Em setembro deste ano, o jornal italiano Corriere della Sera publicou uma documentação dos arquivos do Vaticano recentemente descoberta.
Trata-se de uma correspondência datada de 14 de dezembro de 1942 entre um padre jesuíta alemão chamado Lother Koenig e seu colega, reverendo Robert Leiber, secretário pessoal de Pio XII.
Escrita em alemão, a carta se dirige a Leiber como "Estimado amigo", e prossegue relatando que até seis mil judeus e poloneses estavam sendo mortos diariamente pelos nazistas nas câmaras de gás da Polônia ocupada.
De acordo com o memorial do campo de extermínio de Belzec, um total de meio milhão de judeus foram mortos.
O site do memorial informa que cerca de 3.500 judeus da cidade polonesa de Rava Ruska já haviam sido enviados para Belzec no início de 1942 e que, de 7 a 11 de dezembro, o gueto judeu da cidade foi liquidado.
A data da carta de Koenig ao seu colega jesuíta sugere, portanto, que a correspondência foi entregue ao escritório de Pio XII nos dias seguintes ao esvaziamento do gueto e possivelmente chegou ao conhecimento do papa.
Leiber era o principal assessor de Pio XII, tendo servido como embaixador do Vaticano na Alemanha durante a década de 1920. Era o homem de confiança do papa e estava bem familiarizado com os assuntos alemães.
Além disso, desde agosto de 1942, Pio XII recebeu várias notas diplomáticas e visitas de representantes de governos estrangeiros com relatos de que até 1 milhão de judeus haviam sido mortos na Polônia até então.
A carta de Koenig foi encontrada pelo pesquisador e arquivista do próprio Vaticano, Giovanni Coco.
Para ele, "a novidade e a importância deste documento vêm do fato de que, agora, temos certeza de que a Igreja Católica da Alemanha enviou a Pio XII notícias exatas e detalhadas sobre os crimes perpetrados contra os judeus".
O antropólogo americano, vencedor do Prêmio Pulitzer, David Kertzer, disse que a carta pode ser significativa porque marcaria a primeira referência ao extermínio de judeus em uma correspondência que, segundo ele, certamente teria chamado a atenção do papa.
Coco disse que a carta foi encontrada na Secretaria de Arquivos de Estado do Vaticano e foi entregue ao Arquivo Apostólico somente em 2019, porque os documentos da Secretaria de Estado estavam desorganizados e espalhados, com alguns dos documentos de Pio XII mantidos em recipientes de plástico em um espaço de armazenamento no sótão onde o calor e a umidade os danificavam.
Ao que parece, não houve nenhum interesse do Vaticano em preservar esses documentos, a despeito de seu inegável valor histórico, assim como não houve nenhum esforço da Santa Sé para enfrentar o nazismo e denunciar publicamente o extermínio de judeus nos territórios ocupados pelas forças de Hitler.
Considerando o histórico de Roma – particularmente no que diz respeito aos judeus – e suas relações com o reich alemão, não é nenhuma surpresa.
Com informações da ABC News.
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2 Comentários
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