1. A visão propriamente dita (versos 1 a 14).
2. O especial interesse de Daniel sobre o sentido da visão, especialmente quanto ao significado de certos aspectos que o intrigaram (versos 15 a 22).
3. A explicação do anjo, incluindo detalhes sobre o quarto animal, o chifre pequeno e suas atividades, o juízo e o triunfo de Deus e dos santos (versos 23 a 27).
Os quatro animais simbólicos e o chifre pequeno
A visão de Daniel no capítulo 7 é paralela e complementar ao sonho de Nabucodonosor relatado no capítulo 2.
Daniel vê quatro grandes animais saindo do mar: O primeiro semelhante a um leão, com duas asas de águia; o segundo, a um urso, com três costelas entre os dentes; o terceiro a um leopardo, com quatro cabeças e quatro asas; e o quarto animal, "terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres." (verso 7).
Esses animais singulares são representações de poderes terrestres de interesse da profecia (verso 17).
O leão com asas de águia é um símbolo apropriado de Babilônia devido à sua peculiar significação (sobre isso, clique aqui). O urso simboliza a Média-Pérsia. O ato de levantar-se "sobre um dos seus lados" representa a desigualdade entre as duas nações que formavam o império, e as três costelas entre os dentes simbolizam suas três grandes presas: Lídia, Babilônia e Egito. O leopardo representa o poder mundial que se seguiu, isto é, os gregos durante o período helenístico. O quarto animal simboliza o último grande império: Roma.
Há uma clara ênfase ao quarto reino tanto em Daniel 2 como 7. Note as semelhanças:
O quarto reino será forte como ferro; pois o ferro a tudo quebra e esmiúça; como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará. (Daniel 2:40)
Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava... (Daniel 7:7)
Daniel 7, contudo, acrescenta uma nova informação: o chifre pequeno (versos 8, 20 e 21). Esse novo poder:
- subiu do quarto animal;
- subiu entre os dez chifres do quarto animal;
- subiu depois dos dez chifres (verso 24);
- arranca três dos dez chifres, à medida que sobe;
- tem "olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência.";
- era mais robusto do que os demais chifres;
- guerreava contra os santos e prevalecia contra eles.
Os versos 23 a 25 fornecem a interpretação do quarto animal, dos dez chifres e do chifre pequeno:
O quarto animal será um quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo.
A profecia de Daniel revela mais detalhes sobre o quarto animal e o chifre pequeno do que de todos os outros animais juntos. E o próprio chifre pequeno recebe mais atenção do que qualquer outro animal, inclusive o quarto, indicando a evidente importância de sua interpretação dentro do escopo da profecia.
Identificando o chifre pequeno
Os detalhes apresentados na profecia não deixam margem para dúvida. Nenhum outro poder se enquadra tão perfeitamente nas especificações proféticas do que Roma papal. Segundo todas as informações fornecidas em Daniel 7, o chifre pequeno:
1. subiu do "quarto reino", ou seja, Roma pagã; o papado surgiu de Roma pagã.
2. subiu entre os "dez reis" ou reinos, que representam as tribos bárbaras de interesse da profecia que se fixaram no Império Romano; o papado se desenvolveu nesse contexto histórico.
3. subiu depois dos dez reinos; as invasões bárbaras se intensificaram a partir do século III, e o papado só atingiu a condição antecipada na profecia por volta do século VI.
4. abate a três dos dez reinos; à medida que agrega poder político, o papado subverte três das dez tribos bárbaras: os hérulos (493 d.C.), os vândalos (533 d.C.) e os ostrogodos (538 d.C.).
5. tem "olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência"; suas feições humanas transmitem a ideia de inteligência e astúcia superiores. (1)
6. era mais robusto do que os demais reinos; embora fosse pequeno no início de sua história, o papado tornou-se progressivamente maior do que qualquer dos outros reinos. (2)
7. profere palavras contra o Altíssimo; as alegações de suposta autoridade do papado são palavras insolentes contra Deus. (3)
8. "fazia guerra contra os santos"; a história é testemunha da perseguição contínua e implacável do papado contra aqueles que desejaram seguir a Deus segundo os ditames de sua consciência.
9. "cuidará em mudar os tempos e a lei"; a mudança na lei de Deus, particularmente nos "tempos" (do sábado para o domingo como dia de guarda) é uma evidência do poder reivindicado pelo papado. (4)
O período de atividade do chifre pequeno e o juízo
O elemento mais importante na identificação do chifre pequeno, contudo, refere-se ao período de tempo em que esse poder exerceria suas autoproclamadas prerrogativas:
... e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. (Daniel 7:25)
A expressão "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" equivale a três anos e meio:
- um tempo = um ano
- dois tempos = dois anos
- metade de um tempo = meio ano
O mesmo período de tempo associado a esse poder é mencionado no Apocalipse como "um tempo, tempos e metade de um tempo" (12:14), "quarenta e dois meses" (11:2) e "mil duzentos e sessenta dias" (11:3; 12:6). Trata-se do mesmo cálculo profético; três anos e meio equivalem a 42 meses ou 1.260 dias.
Partindo do princípio bíblico de que em profecia simbólica um dia representa um ano literal (Números 14:34; Ezequiel 4:4-7), segue-se que o período de três anos e meio ou 1.260 dias proféticos correspondem a 1.260 anos literais. Algumas razões para isso:
a) As visões são simbólicas e, portanto, os tempos indicados também o são.
b) As visões abrangem longos períodos da história. Se os tempos especificados forem interpretados literalmente, as profecias perdem o sentido original.
c) A maneira pouco comum em que os períodos de tempo profético são apresentados (três tempos e meio, 42 meses, 1.260 dias) indica que devem ser simbolicamente entendidos e interpretados segundo o princípio bíblico dia/ano.
Foi em 533 d.C. que o imperador romano Justiniano reconheceu a primazia eclesiástica do papa, sendo esse reconhecimento incorporado ao código de leis imperiais no ano seguinte. Mas essa decisão oficial efetivou-se somente quando o domínio ariano dos ostrogodos sobre Roma e grande parte da Itália foi subvertido em favor da Igreja. Isso ocorreu em 538 d.C. Exatamente 1.260 anos depois, em 1798, o general Berthier aprisionou o papa Pio VI, morrendo este no exílio um ano depois.
Note que, logo após observar o poder do chifre pequeno, Daniel tem sua atenção voltada para um evento ocorrendo no Céu. Isso é muito importante. Vejamos atentamente os seguintes versos de Daniel 7:
8 Estando eu a observar os chifres, eis que entre eles subiu outro pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência.
9 Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente.
10 Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros...
14 Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
A referência ao tribunal divino em sessão e ao consequente estabelecimento do reino eterno de Deus é feita somente depois da alusão ao chifre pequeno. Daniel contempla a insolência desse poder e, em seguida, tem sua atenção voltada para a resposta no Céu através de um juízo.
O verso 8 descreve o poder do chifre pequeno, os versos 9 e 10 se referem ao início de um julgamento no Céu, e o verso 14 descreve a cena que se segue ao julgamento celestial, ou seja, o estabelecimento do reino eterno de Deus. Esse último evento se cumpre com a segunda vinda de Cristo.
Portanto, com base nos versos acima, temos esta sequência de eventos:
- O poder do chifre pequeno.
- O início de um julgamento no Céu.
- O estabelecimento do reino eterno de Deus.
Observe agora os versos seguintes:
21 Eu olhava e eis que esse chifre [o chifre pequeno] fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles,
22 até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino.
Consegue notar a mesma sequência?
- O poder do chifre pequeno.
- O início de um julgamento no Céu.
- O estabelecimento do reino eterno de Deus.
Não conseguiu perceber ainda? Então acompanhe os próximos versos:
25 Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo.
26 Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim.
27 O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.
Essa sequência é enfatizada três vezes no capítulo 7! Somente depois de o chifre pequeno exercer seu poder durante 1.260 anos é que o tribunal divino entra em sessão. O processo de julgamento culmina com o estabelecimento do reino de Deus:
- O poder do chifre pequeno exercido durante 1.260 anos (de 538 a 1798).
- O início de um julgamento no Céu (portanto, em algum momento depois de 1798).
- O estabelecimento do reino eterno de Deus (quando for concluído o juízo e Cristo voltar).
O juízo divino ocorre depois da experiência final do chifre pequeno descrita na profecia como "um tempo, dois tempos e metade de um tempo", isto é, depois do período de supremacia papal, que terminou em 1798. Portanto, o juízo no Céu tem lugar em algum momento depois desse ano e antes que Cristo venha para estabelecer o Seu reino eterno.
Quem julga neste tribunal celestial? O Ancião de Dias (Deus, o Pai) na pessoa do Filho do Homem (Jesus Cristo).
Quais as partes envolvidas nesta fase investigativa do juízo? Os santos do Altíssimo e o chifre pequeno; os primeiros serão absolvidos e vindicados, o segundo, acusado e condenado.
Com efeito, os santos não devem recear o juízo, pois o julgamento é feito em seu favor a fim de que possam herdar o reino de Deus. Esse juízo é a derradeira obra de Cristo no centro divino de operações no Céu - o santuário celestial - antes que Ele venha estabelecer o Seu reino.
À luz de Daniel 7, constatamos que o solene evento do juízo teve início no Céu depois de 1798. Nosso próximo desafio será identificar o ano exato em que o tribunal celestial entrou em sessão. Os capítulos 8 e 9 de Daniel nos ajudarão nesse sentido.
Notas e referências
1. A propósito dessas características singulares do chifre pequeno, Sir Isaac Newton escreve: "Mas esse era de um tipo diferente dos outros dez reinos, tendo uma vida ou alma que lhe era peculiar, com olhos e boca. Pelos olhos era um vidente e pela boca, que falava coisas grandes e mudava os tempos e as leis, era ao mesmo tempo um profeta e um rei. Tal vidente, profeta e rei é a IGREJA DE ROMA. Um vidente [grego: episkopos] é um bispo no sentido literal da palavra e essa Igreja reivindica o bispado universal. Pela boca, transmite leis a reis e nações, como um oráculo; arroga-se a infalibilidade e pretende que os seus decretos sejam obrigatórios para o mundo inteiro, o que significa que é um profeta no mais alto grau." (As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel: as Raízes do Código da Bíblia. São Paulo: Pensamento, 2008, p. 65 e 66).
2. Charles Butler observa: "De um humilde pescador, o papa tornou-se, sucessivamente, proprietário de casas e terras, adquiriu o poder da magistratura em Roma, e grandes possessões territoriais na Itália, Dalmácia, Sicília, Sardenha, França e África e, finalmente, obteve a distinção e importância de um príncipe temporal. O papa não parou aí, mas alegou, por direito divino, a prerrogativa de exercer o supremo poder temporal sobre todos os soberanos cristãos, quando um grande bem da religião exigisse. Tal alegação foi improcedente; tanto o evangelho como a tradição se manifestam contra ela, e resultou em grande mal." (The Book of the Roman-Catholic Church: in a series of letters addressed to Robt. Southey on the "Book of the Church", Second Edition, London: John Murray, 1825, p. 93 e 94).
3. Em Crossing the Threshold of Hope, João Paulo II escreve: "O líder da Igreja Católica é definido pela fé como o Vigário de Jesus Cristo (e é aceito como tal pelos crentes). O Papa é considerado o homem na terra que representa o Filho de Deus, o qual 'toma o lugar' da Segunda Pessoa do Deus onipotente da Trindade. (...) Não tenha medo quando as pessoas me chamam 'Vigário de Cristo', quando se referem a mim como 'Santo Padre' ou 'Sua Santidade', ou usam títulos semelhantes, que parecem até contrários ao Evangelho. O próprio Cristo declarou: 'A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo' (Mt 23:9-10). Essas expressões, no entanto, evoluíram de uma longa tradição, tornando-se parte do uso comum. Não se deve temê-las." (Crossing the Threshold of Hope, published by Alfred A. Knopf, Inc., Arnoldo Mondadori Editore, 1994, p. 3 e 6).
4. Lucius Ferraris, teólogo romano, declara: "O Papa tem tão grande autoridade e poder que ele é capaz de modificar, explicar e interpretar até mesmo as leis divinas. O Papa pode modificar a lei divina, uma vez que seu poder não é de homem, mas de Deus, e ele atua como vice-regente de Deus sobre a terra com o mais amplo poder de ligar e desligar suas ovelhas." (Prompta Bibliotheca, vol. VII. Venetis, Apud Gasparem Storti, 1782, verbete "Papa", Art. II, p. 29, # 30. Transcrição das citações do latim para o inglês disponível em: <http://biblelight.net/1823-24.htm>. Acesso em: 21 jul. 2011, 08h10min). O Dr. Johann Eck, célebre defensor da autoridade da Igreja e principal adversário de Andreas Carlstadt e Martinho Lutéro no debate em Leipzig em 1519, afirmou: "A Escritura ensina: Lembra-te do dia do sábado para santificá-lo; seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus, etc. No entanto, a Igreja transferiu a observância do sábado para o domingo em virtude de sua própria autoridade, independentemente das Escrituras, sem dúvida sob a inspiração do Espírito Santo... O sábado é ordenado em vários lugares nas Escrituras, mas não há menção da cessação do sábado e da instituição do domingo nos Evangelhos, ou nos escritos de Paulo, ou em toda a Bíblia. Portanto, isso tem sido assumido pela igreja apostólica que o instituiu [o domingo] sem a Escritura." (Eridion (1553), p. 78 e 79. Citado em: J.N. Andrews e L.R. Conradi, History of the Sabbath and First Day of the Week. Review and Herald Publishing, p. 587).
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