Michigan aprova resolução que homenageia o papado


Na quinta-feira, 13 de novembro, a Câmara dos Representantes de Michigan aprovou a Resolução nº 222, que declara oficialmente o dia 23 de novembro como o "Domingo de Cristo Rei".

Aprovada depois de um debate que durou cerca de duas horas e, aparentemente, sem muita oposição, a Resolução homenageia um festival católico, instituído pelo papa Pio XI em 1925, mas que também é observado no final do ano litúrgico por várias denominações protestantes.

O texto da Resolução diz:

"Considerando que muitas comunidades cristãs em todo o estado de Michigan e no mundo reconhecem o último domingo de cada ano litúrgico como a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou como o Domingo de Cristo Rei; e

"Considerando que este é um dia em que pessoas em todo o mundo fazem uma pausa para honrar e reconhecer a realeza de Cristo em todos os aspectos da vida; e

"Considerando que em Daniel 7:14 se diz que '[Cristo] recebeu domínio, glória e realeza; todas as nações, povos e línguas o servirão. Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e sua realeza não será destruída'; e

"Considerando que também se diz ao longo das Escrituras que Cristo é o soberano dos reis da terra, que 'em seu manto e em sua coxa está escrito um nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores'; e

"Considerando que esta festividade teve início em 1925, em um período em que o mundo estava envolto em secularismo e ateísmo, e em que regimes ao redor do mundo perseguiam cristãos por demonstrarem seu amor e fidelidade a Cristo. O Papa Pio XI instituiu este dia para demonstrar que Cristo Rei era a resposta aos nossos desafios e que Ele reinaria para sempre; e

"Considerando que o preâmbulo da Constituição de Michigan declara: 'Nós, o povo do estado de Michigan, agradecidos a Deus Todo-Poderoso pelas bênçãos da liberdade', reconhecendo a importância da orientação divina na vida cívica e expressando nossa gratidão a Deus Todo-Poderoso como fonte de liberdade e ordem; agora, portanto,

"Resolve-se, pela Câmara dos Representantes, que os membros deste corpo legislativo declaram 23 de novembro de 2025 como o Domingo de Cristo Rei no estado de Michigan. Encorajamos os habitantes de Michigan a se unirem em reflexão, serviço e atos de bondade que honrem os valores morais e espirituais exemplificados por Cristo Rei."

Uma resolução simbólica de caráter explicitamente religioso

Embora não tenha força normativa vinculante, ou seja, não cria nenhuma obrigação legal, a resolução que declara o Domingo de Cristo Rei como uma data oficial no Estado de Michigan levanta, pelo menos, duas questões importantes.

A primeira é que resoluções como essa situam-se deliberadamente na linha tênue entre simbólico e normativo, entre uma simples homenagem religiosa e uma sinalização de identidade política baseada na fé. Enquanto evitam o confronto direto com a Primeira Emenda, a desafiam com sua linguagem explicitamente confessional.

Ao contrário de proclamações mais abrangentes como o "National Day of Prayer" ou referências a "Deus Todo-Poderoso" (como na citação ao preâmbulo da Constituição de Michigan, que, aliás, não autoriza o Estado a afirmar doutrinas religiosas específicas), a Resolução nº 222 menciona expressamente Jesus Cristo e O identifica como Rei dos reis e Senhor dos Senhores, citando textos bíblicos como Daniel 7:14 e Apocalipse 19:16.

Isso sugere uma preferência oficial pelo cristianismo, já que, por meio de sua legislatura, o Estado de Michigan assume uma posição teológica na esfera civil e promove um proselitismo simbólico ao convidar os cidadãos a honrar "os valores morais e espirituais exemplificados por Cristo Rei".

Será que Jesus Cristo precisa do patrocínio do Estado para ter Sua soberania reconhecida? Se sim, isso representaria uma traição da natureza espiritual de Seu reino em troca de uma glória puramente terrena, algo que Satanás visara, em vão, na terceira tentação dirigida a nosso Senhor no deserto (Mateus 4:8-11).

Ora, foi o próprio Cristo quem estabeleceu a distinção, quem separou com um único traço os regimes terrestre e celestial ao proferir as palavras que resumem o princípio que deve orientar seus seguidores:

"O meu reino não é deste mundo." (João 18:36).

"Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." (Lucas 20:25).

"Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve." (Lucas 22:25,26).

As declarações de Cristo implicam uma ordem inteiramente nova, um reino espiritual onde, para usar as palavras de Joseph Bernhart, a salvação não depende nem da forma política nem da potência do Estado, mas da decisão moral.

Para Cristo, o evangelho significa livre escolha, não coerção; apelo às consciências, não às leis; conquista de mentes e corações, não de governos ou sociedades inteiras. Ao apartar-se do poder do estado, sem, contudo, negar as prerrogativas de sua jurisdição, Jesus recusou aceitar, sob qualquer pretexto, os métodos e fundamentos do poder estatal.

Os cristãos deveriam lembrar-se disso e imitar o exemplo deixado por nosso Senhor. Mas, infelizmente, a coisa toda fica ainda pior.

Ao declarar que a sociedade civil deve reconhecer a realeza de Cristo e que toda autoridade terrena está sujeita ao Seu governo, a Resolução nº 222 contextualiza a celebração do dia 23 de novembro dentro de uma história estritamente católica e, assim, relaciona o domínio de Cristo à autoridade espiritual de Roma sobre as nações!

Desse modo, o texto aprovado pela Câmara dos Representantes de Michigan homenageia, na verdade, o papa Pio XI, que estabeleceu o festival católico que é objeto da Resolução e que apresenta o domingo – um dia cuja observância nem Cristo nem os apóstolos jamais ordenaram – como o dia oficial em que a autoridade de Cristo sobre as nações deve ser reconhecida publicamente! Uma terrível ironia, sem dúvida.

Isso nos leva à segunda questão importante: Com que objetivo Pio XI anunciou a Festa de Cristo Rei em sua encíclica Quas Primas?

O contexto histórico da encíclica ajuda a explicar as preocupações do papa.

Pio XI e a reivindicação do poder da Igreja

É importante observar que, quando a encíclica Quas Primas foi publicada, o papado vivia um momento de transição política nada fácil.

Além de ter sido privado de seus territórios em virtude da unificação italiana, o papado se via sob a crescente pressão do que Pio XI chamou de "peste do anticlericalismo", expressão pela qual ele se refere principalmente à liberdade civil e religiosa, fruto da Reforma protestante, que Roma considera uma resistência criminosa à única autoridade legítima – aquela oriunda da união entre Igreja e Estado.

Transcorreriam ainda alguns anos até que o papa negociasse um tratado com o governo de Benito Mussolini que encerraria décadas de disputa em torno do que ficou conhecido como a Questão Romana. O papa permaneceria publicamente alinhado com o regime autoritário de Mussolini e compartilharia com ele a visão de que o fascismo, nas palavras do próprio Il Duce, "ajudaria a promover a restauração da sociedade cristã", isto é, "construiria um Estado católico para uma nação católica".

Em meio, portanto, a preocupações com o aumento dos "erros e atividades ímpias" do anticlericalismo, Pio XI publicou a Quas Primas e iniciou um foco litúrgico em "Cristo Rei".

Pio XI e uma cópia de sua encíclica Quas Primas

Como em todos os documentos papais, há uma diferença sutil entre o que o texto diz e o que realmente quer dizer.

Porque, ao afirmar na introdução da encíclica que os múltiplos males que afligiam a humanidade "deviam-se ao fato de que a maioria dos homens havia banido Jesus Cristo e sua santa lei de suas vidas; que estes não tinham lugar nem nos assuntos privados nem na política"; e "que enquanto indivíduos e estados se recusassem a submeter-se ao governo de nosso Salvador, não haveria perspectiva realmente esperançosa de uma paz duradoura entre as nações", Pio XI estava se referindo às leis e ao governo do papado, não de Cristo.

Na mesma introdução, o papa observa que a Igreja é "a única fonte de salvação" e, mais adiante, afirma que ela "é o reino de Cristo na terra", "no qual os homens se preparam para entrar pela penitência [justificação pelas obras], e no qual não podem realmente entrar exceto pela fé e pelo batismo".

Tudo o que se segue na carta de Pio XI deve, então, ser lido com base nessa falsa premissa.

  • A "restauração do Império de Nosso Senhor" significa o direito da Igreja "de ensinar a humanidade, de fazer leis, de governar os povos".

  • Reconhecer a "autoridade de Cristo sobre a sociedade" significa "venerar e adorar a Cristo Rei oculto sob as espécies Sacramentais" (para entender as implicações disso, clique aqui).

  • "Submeter-se ao governo de nosso Salvador" significa "o Estado [deve levar] em conta os mandamentos de Deus e os princípios cristãos [ou seja, os mandamentos e os princípios católicos], tanto ao fazer leis quanto ao administrar a justiça".

  • "A rebelião de indivíduos e estados contra a autoridade de Cristo" significa "a religião de Cristo [isto é, católica] passou a ser comparada a falsas religiões", "a ser classificada ignominiosamente no mesmo nível que elas" e "colocada sob o poder do estado".

  • "Retornar ao dever da obediência" significa "perfeita submissão e firme crença às verdades reveladas e às doutrinas de Cristo" (conforme reveladas e interpretadas pela Igreja).

  • O dever que governantes e príncipes têm "de prestar honra e obediência públicas a Cristo" significa "que a Igreja... tem um direito natural e inalienável à perfeita liberdade e imunidade do poder do estado" e "não pode estar sujeita a nenhum poder externo".

  • "Apressar o retorno da sociedade ao nosso amado Salvador" por meio da "festa da Realeza de Cristo" significa, enfim, levar os governos e a sociedade de volta ao modelo medieval de união entre Igreja e Estado defendido ao longo de toda a encíclica.

Quando Pio XI afirma que "seria um grave erro... dizer que Cristo não tem autoridade alguma nos assuntos civis"; que "verdadeiramente toda a humanidade está sujeita ao poder de Jesus Cristo"; que os governantes das nações desejosos de preservar sua autoridade "não negligenciarão o dever público de reverência e obediência ao governo de Cristo", ele quer significar, ex cathedra, a autoridade da Igreja sob a liderança inconteste do papa.

Logo, "se príncipes e magistrados devidamente eleitos estiverem convencidos de que governam, não por direito próprio, mas por mandato e no lugar do Rei Divino [do qual o papa reivindica ser o único representante], exercerão sua autoridade com piedade e sabedoria, e farão leis e as administrarão tendo em vista o bem comum" (tal como o papado o entende).

É exatamente isso que a Festa de Cristo Rei instituída pela Quas Primas representa; uma tentativa de restabelecer a autoridade espiritual de Roma sobre as nações, expressa numa carta formal cuja importância e alcance não deixam margem para dúvidas quanto à seriedade de suas intenções.

O nacionalismo cristão do papa encampado pelos protestantes

Se a encíclica que instituiu essa festividade católica é uma reafirmação da soberania que o papa reivindica possuir por "direito divino", então a Resolução de Michigan, que formaliza sua observância simbólica no Estado, baseia-se na mesma reivindicação papal e exorta seus cidadãos a reconhecê-la e honrá-la, em nome de Cristo!

É assim que começa.

Josh Schriver, deputado estadual republicano, autor da Resolução, e ex-protestante recém-convertido ao catolicismo, declarou, durante suas breves considerações no plenário da Câmara em 13 de novembro, que o Domingo de Cristo Rei é um momento "para lembrar que a verdade moral está acima do poder político" e que "a liberdade depende de algo mais profundo do que o governo; depende da virtude consciente de seus cidadãos e de nosso alicerce de fé".

Para mim, está claro à qual verdade moral e alicerce de fé Schriver se referiu como exigência para a liberdade – aquela que Roma considera adequada para seus súditos, conforme exposto aqui.

Schriver é um político nacionalista cristão que exalta o mesmo dia litúrgico instituído por Pio XI com argumentos muito semelhantes aos do próprio papa, que acreditava que a condição da humanidade durante a Idade Média era preferível à liberdade civil e religiosa das nações modernas.

Os protestantes que honram o Domingo de Cristo Rei imaginando que o dia oferece uma oportunidade de lembrar que Jesus é o Senhor estão efetivamente honrando uma instituição papal que reivindica a soberania religiosa e política de Roma e, por isso, estão dando um "tiro no pé".

Não percebem o perigo oculto no texto da Resolução nº 222, que se alinha e reforça a visão nacionalista cristã impulsionada por Pio XI em sua encíclica, pois ambos compartilham a mesma ideia de que a sociedade não pode prosperar a menos que o Estado reconheça a "realeza de Cristo" por meio da lei e da ordem pública.

Resoluções semelhantes em estados como Tennessee, Flórida e Texas mostram que os Estados Unidos não só estão aceitando essa ideia, mas também estão buscando implementá-la em solo protestante.

Vão ainda mais longe, ao vincular o domínio de Cristo diretamente à observância de um dia que, de fato, constitui a marca da autoridade de Roma, e é precisamente sobre isso que Apocalipse 13 nos adverte.

A imagem da besta será formada quando uma nação outrora protestante adotar o modelo papal de autoridade religiosa e política centralizada e começar a promulgar leis para promover suas doutrinas.

Essa é a razão por que o sábado será a grande prova da lealdade. Quando essa prova final chegar, será traçada a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não O servem.


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