Babilônia: a grande meretriz (parte 1)



Se a igreja verdadeira guarda os mandamentos de Deus e a fé em Jesus, como de fato comprovam as Escrituras (Apocalipse 14:12), está claro que Babilônia mística assume uma atitude completamente oposta.

Sobre esse poder, é dito que "tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (Apocalipse 14:8). Afirma-se, também, que esse vinho espúrio é dado num "cálice de ouro" (17:4).

Apesar das aparências, o vinho de Babilônia opõe-se claramente ao puro suco de uva que Cristo ofereceu aos discípulos no cálice da comunhão, símbolo da "nova aliança no meu sangue" (I Coríntios 11:25).

Babilônia rejeita as verdades fundamentais do plano da salvação, e faz com que os habitantes da Terra sorvam do vinho fermentado resultante de suas relações ilícitas com o mundo.

E assim como a igreja remanescente de Deus tem uma mensagem mundial (Apocalipse 14:6), Babilônia também tem uma mensagem de alcance global, representada pela imagem do vinho espúrio (verso 8).

A dimensão institucional de Babilônia


O Apocalipse revela que a Babilônia moderna tem embriagado o mundo com o vinho de suas falsas doutrinas - produto de sua corrupção espiritual e moral. Esta imagem é extraída diretamente do Antigo Testamento.

Daniel 5:1 a 4 relata o banquete que Belsazar, rei de Babilônia, ofereceu a mil de seus convidados, numa demonstração de arrogante indiferença ante a iminente invasão dos persas.

Em meio à dissolução do evento, o rei ordenou que se trouxessem alguns dos utensílios sagrados que haviam sido saqueados do templo de Jerusalém, para neles servir o vinho de Babilônia.

Esse ato irrefletido e blasfemo de Belsazar é apropriadamente empregado na profecia para representar a mistura entre o santo e o profano nos últimos dias. Tanto os sentimentos envolvidos como a natureza da ação se reproduzem na Babilônia de que trata o Apocalipse.

A metáfora da vinha na história dos israelitas


À semelhança da Babilônia moderna, o antigo Israel manteve associações impróprias que levaram a nação à apostasia. Recorrendo à imagem da vinha para descrever essa condição, Deus declara através de seu profeta:

Porque a sua vinha é da vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas de veneno, seus cachos, amargos; o seu vinho é ardente veneno de répteis e peçonha terrível de víboras. (Deuteronômio 32:32-33)

Embora o próprio Deus tivesse "plantado" Israel "como vide excelente, da semente mais pura", e houvesse dispensado todo o cuidado para que produzisse "uvas boas", a videira escolhida tornou-se "uma planta degenerada, como de vide brava" (Jeremias 2:21; Isaías 5:1-4; Oseias 10:1).

Desprezando a lei de Deus e as mensagens dos profetas, o povo eleito entregou-se à idolatria e perversão degradantes, assemelhando-se às nações pagãs as quais deveria influenciar (Isaías 43:10). Em vez de produzir o fruto do Espírito, Israel produzira os frutos da carne (Gálatas 5:19-22).

No sentido espiritual, portanto, o vinho espúrio representa as falsas crenças e práticas resultantes das ligações proibidas mantidas pelo povo escolhido com outras nações. Isto é chamado de fornicação ou prostituição, e simboliza o completo desvirtuamento da verdade revelada de Deus.

Assim como os efeitos inebriantes do vinho alteram as capacidades perceptivas da mente, prejudicando o discernimento moral, a aceitação de falsas doutrinas torna as pessoas incapazes de discernir entre a verdade e o erro (Isaías 29:9-13; Jeremias 51:7).

Como Israel no passado, Babilônia mística prostituiu-se com falsas crenças mediante a união ilícita com os poderes do mundo. Seu vinho de confusão religiosa é produto dessas relações proibidas, e ao servi-lo num cálice de ouro pretende conferir à sua mensagem uma aura de pureza e sacralidade que ela efetivamente não tem.

Contudo, apesar de serem induzidas de maneira enganosa a aceitarem o vinho de Babilônia como algo legítimo, as pessoas serão consideradas individualmente responsáveis por sua lealdade a esse poder (II Tessalonicenses 2:9-12).

Note que o vinho de Babilônia é chamado "vinho da fúria da sua prostituição" (Apocalipse 14:8). Qualquer igreja que abandone o fundamento da verdade e ainda deseje manter sua autoridade, só pode fazê-lo mediante o uso da força.

O significado da figura feminina na profecia


Em Apocalipse 17, Babilônia mística é simbolizada por uma grande meretriz. Na linguagem profética, a figura feminina representa a igreja de Deus como um todo. Uma mulher pura simboliza uma igreja pura (Apocalipse 12), uma meretriz simboliza uma igreja apostatada. Na Bíblia há muitas dessas referências figurativas.

No Antigo Testamento, Israel é comparado a uma linda jovem a quem Deus vestiu e adornou para ser Sua noiva, mas que por seu orgulho e lascívia "prostituiu-se com muitos amantes" (Jeremias 3:1; Ezequiel 16:8-34; 23).

Neste contexto, a prostituição é usada como figura para representar alianças estratégicas com nações estrangeiras que Deus expressamente havia proibido (Deuteronômio 7:2; Juízes 2:2) e a consequente adoção de suas práticas religiosas que acabaram solapando o verdadeiro culto a Deus.

A idolatria e os costumes mundanos impregnaram e alteraram profundamente a experiência religiosa dos israelitas, e, por causa disso, Deus os chamou "descendência da adúltera e da prostituta" (Isaías 57:3). Não obstante, o Senhor não poupou apelos para que a "filha de Sião" se arrependesse de seus pecados e se convertesse de seus maus caminhos (Jeremias 3:1, 12-14 e 22; Ezequiel 14:6; Oséias 2:14-20).

No Novo Testamento, a igreja cristã também é coletivamente mencionada como uma noiva (Mateus 25:1-13; II Coríntios 11:2; Efésios 5:22-27).

Deus tem apenas uma noiva (Efésios 4:4-6), e se no passado ela consistia numa igreja de uma só etnia, hoje ela é um grupo mundial composto de muitas etnias. No Israel espiritual de Cristo, todas as barreiras étnicas e geográficas são removidas, ampliando-se para proporções mundiais (Gálatas 3:26-29).

Características da grande meretriz


A relação entre a Babilônia mencionada pelo segundo anjo (Apocalipse 14:8) e a grande meretriz (capítulo 17) é clara. Há um titulo sugestivo em sua fronte: "Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra" (verso 5).

Se a mulher virtuosa de Apocalipse 12:1 tem um nome, este deve se basear na descrição da igreja no capítulo 14:12; um remanescente perseverante que, pela fé em Jesus, une novamente a lei e o evangelho eterno (sobre isso, clique aqui).

Suas qualidades acentuam o contraste com a mulher corrupta mencionada em Apocalipse 17, cujo nome designa um falso sistema religioso por meio do qual Satanás pretende obter o completo domínio do mundo. Este capítulo apresenta as características dessa mulher simbólica:

1. Ela está "sentada sobre muitas águas" (verso 1). As "águas" simbolizam "povos, multidões, nações e línguas" (verso 15), ou seja, a igreja representada por esta mulher exerce grande poder e influência sobre as multidões.

2. Ela se prostituiu "com os reis da terra" (verso 2a). As nações foram seduzidas por suas falsas doutrinas. Ao oferecerem suas prerrogativas e recursos à grande meretriz, os poderes políticos trabalharão tendo em vista impor suas crenças.

3. Ela "embebedou os que habitam na terra com o vinho de sua devassidão" (versos 2b e 4). Como já foi observado, o vinho representa os falsos ensinos que não têm apoio bíblico. Ao "dar de beber a todas as nações" de seu vinho degradante (Apocalipse 14:8), Babilônia induz as pessoas de todo o mundo a acolherem suas falsas doutrinas. Quando a mentira se torna uma regra, é impossível discernir entre a verdade e o erro, exceto pelas Escrituras.

4. Ela está "montada numa besta escarlate... repleta de nomes de blasfêmia" (verso 3). Nas profecias apocalípticas, animais ou bestas geralmente representam poderes políticos (Daniel 7:2-3, 17; 8:3, 5, 20-21; Apocalipse 11:7; 12:3; 13:1-2). Mais do qualquer outra profecia do gênero, Apocalipse 17 é uma explanação didática sobre as perigosas relações entre Igreja (a mulher) e Estado (a besta). A imagem do animal sustentando a mulher e sendo por ela conduzido, reforça o cenário descrito no verso 2, em que governantes do mundo inteiro oferecerão sua autoridade e recursos à Igreja apóstata. A cor desta fera, semelhante à do grande dragão vermelho, que, em última instância, representa Satanás (Apocalipse 12:3-4, 7-9), bem como os nomes blasfemos que traz consigo, são claros indicativos de sua contumaz oposição a Deus e a Seu governo.

Mas a igreja simbolizada por Babilônia nem sempre foi assim. De sua prostituição com falsos ensinos infere-se que ela um dia possuiu a pureza original do evangelho. Foi pela apostasia da verdade que esse poder religioso tornou-se uma meretriz espiritual, de modo muito semelhante ao antigo Israel, quando este se afastou do Deus verdadeiro e de Sua Palavra.

Advertências contra a apostasia cristã


Naturalmente, a apostasia é um fenômeno religioso. A Bíblia, porém, não se refere a uma apostasia entre pagãos que abandonaram suas práticas, mas ao abandono da fé por professos seguidores de Cristo que, por alguma razão, não se firmaram na verdade. Uma apostasia no nível institucional consiste de uma rebelião espiritual geralmente associada a interesses políticos.

Foi em face desse perigo que então começava a ameaçar a integridade da igreja cristã primitiva, que Paulo dirigiu-se aos líderes da igreja de Éfeso com estas graves palavras:

Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. (Atos 20:29-30)

Escrevendo aos cristãos tessalonicenses que ansiosamente esperavam pelo retorno de Jesus ainda em seus dias, Paulo também advertiu:

Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. (II Tessalonicenses 2:3-4)

Essa declaração de Paulo é da maior importância. Ele se refere a uma apostasia definida e progressiva, cujo desenvolvimento resultará no "homem da iniquidade", o qual representa mais um sistema do que uma única pessoa.

A passagem é uma combinação de expressões familiares proferidas por Cristo e pelos profetas do Antigo Testamento, cuja função é esclarecer a verdadeira natureza dessa apostasia:

1. A advertência de Paulo contra o engano remete às palavras de Cristo em Mateus 24:4.

2. A apostasia revela ou manifesta o homem da iniquidade, em contraposição à revelação ou manifestação de Cristo na Sua vinda (Lucas 17:30; I Coríntios 1:7; II Tessalonicenses 1:7).

3. O homem da iniquidade é também o "filho da perdição", expressão usada por Cristo para se referir a Judas, em João 17:12.

4. Este poder "se opõe e se levanta (eleva-se sobre algo) contra tudo o que se chama Deus (ou forma de divindade) ou é objeto de culto", uma descrição baseada em Daniel 11:36.

5. O homem da iniquidade atinge o clímax da apostasia "a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus". A construção da sentença transmite a mesma ideia de Ezequiel 28:2 e Marcos 13:14, e o ato ousado de assentar-se no santuário de Deus é uma clara pretensão por parte desse poder a uma prerrogativa que pertence unicamente à Divindade (Daniel 7:9).

Acrescente-se a essas informações o fato de Paulo se referir à apostasia como o "mistério da iniquidade", que já operava nos dias do apóstolo de forma limitada (verso 7). A iniquidade aqui mencionada se refere a desprezo ou violação da lei de Deus. De fato, o "iníquo" (verso 8) compreende uma entidade "sem lei" ou em oposição a ela, uma característica que remete a Daniel 7:25.

João também se referiu ao fenômeno da apostasia ao declarar que "muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (I João 4:1), e, posteriormente, repetiu que "muitos enganadores têm saído pelo mundo fora" (II João 7). Essa apostasia é o "espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo" (I João 4:3).

Essas e outras advertências semelhantes tinham o interesse de prevenir os membros da igreja cristã quanto aos perigos da apostasia, cuja presença ameaçadora já era evidente nos tempos apostólicos, e que prenunciavam divisões, disputas e heresias de proporções até então inimagináveis.

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