O evangelho eterno na perspectiva do juízo



Ao considerarmos a realidade do ministério sumo sacerdotal de Jesus Cristo em Seu santuário, uma obra que agora inclui o juízo, compreendemos com absoluta clareza a nota tônica do evangelho eterno para a geração do fim.

Em Apocalipse 10, o "anjo forte" abre solenemente o selo das profecias de Daniel para o tempo do fim dentro do marco da sexta trombeta (Apocalipse 9:13-21), revelando a mensagem final que deve orientar a derradeira missão da igreja em preparação para o segundo advento de Cristo.

Os acontecimentos culminantes na história da salvação que têm lugar sob o toque da sétima trombeta (Apocalipse 11:15-18) dependem exclusivamente da obra de nosso Sumo Sacerdote em Sua dupla função de Mediador e Juiz. A abertura do Lugar Santíssimo do santuário no Céu (verso 19) é o grandioso evento a partir do qual o domínio e o reino serão transferidos para Cristo e Seus santos. Os ímpios mortos serão julgados (Apocalipse 20:12-15), e os que destroem a Terra, destruídos para sempre.

É somente em vista da realidade do juízo pré-advento como a etapa final da história da redenção que se pode entender a natureza da ênfase especial do evangelho à última geração e o sentido dos eventos que se seguirão até o pleno cumprimento de todas as promessas do Senhor ao Seu povo.

A profecia aberta


O fato de o "anjo forte" com o livrinho aberto na mão possuir características messiânicas (Apocalipse 10:1, comparar com 1:13-16), indicando tratar-se do próprio Salvador, revela a suprema importância do evento que se descreve aqui; em lugar de comissionar um mensageiro celeste para comunicar à igreja o evangelho em sua relação com o tempo do fim, o Senhor Jesus Cristo, pessoalmente, assume essa responsabilidade! Seu ato mais importante é revelado nos versos 5 a 7:

Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas.

Essa solene declaração de nosso amado Redentor é altamente significativa à luz da parte profética do livro de Daniel. Ela anuncia que os períodos de tempo ali mencionados foram cumpridos, e que a partir de agora já não haverá "demora" (no grego, chronos). O livro de Daniel, que estivera selado por tantos séculos, em cumprimento à ordem divina (Daniel 8:26; 12:4, 9), encontra-se aberto desde então, e o tempo do fim, marcado pelo início do juízo no Céu, começou sua marcha irreversível em direção à consumação do mistério de Deus!

Roy Allan Anderson escreve:

Enquanto esta profecia esteve selada e esta parte do livro de Daniel fechada, os homens foram incapazes de compreender ou interpretar a mensagem do juízo. Mas com o fim do domínio papal em 1798, os homens começaram a estudar esta profecia dos 2300 dias ou anos, com o incontido desejo de entendê-la. A profecia de Daniel declarava que o povo de Deus a entenderia; e assim foi. O desdobramento desta grande profecia levou muitos milhares à convicção de que a vinda do Senhor estava bem próxima, e milhares começaram a proclamar a mensagem da breve volta do Salvador. O grande despertamento religioso do século dezenove resultou deste intensivo estudo. Nada, desde os dias dos apóstolos, produziu maior interesse nas coisas espirituais, salvo a reforma do século dezesseis. (1)

A comissão de Cristo à igreja do tempo do fim


Todavia, a sensação agridoce que João experimentou ao comer o livrinho aberto (Apocalipse 10:10) revela que a experiência de compreender as profecias da Daniel e proclamá-las não seria totalmente agradável. Nessa cena, João representa simbolicamente a primeira geração de crentes a obter uma experiência com o livro de Daniel recém-aberto, notadamente cumprida no movimento milerita, que surgiu na primeira metade do século XIX, em meio ao vívido interesse mundial nos eventos finais. A profecia mais determinante para isso foi a de Daniel 8:14:

Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.

Miller e seus colaboradores não experimentaram o amargo sabor da decepção em virtude de algum erro no cálculo profético, que corretamente indicava o ano de 1844 como o tempo em que o santuário seria purificado, mas da interpretação do evento em si, que eles presumiram referir-se à segunda vinda de Cristo, seguindo o senso comum da época.

Logo após a amarga experiência, João é instruído a profetizar novamente:

É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis. (Apocalipse 10:11)

Note que essa nova comissão tem lugar exatamente depois da abertura do livro de Daniel e da multiplicação do conhecimento a seu respeito, isto é, após 1798, e no momento em que se inicia no Céu a purificação do santuário ou juízo pré-advento, em 1844. Significa que a igreja do tempo do fim, representada na pessoa de João, receberá um conhecimento progressivo das profecias outrora fechadas de Daniel, de modo que possa proclamar o evangelho eterno em sua plenitude, dentro do marco do tempo do fim!

Um conhecimento renovado das profecias de Daniel para esse tempo deve, portanto, orientar a proclamação final do evangelho de Cristo em conexão com a Sua derradeira obra no santuário celestial, antes do soar da sétima trombeta (Apocalipse 11:15-18), quando então se consumará "o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas". Há aqui a garantia de nosso Senhor Jesus de que todas as profecias do tempo do fim cumprir-se-ão; que em breve o reino de Deus, a recompensa dos santos e a punição dos ímpios se tornarão uma realidade histórica irrevogável!

A consumação do mistério de Deus


O mistério de Deus é o mistério de Cristo, o qual esteve "guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência pela fé." (Romanos 16:25-26). Esse mistério revela "que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (Efésios 3:6).

Com efeito, o mistério ou segredo de Deus se refere ao evangelho de Jesus Cristo, todo-abrangente e inalterável por natureza, porque está incorporado em Sua Pessoa e em Sua obra. Não admira que Apocalipse 14:6 use a expressão "evangelho eterno", única em toda a Bíblia e mencionada no livro do Apocalipse apenas uma vez. O fato dessa mensagem tão singular ser revelada entre o soar da sexta e da sétima trombetas estabelece as linhas demarcatórias do tempo do fim até a consumação do mistério de Deus.

A propósito da comissão final de Cristo à Sua igreja no contexto do tempo do fim, Hans K. LaRondelle observa:

A ordem do Céu a João de profetizar "outra vez" sobre muitos povos e nações (Apoc. 10:11) significa, com toda probabilidade, que depois da chamada inicial de João para transmitir as mensagens de Cristo às igrejas (1:11), agora recebe a comissão para proclamar o evangelho eterno no marco das profecias do tempo do fim. João deve profetizar outra vez, mas com uma nova direção, a respeito dos acontecimentos do tempo do fim do plano divino de redenção. (2)

Em outras palavras, o chamado final de Cristo à Sua igreja ocorre dentro da perspectiva do cumprimento histórico das profecias do tempo do fim, as quais apontam para o início da obra de julgamento efetuada por nosso grande Sumo Sacerdote no santuário do Céu - a derradeira fase do programa divino de redenção antes da consumação do mistério de Deus! Esse juízo decide quem de fato serão os coerdeiros e coparticipantes da promessa em Cristo.

A consumação do mistério de Deus quando o sétimo anjo estiver para tocar a trombeta ocorre na proclamação final e abrangente do evangelho na obra dos três anjos de Apocalipse 14. Ou seja, a ordem que João recebe para profetizar novamente é dada a conhecer na tríplice mensagem angélica, que prepara um povo para estar em pé no grande Dia do Senhor. Nessa ocasião, o mistério de Cristo tornar-se-á uma realidade histórica para o Seu povo, culminando com o estabelecimento do reino eterno de Cristo!

O evangelho em nova perspectiva


Compreende-se então que a comissão de Cristo à igreja do tempo do fim, plenamente expressa na derradeira obra dos três anjos, é marcadamente orientada pelos eventos de natureza final e conclusiva que têm lugar no Céu, na sede divina de operações, e que dizem respeito ao juízo/purificação do santuário. Ao passo que os nomes dos falsos crentes são retirados do Livro da Vida, a justificação dos verdadeiros crentes é ratificada perante Deus pela virtude do sangue de Cristo. Seus nomes são conservados no Livro da Vida, e seus pecados, apagados para sempre dos registros celestiais!

É com base nessa solene perspectiva que devemos entender os apelos e advertências do evangelho eterno nas vozes dos três anjos de Apocalipse 14.

Notas e referências


1. Roy A. Anderson. Revelações do Apocalipse. Segunda Edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p. 117 e 118.

2. Hans K. LaRondelle. As Profecias do Tempo do Fim. XVIII-O Refletor Profético Sobre o Povo de Deus do Tempo do Fim - Apocalipse 10.

[Este artigo foi revisado em 10 de março de 2021]

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