Culto no trono de Satanás – 5. Um fundamento seguro

Ao pensar em como concluir este livro, uma passagem das Escrituras me veio à mente: a parábola do homem sábio que construiu sua casa sobre a rocha e do homem tolo que construiu sobre a areia. A parábola diz assim:

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. Mas qualquer que ouvir estas minhas palavras e não as cumprir, assemelhá-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu; e foi grande a sua ruína. E, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, a multidão se admirou da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas." [1]

Essa parábola contém vários símbolos que transcrevi em itálico. Vamos interpretar cada um desses símbolos e depois juntá-los para ver o que Jesus quis ensinar quando a contou.

Construindo sobre a rocha

O que a rocha representa nessa parábola? O apóstolo Pedro responde:

"Por isso diz também a Escritura: Eis que ponho em Sião a principal pedra de esquina, eleita, preciosa; e quem nela crer não será confundido." [2]

Claramente, construir sobre a rocha significa construir sobre Cristo. Mas observe que essa não é uma rocha comum – essa rocha está viva! Portanto, ao construirmos sobre essa rocha, a vida de Jesus é infundida em nós e nos tornamos um com ele.

"Cristo, o verdadeiro alicerce, é uma pedra viva, Sua vida é transmitida a todos os que são edificados sobre Ele... As pedras se fundem com o alicerce, pois em todas habita uma vida comum, e nenhuma tempestade pode destruir esse edifício." [3]

Mas o que significa construir sobre a Rocha, Jesus Cristo? Acaso significa ter um relacionamento misterioso, místico, emocional e sentimental com Ele? É claro que não! A parábola explica que construir sobre a Rocha significa ouvir as palavras de Jesus e obedecê-las:

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha."

Ellen White expande esse pensamento:

"Os grandes princípios da lei, que são a própria natureza de Deus, estão entrelaçados nas palavras que Cristo proferiu no monte. Quem edifica sobre esses princípios edifica sobre Cristo, a Rocha da eternidade. Ao receber a Palavra, recebemos Cristo, e somente aqueles que assim recebem Suas palavras edificam sobre Ele." [4]

O ato de edificar

O que significa a ação de construir a casa? As citações a seguir indicam que o ato de construir a casa ilustra o trabalho de edificação do caráter:

"Em grande parte, cada um é o arquiteto de seu próprio caráter. Todos os dias a estrutura se aproxima da conclusão. A Palavra de Deus nos admoesta a prestar atenção em como construímos, a cuidar para que nosso edifício esteja fundamentado na rocha eterna. Está chegando o momento em que nosso trabalho será revelado pelo que é. Agora é o momento de todos cultivarem suas faculdades dadas por Deus e formarem um caráter que os tornará úteis aqui e alcançará a vida superior no futuro." [5]

"Ao edificar nosso caráter, devemos nos apoiar em Cristo. Ele é nosso alicerce seguro e inabalável. A tempestade de tentações e provações não pode mover o edifício que está fundado na Rocha Eterna." [6]

Edificando sobre a areia

O que significa construir sobre a areia? A própria parábola nos dá a resposta:

"Mas qualquer que ouve estas minhas palavras e não as pratica, assemelhá-lo-ei a um homem insensato que construiu sua casa sobre a areia."

Isaías 28:16-18 contrasta o ato de construir sobre um alicerce seguro de pedra e a futilidade de construir sobre o refúgio de mentiras:

"Portanto, assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião por alicerce uma pedra, uma pedra provada, pedra angular, preciosa, um fundamento seguro; quem crê não foge. E farei do juízo uma régua, e da justiça, um prumo; e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas varrerão o esconderijo." [7]

Ellen White nos adverte sobre o perigo de construir nosso caráter sobre a areia:

"Aquele que, como os judeus da época de Cristo, constrói sobre o alicerce de ideias e opiniões humanas, sobre formalidades e cerimônias inventadas pelos homens, ou sobre quaisquer obras que possam ser feitas independentemente da graça de Cristo, ergue a estrutura de seu caráter sobre areia movediça. As violentas tempestades da tentação varrerão o alicerce arenoso e deixarão sua casa reduzida a escombros nas margens do tempo." [8]

O contraste entre construir sobre a rocha e construir sobre a areia é visto no último verso da parábola. Ali nos é dito que Jesus ensinou com autoridade, em contraste com os escribas e teólogos. Os estudiosos da época de Jesus ensinavam uma infinidade de opiniões e tradições humanas, enquanto Jesus ensinava a pura palavra de Deus.

Os ventos

O apóstolo Paulo explicou que os ventos representam falsas doutrinas, que estão em contraste com a verdade:

"Para que, daqui por diante, não sejamos mais meninos, levados de um lado para outro e ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens e pela astúcia, mas, falando a verdade em amor, cresçamos naquele que é a cabeça, Cristo." [9]

Tiago também explicou que aquele que duvida é como o que é jogado de um lado para o outro pelas ondas e pelo vento:

"Peça, porém, com fé, não duvidando; porque aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e agitada de um lado para outro." [10]

O que Deus nos deu para dissipar todas as dúvidas? É a Palavra de Deus que elimina todas as dúvidas, pois "a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus". [11]

Mas os ventos e a tempestade também devem ser entendidos dentro de uma estrutura escatológica. Em Apocalipse 7:1, encontramos uma descrição de quatro anjos segurando os quatro ventos para que não soprem e destruam a Terra:

"Depois disso, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, de modo que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma." [12]

Quando esses ventos forem liberados, haverá um cenário de tribulação que nenhuma pena pode descrever:

"Os homens não conseguem discernir os anjos que, como vigias, impedem que os quatro ventos soprem até que os servos de Deus sejam selados; mas quando Deus ordenar a Seus anjos que soltem os ventos, haverá uma cena de conflito que nenhuma pena pode descrever." [13]

"Quando os anjos de Deus deixarem de conter os ventos ferozes das paixões humanas, todos os elementos de restrição serão liberados. O mundo inteiro será engolfado em uma ruína mais terrível do que a que caiu sobre Jerusalém na antiguidade." [14]

Os rios

Apocalipse 12:15 descreve a perseguição do povo de Deus durante os 1.260 anos de supremacia papal. Esse período de feroz perseguição é simbolicamente descrito como um dragão que derrama água de sua boca como um dilúvio para afogar a mulher:

"E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar."

No livro de Isaías, a invasão do rei Senaqueribe à terra de Judá é descrita sob o símbolo de um dilúvio devastador que inundou até a água chegar ao pescoço:

"Eis que o Senhor faz subir sobre eles águas de rios, impetuosas e numerosas, o rei da Assíria com todo o seu poder, as quais subirão sobre todos os seus rios, e passarão por todas as suas ribanceiras; e, passando por Judá, transbordarão, e avançarão, e chegarão até ao desfiladeiro; e, estendendo as suas asas, encherão a largura da tua terra, ó Emanuel." [15]

A queda da casa

No livro do Apocalipse, Babilônia é apresentada como um sistema mundial que rejeita a Palavra de Deus e a substitui por tradições humanas, buscando impor a todos seus pontos de vista e tradições.

O primeiro anjo de Apocalipse 14:6, 7 ordena que todos os habitantes da Terra temam a Deus, deem-Lhe glória e O adorem como Criador. Em seguida, o segundo anjo voa rapidamente pelo céu, anunciando em alta voz que Babilônia caiu porque deu a todas as nações o vinho da ira de sua prostituição. Note que a Babilônia caiu porque deu seu vinho fermentado às nações. Na Bíblia, o vinho representa as falsas doutrinas. Babilônia caiu porque se recusou a aceitar as verdades reveladas na mensagem do primeiro anjo.

Como já vimos, essa mensagem de Apocalipse 14:8, que foi proclamada pela primeira vez em 1844, será proclamada novamente com maior intensidade e poder durante o grande clamor de Apocalipse 18:1-5:

"Depois disso, vi descer do céu outro anjo com grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. E ele clamou com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e guarida de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e detestável. Pois todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela, e os mercadores da terra se enriqueceram à custa de sua luxúria. E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas; porque os seus pecados chegam até ao céu, e Deus se lembrou das suas iniquidades."

O ponto chave a ser lembrado aqui é que Babilônia foi construída sobre a areia das tradições e opiniões humanas. Ela se recusou a aceitar as grandes verdades reveladas nas três mensagens angélicas e no Lugar Santíssimo do santuário celestial. É por isso que Babilônia cairá com um grande estrondo e todos os que optarem por permanecer nesse sistema cairão com ela.

Todo o sistema político, econômico, religioso, artístico e científico que se baseia na sabedoria humana entrará em colapso vertiginoso. Somente aqueles que construíram seu caráter sobre a rocha da Palavra de Deus permanecerão em pé:

"Aqueles que depositam suas esperanças em si mesmos estão construindo sobre a areia. Mas ainda não é tarde demais para escapar da ruína iminente. Fujamos para o alicerce seguro antes que a tempestade comece." [16]

Encerro este livro com uma citação de Ellen White em que ela nos exorta a fortalecer nossas mentes com as verdades bíblicas para que possamos resistir à tempestade cataclísmica do tempo do fim:

"Somente aqueles que fortaleceram a mente com as verdades bíblicas serão capazes de resistir no último grande conflito. Toda alma deve passar pelo teste decisivo: Obedecerei a Deus em vez de obedecer aos homens? A hora crítica está chegando: já colocamos nossos pés sobre a rocha da imutável Palavra de Deus? Estamos preparados para defender firmemente os mandamentos de Deus e a fé de Jesus?" [17]

Notas e referências

1. Mateus 7:24-29.

2. 1 Pedro 2:6.

3. Ellen G. White, Palavras de Vida do Grande Mestre, p. 126.

4. Ibid., p. 125.

5. Ellen G. White, Orientação da Criança, p. 150, 151.

6. Ibid., p. 152.

7. Isaías 28:16-18.

8. Ellen G. White, Palavras de Vida do Grande Mestre, p. 126.

9. Efésios 4:14, 15.

10. Tiago 1:6.

11. Romanos 10:17.

12. Apocalipse 7:1.

13. Ellen G. White, Serviço Cristão, p.. 66.

14. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 672.

15. Isaías 8:7, 8.

16. Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 127.

17. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 651, 652.


Epílogo

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