação de seu sangue diante de Deus no santuário. Assim, Cristo, após o Seu sacrifício na cruz, entrou na presença do Pai, doravante como representante do homem e Sumo Sacerdote. Seu ministério perante o Pai, no Céu, corresponde ao do sacerdote levítico, cuja função principal está assim explicada:

O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre; por isso mesmo Jesus se tem tornado fiador de superior aliança... Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu... Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem. (Hebreus 7:21-27; 8:1 e 2).

O reconhecimento, por parte do homem, da obra sacerdotal de Cristo não é alguma coisa para ser tratada levianamente. Se alguém estuda cuidadosamente as ações e a voz de Deus, tanto no santuário terrestre da história judaica, quanto no santuário celestial na Era Cristã, vê Deus insistindo com os que creem nEle para que façam uma decisão final e se submetam ao Seu inevitável propósito para com eles. Desde que Deus cumpriu Seu concerto com os judeus, a despeito de seus longos anos de rebelião e apostasia, Deus não Se desviará de Seu plano agora em execução no santuário celestial.



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